Jared Leto é amplamente reconhecido em Hollywood por sua dedicação camaleônica aos papéis, submetendo-se a transformações físicas extremas que frequentemente deixam o público e a crítica impressionados. No entanto, essa entrega de corpo e alma nem sempre veio sem um alto custo para sua saúde. O ator e músico revelou os graves problemas que enfrentou ao engordar mais de 30 quilos para interpretar Mark David Chapman, o assassino de John Lennon, no filme “Capítulo 27 – O Assassinato de John Lennon” (2007), uma experiência que o levou a precisar de uma cadeira de rodas.

“Corpo em choque”: Os 30 quilos a mais para viver o assassino de John Lennon

Enquanto sua perda de peso para viver Rayon em “Clube de Compras Dallas” (2013) lhe rendeu um Oscar, e sua magreza em “Réquiem para um Sonho” (2000) chocou pela intensidade, foi o processo inverso, o de ganhar peso para “Capítulo 27”, que impôs os maiores desafios físicos a Jared Leto. Ele decidiu engordar drasticamente para replicar a forma física de Chapman, acreditando que isso era essencial para capturar a essência do personagem, incluindo o desconforto e a lentidão que o excesso de peso acarretava.

“O roteiro não dizia, ‘Página 1: Ganhe 30 quilos e fique miserável por dois meses’, mas eu comecei a pesquisar e percebi que representar ele fisicamente era essencial porque tinha relação com quem ele era”, explicou Leto em entrevista ao “LA Times” na época.

Gota, cadeira de rodas e remédios: As graves consequências para a saúde

A decisão de alterar tão radicalmente seu corpo teve um impacto severo. “Quase no final das gravações, uma das principais questões era a dor que eu sentia no meu pé”, admitiu o astro. Ele desenvolveu gota, uma forma dolorosa de artrite que causa inflamação intensa nas articulações. A dor tornou-se tão debilitante que ele precisou de auxílio para se locomover.

“Tive que andar de cadeira de rodas porque era muito doloroso. Meu corpo estava em choque pelo tanto de peso que eu tinha ganho”, revelou. A recuperação também foi um processo árduo e demorado: “Demorou mais de um ano para eu voltar a um peso parcialmente normal. Eu não sei se vou retornar algum dia para aquele lugar que eu estava, fisicamente falando”. Além da gota e das dores crônicas, os médicos recomendaram que ele tomasse Lipitor, um medicamento para controlar os níveis de colesterol e triglicérides, visando reduzir o risco de doenças cardiovasculares. Sobre a experiência, Leto refletiu com sinceridade: “Não sei se foi uma escolha sábia. Só porque você consegue perder de novo o peso, não significa que o impacto que aquilo teve vai embora”.

Além do físico: A imersão na voz e na psique de um “ser humano falho”

A transformação de Jared Leto para o papel não se limitou ao ganho de peso. Ele também mergulhou profundamente na psique e nos maneirismos de Chapman, estudando entrevistas e áudios do assassino para replicar sua voz. “Ele raramente falava mais alto do que um sussurro, tudo meio que ficava entalado na garganta”, contou o ator sobre a peculiar forma de falar de Chapman, que ele descreveu como “estranhamente, muito educado e gentil”, apesar da natureza hedionda de seu crime.

Leto buscou humanizar o personagem, mesmo reconhecendo sua monstruosidade: “Ele era uma falha como ser humano. Um indivíduo muito doente e perturbado. Mas, quando você é um ator interpretando um papel, você não faz um monstro. Você precisa tentar entender o que há de humano ali”.

Críticas ao filme, pausa na carreira e uma nova abordagem às transformações

Apesar da dedicação inegável de Leto, “Capítulo 27” foi recebido com críticas extremamente negativas, sendo considerado por muitos um desrespeito à memória de John Lennon e uma plataforma indevida para um criminoso que, anos mais tarde, admitiu ter matado o músico “para chamar atenção”.

Após essa experiência intensa e controversa, Jared Leto afastou-se um pouco da atuação, dedicando mais tempo à sua carreira musical com a banda 30 Seconds to Mars. Ao retornar ao cinema, ele continuou a se entregar a transformações extremas, mas com uma diferença crucial: passou a utilizar próteses e maquiagem para papéis que exigiriam ganho de peso significativo, como visto em “Casa Gucci” e “Blade Runner 2049”, protegendo assim seu “instrumento de trabalho” mais valioso: seu próprio corpo. A experiência com “Capítulo 27” serviu como um duro aprendizado sobre os limites da arte e os perigos da busca pela imersão total.

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