O cinema mundial perdeu um de seus maiores ícones. Robert Redford, o “garoto de ouro” de Hollywood, ator aclamado, diretor vencedor do Oscar e fundador do Festival de Sundance, morreu na manhã desta terça-feira (16), aos 89 anos. Sua assessora de longa data, Cindi Berger, confirmou ao The Hollywood Reporter que ele faleceu em sua casa, em Utah.

Com uma beleza clássica que o transformou em um dos maiores astros de sua geração e uma complexidade que o levou a dirigir e estrelar alguns dos filmes mais importantes do século XX, Redford deixa um legado que transcende as telas, tendo mudado para sempre o cinema independente com a criação do Instituto Sundance.

O ‘Garoto de Ouro’ que se via como um estranho

Embora fosse a própria definição de um astro de Hollywood, com seu charme inefável e apelo romântico, Robert Redford sempre se viu como um estranho no ninho. Por trás da superfície de galã californiano, havia uma figura mais sombria e complexa, que se rebelava contra as expectativas. Ele passou grande parte de sua vida longe dos epicentros da indústria, preferindo a reclusão de suas terras em Utah, onde construiu seu “grande experimento”: o Festival de Cinema de Sundance, hoje o mais importante festival de cinema independente do mundo.

Ele cresceu pobre em Santa Monica e se rebelou contra a cautela de seu pai, um leiteiro. “Eu sempre quis quebrar as regras”, disse ele. Essa ansiedade e desejo por liberdade o levaram a viajar pela Europa na juventude, uma experiência que, segundo ele, moldou sua visão política e o transformou em um ativista apaixonado pelas causas ambientais e pelos direitos dos nativos americanos.

A ascensão com ‘Butch Cassidy’ e a era dos thrillers políticos

Apesar de ter estreado nos anos 60, o estrelato absoluto veio em 1969, quando ele interpretou o Sundance Kid ao lado de Paul Newman em Butch Cassidy e o Sundance Kid. O estúdio não o queria para o papel, mas Newman, já uma estrela, bancou sua escalação. A amizade entre os dois, dentro e fora das telas, se tornou lendária e os uniu novamente no clássico Golpe de Mestre (1973), que venceu o Oscar de Melhor Filme.

Nos anos 70, Redford solidificou seu status de ícone em uma série de thrillers políticos que definiam o espírito cético da época. Filmes como O Candidato (1972) e Três Dias do Condor (1975) usavam seu brilho de estrela para contrastar com a visão pessimista de suas tramas. O auge dessa fase foi Todos os Homens do Presidente (1976), no qual ele não apenas estrelou como o jornalista Bob Woodward, mas também foi o produtor que lutou para levar a história do escândalo de Watergate para as telas com um realismo implacável.

Por trás das câmeras: o diretor vencedor do Oscar

Quatro anos depois, Robert Redford fez uma transição surpreendente e bem-sucedida para a direção com Gente como a Gente (1980). O drama familiar íntimo foi a grande surpresa do Oscar de 1981, levando os prêmios de Melhor Filme e Melhor Diretor para Redford, desbancando o favorito da noite, Touro Indomável, de Martin Scorsese. Ele voltaria a ser indicado à direção por Quiz Show (1994).

Uma vida marcada por perdas e um legado duradouro

A vida pessoal de Redford foi marcada por tragédias. Ele perdeu seu primeiro filho, Scott, para a síndrome da morte súbita infantil em 1959. Em 2020, seu outro filho, Jamie, morreu de câncer. Essas perdas profundas moldaram um homem que, apesar da fama, era notoriamente reservado.

Ele anunciou sua aposentadoria da atuação em 2018, mas continuou trabalhando como produtor e como a face de Sundance. Robert Redford deixa as filhas, Shauna e Amy, e sua segunda esposa, Sibylle Szaggars. Seu legado permanece não apenas nos filmes que estrelou e dirigiu, mas no festival que criou, que continua a lançar novas e importantes vozes no cinema mundial.

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