O fim da ambiguidade: Joel estava errado?

Após mais de uma década de intensas discussões entre fãs, o cocriador de The Last of Us, Neil Druckmann, ofereceu uma resposta definitiva sobre uma das maiores questões filosóficas do jogo: os Fireflies teriam conseguido criar uma cura se Joel não tivesse impedido? Segundo Druckmann, a resposta é sim.

“Será que os Fireflies poderiam criar uma cura? Nossa intenção era que sim, eles poderiam”, afirmou Druckmann em um clipe que circula no Reddit. “Será que nossa ciência era um pouco instável a ponto de gerar dúvidas? Sim, mas a intenção era que a cura fosse real.” A declaração encerra, ao menos oficialmente, o debate sobre o impacto da escolha de Joel no final do primeiro jogo.

Do dilema moral à matemática fria

A força de The Last of Us sempre esteve na sua ambiguidade moral. Joel salvou Ellie ao impedir sua morte, mas condenou o mundo à permanência da infecção. No entanto, até hoje, a dúvida sobre a eficácia da potencial cura permitia múltiplas interpretações: seria mesmo certo matar uma adolescente por uma chance incerta de vacina?

Agora, com a confirmação de Druckmann, essa chance passa a ser certeza, o que transforma a complexidade do dilema num clássico “problema do bonde”: matar uma para salvar milhões. Muitos fãs sentiram que a profundidade do debate foi achatada por essa nova narrativa.

Reações divididas: fãs questionam decisão de Druckmann

No ResetEra e no Twitter, as reações foram imediatas — e majoritariamente negativas. “Gostei da ambiguidade. Deveria ter ficado em aberto”, escreveu um usuário. Outro completou: “Isso piora a experiência do primeiro jogo… nunca deveríamos ter sabido.”

Críticos dessa revelação afirmam que a força narrativa de Joel estava justamente na zona cinzenta de suas ações. Ele era pai, assassino, herói e vilão ao mesmo tempo — e isso tornava o universo de The Last of Us tão visceralmente humano. Ao dizer que a cura seria viável, Druckmann retira parte da dúvida que sustentava esse equilíbrio moral.

Uma manobra que reforça Part II

Do ponto de vista narrativo, a confirmação pode ter uma função estratégica: reforçar o peso da vingança de Abby e o vazio existencial de Ellie em The Last of Us Part II. Se Joel de fato condenou a humanidade, então a jornada de Abby em busca de justiça ganha mais legitimidade, e a dor de Ellie — que perdeu o sentido da própria imunidade — se aprofunda.

Joel: de figura trágica a vilão consciente?

A questão que agora se impõe é: Joel era um vilão consciente ou apenas um homem quebrado tentando salvar uma filha substituta? Com a nova resposta de Druckmann, o personagem se afasta de sua complexidade trágica para se aproximar de um antagonista deliberado. Para muitos, isso enfraquece o impacto do final de 2013, um dos mais debatidos e marcantes da história dos videogames.

O que resta da escolha?

Mesmo com a confirmação, The Last of Us segue sendo um estudo poderoso sobre trauma, perda, amor e egoísmo. Mas a decisão de Druckmann levanta um alerta sobre a tendência de revisitar e resolver retcons morais em narrativas originalmente ambíguas. O cinza que sustentava Joel agora cede espaço a uma moralidade mais clara — e, por isso, menos provocadora.

A escolha ainda foi de Joel. Mas agora, sabemos o preço.

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