A Netflix se prepara para aposentar uma de suas mais inovadoras experiências narrativas: Black Mirror: Bandersnatch, lançado em 2018, será removido do catálogo no dia 12 de maio, marcando o fim definitivo dos especiais interativos da plataforma. A decisão vem meses após a empresa anunciar que deixaria de investir nesse tipo de conteúdo, optando por outras frentes tecnológicas.

O fim de uma era interativa

Bandersnatch foi pioneiro ao oferecer ao público uma experiência interativa onde as escolhas moldavam o rumo da história. Ambientado em 1984, o especial acompanha Stefan Butler, um jovem programador que tenta adaptar um livro de fantasia em um jogo para o lendário ZX Spectrum. A trama se desdobra em diversas direções, dependendo das escolhas do espectador, e apresenta múltiplos finais, cenas ocultas e metanarrativas complexas – tudo isso embalado no estilo sombrio de Black Mirror.

A produção foi um marco: aclamada pela crítica, conquistou dois prêmios Emmy e demonstrou que o streaming poderia ir além do formato tradicional. No entanto, apesar da repercussão inicial, a Netflix decidiu encerrar essa iniciativa. Dos 24 especiais interativos já lançados, apenas Bandersnatch e Unbreakable Kimmy Schmidt: Kimmy vs. the Reverend permanecem disponíveis — ambos com data de validade marcada para 12 de maio.

Motivo da remoção

Segundo o site What’s On Netflix, a retirada dos especiais está ligada a uma reformulação iminente da interface do usuário da plataforma. A tecnologia usada nos episódios interativos não está sendo mantida na nova versão do sistema, o que inviabiliza sua continuidade.

Em declarações anteriores, a porta-voz da Netflix, Chrissy Kelleher, afirmou que o projeto “cumpriu seu propósito”, mas se tornou tecnicamente limitante. Em seu lugar, a empresa tem priorizado outras formas de engajamento com o público, como a oferta crescente de jogos via streaming e aplicativos.

Possível versão linear?

Ainda não há confirmação se Bandersnatch será relançado em formato não interativo, como ocorreu recentemente com especiais do apresentador Bear Grylls. A transformação, no entanto, implicaria na perda da principal característica do episódio, que é justamente o controle narrativo exercido pelo espectador.

Um legado inegável

Apesar de sua remoção, o impacto de Bandersnatch permanece. Ele não apenas redefiniu o que o streaming poderia oferecer como entretenimento, como também serviu de experimento ousado de storytelling em uma era de consumo digital moldado por escolhas e personalização.

O criador da série, Charlie Brooker, declarou em 2019 que via a interatividade como “um gênero que coexistirá com os demais”, sem necessariamente substituir a narrativa linear. O fim de Bandersnatch pode indicar o oposto — pelo menos, por enquanto.

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Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema. Jornalista, assessor de imprensa.

Apaixonado por histórias que transformam. Todo mundo tem a sua própria história e acredito que todas valem a pena conhecer.

Contato: matheus@nosbastidores.com.br

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