Nicole Kidman brilha em Cannes e reforça compromisso com a equidade de gênero na direção cinematográfica
Nicole Kidman desembarcou no Festival de Cannes para ser homenageada com o prêmio Woman in Motion, em reconhecimento à sua atuação consistente em prol das mulheres na indústria do entretenimento. O prêmio, entregue por François-Henri Pinault (CEO da Kering), Iris Knobloch (presidente de Cannes) e Thierry Fremaux (diretor do festival), marca o décimo ano da iniciativa que celebra personalidades que promovem a igualdade de gênero nas artes.
Durante uma palestra com a jornalista Angelique Jackson, da Variety, Kidman falou abertamente sobre seu compromisso público de trabalhar com uma diretora a cada 18 meses, feito em 2017. Desde então, ela atuou em 27 projetos com diretoras, entre cinema e televisão, colaborando tanto com nomes consagrados quanto com estreantes. “Eu ia tornar isso possível”, disse a atriz, ao comentar o cenário desigual que enfrentou e sua decisão de romper com a lógica predominante de risco zero em Hollywood.
Apoio além da promessa: campo de força para diretoras
Nicole destacou que o desafio não está apenas em contratar uma mulher, mas em protegê-la e orientá-la durante o processo criativo, criando um “campo de força” que permita que ela exerça sua função com segurança e liberdade. “Muitas vezes, é dada uma única chance para mulheres. Se o projeto não for perfeito, elas são descartadas. Homens têm mais espaço para errar”, lamentou Kidman.
Ela também chamou atenção para a discriminação etária, tanto entre atrizes quanto diretoras. “Você pode ter feito um filme ótimo aos 20, mas estar na casa dos 40 e ainda ter muito a oferecer. Precisamos continuar investindo nesses talentos”, afirmou.
Filmografia alinhada ao discurso
Desde sua promessa, Kidman tem alternado entre trabalhar com diretoras veteranas, como Susanne Bier e Karyn Kusama, e novas vozes, como Halina Reijn (Babygirl) e Mimi Cave (Holland). Na televisão, estrelou Expats, dirigida por Lulu Wang, e The Perfect Couple, com Bier. Ela também voltará ao cinema com Practical Magic 2, novamente sob direção de Bier.
Apesar do envolvimento com tantas cineastas, Kidman descartou seguir a carreira de diretora. “Gosto de ser atriz. É lindo dizer a um diretor: ‘Estou em suas mãos, me molde’”, disse. Ela prefere atuar como produtora e mentora de novas vozes femininas.
Números que ainda preocupam
Em 2017, apenas 4% dos filmes de maior bilheteria foram dirigidos por mulheres. Em 2024, esse número subiu para 13,6%, mas Kidman considera o avanço ainda insuficiente. “É preciso mais apoio financeiro e mentoria. Investidores devem estar dispostos a correr riscos com novos nomes”, concluiu.
Nicole Kidman retorna a Cannes em um momento simbólico: foi em 2017 que recebeu o Prêmio do 70º Aniversário do festival — o mesmo ano em que fez sua promessa pública. Agora, oito anos depois, ela colhe os frutos de uma trajetória marcada pela coerência e ação.