Camadas de tinta e trauma: a jornada final de Clair Obscur

Lançado em 2025, Clair Obscur: Expedition 33 rapidamente se destacou como uma das narrativas mais complexas e emocionalmente densas do ano. Com uma mistura de JRPG, ficção surreal e drama familiar, o jogo leva o jogador a atravessar realidades — ou melhor, telas — em uma tentativa de reconstruir uma família despedaçada pela tragédia.

Se você está confuso após o Ato 3 (sim, que vem depois do epílogo), saiba que não está sozinho. O final de Clair Obscur é repleto de reviravoltas, metáforas e decisões carregadas de significado. Aqui está a explicação completa.

Tudo é pintura: o mundo dentro da Tela

No Ato 3, é revelado que a maior parte da história de Clair Obscur: Expedition 33 ocorre dentro de uma Tela mágica, uma criação sobrenatural alimentada por chroma, uma substância capaz de gerar mundos inteiros. Essa Tela pertence a Verso, um artista falecido no mundo real que salvou sua irmã Alicia de um incêndio doméstico, morrendo no processo.

Traumatizada pela perda, sua mãe, Aline, também uma poderosa artista, foge da realidade ao se isolar na Tela de Verso. Lá, ela pinta versões idealizadas de sua família — incluindo Verso, Alicia (renomeada como Maelle) e até mesmo seu marido, Renoir — e vive em um mundo fictício, negando a dor da perda.

Quem é quem: fac-símiles, sósias e a verdade revelada

Ao longo do jogo, o jogador conhece esses personagens pintados sem saber da verdade. A Maelle que controlamos é, na verdade, Alicia recriada. O Verso que acompanhamos também é uma cópia. O Renoir que inicialmente parece ser o vilão é outro sósia, pintado por Aline como forma de proteção. O verdadeiro antagonista é O Curador, identidade assumida pelo verdadeiro Renoir, que entrou na Tela para tentar resgatar sua esposa da ilusão.

O Gommage: purificação ou roubo?

Anualmente, a cidade de Lumière, habitada pelas criações de Aline, sofre o Gommage — um evento em que os mais velhos desaparecem, supostamente por obra da Pintora. No entanto, descobre-se que o Gommage é orquestrado por Renoir. Seu objetivo: impedir que o chroma dos mortos retorne a Aline, drenando o mundo até que a Tela se esvazie. O número gravado no monólito, em vez de ser uma ameaça, é um aviso desesperado da Pintora tentando salvar quem ainda resta.

Duas escolhas, dois finais

No fim do jogo, o jogador pode optar entre lutar como Verso ou Maelle, o que resulta em dois finais distintos, ambos melancólicos:

  • A Life to Love (Verso): Ao lutar como Verso, os personagens da Tela são apagados com o Gommage. Alicia visita o túmulo de seu irmão no mundo real, vendo pela última vez os fantasmas daqueles que conheceu na Tela. A família Dessendre, real e pintada, se despede — e a fantasia termina. 
  • A Life to Paint (Maelle): Escolhendo Maelle, ela segura Verso em seus braços enquanto ele se apaga. A cena final mostra um concerto em Lumière, onde um novo Verso, aparentemente repintado, sobe ao palco. Maelle, com os olhos agora tingidos de chroma como seus pais e irmã, observa silenciosamente. A ilusão continua, mas sob nova direção.

Existe um final bom ou ruim?

Não exatamente. Ambos os finais são agridoce. A questão moral central é: os habitantes da Tela são reais o suficiente para merecer viver? Ou são apenas fantasmas de uma mente devastada pela dor? Ao escolher Maelle, você perpetua a ilusão. Ao escolher Verso, você aceita a perda e rompe com o escapismo.

Conclusão: um retrato da dor humana

Clair Obscur: Expedition 33 é mais do que uma história sobre realidades pintadas — é uma metáfora poderosa sobre luto, memória e controle. Ele questiona se o consolo da fantasia justifica a negação da verdade, e se podemos realmente deixar o passado para trás sem apagá-lo por completo.

Ambos os finais têm algo a dizer. Cabe ao jogador decidir qual verdade — ou mentira — deseja sustentar.

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