Karen Blixen (Birthe Neumann), também conhecida pelo pseudônimo de Isak Dinesen, foi uma grande escritora dinamarquesa, tendo entre suas obras mais consagradas A Fazenda Africana, que foi baseado no período em que a autora viveu no continente africano, local em que residiu antes de seu retorno para a Dinamarca. Porém, não são sobre essas memórias na África que o longa O Pacto (Bille August) que inspirou.
Em vez de fazer uma cinebiografia convencional da autora, algo que seria muito mais intrigante, mostrando a vida de Blixen na Savana africana, e suas intimidades ao longo de sua vida enquanto esteve na África, o diretor Bille August (Trem Noturno para Lisboa) pega um período em que Karen fez um pacto com o escritor Thorkild Bjørnvig (Simon Bennebjerg) e o desenvolve através desse ponto de vista dos dois personagens.
O pacto em si estabelecido entre as partes e que dá dinâmica ao filme é na realidade uma oferta feita pela escritora, pensando mais como uma espécie de promessa de fidelidade espiritual que a própria Karen Blixen oferece a Thorkild em troca de se tornar um artista completo, ou seja, ele ficaria hospedado na residência de Karen e iria ficar desenvolvendo sua literatura longe de sua família, ficando sob os cuidados da escritora dinamarquesa, e assim não escrevendo para mais ninguém, apenas para ela, isso por causa do pacto ajustado entre os dois.
Mesmo esse pacto sendo bastante bizarro, beirando até mesmo a uma escravidão em alguns momentos ou como se Thorkild tivesse vendido sua alma para Karen. Bille August trabalha bem certos elementos centrais da trama, mostrando que Bjørnvig acaba no fundo tendo uma leve “vantagem” na situação, não que ele queria isso, mas o autor escreve sua obra, fica longe de casa, trai sua esposa, tem uma certa liberdade criativa que desejava ter e é o ponto que o cineasta queria mostrar desde o início para o público. Thorkild assim como Karen vive preso à sua arte e precisa de um empurrão e de um escapismo para fugir do tradicionalismo e conhecer o mundo como ele é.
O roteiro, por ter como proposta a opção de contar a história a respeito deste pacto, acaba por focar mais na amargura de Blixen e em suas angústias nesta sua fase da vida, abordando de maneira rasa a sua doença, a sífilis, na qual contraiu na África há algum tempo. Mesmo com o diretor não dando tanta relevância assim para a personagem de Karen Blixen, sua intérprete, a atriz Birthe Neumann se destaca com louvor na solidão da autora.
Essas relações criadas pelo roteiro que se desenvolvem com muita rapidez entre Thorkild e Blixen ainda no primeiro ato, se mostram em um primeiro momento uma amizade frouxa e sem muito afeto, mas que com o passar do tempo vai se transformando em algo maior, mesmo assim com vínculos criados de forma rasa, o que demostra que August não trabalhou de forma virtuosa os elementos do roteiro para que isso ocorresse e não deu tempo suficiente para que se estabelecesse os acontecimentos necessários para que a narrativa pudesse fluir normalmente.
O Pacto deve agradar aqueles que curtem cinebiografias ou que procuram conhecer mais a respeito de uma personalidade da literatura, do mais não há tanta profundidade na vida da autora, além de uma falta de vontade por parte do diretor para detalhar uma história de amor mais emocionante e empolgante envolvendo o protagonista.
O Pacto (Pagten, Dinamarca – 2021)
Direção: Bille August
Roteiro: Christian Torpe, Thorkild Bjørnvig (obra)
Elenco:Birthe Neumann, Simon Bennebjerg, Nanna Skaarup Voss, Asta Kamma August, Anders Heinrichsen
Gênero: Biografia, Drama
Duração: 115 min
Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.