Karla Sofía Gascón, indicada ao Oscar, é alvo de críticas por tuítes islamofóbicos

A atriz Karla Sofía Gascón, indicada ao Oscar de Melhor Atriz por sua atuação em Emilia Pérez, está no centro de uma polêmica após tuítes antigos, nos quais ela sugere a proibição do islamismo na Europa, ressurgirem nas redes sociais. O Conselho Muçulmano de Assuntos Públicos (MPAC) reagiu às declarações, classificando-as como “dolorosas, ofensivas e chocantes”.

Em uma declaração exclusiva ao TheWrap, Sue Obeidi, vice-presidente sênior do MPAC Hollywood Bureau, expressou sua decepção com os comentários de Gascón. “Deletados ou não, esses tuítes são dolorosos, ofensivos e chocantes, principalmente vindos de alguém que é membro de outra comunidade vulnerável”, disse Obeidi. “Os muçulmanos fazem parte de todas as comunidades, incluindo a comunidade transgênero. E nem me faça começar a falar sobre a idade das trevas da Europa…”

Os tuítes controversos

Os tuítes em questão, originalmente escritos em espanhol e posteriormente traduzidos para o inglês, foram publicados por Gascón em novembro de 2020. Em um deles, a atriz expressa preocupação com o que ela descreve como um aumento da presença muçulmana na Espanha.

“Desculpe, é apenas impressão minha ou há cada vez mais muçulmanos na Espanha? Toda vez que vou buscar minha filha na escola, há mais mulheres com os cabelos cobertos e as saias abaixadas até os calcanhares”, escreveu Gascón. “Talvez no ano que vem, em vez de inglês, tenhamos que ensinar árabe.”

Em outro tuíte, a atriz defende a proibição de religiões que, segundo ela, “vão contra os valores europeus e violam os direitos humanos”, citando especificamente o islamismo.

“Até que proíbamos religiões que vão contra os valores europeus e violam os direitos humanos, como o islamismo, sob a proteção da liberdade de culto, não acabaremos com parte do enorme problema que enfrentamos. A fé manipula aqueles que se apegam à fé”, dizia o tuíte.

Reação do Conselho Muçulmano de Assuntos Públicos

O MPAC, uma organização sem fins lucrativos dedicada a promover o pluralismo e melhorar as políticas que impactam os muçulmanos americanos, destacou a contradição entre os comentários de Gascón e sua posição como membro de uma comunidade marginalizada.

“É particularmente decepcionante ver esse tipo de retórica vinda de alguém que faz parte de uma comunidade que também enfrenta discriminação e preconceito”, afirmou Obeidi. “Os muçulmanos são parte integrante da sociedade europeia e global, e comentários como esses só servem para dividir e promover o ódio.”

O impacto na carreira de Gascón

A polêmica surge em um momento crucial para Gascón, que recebeu aclamação da crítica por sua atuação em Emilia Pérez e está concorrendo ao Oscar. A indicação ao prêmio mais cobiçado do cinema deveria ser um momento de celebração, mas os tuítes ressurgidos podem manchar sua imagem pública.

Até o momento, Gascón não se pronunciou sobre os tuítes ou as críticas recebidas. A ausência de uma resposta oficial pode aumentar a pressão sobre a atriz, especialmente em um momento em que a indústria do cinema está cada vez mais atenta a questões de diversidade e inclusão.

O debate sobre liberdade religiosa e valores europeus

Os comentários de Gascón reacenderam um debate complexo sobre liberdade religiosa, integração cultural e os chamados “valores europeus”. Enquanto alguns defendem a necessidade de proteger tradições e normas locais, outros argumentam que a diversidade religiosa e cultural é uma parte essencial da identidade europeia moderna.

O MPAC reforçou a importância de combater a islamofobia e promover o diálogo entre diferentes comunidades. “A história da Europa é marcada por períodos de intolerância e exclusão, mas também por momentos de grande avanço e inclusão. Precisamos aprender com o passado para construir um futuro mais justo e igualitário”, concluiu Obeidi.