Vamos ser honestos: a cena de abertura de um filme é seu aperto de mão. É ali, nos primeiros minutos, que ele te convida para a jornada ou te perde para sempre. Nos filmes de fantasia, esse desafio é dobrado. Como apresentar um universo de magia, regras e história sem soar como uma aula chata? A resposta está na maestria de contar uma história, seja honrando a tradição do “era uma vez” ou quebrando todas as regras com um sorriso no rosto.
Alguns filmes nos cativam com prólogos épicos e visuais deslumbrantes. Outros nos ganham ao zombar dos clichês que tanto amamos. O que todos têm em comum? Eles provam que os primeiros minutos são, de fato, pura magia. Separamos 10 aberturas que são verdadeiras obras de arte e definiram seus filmes como clássicos.
10. Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 1 (2010)
A abertura: O trio de ouro não está voltando para Hogwarts. Vemos Hermione, com o coração partido, lançar o feitiço Obliviate em seus pais, apagando a si mesma da vida deles para protegê-los.
Por que é genial: Esqueça a magia e as maravilhas. Esta abertura estabelece imediatamente o tom sombrio e o peso do sacrifício. Não há diálogo, apenas a dor silenciosa de uma decisão impossível. É no sacrifício de Hermione que o filme crava sua estaca no chão, nos dizendo que, a partir dali, a guerra começou e as perdas serão reais.
9. A Múmia (1999)
A abertura: Uma narração épica nos transporta para o Egito Antigo, contando a história da traição do sacerdote Imhotep e a terrível maldição lançada sobre ele.
Por que é genial: É o exemplo perfeito de uma cena expositiva tradicional bem-feita. Em poucos minutos, A Múmia estabelece sua mitologia, apresenta o vilão, define o tom de aventura e terror, e nos enche os olhos com visuais grandiosos. A narração de Ardeth Bay, o guerreiro Medjai, é a cereja do bolo, conectando o passado antigo com os eventos que estão prestes a acontecer.
8. O Sétimo Selo (1957)
A abertura: Em uma praia desolada da Suécia medieval, um cavaleiro que retorna das Cruzadas encontra uma figura encapuzada de preto. “Eu sou a Morte”, diz a figura. O cavaleiro, então, o desafia para uma partida de xadrez, valendo sua própria vida.
Por que é genial: É uma das cenas mais icônicas da história do cinema. A chegada da Morte não é bombástica, mas silenciosa e inevitável. A premissa do filme é estabelecida com uma simplicidade arrepiante, e a imagem dos dois iniciando o jogo se tornou um símbolo eterno da luta do homem contra a mortalidade.
7. A Princesa Prometida (1987)
A abertura: Um avô visita seu neto doente e decide ler para ele um livro chamado “A Princesa Prometida”, para o desânimo inicial do garoto, que preferia um videogame.
Por que é genial: O filme já começa quebrando a quarta parede e nos dizendo: “Sim, isso é um conto de fadas, mas vamos nos divertir com isso”. Essa estrutura de metalinguagem prepara o público para a subversão de clichês que virá a seguir. Ela cria uma sensação de conforto e nos convida a ouvir uma boa história, assim como o neto.
6. Como Treinar o Seu Dragão (2010)
A abertura: Com uma narração sarcástica do protagonista Soluço, somos jogados no meio de um caótico ataque de dragões à vila viking de Berk.
Por que é genial: Em menos de cinco minutos, entendemos tudo. Conhecemos a cultura viking obcecada por matar dragões, a desaprovação do pai de Soluço, a inaptidão do garoto para a luta e sua inteligência para criar invenções. É uma aula de como apresentar um personagem e seu mundo de forma dinâmica, divertida e cheia de personalidade.
5. O Labirinto do Fauno (2006)
A abertura: A câmera nos leva para trás no tempo, revertendo o sangue que escorre do nariz de uma menina moribunda, Ofélia, enquanto uma narração conta a lenda de uma princesa de um reino subterrâneo.
Por que é genial: Guillermo Del Toro funde o real e o fantástico de forma assustadora. A cena já prenuncia o final trágico de Ofélia, ao mesmo tempo que nos introduz ao conto de fadas sombrio que servirá de refúgío para ela diante dos horrores da Guerra Civil Espanhola. É poético, melancólico e inesquecível.
4. O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel (2001)
A abertura: Com a voz etérea de Galadriel, somos guiados por um prólogo que resume séculos da história da Terra-média, a forja dos Anéis de Poder e a ascensão e queda de Sauron.
Por que é genial: Pode ser a abertura expositiva mais tradicional da lista, mas sua execução é perfeita. Peter Jackson consegue a façanha de condensar a mitologia massiva de Tolkien em uma sequência épica, visualmente deslumbrante e que estabelece a escala monumental da jornada que está por vir. É o padrão pelo qual todas as introduções de fantasia são julgadas.
3. Princesa Mononoke (1997)
A abertura: Um javali demoníaco coberto de vermes ataca uma vila pacata. O jovem príncipe Ashitaka é forçado a lutar, mas acaba sendo amaldiçoado no processo.
Por que é genial: O mestre Hayao Miyazaki nos apresenta ao conflito central do filme (o desequilíbrio da natureza) através de uma sequência de ação de tirar o fôlego. A protagonista que dá nome ao filme nem aparece, mas já entendemos a gravidade da situação. A animação vibrante e a intensidade da cena nos fisgam imediatamente.
2. Monty Python e o Cálice Sagrado (1975)
A abertura: Após créditos iniciais absurdos com legendas falsas em sueco, vemos o Rei Arthur “cavalgando” pela névoa… enquanto seu servo bate dois cocos para simular o som dos cascos.
Por que é genial: É a paródia em sua forma mais pura. Antes mesmo da história começar, o filme já destruiu qualquer pingo de seriedade. A cena é uma piada visual brilhante que estabelece perfeitamente o tom de comédia anárquica e nonsense que define o Monty Python e sua sátira hilária das lendas arturianas.
1. Shrek (2001)
A abertura: Um livro de conto de fadas se abre, narrando a história de uma linda princesa amaldiçoada. De repente, ouvimos o som de uma página sendo arrancada. A câmera revela Shrek, que usa a página como papel higiênico em sua latrina. Logo em seguida, a música “All Star” do Smash Mouth explode.
Por que é genial: É a subversão definitiva. Em um minuto, Shrek pega todos os clichês de contos de fadas da Disney, rasga-os ao meio e joga no lodo. A cena é uma declaração de intenções: este não será o conto de fadas que seus pais te contaram. É irreverente, hilário e mudou a animação para sempre, provando que o “felizes para sempre” podia ser muito mais divertido.