Em uma rara e aprofundada conversa pública, o diretor Quentin Tarantino ofereceu aos fãs uma verdadeira aula de cinema, repleta de anedotas de bastidores, reflexões sobre seu processo criativo e homenagens a seus mentores e colaboradores. O cineasta compartilhou histórias que vão desde a escalação de Bruce Willis em Pulp Fiction até o conselho de “seja homem” que recebeu de Sidney Poitier, e ainda fez um tributo emocionante ao recém-falecido Robert Redford.

A conversa, mediada por Scott Feinberg do The Hollywood Reporter, deixou o público extasiado com a sinceridade e a paixão do diretor por sua arte.

O tributo a Robert Redford e o início em Sundance

Tarantino relembrou com carinho seu início de carreira em 1991, quando foi selecionado para o Laboratório de Diretores do Sundance Institute com seu primeiro filme, Cães de Aluguel. Ele contou sobre a sensação de ser orientado por gigantes como Terry Gilliam e Stanley Donen, e o impacto que o fundador do festival, Robert Redford, teve sobre ele.

“Eles diziam: ‘Você é jovem (…) mas nós te vemos'”, lembrou ele sobre a filosofia do instituto. “Eu simplesmente não conseguia acreditar que algo pudesse ser tão artisticamente filantrópico.” Ao final da história, com a voz emocionada, ele acrescentou: “Então, muito obrigado, Sr. Redford”, em uma homenagem póstuma ao ícone, falecido no início do mês.

A escalação de Bruce Willis e a ‘música’ de Samuel L. Jackson

O diretor também revelou os bastidores da escalação de Pulp Fiction. Segundo ele, Bruce Willis queria o papel do assassino Vincent Vega, mas Tarantino o queria para o boxeador Butch. Após implorar para que Willis lesse o roteiro mais uma vez, ele recebeu uma ligação no dia seguinte. “Ele pegou o telefone e disse: ‘Quentin, a frase mais curta de Hollywood é ‘Estou dentro””, relembrou o diretor.

Sobre sua parceria com Samuel L. Jackson, Tarantino descreveu seu diálogo como música. “Quando estou escrevendo diálogos, estou escrevendo música, poesia, um pouco de hip-hop”, explicou. “Então, quando ele [Jackson] fala o diálogo, eu ouço a música. Eu ouço a poesia.”

A dor do fracasso e o conselho de Sidney Poitier

Tarantino também falou sobre seus momentos de vulnerabilidade. Ele descreveu o fracasso de bilheteria de À Prova de Morte como o momento em que “minha namorada [o público do cinema] terminou comigo” e revelou ter buscado o conselho de Tony Scott e Steven Spielberg.

Durante a pré-produção de Django Livre, ele confessou ter tido uma crise de consciência sobre filmar em uma plantação real. Foi o lendário Sidney Poitier quem o colocou no eixo. Durante um jantar, Poitier lhe disse: “Parece-me que você tem medo do seu próprio filme. Você precisa superar isso e ser homem.”

Questionado se seu décimo filme será de fato o último, como ele sempre prometeu, o cineasta respondeu de forma enigmática: “Esse é o plano. Veremos.”

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