Uma nova reportagem do site The Gamer, publicada no último dia 5 de julho, gerou um intenso debate online, não apenas por seu conteúdo, mas pela forma como foi apresentado. O artigo, que se baseia em uma entrevista com a atriz Samantha Béart (a Karlach de Baldur’s Gate 3) para alegar que a indústria de games estaria censurando narrativas inclusivas por pressão política, foi criticado por muitos leitores por se assemelhar mais a um editorial de opinião do que a uma reportagem factual.

No texto, o site conecta um suposto retrocesso em iniciativas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) na indústria de jogos a uma ordem executiva (fictícia) do governo de Donald Trump, nos Estados Unidos. A principal fonte para sustentar essa tese é a atriz Samantha Béart. “Sem expor os desenvolvedores, eu sei que isso está acontecendo. Suas narrativas foram cortadas”, disse ela ao The Gamer, acrescentando que um jogo tão diverso quanto Baldur’s Gate 3 talvez não recebesse sinal verde para ser produzido hoje.

A crítica: falta de provas e o exemplo de ‘Baldur’s Gate 3’

O principal ponto de crítica à reportagem é a falta de evidências concretas para além da declaração da atriz. O The Gamer não cita exemplos específicos de jogos censurados ou de estúdios que tenham alterado seu conteúdo, nem parece ter verificado de forma independente as alegações de Béart, tratando seu relato como uma verdade absoluta.

Além disso, críticos da matéria apontam que o próprio sucesso de Baldur’s Gate 3 contradiz, em parte, o argumento. O RPG da Larian Studios foi um fenômeno de vendas e de crítica não por causa de uma pauta específica, mas por sua qualidade, profundidade e por dar ao jogador a liberdade de escolha. Seus elementos inclusivos, como os romances entre personagens do mesmo sexo, eram opcionais e integrados à trama, e não o principal chamariz de marketing.

Essa abordagem contrasta com a de outros títulos que, segundo analistas, enfrentaram rejeição por focarem suas campanhas de marketing quase que inteiramente em pautas de identidade, enquanto ofereciam uma jogabilidade considerada superficial.

A linha tênue entre reportagem e opinião

A reportagem do The Gamer também invoca um suposto “renascimento” do movimento GamerGate para classificar as críticas online a pautas de diversidade, usando o termo como um “bicho-papão ideológico” para assédio e intolerância, sem citar campanhas coordenadas ou incidentes específicos.

Para muitos leitores, a matéria, que não foi rotulada como um artigo de opinião, estabelece uma relação de causa e efeito entre a política governamental e o comportamento da indústria de games baseada em uma única fonte, sem apresentar dados ou outras apurações que corroborem a tese. Até o momento, nenhum grande estúdio confirmou o corte de conteúdo por pressão política. Pelo contrário, desenvolvedoras como a BioWare e a Insomniac Games, por exemplo, continuam a declarar publicamente seu compromisso com a inclusão criativa.

Redação Bastidores

Perfil oficial da redação do site.

Mais posts deste autor