A representatividade de personagens LGBTQIA+ nos filmes dos grandes estúdios de Hollywood está em declínio. Pelo segundo ano consecutivo, o número de personagens e de filmes inclusivos diminuiu, e a qualidade dessa representação continua a ser um desafio. A conclusão é do 13º Índice de Responsabilidade dos Estúdios (SRI, na sigla em inglês), divulgado nesta quarta-feira, 11 de junho, pela GLAAD, a principal organização de defesa dos direitos LGBTQIA+ na mídia.

A queda nos números e as notas dos estúdios

O relatório anual, que analisou 250 filmes lançados em 2024 pelos 10 maiores distribuidores, constatou que apenas 59 deles (23,6%) continham ao menos um personagem LGBTQIA+. O número representa uma queda em relação aos 27,3% de 2023 e está ainda mais distante do recorde de 28,5% alcançado em 2022.

A GLAAD atribui notas aos estúdios com base na quantidade e qualidade de sua representação. Em 2024, apenas um estúdio recebeu uma nota “boa”: a A24. A produtora independente, conhecida por seus filmes autorais, teve 9 de seus 16 filmes (56%) considerados inclusivos, incluindo títulos aclamados como o thriller romântico “Love Lies Bleeding” (Amor, Mentiras e Sangue), a comédia surrealista “Problemista” e o drama “Queer”.

Amazon e NBCUniversal receberam notas “razoáveis”. Na parte de baixo da tabela, Warner Bros. Discovery, Apple TV+, Sony e Paramount Global foram classificadas como “insuficientes”. As piores notas, “ruins”, foram para Netflix, Lionsgate e The Walt Disney Company, três dos maiores produtores de conteúdo do mundo.

Representatividade trans é quase inexistente

Além da queda geral nos números, a natureza da representatividade também é um ponto de preocupação. O estudo da GLAAD apontou que a grande maioria dos personagens retratados eram homens gays e mulheres lésbicas. A representação de pessoas transgênero foi drasticamente reduzida e quase eliminada.

Dos 59 filmes inclusivos rastreados em 2024, apenas dois continham personagens trans: “Monkey Man: O Despertar da Besta” (Universal), que apresentou a atriz indiana Vipin Sharma como Alpha, líder de uma comunidade hijra, e “Emilia Pérez” (Netflix), co-estrelado pela atriz trans indicada ao Oscar, Karla Sofía Gascón. Em 2022, para comparação, haviam sido 12 filmes com representação trans.

O alerta da GLAAD para a indústria

Com mais de quatro décadas de atuação, a GLAAD usa seu relatório anual para pressionar a indústria a melhorar. No estudo deste ano, a organização argumenta que, em um momento de crescente retórica anti-LGBTQIA+ na política e na sociedade, a ausência dessas histórias nas telas é ainda mais prejudicial.

“Em uma época em que a comunidade […] enfrenta uma retórica falsa e prejudicial descontrolada na mídia […] essas histórias são vitais”, afirma o relatório. A organização conclui que os grandes estúdios estão perdendo uma oportunidade significativa de se conectar com o crescente público LGBTQIA+, tanto nos Estados Unidos quanto no exterior.

“Está claro que os estúdios precisam diversificar seus projetos com uma variedade de tipos de histórias com orçamentos escalonados para garantir estabilidade e, em última análise, crescimento”, finaliza o estudo. O recado é claro: em 2024, Hollywood deu um passo para trás em termos de inclusão, e a cobrança por uma mudança de curso será ainda maior no próximo ano.

Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema. Jornalista, assessor de imprensa.

Apaixonado por histórias que transformam. Todo mundo tem a sua própria história e acredito que todas valem a pena conhecer.

Contato: matheus@nosbastidores.com.br

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