A série de filmes de terror e ficção científica iniciada por Ridley Scott com “Alien: O Oitavo Passageiro”, tem sido um grande fenômeno desde os anos 1970. Sendo assim, o xenomorfo vem quebrando a bolha das telonas para outras mídias, incluindo os videogames, e agora temos dezenas de títulos, alguns excelentes, outros nem tanto. Hoje vamos analisar o jogo mais recente da série, Aliens: Dark Descent e tirar a dúvida: finalmente temos um bom jogo de Alien novamente?

Mistura de estilos

Aliens: Dark Descent traz certa criatividade na maneira com que os desenvolvedores pensaram a jogabilidade. Nessa área nós temos uma mistura de estilos bem interessante. Por um lado, é um RTS tático similar a XCOM e por outro, é um Survival Horror como o próprio Alien Isolation.

Logo no tutorial, onde controlamos Hayes, a protagonista do jogo, aprendemos os movimentos básicos e a passar pelo xenomorfo despercebidos, um elemento de stealth incomum em RTS que vamos precisar utilizar mais para a frente quando nos encontrarmos com as hordas alienígenas. 

Depois do tutorial, somos apresentados à base da Otago, onde conhecemos nosso pelotão de fuzileiros. Administrar o pelotão não é exatamente fácil ou totalmente intuitivo para os novatos, mas uma vez que se aprende, é bem satisfatório. Há uma grande quantidade de opções do que fazer com seus fuzileiros na base, como designar médicos para cuidar dos feridos e colocá-los para treinar no quartel para ganhar experiência mais rápido.

No combate, os combatentes de nível 1 recebem armas e habilidades básicas que vão sendo aprimoradas ao longo do jogo. No combate, você é apresentado com algumas opções de ação que custam um ponto de comando. Entre elas temos tiro de supressão, muito útil para quando temos que enfrentar hordas inteiras de xenomorfos de uma vez, a escopeta, perfeita para combates de curta distância e também a icônica metralhadora automática que aparece em uma importante cena de Aliens

Aliás, é importante dizer que além de Alien: Isolation, este é o jogo da franquia que mais se aproximou dos filmes em termos de atmosfera. Isso se observa a cada missão, onde temos uma construção de tensão contínua. Geralmente os fuzileiros chegam a um local que parece deserto, mas com algumas coisas que não parecem certas sendo observadas no cenário, como manchas de sangue, sinais de luta e corpos espalhados pelo chão, até que nos deparamos com horrendas criaturas ou pessoas fanáticas. Cabe a você encontrar o melhor jeito de superar essas dificuldades.

O jogo começa já incrivelmente difícil. Na primeira missão nos deparamos com poderosas hordas de xenomorfos e até mesmo uma rainha, sendo assim, é quase inevitável que um novato não perca alguns fuzileiros logo de primeira, o que pode desencorajar algumas pessoas de continuarem o jogo, no entanto para aqueles que persistirem, a experiência vai ficando cada vez melhor.

Fim de jogo, cara!

É interessante que neste jogo os fuzileiros têm um indicador de estresse que tem três níveis. Conforme esse indicador vai acumulando estresse, a possibilidade dele atirar de forma imprecisa ou até mesmo abandonar seus companheiros, correndo a esmo fica maior. Apesar de ser uma mecânica realista, é um tanto irritante também quando ocorre. Para evitar que isso aconteça, o jogador pode gastar kits médicos como remédios para estresse ou soldar portas de uma sala para criar um porto seguro e descansar.

Raramente é possível terminar a expedição indo apenas uma vez, seus fuzileiros ficarão cansados, estressados e seus recursos vão ficar escassos ao longo da missão, portanto, é necessário retornar a base constantemente. Podemos considerar este aspecto um ponto positivo, pois encoraja o jogador a traçar os objetivos de cada missão e se preparar melhor para cada uma delas, conforme vai avançando pelo cenário e descobrindo novas ameaças.

Quando os fuzileiros chegam ao nível 3, você pode escolher a sua classe entre sargento, artilheiro, hacker, médico, batedor, entre outras. Cada uma dessas classes vai fornecer possibilidades de combinações de armas e upgrades diferentes ao jogador, portanto a estratégia tática já ocorre na própria formação da equipe de fuzileiros e nos upgrades que podemos fazer.

Outra característica interessante é que cada expedição nova que você fizer vai ser ainda mais perigosa que a anterior. Conforme o tempo no jogo vai passando, o nível de infestação cresce, assim, os fuzileiros encontrarão mais xenomorfos quando retornarem. A melhor maneira de passar por eles sem criar problemas é não deixando as criaturas te avistarem, algo muito difícil de se fazer quando o nível de infestação está alto. Caso você seja avistado e mate um deles, a colméia entra em estado de caçada, procurando implacavelmente seus fuzileiros. Mas o pior que pode acontecer é quando os xenomorfos organizam uma caçada massiva, cercando seus fuzileiros em grande número. Tudo isso contribui para a construção da tensão culminando em um clímax pontuado por tiro e bomba como um bom filme de Alien.

Infelizmente, o lado ruim que o jogo apresenta é que este é mais um jogo que foi lançado em um estado distante do que seria adequado, ocorrem muitos bugs e problemas técnicos, alguns que até mesmo impediram minha progressão em alguns momentos, como o comando de extrair o pelotão no VRB desaparecer ou um cenário inteiro não carregar. Creio que esses problemas serão corrigidos no futuro, mas não deixa de conferir uma experiência frustrante para boa parte dos jogadores que jogam no lançamento.

Descendo nas Trevas

A história de Aliens: Dark Descent  é bem interessante e possui elementos tanto familiares quanto novos. A protagonista da vez é Maeko Hayes, vice-administradora da Estação Pioneira de Lethe, que trabalha supervisionando os fuzileiros coloniais a bordo da Otago. Ela é acompanhada pelo sargento Jonas Harper e Bárbara Pryce, diretora da colônia de Weyland-Yutani dentre os personagens mais recorrentes. Jonas é um dos personagens mais interessantes presentes no jogo, pois ele tem motivações que vão se esclarecendo ao longo das missões para dar prosseguimento às missões.

Assim temos personagens interessantes e moralmente conflituosos, com motivações convincentes. A dublagem pode ser um pouco inconsistente, especialmente porque não há vozes únicas o suficiente para diferenciar efetivamente todo o seu elenco de fuzileiros. Isso pode quebrar o clima sendo construído pois o líder de esquadrão grita constantemente coisas como “DEPRESSA!” quando os fuzileiros estavam tentando se mover furtivamente. Para compensar, os protagonistas entregam algumas performances genuinamente memoráveis nas cenas mais dramáticas.

Como se não bastasse os fuzileiros enfrentarem as terríveis criaturas concebidas pelo artista H.R. Giger, eles ainda têm que enfrentar seres humanos de um culto fanático que adora os xenomorfos chamado A Era de Darwin. Essas pessoas chegam até mesmo ao ponto de transplantar uma incubadora em seus corpos para dar à luz aos xenomorfos crendo que eles são a evolução da espécie. O que não está 100% errado, pois os filmes repetem diversas vezes que a criatura é o “organismo perfeito”. 

Apesar do elemento religioso não estar presente nos filmes da franquia dessa forma, é sem dúvidas uma boa adição que eu gostaria de ver sendo melhor explorada em um filme ou mesmo na série que está por vir. Este novo aspecto me lembrou de outros jogos que tiraram sua inspiração de Alien, como Dead Space, onde as pessoas passavam a venerar os necromorfos. 

A ambientação é incrível, conseguindo capturar muito bem a atmosfera do filme Aliens de James Cameron, O design de som é um aspecto muito importante para a fruição da experiência, com o som perturbador dos passos de seus fuzileiros marchando, o detector de movimentos com seu bip incansável quando uma ameaça se aproxima e os barulhos de gelar a espinha que os alienígenas fazem.Ao longo do caminho, uma variedade de tipos de missão e objetivos evita que cada expedição pareça muito repetitiva. Há até algumas reviravoltas que apresentam novos rumos e inesperados tipos de inimigos.

Sem dúvidas essa é a melhor experiência da franquia Alien nos videogames desde Alien:Isolation, consistindo em um RTS tático que recria a atmosfera do segundo filme da série, Aliens: O Resgate de forma magistral. No entanto, uma curva de aprendizagem um tanto complexa pode afastar certos jogadores casuais e somando-se a isso alguns problemas técnicos do lançamento do jogo podem deixar até mesmo os jogadores do nicho longe deste título por um tempo. Mas sem dúvidas vale a pena o investimento para os fãs de Alien e de jogos RTS.

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