Hero shooter é um dos gêneros mais populares da atualidade nos videogames, ganhando notoriedade após o estrondoso sucesso do primeiro Overwatch em 2016. Desde então saíram uma série de jogos semelhantes como Valorant, Marvel Rivals e a sequência de Overwatch que começou a demonstrar certo desgaste no gênero. Concord não chega exatamente no melhor momento dos hero shooter. Em frente a diversas adversidades, vejamos como o jogo se saiu.
A primeira impressão é a que fica
Concord começa com o pé esquerdo. Em meio a cenas iniciais onde os diálogos oscilam entre o superficial e o excessivamente sério, o jogo introduz um tutorial que promete ser abrangente, mas revela-se limitado assim que você começa a jogar de verdade. Ao invés de prepará-lo para correr, ele apenas te ensina a engatinhar. Enquanto tenta entender o que está acontecendo e por que uma criatura colossal te persegue implacavelmente, o caos e a morte tomam conta da experiência. No entanto, à medida que você enfrenta esses desafios, Concord começa a revelar um caráter mais robusto e maduro, que pode, com o tempo, se mostrar recompensador.
Concord funde a adrenalina dos combates rápidos de Call of Duty com a dinâmica dos heróis de Overwatch. Você escolhe entre um elenco de 16 Freegunners (os destemidos e excêntricos protagonistas do jogo) e se lança em batalhas 5v5, espalhadas por uma variedade de mapas de tamanho médio em diferentes planetas. O jogo busca equilibrar estratégia e habilidade, com mapas desenhados para todos os estilos – seja para quem prefere tiros de precisão à distância ou para os que gostam de despistar o inimigo com movimentos ágeis em espaços confinados. Enquanto jogadas estratégicas, como preparar emboscadas com certos personagens ou aprender o layout do mapa para flanquear o inimigo, podem te dar vantagem, atiradores habilidosos podem virar o jogo com tiros certeiros, tornando cada partida uma competição acirrada entre inteligência e força bruta.
Porém, no momento, as opções de modos de jogo não trazem muita novidade. No lançamento, há apenas seis tipos de partidas, divididos em três playlists distintas. A playlist Brawl inclui o clássico Team Deathmatch – que entrega exatamente o que se espera – e Trophy Hunt, onde é preciso coletar as tags dos inimigos abatidos. Já a playlist Takeover foca em objetivos, com os modos Signal Hunt e Area Control, onde é necessário capturar e defender zonas fixas ou móveis. Por fim, Rivalry traz uma dinâmica sem respawns com os modos Cargo Run (capture e defenda um dispositivo) e Clash Point (controle uma área ou elimine a equipe adversária).
Há uma frustração constante com a escassez de modos de jogo oferecidos; afinal, não dá para implorar aos seus companheiros para irem para o ponto B indefinidamente enquanto eles insistem em morrer no ponto A. A situação se agrava com a limitação das playlists, que impede a combinação ou escolha rápida de modos, o que faz o jogo parecer raso para o longo prazo. Contudo, essa estrutura familiar é contrabalanceada por algumas escolhas ousadas que a desenvolvedora Firewalk faz na utilização dos personagens, o que sugere que Concord pode, de fato, encontrar seu espaço na sua lista de jogos multiplayer.

Foco no Lore
Apesar das sólidas bases que sustentam Concord, há um foco inusitado e, por vezes, distrativo na lore e nos personagens do universo do jogo. O ponto central gira em torno da formação de sua equipe de Freegunners a bordo da North Star, cada um com sua própria história e motivações na luta contra a Guilda e outras tripulações que realizam atividades ilegais pela galáxia. A cada semana, uma nova cutscene será lançada, ampliando essa narrativa, enquanto um Guia Galáctico estará disponível para mergulhar os jogadores nos detalhes dos planetas onde as batalhas ocorrem, até as rotas de navegação entre eles – sim, isso mesmo, rotas de navegação.
Essa ênfase na construção de uma narrativa profunda pode atrair jogadores que apreciam uma história envolvente, mas também pode ser vista como um desvio para aqueles que preferem uma experiência de jogo mais direta e focada na ação. No entanto, se a Firewalk conseguir encontrar um equilíbrio entre a narrativa expansiva e a jogabilidade, Concord tem tudo para se destacar em um mercado saturado de shooters.
Há muito o que assimilar em Concord, mas o jogo tropeça ao cometer o erro cardinal de contar demais em vez de mostrar. O Guia Galáctico é repleto de páginas e mais páginas de lore, destinado a proporcionar uma compreensão mais profunda da galáxia em que você batalha, mas acaba gerando mais perguntas do que respostas. Por exemplo, se a Guilda vilã é realmente uma ameaça onipresente, por que minhas batalhas são apenas contra outros Freegunners? Ao tentar adicionar camadas ao mundo, o jogo acaba revelando lacunas lógicas que se tornam cada vez mais evidentes.
A Firewalk claramente dedicou muito esforço na criação de um universo que tenta capturar o encanto aventureiro de Star Wars com o humor irreverente de Guardiões da Galáxia, mas o resultado é um elenco numeroso com pouca personalidade distinta. Embora o Guia Galáctico forneça informações detalhadas sobre a personalidade de cada Freegunner, essa profundidade não se reflete no que vemos em ação. O efeito é um universo que recorre a muitos clichês, sem apresentar nada realmente original ou envolvente o suficiente para compensar essas falhas. Com a oferta limitada de modos de jogo no lançamento, a sobrecarga de lore se torna ainda mais confusa, e embora as futuras atualizações de Concord possam preencher essas lacunas, é difícil imaginar como elas irão melhorar o universo já estabelecido.
No momento, o principal incentivo para continuar jogando Concord é o Quadro de Tarefas. Através dele, você pode desbloquear novos cosméticos e variantes de personagens, que são habilidades passivas exclusivas para cada personagem. Embora os cosméticos sigam o padrão típico de um passe de batalha – sem custos adicionais, vale ressaltar – as variantes de personagens oferecem algo bem interessante.
A primeira variante, por exemplo, é para Teo, e substitui sua habilidade de mobilidade aumentada após uma esquiva por um aumento na capacidade de munição e armamento. Essa mudança transforma radicalmente a abordagem ao jogar com Teo, incentivando o jogador a ser mais agressivo nos combates, fazendo com que resulte em mais eliminações. Se as variantes continuarem a proporcionar benefícios reais para os jogadores de longo prazo, esse com certeza seria um caminho concreto para Concord se fortalecer, evoluindo para a sua melhor versão e garantindo alguma longevidade ao jogo. Além de variantes de personagens, a personalização de armas e equipamentos poderia oferecer mais opções para os jogadores expressarem sua individualidade e experimentarem diferentes estilos de jogo.
Contudo, a Firewalk precisa resolver as inconsistências narrativas e dar mais profundidade aos personagens para que o universo de Concord se torne mais envolvente para os jogadores. A lore, que é bem rica, deveria se integrar de forma mais orgânica ao gameplay, permitindo que os jogadores descubram a história através de suas ações e interações no jogo, em vez de depender de longas e maçantes leituras no Guia Galáctico. Além disso, a adição de novos modos de jogo e eventos sazonais pode ajudar a manter o interesse dos jogadores a longo prazo, sempre oferecendo algo novo e emocionante para explorar. Um passe de batalha com conteúdo regular e rotativo também seria uma boa opção para manter os jogadores engajados e fornecer um fluxo constante de novas recompensas.
Conclusão:
Em suma, Concord apresenta uma base sólida e algumas ideias inovadoras, mas requer ajustes significativos para atingir seu verdadeiro potencial. Com melhorias na narrativa, personagens mais carismáticos e uma maior variedade de modos de jogo, pode ser que o jogo consiga se destacar no competitivo mercado de shooters multiplayer. No entanto, essa tarefa só será possível se o jogo passar por uma grande reformulação que passe a chamar a atenção da comunidade de jogadores. Na forma em que está atualmente, há pouca esperança.
Agradecemos a PlayStation pela cópia gentilmente cedida para a realização desta análise.