O Dead Rising original era uma verdadeira joia rara nos videogames. O diretor do jogo na época era ninguém menos que Keiji Inafune, o criador de Megaman e um dos maiores nomes dentro da Capcom. A equipe de desenvolvedores comandada por ele fez um jogo único em diversos aspectos. O jogo tinha começado seu desenvolvimento como uma sequência de Shadow of Rome, mas logo surgiu a ideia de fazer um jogo de zumbi.

 A Capcom, ouvindo isso, quis fazer do jogo um spin-off de Resident Evil, mas Inafune e sua equipe tinham um conceito diferente, um que levaria o gênero a um patamar mais cômico do que o da franquia carro-chefe da empresa. Essa ideia gerou Dead Rising, não é exagerado dizer que muita coisa nesse jogo foi bastante original e esse sentimento que estamos jogando algo diferente ainda existe quando o revisitamos. A Capcom agora nos agracia com Dead Rising: Deluxe Remaster que nos traz gráficos aprimorados com a RE Engine. Vamos ver como a remasterização se saiu. 

Como era antes

A primeira coisa que impressionava em Dead Rising era o número de zumbis em tela. Em 2006, não era muito comum ter tantos elementos na tela ao mesmo tempo, era o início da era do XBox 360 e PS3 que trouxeram implementações que tornaram isso possível e Dead Rising foi uma das primeiras grandes demonstrações do poder de processamento do 360 principalmente. Foi dito que podem aparecer até 800 zumbis de uma vez na tela.

Esse também foi um dos primeiros jogos que a Capcom dedicou quase exclusivamente ao mercado ocidental, pois as vendas do console da Microsoft eram bem inexpressivas no Japão e países asiáticos. Essa era uma época em que o mercado japonês tentava ganhar mais espaço no ocidente, apelando para um maior ajuste a cultura local. Isso observou-se em algumas outras tentativas feitas ao longo dos anos na segunda metade dos anos 2000 e na primeira metade da década de 2010, como um Devil May Cry mais ocidentalizado, para citar um exemplo da própria Capcom, ou os Castlevania: Lords of Shadow da Konami que também foram uma reformulação que visava agradar fãs mais ocidentais. Dead Rising foi pioneiro em tal tendência.

O jogo inovava também em suas mecânicas. Quase tudo encontrado no cenário podia ser usado como arma. Bancos, estantes, bolas de futebol, jarros, caixas eletrônicos, tacos de beisebol, barras de aço, motosserras, espadas, machados… o que quer que você encontre pelo mapa pode auxiliar o jornalista investigativo Frank West a concluir seus objetivos nesse shoppng enorme.

Falando em shopping, a trama do jogo é bem semelhante ao popular filme de George A. Romero, Madrugada dos Mortos-Vivos e isso rendeu uma pequena polêmica na época. Deixando isso de lado, o ambiente colorido do shopping contrasta bem com a infestação de zumbis no local.   

O jogo possui um sistema de missões que preza pela pontualidade. Certas missões podem ser acessadas apenas em certos horários. E caso você perca esse horário não poderá mais realizá-la, perdendo a oportunidade, tendo que carregar um save anterior para fazê-la. Dead Rising tem um grande fator de rejogabilidade por isso. É muito difícil ver tudo que o jogo tem a oferecer em apenas uma jogada, missões secundárias oferecem novas cutscenes e pedaços interessantes da história que são facilmente perdidos caso o jogador opte por focar na história principal.

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Capcom

Como está Dead Rising agora

A Capcom traz um controle mais moderno para Dead Rising neste remaster. Muitos acreditam que o anterior seria muito “travado”, não permitindo nem mesmo que o jogador mire e ande ao mesmo tempo. Essas limitações são retiradas na nova versão do jogo. O combate também está muito mais fluido, é possível se esquivar e escapar de agarrões e contra-atacar também está mais fácil.

Em geral as mudanças deixaram o jogo menos difícil, mas nem tanto assim. Os veteranos do jogo original vão se lembrar das dificuldades existentes no jogo. Ela ainda existe, apesar de alguns recursos como avançar o tempo que fazem o próximo objetivo ser alcançado mais rápido e as mudanças nos controles facilitem um pouco.

Mas existem certos trechos que ainda podem ser uma dor de cabeça. Os prisioneiros no pátio do shopping ainda atrapalham bastante o resgate de NPCs e caso decida matá-los, isso toma bastante tempo e esforço. Alguns chefes são um pé no saco, pelo fato de ter um limite de quanta munição levar aos combates e isso demanda espaço no inventário. Muitas vezes ficamos dependentes de uma faca ou um cassetete para uma briga de snipers e isso continua sendo um saco.

Algo que mudou bastante também, e isso é a coisa mais visível no jogo, foram os gráficos. Utilizando a RE Engine nota-se uma melhora visível no detalhamento do jogo. Alguns designs de personagem mudaram um pouco também, Frank, por exemplo, parece estar um pouco mais velho na nova versão. No entanto, sinto que a RE Engine já começa a mostrar um pouco sua idade, os gráficos dos jogos da Capcom não mudaram muito desde Resident Evil 7 e o jogo já tem uma certa idade. Certamente houve uma melhora gráfica e, nesse sentido, o jogo parece mais um remake do que um remaster, mas comparado a outros títulos saindo recentemente, este fica um pouco aquém. 

Outra mudança é a dublagem. Os diálogos no jogo foram redublados por outros atores dessa vez e agora mesmo os sobreviventes agora tem uma voz. Otis por exemplo, que sempre dava dicas a Frank nunca teve uma voz e dessa vez ele tem. Outras melhorias ficam na facilidade da navegação, com dicas sobre os PP Sticker, locais onde ao tirar fotos concedem mais experiência e na melhoria da IA dos sobreviventes, que agora está muito melhor do que fora antigamente. Alguns deles agora possuem afinidades especiais com armas e itens de cura, outros precisam ser guiados ou carregados.

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Capcom

América zumbificada em Dead Rising

Como a maior influência para este jogo é o cineasta George A. Romero, que produzia filmes de terror que geralmente continham alguma mensagem com uma profunda crítica à sociedade, sendo este o caso do primeiro Dead Rising também. Na história do jogo, o jornalista Frank West vai a um shopping onde ele acredita que conseguirá um furo muito importante. 

Chegando lá, ele se depara com uma figura misteriosa, Carlito, que diz a Frank para ver por si mesmo o que está ocorrendo. Mais tarde, vamos enfrentar Carlito algumas vezes, ele parece estar ligado ao que está ocorrendo no shopping. Para não dar muito spoiler, a história nos faz refletir sobre a cultura de consumo dos Estados Unidos e se isso de alguma forma prejudicaria países mais pobres. 

Isso tudo sem deixar de ter uma veia um pouco cômica na história em geral. Os próprios vilões no jogo são uma caricatura do estereótipo americano, demonstrando a cultura das armas, os cultos malucos que surgem no país, a glutonice e a ganancia que é incentivada pela cultura, etc. A história tem esse lado, mas não deixa de ousar a entrar nesses campos mais sérios.

Conclusão

Dead Rising: Deluxe Remaster traz de volta esse jogo inigualável da era do Xbox 360 e o apresenta a novos jogadores. Veteranos devem gostar de revisitar os locais no shopping infestado de zumbis novamente e os novatos vão poder conhecer este que é um dos jogos mais diferentes e inusitados que a Capcom já desenvolveu. As poucas reclamações que tenho ficam por conta dos gráficos, que de fato estão melhorados, mas ainda assim um pouco datados, e também a falta de uma maior acessibilidade como uma opção de dificuldade menor. 

No geral, acredito que as melhorias na jogabilidade, som, atuação, gráfico e demais aspectos devem agradar à maior parte dos jogadores que forem se aventurar nessa nova versão. No entanto, também estou ciente de que remasters e remakes jamais agradam a todos os fãs dos materiais originais, então é possível que existam discordantes. Em geral, trata-se de um ótimo jogo. 

Agradecemos a Capcom pela cópia gentilmente cedida para a realização desta análise.

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