Pouco mais de um ano depois do lançamento de Diablo IV, um dos meus jogos prediletos de 2023, a primeira expansão, Vessel of Hatred, finalmente foi lançada, dando sequências aos eventos explosivos e caóticos da campanha do jogo original. A espera compensou com a Blizzard entregando mais uma vez o sentimento satisfatório que senti na estreia do original.
Por R$179,90, Vessel of Hatred traz uma boa parcela de conteúdo que são muito pertinentes à experiência do jogo original. Temos a continuação da campanha, uma nova classe de personagem, a nação Nahantu com 7 regiões diferentes de selva, masmorras e porões inéditos, a volta dos Mercenários e conteúdo endgame. O preço é salgado, mas em um pacote completo por praticamente 320 reais, é uma oferta excelente.
Pontas soltas do Ódio
Apesar da história de Diablo IV ser um dos pontos que mais elogiei, é um fato que a aventura não possui um final conclusivo. Vessel of Hatred agora traz as consequências da fuga de Neyrelle com a Pedra da Alma que possuía Mephisto. Ela parte para a região quente e repleta de selvas de Nahantu, para tentar destruir o demônio de vez, mas pela falta de experiência, Mephisto consegue reverter o controle e dominar a mente da jovem maga.
O Viajante, após eventos em Kyovashad envolvendo os sobreviventes da incursão no Inferno, com a Madre Prava e o novo personagem Urivar, soldado da legião do anjo Inarius, acaba em rota direta para encontrar Neyrelle e resolver a praga de corrupção que afeta Nahantu, destruindo tudo o que toca.
Como de costume, há bastante qualidade na narrativa de Vessel of Hatred que traz sua boa parcela de cinemáticas de altíssima qualidade. Entretanto, a experiência é curta, mal beirando as cinco horas, para resultar em um final que mais uma vez deixa uma ponta solta importantíssima para ser resolvida na já anunciada segunda expansão. Aqui, apenas Neyrelle é trabalhada com a história girando em torno dela. O que é uma pena, já que a personagem era fraca desde o original e isso não muda na expansão.
Há adições de novos personagens interessantes como Eru, um xamã natispírito que auxilia a viajante durante a jornada, além de outros comparsas divertidos que podem ser contratados como Mercenários após desbloquearmos o hub de quartel general em determinado ponto da campanha.
Porém, por ser curta, a expansão deixa muitas pontas soltas – além da óbvia que fecha a história. Por exemplo, Urivar, um potencial antagonista humano, é trabalhado pouco tempo com seus cavaleiros calcinados, sumindo após a introdução da história. Outras peças importantes como Lorath não são vistos aqui. E, na parte que mais chama a atenção, é a ausência completa das forças do Paraíso, sem qualquer anjo ou Tyrael agindo para impedir os planos de Mephisto. Não é algo que faça muito sentido no quadro geral da obra, mas só resta aguardar para ver o que Blizzard planeja.

Na base do Ódio
Apesar do trocadilho do subtítulo, parece que realmente foi necessário ser na base do ódio para a Blizzard parar de estragar a experiência de Diablo IV. Para quem não se lembra, em questão de semanas a desenvolvedora aplicou um nerf pesado em todas as classes de personagens, gerando uma revolta colossal da comunidade. Um erro que levou muitos meses para ser mitigado e, pelo visto, resolvido agora com Vessel of Hatred.
Em termos de mecânicas, há poucas novidades, apenas variações do que já conhecemos. A nova classe natispírito é bem divertida e traz uma árvore nova de habilidades misturando um pouco de tudo o que já havia sido visto no bárbaro, druida, mago e necromante. Usando forças primordiais da floresta, o jogador pode se valer de habilidades da águia, jaguar, gorila e centopeia.
Particularmente, a agilidade de combate do jaguar com o dano contínuo da centopeia em diversos efeitos de veneno me conquistaram, resultando em um bom ritmo de jogo – afinal começar outro personagem do zero para conhecer as novidades da temporada é sempre algo brutal. O gorila foca em dano em grupo e habilidades de tanque, enquanto a águia traz evasão e fragilidade. Aqui, as habilidades ainda possuem sinergias, mas o caminho é menos óbvio que o do bárbaro e do necromante, por exemplo.
Durante a campanha, o jogador também pode recrutar quatro mercenários para acompanhar na aventura. A característica vinda de Diablo II é mais superficial aqui, sem manejamento de inventário, mas traz uma árvore de habilidades exclusivas para cada um dos mercenários que são bastante distintos entre si. Além disso, o jogador também pode usar um segundo personagem como reforço, aplicando uma habilidade extra defensiva ou ofensiva quando realizar determinado comando. É também bem-vindo que cada um deles possui uma pequena questline a ser seguida, com boas historinhas.
Outra novidade é a inserção das runas, novos modificadores que trabalham com habilidades distintas e desencadeiam melhorias quando combinadas – todas possuem uma parte superior e outra inferior. Para quem já viu o tanto de modificadores que o jogo recebeu, não é nada que vá impressionar, mas para quem nunca acompanhou uma temporada antes, será uma adição divertida.
A mudança de mecânica mais substancial está mesmo no endgame de Vessel of Hatred adicionando dois modos de jogo que são muito interessantes, apesar de um deles ser um tanto polêmico. No caso, o que mais chama a atenção é o modo Dark Citadel, uma raid de Diablo IV.
O modo é cooperativo exclusivamente, o que pode desagradar alguns, mas o matchmaking de Diablo IV está melhor do que nunca e é fácil encontrar um pessoal pronto para jogar com você. Essa masmorra possui pontos nos quais ao menos dois jogadores precisam agir simultaneamente em salões diferentes para progredir, usando até mesmo recursos de puzzles inéditos e divertidos que variam a jogabilidade do título.
A raid é perfeita para adquirir mais equipamentos lendários e aprimorar o sistema paragon quando aberto, além de contar com um vendedor que traz itens bastante interessantes. Esse modo indica que aos poucos a Blizzard deve tornar Diablo IV o ARPG em um verdadeiro MMO e, bom, acho que adequado dada a natureza de jogo como serviço que o título possui.
O outro modo, que pode ser feito individualmente, é o subterrâneo da cidade Kurast, a maior de Nahantu. Trata-se de um teste de tempo que libera mais recompensas conforme a matança do jogador na masmorra com alguns monstros aumentando o limite do cronômetro. Antes do trial, o jogador também adicionar oferendas para conseguir mais itens desejados ou recursos diferentes, oferecendo um controle maior do que deseja ganhar após concluir o desafio – o mesmo sistema pode ser visto no Andarilho dos Reinos que é tema dessa boa 6ª temporada.

Luxo infernal
Como de costume, a Blizzard entrega também um alto valor de produção para a expansão que possui ótima apresentação. A região de Nahantu é ótima de ser revisitada e traz mapas distintos o suficiente para tornar o lugar rico, além de ser repleta de inimigos – perfeita para farmar level rapidamente já que a densidade de inimigos foi muito retrabalhada aqui.
Há novas masmorras e porões, além de quests secundárias que exploram mais da mitologia do lugar, evocando o tema espiritual e a conexão com a natureza em diversas vezes. Tendo um personagem natispírito, Nahantu se torna ainda mais especial, pois é como se estivéssemos em casa com o Viajante.
As novas cidades, como Kurast, possuem um charme completo, além da trilha musical continua excelente como de costume. Os gráficos do jogo mantém a boa qualidade já vista anteriormente, além do game estar performando muito bem, corrigindo bugs bizarros que testemunhei ano passado. Entretanto, ainda há alguma instabilidade, pois presenciei alguns crashes na jogatina, embora raros.
Ao longo do ano de existência, o jogo também foi aprimorado em outros sentidos, incluindo em seu inventário, montarias, novos comerciantes, densidade de inimigos e também novas dificuldades – agora 8 níveis no total, mantendo o loop insano de gameplay de aprimorar itens ad nauseam.
Renascido das Cinzas
É inegável que a Blizzard simplesmente errou feio no começo do tempo de vida de Diablo IV dias após entregar uma baita experiência. Eu mesmo fiquei decepcionado após recomendar o jogo com nota máxima na época. Agora, depois de muito trabalho e feedback da comunidade, os desenvolvedores escutaram os pedidos e encontraram um meio termo.
Diablo IV: Vessel of Hatred é uma ótima expansão que traz bastante conteúdo, embora o preço seja um pouco salgado para diversos jogadores. Para quem ainda não entrou em Santuário, trata-se da oportunidade perfeita, por sinal. O jogo base segue continuamente aprimorado com as temporadas e, hoje, existem muitas atividades endgame para fazer e se divertir – não tenha dúvidas, Diablo é um jogo MUITO divertido. É possível enfrentar chefes de mundo, as Marés Infernais, completar sussurros, os fossos, as hordas infernais e agora com o subterrâneo de Kurast e a Dark Citadel há ainda mais conteúdo. Logo, trata-se de uma oportunidade excelente de descobrir ou revisitar o que a Blizzard se empenhou em trabalhar nos últimos meses.
O futuro segue promissor para Diablo IV que deve trazer uma infinidade de conteúdo por anos de suporte já planejados que serão revelados aos poucos. Agora, vou aproveitar ainda mais minha estadia infernal em Santuário com progressão melhorada e muitos drops de itens excelentes.
Agradecemos a cópia gentilmente cedida pela Blizzard para a realização desta análise.