É difícil encontrar um gamer assíduo hoje que não tenha a infância ou adolescência marcada pela franquia Dragon Ball Budokai e os subsequentes jogos Tenkaichi que marcaram era no PlayStation 2. Eu mesmo tenho uma coleção de ótimas memórias de várias tardes jogando com amigos ou sozinho, caçando a esmo as esferas do dragão nos muitos cenários dos jogos clássicos.
Foi com surpresa e muita satisfação que recebi o tímido anúncio que a franquia retornaria com um quarto jogo. Com o lançamento do jogo e de nome reformulado, Dragon Ball Sparking! Zero entrega inovação e muitas das características clássicas que fizeram a franquia ser tão prestigiada naquela época.
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A história de Goku e muito mais
Uma das maiores surpresas do título não está no seu elenco de mais de 170 personagens jogáveis, mas sim nas campanhas que revisitam toda a história de Dragon Ball Z e, pela primeira vez, de Dragon Ball Super.
Com mais de seis campanhas únicas, o jogador é convidado a reviver as maiores batalhas da saga, quase que na mesma precisão de confrontos dos jogos de PS2 que trazia embates contra inúmeros saibamen e cells jr., por exemplo.
Sabiamente, os desenvolvedores tiveram a ideia de fazer campanhas por personagens, ao contrário de seguir determinadas sagas como acontecia anteriormente. Assim, acompanhamos o ponto de vista de Goku, Gohan, Vegeta e Freeza, para citar alguns sem estragar a surpresa de outras campanhas.
Já de início, o jogo mostra também a possibilidade de cenários What if, com os ‘e se’ clássicos que vimos em Xenoverse 2. O mais impressionante é que essas linhas temporais fora do cânone são surpreendentemente longas, adicionando muitas fases e surpresas com transformações fora de hora e elementos caóticos que fazem qualquer fã se divertir muito.
Ainda que as campanhas sejam brilhantes, divertidas e consideravelmente longas (a de Goku é a maior delas), nem tudo é perfeito. Para economizar muito custo de produção, a apresentação da Saga Z é consideravelmente inferior, sem segmentos dublados ou narrados, com imagens dinâmicas em formato de slideshow – ainda que os enquadramentos sejam bastante dinâmicos e muito mais interessantes.
Óbvio que é a melhor apresentação de campanha que a franquia já viu, mas deixa muito a desejar quando comparada com Dragon Ball Kakarot ou até mesmo Dragon Ball FighterZ. Aliás, uma boa novidade é que é possível visualizar a câmera em primeira pessoa em algumas cinemáticas, nos colocando direto na ação em momentos épicos como ver através do ponto de vista de Goku enquanto segura Raditz para Piccolo dar o golpe final.
Jogadores de primeira viagem, que nunca viram a saga Z em anime ou mangá, também vão ficar perdidos com a velocidade dos acontecimentos. Como essa saga já foi contada um milhão de vezes nos games, o modo mais resumido de tratar a história é compreensível e justificado, além do formato de dividir as sagas em campanhas diferentes não facilitar a compreensão maior da narrativa – lutas importantes protagonizadas por Piccolo ou Vegeta, por exemplo, não vão aparecer na campanha de Goku e assim por diante.
Os animadores brilham nas sequências totalmente animadas ou nas chamadas Sparking, que trazem a conclusão de um arco What If. São cinemáticas muito bem feitas que capturam a cinética e encenação dos animes com acuidade. Aliás, é uma pena que a maior parte das trilhas musicais originais de Dragon Ball Z sejam vendidas como DLC e não façam parte do jogo completo já que os temas de batalha do anime são muito superiores aos originais do game.
Capricho, paixão e criatividade por Dragon Ball
Ainda fico admirado com o nível de paixão dos profissionais da Bandai Namco com a franquia, afinal não são poucos os lançamentos que envolvem o nome Dragon Ball e mesmo assim, cada um deles tem um elemento especial.
No caso de Sparking! Zero, são muitas coisas que impressionam. A primeira delas é logo o capricho dos menus, sendo que todos são animados e fazem referência a locais e personagens icônicos da obra de Akira Toriyama.
Cada tela apresenta um modo de jogo ou de opções distintas, fazendo Goku visitar cada um dos seus amigos ou rivais fazendo algum comentário – é genial a animação do Mestre Kame escondendo uma revista erótica dentro de uma normal.
Até mesmo os menus da campanha apresentam ilhas (que seriam os cenários que as lutas ocorrem) com diversos pontos que representam as batalhas da fase, como se fosse um jogo clássico de Super Mario World.
O cuidado também segue nas telas de torneio, de lutas entre times que podemos escolher até cinco personagens sendo cada um assistente do outro, nas lutas rápidas em partidas multiplayer, no sala de troféus para ver os modelos dos personagens e ter muitos comentários de Chi-chi, Videl e Bulma sobre cada um deles – os comentários são geniais e muito engraçados, principalmente com Chi-chi reclamando de Piccolo e o passado dele com Gohan ou dos comentários sobre as 20 versões de Goku, e na seleção de duelo em multiplayer local.
Uma pena que esse recurso de multiplayer de tela dividida, clássico de Budokai Tenkaichi, só apresenta o cenário da Câmara Hiperbólica. Torço que mais cenários fiquem disponíveis para o jogador em patches futuros da Bandai sem a necessidade do jogador recorrer a mods para resolver a limitação.
Aliás, no modo campanha, é muito revigorante notar o cuidado com alguns detalhes importantes. Como a destruição clássica do cenário segue firme e forte no novo jogo, fiquei surpreso ao ver que os elementos já destruídos permanecem assim a cada nova luta situada por ali. Aos poucos, Namekusei ou cidade principal da saga vão se tornando um deserto desolado e queimado por diversos golpes energizados dos personagens. Antes, tudo era reconstruído a cada nova batalha. A mesma atenção acontece nos modelos dos personagens que, ao longo das lutas, conforme a vida diminui, recebem dano de batalha com uniformes rasgados e machucados no corpo.
Outra grande novidade é o Modo de Batalha Customizada que permite o jogador criar cenários hipotéticos com diálogos e tudo. Outras lutas clássicas de Dragon Ball estão presentes aqui em modo já pré-criado. Todos os cenários que os jogadores criam ficam disponíveis para a comunidade e tenho certeza que isso só vai tornar o game ainda mais completo com algumas poucas lutas que ficaram de fora da campanha.
Simples, mas nada ordinário
Em termos de jogabilidade, é nítido que a Bandai optou por simplificar os controles, afinal Sparking! Zero não é o jogo Dragon Ball pensado para cenários competitivos oficiais – este é o FighterZ. Logo, não espere reencontrar as longas cadeias de combos que existiam nos jogos originais. Aqui, as porradarias são mais simples, mas elegantes e nem tão comuns como se possa imaginar.
Na verdade, o nível de desafio nas campanhas é bem firme e tenha certeza que você vai apanhar muito do Vegeta Oozaru já no começo do jogo – sendo Yajirobe sua verdadeira preocupação. Tanto que a dificuldade enfrentada te encoraja a fazer sessões de treinamento para aprender a dominar técnicas de evasão, bloqueio e encadeamento de golpes para triturar o oponente com socos, chutes, explosões de energia e finalizar com um especial.
Aliás, com um mapeamento muito inteligente de botões, nunca foi tão fácil e satisfatório encaixar um Kamehameha ou uma Genki Dama contra os inimigos. A única coisa que exige mais atenção do jogador é saber administrar o Ki – costumeiramente carregado pelo botão R2/RT do controle. Em alguns momentos, o ideal é carregar ao máximo para atingir o status Sparking! que, além de bufar sua força física, também libera a possibilidade de encaixar o golpe especial máximo do personagem.
Em maioria, a animação impressiona muito, ainda mais com as referências clássicas à arte dos paineis originais de Toriyama em Dragon Ball – o exemplo mais nítido disso é o golpe do Kamehameha carregado de Goku transformado em Super Sayajin Desperto na batalha final contra Freeza em forma perfeita. As referências são tantas que chegam até a emocionar os fãs mais assíduos da saga – eu me encaixo nessa categoria.
Transformações durante a jogatina em duelo também estão presentes e podem ser realizadas em momentos-chave para deixar a disputa ainda mais emocionante, para desnivelar totalmente as diferenças notórias de poder entre personagens – é evidente que o Mr. Satan não consegue bater com força contra um Gogeto SSJ4 do Dragon Ball GT.
Itens e modificadores também fazem presença com o jogador podendo comprar tônicos e vitaminas para deixar os personagens mais fortes e resistentes, além de permitir o aumento da barra de vida conforme o nível do jogador avança ao enfrentar os duelos na campanha – e é algo que recomendo que faça com atenção para facilitar as lutas mais desafiadoras. A loja, por sinal, é repleta de outros itens como personagens desbloqueáveis, skins e mais.
O visual do jogo também impressiona, assim como os efeitos sonoros clássicos retirados diretamente dos animes. Nunca Budokai Tenkaichi foi tão bonito assim, com os gráficos quase atingindo a ilusão da animação 2D vista em FighterZ – ainda o jogo mais bonito da franquia. São modelos de personagens extremamente fieis aos originais, com animações diversas de auras de Ki, iluminação especial para golpes de energia e muito mais.
O jogo tem consciência que é bastante bonito e a cada especial mais elaborado atingido, há enquadramentos mais dramáticos de câmera, diálogos únicos, animações faciais caprichadas e efeitos de tela dignos de nota. É realmente encantador.
Shenlong garantiu os nossos desejos em Dragon Ball Sparking! Zero
Bonito, ágil, divertido, fácil de compreender, repleto de referências e homenagens a saga, mais de 180 personagens no elenco inicial, novos modos de jogo, cenários what if, não são poucas as coisas que Dragon Ball Sparking! Zero entrega com facilidade. Sem exageros, creio que seja o melhor game de luta em arena da franquia até hoje.
Os 17 anos de espera compensaram muito os fãs pacientes de Budokai Tenkaichi e acredito que teremos ainda muitos anos de suporte para adicionar ainda mais conteúdo em um jogo já repleto de coisas a fazer e conquistar. Facilmente é um dos melhores games do ano, repleto de horas de diversão que consegue converter até mesmo o maior hater da saga. Shenlong ouviu os desejos dos fãs e entregou uma obra memorável que só tenho a agradecer.
Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema. Jornalista, assessor de imprensa.
Apaixonado por histórias que transformam. Todo mundo tem a sua própria história e acredito que todas valem a pena conhecer.
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