Dragon Quest III HD-2D Remake: O retorno de um clássico que marcou época
Quando Dragon Quest III foi lançado em 1988, não apenas marcou a história dos jogos, mas também fez história no Japão, onde o fenômeno se espalhou como fogo. A popularidade do título foi tamanha que impactou a rotina do país de forma inusitada: centenas de pessoas faltaram à escola e ao trabalho para se dedicarem ao jogo. Considerado uma obra-prima dos RPGs da época, ele se estabeleceu como um dos pilares da franquia Dragon Quest, uma série que, desde então, se tornaria um dos maiores sucessos do mundo dos videogames até mesmo hoje com a antecipação enorme para Dragon Quest XII.
Agora, mais de três décadas depois, Dragon Quest III recebe uma reinterpretação visual com o HD-2D Remake, que vem trazendo o charme de sua história atemporal com um novo fôlego, melhorando gráficos, sons e até mesmo a jogabilidade. Mas será que este remake é realmente capaz de capturar a essência do original e ao mesmo tempo trazer algo de novo para os jogadores modernos? A resposta parece ser um retumbante sim.
O Legado de Dragon Quest III: O Herói de Ortega e a luta contra o Mal
A trama de Dragon Quest III gira em torno de um jovem herói, filho de Ortega, um guerreiro lendário que falhou na missão de derrotar o malévolo Baramos, responsável por colocar o mundo em caos. Com a responsabilidade de completar o que seu pai não conseguiu, o protagonista embarca em uma jornada épica que moldaria o futuro da série, introduzindo elementos que se tornariam símbolos de Dragon Quest. Destaco apenas que se trata de uma história concebida nos anos 1980 então é notório que não se trata de uma narrativa complexa e repleta de ritmo e reviravoltas como as atuais.
O remake preserva com maestria a essência da narrativa, mantendo a história centrada na busca por justiça e na redenção do legado de Ortega. A diferenciação da história está em como a aventura é contada, com uma abordagem moderna, mas sem perder a simplicidade que caracterizou os RPGs clássicos. A introdução de dublagens de alta qualidade, com uma opção que leva os jogadores ao Japão, também contribui para criar uma experiência mais imersiva e emocionante, como se estivéssemos vendo a história pela primeira vez. Recomendo ao máximo a dublagem japonesa do que a inglesa que, apesar de não ser ruim, não traz a mesma intensidade dos atores nipônicos nos diálogos efusivos do jogo. Uma pena, porém, que os parceiros seguem totalmente genéricos, apenas servindo mecanicamente.
A grande atração visual deste remake é, sem dúvida, a sua apresentação em HD-2D, uma técnica que já foi usada com sucesso em títulos como Octopath Traveler e Live A Live. Dragon Quest III HD-2D Remake não apenas moderniza a estética do jogo, mas também respeita suas raízes aprimorando detalhes incríveis e animações fluidas.
Cada personagem e monstro desenhado por Akira Toriyama, o criador de Dragon Ball, ganha uma nova vida, agora mais detalhado e expressivo, o que só enriquece a experiência de exploração do mundo medieval. A transição entre diferentes biomas, cidades e masmorras é suavizada por gráficos de tirar o fôlego, onde o pixel art se mistura de maneira primorosa com o design tridimensional, criando uma sensação de imersão única para o jogador. Há todo um charme na estética da obra que é inegável e, por algum motivo, só me animou ainda mais para ver como será a apresentação do aguardado remake de Final Fantasy IX.
Os efeitos de luz e sombra, por exemplo, são notáveis. Em áreas escuras ou em masmorras, os personagens carregam lanternas cujas lâmpadas brilham com realismo projetando sombras tremeluzentes, aumentando a sensação de que estamos realmente vivenciando aquele mundo fantástico. Cada elemento visual tem um peso narrativo que reforça a imersão no universo de Dragon Quest, e a riqueza de detalhes só torna o jogo mais cativante, principalmente nas suas cidades e mapas mais detalhados – o mundo maior também é retrabalhado, mas é menos detalhado que os hubs repletos de lojas, hospedarias, guildas e igrejas.

Tradição J-RPG
O sistema de batalha de Dragon Quest III HD-2D Remake mantém as bases do jogo original: turnos e decisões estratégicas. No entanto, o jogo faz ajustes importantes para garantir uma experiência moderna sem perder a essência clássica. Para quem estava acostumado com os RPGs dos anos 80, onde as batalhas eram longas e demoradas, a introdução de um sistema de combate mais dinâmico é uma verdadeira bênção – é possível setar a velocidade ultra-rápida que ajuda a tirar a monotonia dos combates entre sprites – fora que boa parte da luta é conduzida em primeira pessoa, como no original. Outra ótima novidade é a adição do mapa que te impede de ficar muito perdido para encontrar os objetivos, além do recurso de salvamento automático. Uma pena, porém, que ainda não há legendas e interface em português, o que pode ser uma falha estrutural para muitos gamers brasileiros.
A opção de pré-programar as ações dos aliados, por exemplo, facilita o gerenciamento da equipe durante as batalhas, evitando que o jogador precise perder tempo tomando decisões repetitivas durante lutas simples. Isso permite que o foco se mantenha na estratégia e na exploração, sem perder a alma do clássico sistema por turnos. É bem mais rápido. São diversas opções como a de cautela, equilibrada, centrada em dano e mais. Alguns designs permanecem antiquados, obviamente, por se tratar de um remake, então pode ter certeza que os encontros aleatórios vão irritar bastante, mas isso é mitigado caso coloque um Ladrão na sua equipe que confere mais evasão e menos desses encontros irritantes – deixar um companheiro morrer também é uma experiência tão irritante como sempre na saga, então tome cuidado.
Mas a verdadeira inovação vem no sistema de monstros. Agora, o jogador pode recrutar monstros ao longo da jornada, criando um exército de aliados que não apenas ajudam nas batalhas, mas também competem em arenas. Esse sistema de Monster Wrangler adiciona uma camada de profundidade ao gameplay, permitindo que você construa uma equipe única de monstros e explore novas dinâmicas de combate.
Embora o enredo de Dragon Quest III tenha uma linha reta e não mude radicalmente de uma jogada para outra, o sistema de classes é uma das grandes atrações do remake. A cada nova rodada, o jogador pode explorar diferentes combinações de personagens e vocações, criando uma nova experiência a cada replay. Isso não só aumenta o tempo de jogo, mas também incentiva a experimentação e o desafio. Fica o aviso que o game vai te punir caso tente rushar até a conclusão da história. Jogadores que exploram e descobrem os segredos dos mapas, das histórias das diferentes culturas e sociedades, são recompensados com bastante experiência e não irão sofrer no terço final da obra.
Em cada novo jogo, as escolhas de vocação podem mudar completamente a forma como os personagens se comportam nas batalhas. Desde guerreiros que causam dano pesado até artistas marciais que podem ser devastadores, a possibilidade de recrutar novos heróis e testar diferentes estratégias é uma das qualidades que fazem o jogo se destacar. Além disso, o sistema de mudança de classes, que pode ser feito na Alltrades Abbey, garante flexibilidade e promove uma jogabilidade muito mais profunda e satisfatória, embora isso resete o nível do jogador ou dos companheiros novamente para o Nível 1.
Nada em Dragon Quest III HD-2D Remake seria completo sem sua trilha sonora, e é aqui que o jogo realmente brilha. Composta por Koichi Sugiyama, a música de Dragon Quest sempre foi um dos grandes marcos da franquia. No remake, as melodias clássicas são reinterpretadas com a adição de uma orquestração impecável, que dá nova vida às músicas e as torna ainda mais emocionantes. Cada tema, desde a icônica música de batalha até as faixas que tocam enquanto o herói viaja pelo vasto mundo, é executada com uma perfeição que faz o coração bater mais forte e devem emocionar muito os fãs de longa data que nunca escutaram os temas em arranjos clássicos. O mix de sons clássicos com arranjos orquestrais é um acerto que eleva a experiência, trazendo nostalgia sem cair no clichê. A combinação de gráficos impressionantes com essa trilha sonora refinada cria uma atmosfera envolvente e memorável.
Dragon Quest III HD-2D Remake é essencial para os fãs e curiosos
A questão final que todos se fazem é se o remake de Dragon Quest III vale a pena. A resposta é um sonoro sim. Este jogo é uma obra-prima que não só homenageia o legado do original, mas também traz uma série de melhorias e inovações que fazem a experiência de jogar Dragon Quest III mais acessível, profunda e imersiva do que nunca. O único problema que se pode apontar é o clássico grinding de fim de jogo, para upar os personagens e conseguir derrotar os últimos desafios. É bem moroso e pode levar horas.
A história épica, a beleza visual e a jogabilidade refinada são apenas a ponta do iceberg. O remake oferece uma experiência rica que irá agradar tanto aos fãs veteranos quanto aos novatos. Se você é fã de RPGs clássicos, Dragon Quest III HD-2D Remake é uma jornada obrigatória que deve figurar na sua lista de jogos essenciais até o final de 2024. Por mais que a franquia Dragon Quest já tenha produzido muitos títulos brilhantes, este remake da terceira parcela é, sem dúvida, um marco na evolução dos remakes de jogos clássicos. Que mais estúdios se inspirem no ótimo exemplo deste daqui.
Agradecemos a Square Enix pela cópia gentilmente cedida para a realização desta análise.