Dune Awakening é o novo jogo de ação e sobrevivência multiplayer da Funcom baseado no universo da popular série de livros de ficção científica escritos por Frank Herbert, Duna. Fazer algo baseado nesse universo nunca é uma tarefa fácil, muito foi escrito sobre a dificuldade de adaptar Duna, tanto pro cinema quanto para os videogames, o desafio é aparente na hora de adaptar uma série tão complexa.
Porém, os desenvolvedores sem dúvida conseguiram tirar algum proveito de tal tarefa monumental. Os desenvolvedores nos colocam em um cenário inédito mesmo para os fãs mais ferrenhos de Duna, incluindo este que vos escreve. O jogo ousa perguntar: E se Lady Jessica tivesse uma filha assim como a irmandade das Bene Gesserit a ordenou originalmente e não tivéssemos o Kwisatz Haderach naquele momento do primeiro livro e jamais surgisse um Muad’Dib?
Encontre os Fremen
Logo no começo após a criação de personagem, a Reverenda Madre Helen Mohiam Gaius nos transporta para Arrakis com a seguinte ordem: “Encontre os Fremen!”. É assim que sua jornada começa no planeta desértico de Arrakis, o mais importante para a economia do Imperium por sua preciosa especiaria e também o ppaneta mais perigoso desse universo.
Trata-se de um jogo de exploração e sohrevivência onde Arrakis é seu sandbox. O início do jogo pode ser monótono para alguns jogadores pois a primeira parte trata mais de coleta de materiais para criar itens e construções e isso consome quase as 10 primeiras horas de gameplay até termos todo o equipamento necessário para iniciar a jornada de fato. Aqui já vai uma crítica a esse design de gameplay que espanta jogadores mais casuais, onde o jogo fica parecendo quase um trabalho. Porém para um nicho específico de jogadores, ax tarefas oferecidas no jogo podem ser mais gratificantes do que frustrantes.
Assim como nos livros e filmes da série, a água é o recurso mais vital e escasso. Você a obtém coletando orvalho de plantas, extraindo sangue de inimigos mortos usando um coletor de sangue ou reciclando fluidos corporais com os trajestiladores. Negligenciar a hidratação leva à morte rápida sob o sol escaldante de Arrakis. Ficar diretamente sob o sol drena a água rapidamente, além de causar insolação, diminuindo sua vida. Isso força o jogador a planejar rotas entre sombras, como penhascos ou destroços. Outras ameaças ambientais incluem as tempestades de areia que matam em segundos se você não encontrar abrigo. Os vermes de areia detectam movimentos rítmicos no deserto aberto. Cruzar áreas expostas exige veículos, como as motos de areia ou técnicas de furtividade, sob risco de perder todos os itens ao ser devorado. Para evitar o verme é necessário seguir para áreas seguras, como formações rochosas.
Esquemas para equipamentos fremen (como trajes de água) exigem exploração de cavernas; escudos Holtzman vêm de naves científicas abandonadas. Além da moto de areia, há ornitópteros que dão acesso a novas áreas perto do final do jogo, mas exigem quantidades absurdas de metais processados para construção. Esse sistema de construção permite construir fortalezas em zonas seguras, onde há formações rochosas, mas a limitação de espaço e problemas no encaixe de peças podem ser bem frustrantes.
O combate é o calcanhar de Aquiles do jogo, pois nem sempre é uma experiência satisfatória. O jogo respeita o lore dos livros e inimigos com escudos Holtzman são imunes a projéteis rápidos e ataques corpo a corpo convencionais. Para vencê-los, é preciso fazer certas coisas: O primeiro dos métodos é tirado diretamente das obras do Herbert, os ataques lentos de facas ou espadas para penetrá-los e o outro é atravessá-los com tiros concentrados.
Alguns problemas que surgem incluem a repetitividade. Combates contra inimigos blindados tornam-se monótonos, com padrões previsíveis como espere, desfira um ataque lento, repita novamente. A IA dos inimigos é bem limitada, eles tem reações básicas e possuem pouca variedade visual.
Outra coisa que pode irritar são alguns bugs como o Parry não responsivo, armas que travam e animações rígidas.
Algumas exceções positivas em relação ao combate são as habilidades de classe, que incluem a das Bene Gesserit que podem fazer uma espécie de controle mental usando a Voz e os Mentat, que utilizam granadas antigravidade, adicionando uma camada estratégica ao combate, mas mesmo assim não compensam os problemas citados anteriormente. Outras classes disponíveis no jogo são os soldados, cuja habilidade inicial é um gancho que ajuda a alcançar certas áreas e o planetologista que possui mais habilidades que ajudam na sobrevivência.
O jogo possui um conflito entre tecnologia e performance. Em questões visuais, o cenário é sem dúvidas belo, a iluminação é dinâmica, tempestades de areia são viscerais e o rugido dos vermes criam imersão. Texturas são detalhadas em 4K, mas modelos de personagens são genéricos. podem ocorrer bugs de animação, crashes e quedas de FPS, mesmo em hardwares mais robustos.
Um mundo sem Muad’Dib
É possível diser que a história é o aspecto mais interessante desse jogo, que reinventa o universo de Frank Herbert ao transplantá-lo para um MMO de sobrevivência, mesclando a rica mitologia da saga com uma narrativa alternativa completamente nova, repleta de intrigas políticas, dilemas éticos e reviravoltas épicas, elementos pelos quais a série de livros é conhecida.
O “E Se?” redefine o universo. A história parte de uma premissa ousada: Paul Atreides nunca nasceu. Em seu lugar, Lady Jessica deu à luz Ariste Atreides, uma filha, assim como as Bene Gesserit haviam originalmente ordenado. Essa mudança na narrariva original desencadeia um efeito borboleta.
A casa Atreides sobrevive e a traição do Dr. Yueh é descoberta e frustrada pelas Bene Gesserit, evitando o assassinato do Duque Leto. O cerco a Arrakeen é resistido, e as Casas Atreides e Harkonnen entram em uma Guerra de Assassinos sob supervisão do Imperador Shaddam IV.
Os nativos de Arrakis, os Fremen do deserto são dados como extintos, e seu paradeiro torna-se o mistério central. O protagonista é uma espécie de agente secreto, recrutado pela Bene Gesserit, sob as ordens da Reverenda Madre Helen Mohiam Gaius, com a missão de “Encontrar os Fremen e despertar o Adormecido”. Essa abordagem permite liberdade criativa sem desrespeitar o cânone, reintroduzindo personagens icônicos como Feyd Rautha em novos contextos .
A narrativa explora três camadas interconectadas. A Guerra política, inde conflito entre Atreides (honra) e Harkonnen (opressão) serve como pano de fundo. Sardaukar atuam como “fiscais da especiaria”, enquanto guildas de jogadores influenciam a Landsraad com decisões que afetam o mundo. A sobrevivência, onde a gestão de água (extraída até de cadáveres via coletor de sangue) e os perigos do deserto (vermes, radiação) refletem temas herbertianos de escassez e adaptação. A Espiritualidade e vício, onde o consumo de especiaria não só concede habilidades especiais, mas também causa dependência, vinculando progressão de jogo à degeneração física e moral.
O protagonista é maleável: Sua origem (escolhida na criação) afeta diálogos e missões. Um peone (camponês) pode ser desprezado pelos Harkonnen, enquanto um nobre ganha vantagens diplomáticas. Figuras icônicas da saga como Lady Jessica, Barão Vladimir Harkonnen e o Naib Fremen, Stilgar, aparecem em contextos revisados, mas com profundidade variável.
O novo personagem, Maxim Kazmir destaca-se como vilão carismático e sarcástico. Infelizmente, a maioria dos personagens secundários é pouco desenvolvida, servindo como meros entregadores de missões .
Outra coisa que podd ser bastante frustrante é que para chegar nessas partes mais interessantes na narrativa, o jogador deve ter paciência com as primeiras 20 horas que focam em sobrevivência básica, com poucos elementos narrativos além de logs de áudio e hologramas em dungeons repetitivas. Após 40 horas, ao construir o primeiro ornitóptero, a trama ganha escala: cutscenes introduzem conspirações, e escolhas de facção impactam as missões.
Assim, o jogo tem um grande problema de ritmo. A necessidade de fazer muito grind (coleta de recursos para avançar na trama) quebra o ritmo da história. Missões como uma que inclui uma sequência de furtividade contra Sardaukar é bem deslocada. Isso tudo afeta a história que se diluída em menos horas de grind seria uma experiência melhor.
Um dos melhores acertos do jogo está em seu sucesso entre manter a fidelidade enquanto constrói uma narrativa original, lembrando alguns outros jogos que saíram recentemente com uma proposta parecida, como Hogwarts Legacy. O teste com o Gom Jabbar recria a clássica cena dos livros para estabelecer um tom filosófico. Termos como Kwisatz Haderach e Bene Gesserit são integrados organicamente, sem exposição forçada.
Porém tais elementos possuem suas controvérsias, como lore inacessível para jogadores não familiarizados com Duna, que podem se perder em referências como “Caminho Dourado” ou “Arrakis Prime”. O final é anticlimático. A revelação sobre os Fremen é apressada, e os 6 desfechos possíveis diferem mais em recompensas do que em consequências dramáticas.
Mais algumas críticas ao jogo incluem alguns temas subutilizads como a ética da escravidão e o trauma da especiaria que poderiam ser mais explorados. A experiência narrativa é mais rica jogando em grupo, já que jogadores solo perdem subtramas políticas ativadas por guildas. Decisões como aliar-se a Harkonnen alteram missões, mas não o rumo da trama principal.
Conclusão e veredito
Dune: Awakening é um jogo ambicioso, que faz uma bonita homenagem ao universo de Frank Herbert enquanto traz seu toque de inovação a ele. Sua premissa alternativa e integração de mecânicas de sobrevivência com temas clássicos (água, poder, vício) são brilhantes, mas a execução peca pela fragmentação e subdesenvolvimento de personagens.
Entre seus pontos fortes estão uma atmosfera imersiva, semelhante aos filmes mais recentes, dirigidos por Denis Villeneuve e uma premissa interessante que respeita o cânone sem se aprisionar a ele. A temática de sobrevivência é bem utilizada, a progressão de crafting pode ser viciante e a fidelidade ao universo de Duna.
Porém, o combate é repetitivo, a IA é deficiente, o grind é excessivo para veículos, o PvP é desbalanceado.O ritmo narrativo é quebrado e essas horas de grind fazem com que o jogo pareça mais um trabalho.O jogo é sem dúvidas recomendado para fãs de Duna, que acharão a história alternativa interessante e jogadores já acostumados ao gênero survival que tolerem tanto jank técnico. Quem busca ação polida ou narrativa mais profunda pode se frustrar. Com atualizações, tem potencial para evoluir como Conan Exiles. Dune: Awakening transforma Arrakis em um playground perigoso e belo, mas exige paciência para suportar suas areias movediças.
Review realizada com cópia gentilmente cedida pela distribuidora.