Há tempos que a Sony vem acertando com seus ports de exclusivos para o PC. Mesmo que no meio do caminho tenha acontecido um lançamento desastroso com The Last of Us, desde então foi acerto atrás de acerto.
Expandindo a biblioteca a cada ano, um título era extremamente pedido pela comunidade: o elogiadíssimo Ghost of Tsushima. Agora em maio, enfim, os jogadores de PC puderam regozijar, pois o belíssimo game da Sucker Punch, em sua versão do diretor, já está disponível em um port bastante caprichado feito pela Nixxes.
A lenda do fantasma
Sendo um dos pontos mais fortes do game, a história de Ghost of Tsushima traz o protagonista Jin Sakai e toda a tragédia que abala sua vida quando os mongóis invadem a ilha de Tsushima no Japão no século XXIII.
Participando da linha de frente dos defensores samurais contra os invasores, Jin quase morre no massacre que sucede, tendo o único elo vivo de sua família, seu tio e também lorde Shimura, ser raptado pelos inimigos e ser usado como moeda de troca.
Salvo por um acaso pela assassina Yuna, Jin precisará unir diversos parceiros e enfrentar um adversário muito difícil: seu próprio código de honra. Sendo um samurai legítimo, ele precisa escolher entre o caminho do confronto direto entre legiões de mongóis ou usar as táticas de guerrilha e assassinato que aprendeu com Yuna, se tornando uma espécie de ninja, manchando seu nome e o do seu tio.
Enquanto ele não resgatar o lorde Shimura, Tsushima sofre com os saques e dominância violenta dos invasores que possuem suas próprias intenções escusas ao invadir a ilha.
Dentre todos os exclusivos do PS4, Ghost of Tsushima sem dúvida é um dos pesos pesados em termos de narrativa, sendo extremamente bem sucedido em construir personagens coadjuvantes e também o vilão da trama. Mas o conflito de Jin, o protagonista, é ainda melhor, oferecendo uma jornada que vale a pena ser experimentada até o final.
Jin sofre principalmente com dois conflitos, um envolvendo seu passado com o pai – também samurai, e o que afeta o seu código de honra e como isso pode desestabilizar a relação com o tio Shimura. A Sucker Punch também se empenha em caprichar nas missões secundárias, oferecendo coadjuvantes ativos na jornada de Jin em eliminar os mongóis. Cada um com seus próprios conflitos pertinentes e que podem liberar mais armas e talentos para o protagonista conforme a narrativa progride.
Claro que existem missões genéricas conferidas por NPCs de menor importância, mas em geral, há um belo esforço em integrar todas as atividades no enriquecimento de Jin de uma forma raramente vista. Até mesmo atividades complementares são motivadas para aumentar a vida e resolução do personagem, além de outras características e oferecer reflexões sobre o próprio passado.
Outro ponto magistral que resolve um dilema clássico de jogos de mundo aberto é o uso do vento e do cenário. Em vez de usar bússolas ou elementos do HUD, o jogo te orienta aos objetivos com a direção do vento que sopra pelo cenário. Seguindo ele, Jin encontra o objetivo marcado no mapa que só fica disponível em sua tela exclusiva. Pode ser difícil se habituar no começo, mas é algo que agrega muito na experiência, além de ter um valor agregado muito bonito na narrativa.

Placar de 5 a 0
Essa é a quinta vez que a Nixxes realiza um port de exclusivos PlayStation para o PC. De fato, a prática leva a perfeição, mas ainda existem algumas rusgas que o time com certeza vai consertar ao longo do tempo através de patches. Em geral, o jogo está muito bem otimizado, rodando bem até em máquinas mais modestas que o equiparável ao hardware do PS5 – a versão portada.
Há melhorias claras que transformam o mundo aberto magistral do game em algo ainda mais vivo. A Sucker Punch se inspirou muito na filmografia e encenação de Akira Kurosawa, célebre cineasta japonês, na confecção do visual do jogo. Logo, tudo está em constante movimento, principalmente a vegetação. Agora sem as limitações do hardware original, é possível aumentar a qualidade visual à distância, renderizando um mar de gramas, flores e árvores até o limite do campo de visão – eliminando o fade in/pop in de elementos que tinha no original enquanto Jin avança pelo cenário.
Existem melhorias nas sombras, além das benesses todas envolvendo as tecnologias do FSR 3 e do DLSS 3, explodindo frames muito além da casa dos 60, tornando a apresentação do jogo realmente sublime. Tanto que há um contraste muito evidente em cenas pré-renderizadas com as renderizadas em tempo real, conseguindo superar muito a qualidade visual do que foi criado em CG na engine.
A Nixxes também continua apresentando elegância em seus menus que possibilitam ver as mudanças dos presets gráficos em tempo real, ajudando a escolher o melhor possível para garantir fidelidade visual e boa performance, mas já temos espaços para melhorias. É importante que os próximos jogos comecem a vir com uma barra de consumo de VRAM, algo que a Iron Galaxy aplicou em The Last of Us e que não deveria causar estranhamento no fluxo de trabalho da Nixxes.
Isso ajudaria o usuário a notar qual preset pode estar pesando a performance e, nesse sentido, às vezes há irregularidades de tempo de frame a depender da máquina do jogador. Se ela for parruda e avançada, dificilmente notará os problemas, mas GPS com largura de banda menor podem sofrer até em QHD.
Atualmente, o port possui algumas bizarrices com bugs e glitches. Às vezes a oclusão ambiental não funciona como deveria, o botão do Duelo/Confronto para de responder durante uma disputa e há um flicker muito bizarro quando o HDR está ativo em algumas cenas em letterboxd, além de um descompasso dos movimentos panorâmicos da câmera com o frame time. Fora isso, nada realmente gravíssimo que vá comprometer a experiência do jogador, mas não é um lançamento praticamente impecável como vimos em Horizon Forbidden West.

Diversão, recompensa e paciência
É fato que Ghost of Tsushima é um game excelente, mas isso não quer dizer que ele também não vai testar a sua paciência. Assim como um samurai, o jogador terá que respirar fundo, pois há irregularidades de ritmo nas primeiras horas do jogo. Não é nada tão aberrante como em God of War Ragnarok, mas são horas lentas, com objetivos um tanto enfadonhos com personagens que desabrocham aos poucos.
Sendo um título de mundo aberto, temos diversas atividades para realizar, sendo uma delas as clássicas de eliminação de acampamentos inimigos. O combate é ótimo para ser dominado, recompensando e muito os jogadores que conseguirem entender o sistema de parries que, ao ser executado perfeitamente, abre uma janela excelente para eliminar inimigos.
As habilidades oferecidas mudam o jogo aos poucos, permitindo também novas formas de exploração como o gancho e também o modo de escuta que auxilia na abordagem stealth muito satisfatória. Aqui, o sistema de níveis funciona de modo diferente, com Jin ganhando vários pontos de habilidade conforme a sua lenda fica mais forte no território de Tsushima.
Ao progredir na história e também limpar territórios, somos recompensados com habilidades fantasmas que envolvem o uso de projetáveis como kunais, bombas de fumaça, bombas adesivas e sinos para atrair inimigos. A kunai é excelente pois quebra a defesa de todo tipo de inimigo e se torna um acessório muito necessário para combater mongóis enormes.
Existe uma seleção generosa de armas, incluindo arcos, para o jogador escolher, mas a Sucker Punch não torna Ghost of Tsushima em um RPG de alta complexidade. É mais uma aventuras com alguns equipamentos que podem customizar melhor a abordagem que o jogador deseja seguir: seja no grito honroso do Samurai ou na maciota silenciosa do Ninja Assassino.
Então a experimentação fica limitada a esses caminhos, com alguns amuletos nichados que influem no combate e exploração. As armas, arcos e armaduras podem ser melhoradas em lojistas específicos. Isso requer que o jogador explore bastante o mapa para coletar os recursos necessários e, acredite, são muitos, mas as mudanças na qualidade de vida são substanciais, deixando a diversão mais fluida.
É exagero dizer que a SP conseguiu revolucionar o gênero, mas com certeza aprimorou muitos dos elementos criticados. Muito disso vem também do design de produção fantástico e das cores escolhidas a dedo. Ver cerejeiras explodindo tons rosas e gramíneas verdes em prados e montanhas é algo estonteante, tudo em movimento pelo vento que espalha as folhas coloridas na tela.
Esse apreço pela estética artística acompanha o jogo inteiro que é um manjar para os olhos. Uma pena, porém, que ao selecionar a dublagem japonesa, excelente e imersiva, há um capricho menor nas animação facial e dos lábios que foram feitos pensados pela também ótima dublagem original em inglês. Torço que a SP se esforce em dobro na sequência para isso não se tornar um problema novamente.

Avançar e conquistar
A PlayStation tem se empenhado seriamente a se tornar uma das distribuidoras mais relevantes do mercado de PC. Já com doze grandes títulos no catálogo, ainda tem mais blockbusters vindo por aí como God of War Ragnarok e The Last of Us Part 2.
Com Ghost of Tsushima, trazendo também a expansão da ilha Ikki e do subestimado modo multiplayer Legends, o estúdio crava mais um acerto. O jogo já conseguiu se tornar o lançamento mais popular da Sony na plataforma, superando God of War. Isso deve manter muita gente feliz.
Os executivos e os jogadores que conseguem lucrar, seja financeiramente ou com um entretenimento da mais alta qualidade. Lançamento obrigatório para todos.
Agradecemos a PlayStation pela cópia gentilmente cedida para a realização desta análise.
Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema. Jornalista, assessor de imprensa.
Apaixonado por histórias que transformam. Todo mundo tem a sua própria história e acredito que todas valem a pena conhecer.
Contato: matheus@nosbastidores.com.br


