Há anos que os jogos LEGO são uma verdadeira sensação. Se na minha época de infância eu gastava horas com Star Wars e Indiana Jones, nada mais natural que mais franquias apareçam e sejam adaptadas para os famosos blocos de montar.
Enquanto fazia um tempo desde o último game da saga LEGO, muita gente foi pega de surpresa com o anúncio inesperado de Horizon Adventures que chega agora no meio de novembro.
Com a Sony e a Guerrilla ajudando no projeto multiplataforma do Studio Gobo, marcando também a primeira vez que um jogo PlayStation chega ao Nintendo Switch, o game certamente é interessante, mas não chega perto de ameaçar outros títulos LEGO que já estão disponíveis no mercado.
Overdose de Horizon
2024 foi um ano carregado de títulos Horizon. A saga de Aloy viu Forbidden West chegar ao PC e a remasterização da primeira aventura ser lançada há poucos dias. Com o LEGO, é a terceira vez que Aloy se torna destaque dos lançamentos mensais. Com certeza uma aposta ousada da Sony que parece cada vez mais confiante em uma saga que vende bem, mas que falha em conquistar corações e mentes como God of War ou The Last of Us, por exemplo.
Aqui, mais uma vez a história de origem de Aloy é contada, trazendo Rost, Sylens, Varl, Erend e Teersa na busca de compreender quem é a heroína, qual a sua origem enquanto lidam com as ameaças de corrupção e máquinas ensandecidas de Hades com a ajuda do fanático Helis. A diferença é que tudo é mais resumido, infantilizado e repleto de piadinhas ao estilo LEGO.
Como a comédia é sempre difícil e não se trata de um humor genial como visto no filme original de Uma Aventura LEGO, é bem claro que as piadas funcionam para crianças pequenas, enfatizando slapstick e escrita millennial cringe com diálogos do tipo ‘Caras, sério?!’ ou ‘Ele está bem atrás de mim, não é?’. Acho que crianças até dez anos devem se divertir sendo uma boa porta de entrada para Horizon com este LEGO Horizon Adventures.
Algumas piadas funcionam para adultos, mas é capaz de tanta verborragia acabar irritando, principalmente porque os personagens não se calam nunca enquanto exploram os níveis do jogo (aproximadamente 25, creio).
Acho que os únicos diferenciais que realmente achei interessantes foram as maiores presenças de Rost, que funciona como o narrador da história, e de Elisabet através de um holograma. O final da narrativa tem uma conclusão bastante fofa para Aloy e Elisabet que é bem mais satisfatória.
Me surpreende também o caráter experimental da coisa. Apesar do jogo ser totalmente dublado em diversos idiomas, é evidente que se trata de um projeto de orçamento mais limitado, ainda mais levando em conta que o jogo só adapta a primeira parte da história, ignorando Forbidden West por completo. Algo que é bem atípico para os jogos LEGO que costumam superar as dez horas de duração. Aqui, é o jogo beira as oito horas de entretenimento, podendo durar mais caso se interesse em completar desafios ou caçar animais alfa em níveis já explorados.

Simples, eficaz e bonito: LEGO Horizon Adventures
Arrisco um palpite um tanto ousado, mas parece que LEGO Horizon Adventures foi pensado primeiramente para o Switch e depende para o PlayStation 5 e PC (aliás, a ausência do PS4 é bem estranha). Todo o game design da obra remete algo da geração passada, repleto de telas de loading dentro das fases, um hub de interação e exploração para encarar os níveis extremamente lineares.
Os visuais, como não podiam deixar de ser, são bastante bonitos, com a direção de arte se aprofundando ao máximo em trazer todos os elementos do jogo na caracterização dos blocos de montar. Água, fogo, pequenas chamas, espuma, raios e mais efeitos são feitos com diversas pecinhas animadas. Piso e vegetação também. Talvez seja um dos primeiros títulos da saga que realmente seja “renderizado” 100% em peças LEGO.
As fases, que são separadas por biomas, abrangem biomas de tundra, nevados, de florestas tropicais e desérticos, com alguns níveis quebrando a norma ao apresentar os divertidos caldeirões que trazem o game design mais inventivo com seções de plataforma e puzzles fáceis, menos focados no combate.
Com quatro personagens jogáveis sendo Aloy, Teersa, Varl e Erend, há relativa diversidade para o jogador encarar as fases o combate à inimigos humanos e às máquinas perigosas de Horizon (um dos pontos altos do jogo é o design intrincado de cada criatura em versão LEGO).
Aloy possui suas tradicionais flechas, Teersa atira projéteis explosivos, Varl arremessa lanças e Erend marreta tudo com seu martelo sendo o único que o combate não é realizado a distância. O jogador pode e é encorajado a usar os elementos das fases como poças de água, fogueiras, plantas espinhosas e penhascos a seu favor no combate.
Além disso, todos podem encontrar upgrades raros das armas, adicionando dano elemental elétrico, de fogo e congelante, além de outras versões menos poderosas. Há também aparatos para auxiliar no combate, de usos limitados assim como os upgrades. Entretanto, o elemento absurdo é quem domina com aparatos engraçados como o Tio do Dogão que arremessa hot-dogs às alturas para cair como meteoritos, ou bombas de gravidade.
Cada personagem tem sua própria progressão em vinte níveis, destravando mais saúde, dano normal e dano localizado nos pontos fracos dos robôs (que são destacados pelo Foco, assim como no jogo original). Todos os personagens são divertidos de jogar – embora eu tenha achado Erend o mais eficaz no combate, e o co-op local é ideal para horas de diversão. Uma pena que as fases sejam tão curtas, mal durando dez minutos cada uma.
Os níveis escondem alguns segredos nada secretos ao guiar o jogador com pinos LEGO para descobrir baús que oferecem habilidades ou mais pinos para trocar por aprimoramentos universais de habilidades. Estes são progressivamente desbloqueados através dos clássicos blocos dourados e são essenciais para oferecer mais velocidade de progressão de nível, além de outros atributos bem vindos que fazem a diferença no gameplay.
Uma pena, porém, que a câmera tenha voltado a ser isométrica como em títulos anteriores a Skywalker Saga. Ao mesmo tempo que traz uma das melhores direções de arte da franquia, a imersão é sacrificada pela câmera fixa que, embora funcional, não ajuda a tornar esse belo mundo ainda mais bonito.
Há valor de produção também nas diversas cinemáticas, além das conversas com os personagens dialogando entre si nos cantos da tela. O único ponto do gameplay que grita “oportunidade perdida” é o fato de não permitir a conversão dos robôs como aliados em combate.
Nem mesmo há skins para encarnar uma das criaturas. Os quatro personagens são tudo o que o jogo oferece, algo também pouco condizente com o DNA dos jogos LEGO. Felizmente, no hub central que é a cidade Coração da Mãe, o jogador pode visitar a loja de Teb e explorar as muitas skins oferecidas, incluindo de propriedades intelectuais da LEGO como City e Ninjago.
Aliás, a customização de Coração da Mãe é uma das prioridades do jogo, permitindo trocar edificações, decorar como quiser e até mudar o estilo artístico de segmentos inteiros. Um bom incentivo para os jogadores complecionistas que vão aproveitar 100% da obra.
Estreia boa para um futuro promissor
Apesar de não ser o melhor game LEGO já criado, LEGO Horizon Adventures pode dialogar muito bem com seu público alvo: o infantil. Se você já tem filhos e não sabe o que escolher de Natal, esse presente é ideal para as crianças, trazendo um bom divertimento, além de ser uma porta de entrada para a família PlayStation.
Há limitações técnicas e de orçamento aqui, mas o jogo é bem realizado e cumpre seu propósito, ainda que falhe em atingir todo o potencial que merece. Agora, o que é interessante mesmo é a perspectiva para um futuro promissor caso a empreitada seja um sucesso.
Afinal, ter versões LEGO de outras grandes franquias como The Last of Us, Uncharted e God of War pode ser uma verdadeira mina de ouro a ser explorada com potencial de trazer jogos muito melhores e ousados. Fico na torcida.
Agradecemos a PlayStation pela cópia gentilmente cedida para a análise.