A série Yakuza, conhecida por suas histórias dramáticas e repletas de ação, com foco nos conflitos internos dos personagens e nos perigos das organizações criminosas japonesas, sempre teve um apelo único entre os jogadores. A presença de Goro Majima, o “Cachorro Louco de Shimano”, em várias das iterações, principalmente em Yakuza 0, solidificou ainda mais seu status de ícone entre os fãs. Seu comportamento excêntrico, imprevisível e ao mesmo tempo empático, o tornou uma figura central nas narrativas da franquia. Diante disso, sua própria aventura 100% solo já era um pedido aguardado. No entanto, ninguém poderia prever que o retorno de Majima viria em um formato tão inusitado quanto Like A Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii, um jogo que transporta o personagem para um cenário pirata no Havaí, com um toque de amnésia e repletos de desafios em alto-mar.

Uma jornada de redescoberta e aventura no meio do caos

Ao longo da série Yakuza, os jogadores acompanharam a evolução de Goro Majima, desde o Yakuza perturbado que foi apresentado em Yakuza 0 até o personagem multifacetado de Yakuza 5 e outros títulos. No entanto, em Like A Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii, Majima é retratado em um momento curioso de sua vida: ele acorda em uma praia no Havaí sem memória do que aconteceu antes, sem lembrar sequer do seu nome. Essa amnésia serve como um dispositivo narrativo inteligente, oferecendo uma nova perspectiva sobre um personagem tão complexo e familiar servindo também como uma introdução perfeita para novos jogadores. Em vez de carregar o peso de seu passado violento e tumultuado, Majima inicia sua jornada em um cenário mais leve, talvez um pouco mais otimista, mas não menos imprevisível.

Logo, ele é resgatado por Noah, um jovem morador local, e se vê inserido em um mundo onde piratas existem em pleno século XXI, com navios antigos navegando pelos mares, saqueadores à procura de tesouros lendários e um Coliseu de Piratas que serve como palco para batalhas de alto risco e recompensa. Ao longo de sua jornada, Majima se envolve na busca por um tesouro conhecido como “Esperanza”, cruzando caminhos com vários personagens excêntricos e enfrentando inimigos cada vez mais poderosos. A trama mistura elementos clássicos de aventura com a loucura característica do mundo de Yakuza.

Embora a premissa inicial pareça um tanto absurda — um Yakuza pirata no Havaí com uma história de amnésia — o jogo faz um excelente trabalho ao enraizar a narrativa nas emoções e conflitos internos do protagonista. Ao longo do caminho, Majima forma uma amizade com Noah, adotando o jovem como parte de sua tripulação, e se vê em uma jornada de auto-descoberta enquanto lida com a perda de sua identidade e a necessidade de reconstruir sua vida em meio a um cenário absolutamente excêntrico.

A introdução da amnésia de Majima traz uma reviravolta interessante à sua caracterização. Ao longo da franquia Yakuza, Majima sempre foi um personagem com uma personalidade de múltiplas camadas, entre o caos e a razão. Agora, livre de sua memória, ele exibe uma versão mais pura de si mesmo, sem as amarras de seu passado turbulento. Isso cria uma dinâmica fresca, onde a loucura e a fúria do “Mad Dog” podem coexistir com momentos de vulnerabilidade e até mesmo carinho. A relação que ele desenvolve com Noah, e até com outros personagens da tripulação, adiciona uma camada de humanidade ao seu comportamento que, de outra forma, poderia ser visto apenas como insano – remetendo bastante aos primeiros capítulos de Yakuza 0 quando Majima ainda estava são.

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A Mecânica de Combate: A revolução pirata com estilos de luta

O sistema de combate de Like A Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii é uma evolução natural da fórmula conhecida pelos fãs da série. No entanto, há uma ênfase maior na diversidade de estilos de luta, que são fundamentais para a jogabilidade. Majima, como de costume, possui dois estilos principais: Mad Dog e Sea Dog, e ambos desempenham papéis cruciais em diferentes contextos de combate em tempo real no estilo de beat n’ up clássico da saga até o sétimo jogo.

Mad Dog, o estilo clássico de Majima, remete diretamente ao que os jogadores conheceram em Yakuza 0 e Yakuza 5. Com uma lâmina nas mãos, Majima executa ataques rápidos e implacáveis, focando em combos rápidos e movimentos impiedosos. Esse estilo é ideal para combates em terra firme, em que o controle da multidão e os ataques de precisão são necessários. No entanto, Pirate Yakuza introduz o estilo Sea Dog, que é um estilo mais adequado para o novo contexto de pirata. Majima empunha dois cutelos, além de uma pistola e um gancho, oferecendo uma combinação mais ampla de ataques e alcance.

A habilidade de alternar entre esses estilos em tempo real torna o combate dinâmico e envolvente, com o jogador sendo desafiado a ajustar sua abordagem dependendo do tipo de inimigo ou ambiente. O “Mad Dog” é excelente para lutas intensas e rápidas, enquanto o “Sea Dog” adiciona uma nova dimensão de combate com os ataques de longo alcance e as estratégias de controle de distância. A variedade de movimentos e combos, bem como a possibilidade de invocar Instrumentos Sombrios, como tubarões devoradores de homens ou um macaco furioso, faz com que as batalhas se sintam intensas e, ao mesmo tempo, um tanto cômicas com movimentos de finalização engraçados e originais.

Embora o combate com espadas e lâminas seja sempre satisfatório, a adição do gancho e da pistola no estilo “Sea Dog” faz com que o combate naval também se torne um dos maiores atrativos do jogo. Os confrontos em alto-mar exigem uma certa estratégia, já que o jogador precisa gerenciar as armas de seu navio, posicionar-se adequadamente e saber quando recuar para reparar danos ou recarregar munição. Os confrontos contra navios chefes são mais táticos e exigem maior atenção aos detalhes, como a posição do navio, os ataques dos inimigos e os recursos disponíveis. Digamos que a produtora tirou boas lições de Assassin’s Creed IV: Black Flag.

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O Navio e a gestão de tripulação

Uma das mecânicas mais envolventes de Pirate Yakuza é o gerenciamento do Goromaru, o navio pirata de Majima. Após derrotar o antigo proprietário, Majima assume o comando do navio e começa a personalizá-lo, expandi-lo e recrutar uma tripulação para operar suas diversas armas, como metralhadoras, canhões, lança-chamas e até canhões laser. O microgerenciamento da tripulação adiciona uma camada extra de profundidade ao jogo, já que os jogadores devem garantir que seus membros estejam bem alimentados, motivados e adequados para as batalhas navais.

O sistema de gestão da tripulação e das batalhas navais não é apenas uma característica única do jogo, mas também um reflexo da natureza mais aventureira e menos violenta da narrativa. Embora as batalhas sejam intensas, a manutenção do navio e a coordenação da tripulação oferecem um equilíbrio entre ação e estratégia. Além disso, a personalização do Goromaru, incluindo melhorias nas armas e equipamentos, dá ao jogador um senso de progressão e conquista, tornando o combate naval muito mais satisfatório à medida que você evolui sua frota.

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O mundo aberto: Honolulu 

A cidade de Honolulu é um dos maiores destaques do jogo, e isso se deve à sua amplitude e à variedade de atividades e minijogos que ela oferece. Enquanto Yakuza sempre teve uma ênfase na exploração de cidades densas, Honolulu em Pirate Yakuza traz uma mistura de paisagens tropicais exuberantes e ruas movimentadas, criando um ambiente vibrante e cheio de vida. A cidade está repleta de missões secundárias, mini-jogos como karaokê e culinária, e até mesmo tarefas mais inusitadas, como resgatar animais e cuidar deles em uma ilha particular.

Explorar Honolulu é uma das partes mais divertidas do jogo, já que há sempre algo novo para descobrir. Além das missões que giram em torno de saques e combates, o jogo oferece uma variedade de atividades sociais e de entretenimento. O sistema de recrutar tripulantes também é um elemento importante, pois alguns membros só podem ser recrutados após o jogador completar desafios específicos, como fazer amizade com certos NPCs ou alcançar certos marcos em mini-jogos.

A principal característica de Like A Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii é sua capacidade de misturar humor e drama de maneira eficaz. Ao contrário de Yakuza 0, que tratou de temas sombrios como lealdade, amizade e sacrifício, este spinoff coloca Majima em situações que poderiam ser descritas como absurdas, mas ao mesmo tempo profundamente comoventes. Sua relação com Noah, seu papel como mentor e sua luta contra a amnésia criam uma narrativa que equilibra momentos emocionais com a ação mais insana.

Embora o tom possa parecer mais leve em comparação com outros títulos da série, Pirate Yakuza nunca perde de vista as complexidades dos personagens e das situações. Há uma sensação genuína de crescimento e descoberta tanto para Majima quanto para os outros personagens ao longo do jogo, e a viagem de Majima de volta a si mesmo é um reflexo da evolução do personagem ao longo da franquia.

Jogo para os fãs, mas acessível para todos

Em resumo, Like A Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii é uma excelente adição à franquia. Embora seja um spinoff que se afasta da narrativa central, o jogo oferece uma experiência incrivelmente divertida e única, com mecânicas de combate inovadoras, uma cidade vibrante para explorar e uma história cheia de reviravoltas e momentos emocionantes.

Para os fãs de longa data, é uma oportunidade de ver Goro Majima de uma maneira nova e inesperada, enquanto para novos jogadores, é uma porta de entrada para o estilo excêntrico e imprevisível de Yakuza. O jogo pode não ser tão profundo quanto as entregas principais da série, mas sem dúvida captura o espírito de aventura e exploração que fez de Yakuza uma das franquias mais amadas dos jogos.

Agradecemos à SEGA pela cópia gentilmente cedida para a realização desta análise.

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