Quando Star Wars Outlaws foi lançado no ano passado para PS5, Xbox Series e PC, o jogo chegou carregado de polêmicas. De um lado, a Massive Entertainment havia entregado um mundo aberto de inegável carisma, com Kay Vess e seu sidekick Nix conquistando o coração dos fãs. Do outro, a “sanitização Disney”, a campanha curta (menos de 14 horas, contra as 30 prometidas) e, principalmente, as animações faciais de dar vergonha mancharam a reputação de um título que deveria ser um triunfo.

Agora, um ano depois, o jogo ressurge das cinzas em uma jogada arriscada: o lançamento para o Nintendo Switch 2. A expectativa era baixa, afinal, como um jogo tão exigente tecnicamente se comportaria em um console focado na portabilidade? A resposta, surpreendentemente, é um triunfo de engenharia. O port executado pela Redlynx não é apenas competente; ele se estabelece como um novo padrão para adaptações AAA e, mais importante, como uma das melhores maneiras de finalmente mergulhar na aventura de Kay Vess.

A segunda chance de Kay Vess (e da Ubisoft)

A história de Kay Vess, a ambiciosa ladra forçada a fugir pela galáxia após adquirir uma Marca de Morte, continua a mesma: uma aventura light no submundo do crime. Embora a narrativa tateie temas mais adultos (como o trauma de abandono de Kay) que a sanitização Disney impede de desenvolver totalmente, o carisma da dupla Kay e Nix – o alien pet fofo, nitidamente inspirado em Banguela e Stitch – sustenta a jornada. A introdução de ND-5, o droide de comando estiloso, com seu arco de personagem genuinamente interessante, permanece um ponto alto da história.

O valor do Switch 2 reside no pacote completo. O jogo chega na versão Gold Edition, o que significa que inclui as correções de bugs de lançamento e os dois pacotes de expansão que surgiram ao longo do ano. Isso é bom, pois o jogo base, com sua campanha de 14 horas, parecia injustificável pelo preço original. Agora, o jogador de Switch 2 recebe uma experiência completa, polida e com a duração inflada pelo conteúdo adicional e pelas missões de especialista que, embora não sejam notáveis, complementam o lore da galáxia.

A jogabilidade também recebeu polimentos via patch ao longo do ano. As falhas gráficas generalizadas do lançamento foram sanadas, e a Massive removeu missões stealth obrigatórias que eram frustrantes devido ao level design precário. A essência do gameplay – o tiroteio arcade funcional, as mecânicas essenciais de Nix (furtar, distrair) e os minigames de hacking e lockpick – continuam divertidos. O jogo finalmente pode ser apreciado pelo que é: uma aventura de ação arcade competente, que só precisava de mais tempo no forno.

Apesar da curta duração da história principal e da previsibilidade do arco dos antagonistas (Sliro e Veil), o sistema de reputação de sindicatos permanece como uma das mecânicas mais interessantes. Ajudar um sindicato invariavelmente prejudica outro, forçando o jogador a equilibrar a frequência de missões para não ser caçado ativamente, o que adiciona um senso de imersão e consequência no submundo. É uma pena que essa reputação não altere o final do jogo, mas é um dilema de interesse que o Switch 2 herda e explora com sucesso.

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O milagre portátil: Desempenho e engenharia Redlynx

Aqui reside a verdadeira surpresa: o desempenho de Star Wars Outlaws no Nintendo Switch 2. A Massive (com ajuda da Redlynx) conseguiu o que parecia impossível, entregando uma conversão que rivaliza com a excelência vista em Cyberpunk 2077 no mesmo console, e que é comparável ao desempenho do Xbox Series S. Para um jogo tão exigente e com a reputação de downgrade visual no lançamento, isso é um feito e tanto.

A mágica está no hardware e na otimização inteligente. No modo portátil, o jogo opera a 540p, um número que soa “horrível e baixo” no papel. No entanto, o upscaling, o ajuste fino de desempenho e o tamanho menor da tela (7.9 polegadas) combinam-se para entregar uma imagem “realmente decente” e nítida. O jogo é travado a 30 FPS, mas essa estabilidade é mantida durante toda a jogatina, com quedas mínimas (para 28-29 FPS) apenas em cidades muito densas, garantindo uma experiência de ação suave e consistente, crucial para o combate.

Ao ser jogado no dock, o jogo é atualizado para 1080p, proporcionando uma experiência visual ainda melhor para a tela grande. A estabilidade gráfica é mantida, e embora haja uma diminuição na densidade de NPCs e objetos em comparação com as versões de ponta, o uso inteligente do DLSS garante que as texturas pareçam nítidas. A inclusão de opções de Ray Tracing – com iluminação e sombras dinâmicas – é uma adição inesperada que demonstra o poder e o potencial do novo console da Nintendo, elevando a qualidade dos reflexos e da oclusão ambiental.

A Redlynx aproveitou também as peculiaridades do Switch 2. A tela sensível ao toque pode ser usada para navegar no menu ou solucionar problemas, enquanto o sensor de movimento permite mira mais precisa no combate espacial e terrestre (embora o Pro Controller ainda seja a melhor opção para movimentos finos). Até mesmo os recursos de vibração foram utilizados de forma eficaz para aumentar a imersão, o que, junto com a possibilidade de cross-save com outras plataformas, faz do Switch 2 uma opção de compra extremamente atraente para quem já tem o jogo em outro console.

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O dilema visual e o triunfo auditivo

O Switch 2 herda os acertos visuais do jogo base, mas também suas falhas. O design artístico icônico de planetas como Tatooine e Kijimi, junto com o sistema próprio de clima e ciclo de dia e noite, que deixa Kay empoeirada ou molhada, é capturado com sucesso, reforçando a imersão. No entanto, o grande problema visual do original – as animações faciais terríveis, que fazem Kay parecer uma “boneca borrachuda inchada” – permanece. A falta de sincronia labial e a rigidez nas expressões são herdadas, prejudicando o senso de imersão nas cutscenes renderizadas na engine do jogo.

Em contraste, o departamento de áudio é um acerto inquestionável. Os efeitos sonoros são perfeitos e fiéis à saga Star Wars, e a trilha sonora original é competente. O tema principal é majestoso e as faixas atmosféricas de planetas como Akiva e Tatooine são ótimas. Isso, somado ao uso eficiente dos joy-cons e dock, garante que a aventura tenha o peso e o impacto auditivo esperados de uma produção da franquia, mesmo em um console portátil.

Conclusão: Um Novo Padrão de Portabilidade

Star Wars Outlaws no Switch 2 é mais do que um port; é uma redenção. O jogo, agora livre dos bugs e enriquecido com expansões e patches de um ano, finalmente se apresenta em sua melhor forma. A Redlynx e a Massive entregaram uma adaptação tecnicamente magnífica, que oferece desempenho estável de 30 FPS e visuais comparáveis ao Xbox Series S, elevando o patamar de portabilidade para jogos AAA.

Para os fãs de Star Wars e do gênero ação/aventura, esta é a oportunidade ideal. O jogo é uma experiência divertida, que tira o foco de Jedi e Sith e explora o carismático submundo da galáxia. O port do Switch 2, com o pacote Gold Edition e o trabalho de otimização impecável, não apenas evita que o jogador se sinta em uma versão “menor” do jogo, mas o torna o exemplo a ser seguido para futuros lançamentos de peso no console.

Agradecemos à Ubisoft pela cópia gentilmente cedida para a realização desta análise.

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Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema. Jornalista, assessor de imprensa.

Apaixonado por histórias que transformam. Todo mundo tem a sua própria história e acredito que todas valem a pena conhecer.

Contato: matheus@nosbastidores.com.br

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