Desde o seu anúncio como Project Eve, Stellar Blade já chamava a atenção. O estúdio Shift Up, desafiando a normalidade da indústria, decidiu resgatar a essência dos tempos áureos do Xbox 360 e PS3 com um título de ação que não hesitou em sexualizar sua protagonista.
Após enfrentar críticas no Twitter, Stellar Blade foi desenvolvido e lançado para os proprietários do PlayStation 5, tornando-se um dos exclusivos mais importantes do ano. Ansiosos para explorar o mundo pós-apocalíptico do jogo, nos aventuramos e confirmamos: este é facilmente um dos melhores jogos de ação da década, superando a polêmica criada por aqueles que adoram censurar a criatividade alheia.
Um Passado Reescrito
A história de Stellar Blade gira em torno de Eve, uma guerreira geneticamente modificada pela sociedade sobrevivente na Mãe Esfera, que abandonou a Terra após uma devastadora guerra final.
O objetivo de Eve é simples, mas nada fácil: aniquilar a criatura conhecida como Naytiba Alfa, um dos líderes dos misteriosos seres que surgiram no planeta e dizimaram a humanidade. No entanto, logo no primeiro encontro com a criatura, Eve sofre uma derrota e testemunha a aniquilação de sua líder de esquadrão.
Salva no último segundo por Adam, Eve decide unir forças com os últimos sobreviventes humanos na Terra para derrotar os Naytibas. A jornada que se segue revelará segredos sombrios de um passado há muito enterrado.
Embora a trama possa parecer genérica, ela é interessante o suficiente para manter o jogador engajado durante toda a aventura. Novos personagens surgem, e apesar da falta de carisma em muitos deles, o design e as circunstâncias dos encontros trazem elementos criativos que mantêm o interesse vivo.
Stellar Blade não é um projeto milionário, e isso se reflete nos elementos de apresentação. O mundo é construído através de notas encontradas nos cadáveres de combatentes, proporcionando uma dimensão ao desastre que assolou o planeta.
Apesar das limitações, a história reserva surpresas e reviravoltas, embora alguns clichês prejudiquem a mensagem final. A equipe de dublagem em inglês também merece reconhecimento, mas, no fim das contas, a história de Stellar Blade é um bônus, surpreendendo por sua qualidade.

O Combate Estelar
A essência de Stellar Blade reside em seu sistema de combate, que se destaca como um dos melhores do gênero, remetendo a clássicos como Bayonetta e Nier Automata. Com uma duração aproximada de vinte horas, o jogo oferece uma experiência de batalha que, apesar de desafiadora, não chega a ser implacável como um soulslike, embora compartilhe elementos como acampamentos, sistema de parries e a regeneração de inimigos.
Os níveis, apesar de lineares, são espaçosos e repletos de segredos e recompensas, com áreas designadas para missões secundárias. No entanto, é nos vastos espaços abertos que o jogo perde um pouco de sua identidade, caindo na armadilha do genérico.
O combate é fluido e gratificante, evoluindo gradualmente com um sistema de níveis e aquisição de habilidades que incluem manobras como o desvio perfeito, o contra-ataque impecável e uma esquiva que mais parece teletransporte, todos indicados por sinais visuais distintos dos inimigos.
As habilidades especiais, ativadas ao defletir ataques com precisão, carregam uma barra de energia e são um dos pontos altos do jogo. A diversidade de inimigos, desde lacaios até elites e alfas, mantém o combate interessante e desafiador, especialmente nos confrontos com chefes bem elaborados que misturam o abstrato e o animalesco, exigindo adaptação estratégica do jogador.
Embora o jogo incorpore elementos de RPG, como modificadores especiais e upgrades de armas, a falta de variedade em armas corpo a corpo é notável, limitando-se a uma única espada. Curiosamente, há uma abundância de opções de personalização para a protagonista Eve, desde trajes até acessórios.
Tecnicamente, Stellar Blade é um dos lançamentos mais polidos e estáveis do ano, com gráficos deslumbrantes e modelos de personagens detalhados. Contudo, há espaço para melhorias na direção de arte e no design geral, que por vezes se apoiam em clichês pós-apocalípticos.
As animações faciais e a trilha sonora instrumental, embora eficazes, deixam a desejar, mas são compensadas pelas canções originais. A direção do jogo também poderia evitar estender desnecessariamente a duração da experiência com sequências de plataforma frustrantes.
Em Stellar Blade, os controles de plataforma podem não atingir o mesmo nível de excelência do combate. Os jogadores podem se deparar com saltos imprecisos e uma câmera que, por vezes, mais atrapalha do que ajuda, especialmente nos níveis com design vertical complexo. Os quebra-cabeças, que dependem fortemente desses controles, acabam sofrendo com essa falta de refinamento.
Além disso, as sequências cinemáticas que exigem reações rápidas para esquivar de obstáculos letais podem ser frustrantes, remetendo ao estilo de Uncharted, mas sem a mesma fluidez, transformando-se em um desafio até mesmo para os jogadores mais habilidosos.

Stellar Blade: Pacote de Risco e Recompensa
Apesar desses desafios, Stellar Blade se destaca como um dos melhores jogos de ação, brilhando como um título exclusivo do PlayStation 5 em um ano carente de grandes lançamentos. O jogo é um pacote completo que cativa pela sua execução técnica impecável e pela audácia de desafiar as tendências conservadoras da indústria.
Com uma narrativa que poderia ousar ainda mais, o jogo mantém um equilíbrio entre violência e irreverência. Considerando que este é o primeiro título de console da Shift Up, os erros são mínimos e perdoáveis. Stellar Blade tem todos os elementos para se tornar um clássico, potencialmente marcando uma geração assim como Bayonetta fez no passado.
Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema. Jornalista, assessor de imprensa.
Apaixonado por histórias que transformam. Todo mundo tem a sua própria história e acredito que todas valem a pena conhecer.
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