Nos últimos anos, o gênero Soulslike tem se expandido exponencialmente, atraindo desenvolvedores de diversas origens para tentar decifrar a fórmula de sucesso da FromSoftware. The First Berserker: Khazan se junta a esse seleto grupo de jogos inspirados pela brutalidade e precisão de títulos como Dark Souls, Bloodborne e mais recentemente Lies of P.

Mas será que ele consegue se destacar em meio à multidão ou é apenas mais um clone que tenta emular o brilho da FromSoft sem sucesso? A resposta, felizmente, não é tão simples. Khazan brilha em alguns aspectos cruciais, principalmente no combate visceral e no design de chefes desafiadores, mas também tropeça em outros, como a repetição de inimigos e a estrutura de progressão. Vamos explorar cada um desses pontos em detalhes.

A estética e a ambientação: um anime gótico brutal

Desde os primeiros momentos, The First Berserker: Khazan deixa claro que não pretende seguir o estilo gótico europeu tradicional dos Soulsborne. Em vez disso, o jogo aposta em uma estética anime de metal gótico, que mistura elementos de fantasia sombria com um visual estilizado em cel shading. Isso cria uma identidade visual única que pode não agradar a todos, mas certamente diferencia o jogo de seus concorrentes. Imagine a brutalidade de Conan, o Bárbaro, misturada com o visual vibrante de Code Vein e você terá uma ideia do que esperar.

A história de The First Berserker: Khazan segue o general Khazan, um guerreiro injustamente acusado de traição e condenado a um exílio brutal. O enredo mescla vingança e redenção com uma abordagem mais direta do que é comum em jogos Soulslike. Ao contrário da sutileza encontrada nos títulos da FromSoftware, aqui temos uma narrativa mais explícita e estruturada, que se apoia em cenas de corte e diálogos para contar sua história. Isso pode ser positivo para jogadores que preferem mais clareza narrativa, mas pode não agradar aqueles que apreciam o mistério e as lacunas interpretativas tão comuns ao gênero.

No entanto, apesar de sua tentativa de aprofundamento, a trama e os personagens não são particularmente memoráveis, mas engajam até o final do jogo pelo interesse em ver o final da jornada de Khazan. NPCs tendem a ser genéricos, funcionando mais como distribuidores de missões e recursos do que como figuras que despertam empatia ou curiosidade.

O combate: visceral, técnico e punitivo

Se há um aspecto onde Khazan realmente brilha, é no combate. A mecânica é fluida, brutal e recompensadora, exigindo que o jogador aprenda os padrões de ataque dos inimigos e responda com precisão. O jogo incentiva um estilo agressivo de luta, favorecendo esquivas e contra-ataques cronometrados para maximizar o dano. Esse sistema cria um ritmo dinâmico, onde o jogador está sempre pressionado a encontrar janelas para atacar sem comprometer sua barra de resistência que é que define seu êxito em embates complexos.

O jogo apresenta três tipos principais de armas: espadas de empunhadura dupla, uma grande espada pesada e uma lança. Embora o número de categorias seja relativamente baixo, cada uma delas tem variações significativas que mudam seu estilo de jogo. Além disso, a árvore de habilidades permite que o jogador redefina seus pontos de experiência sem penalidade, o que incentiva a experimentação e a adaptação para diferentes chefes e inimigos.

A resistência é um elemento central no combate, não apenas para o jogador, mas também para os inimigos. Chefes possuem barras de resistência que, ao serem esgotadas, os deixam vulneráveis a ataques brutais. Isso adiciona uma camada estratégica ao combate, onde o jogador precisa balancear ataque e defesa para maximizar dano.

As lutas contra chefes são o grande destaque do jogo, com inimigos multifásicos que exigem aprendizado e adaptação. Felizmente, o jogo oferece um sistema de recompensas que distribui pequenas quantidades de experiência e recursos a cada tentativa fracassada, incentivando a persistência sem tornar a frustração excessiva e te deixando um pouco mais forte para aguentar as surras frenéticas.

Demo pública de The First Berserker: Khazan é lançada com recursos exclusivos para jogadores
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Design de inimigos e chefes: brilhante, mas repetitivo

O jogo se sai excepcionalmente bem no design de chefes. Cada um deles é uma ameaça formidável, muitas vezes possuindo múltiplas fases, ataques elementais devastadores e padrões que exigem múltiplas tentativas para serem totalmente compreendidos.

Infelizmente, o mesmo não pode ser dito dos inimigos comuns. Embora eles sejam satisfatórios de enfrentar, o jogo falha em oferecer uma variedade significativa de adversários com padrões óbvios, embora alguns se escondam muito naturalmente no cenário, provocando boas emboscadas. Muitos inimigos são reutilizados de forma excessiva e, em alguns casos, variantes de chefes aparecem como inimigos comuns mais à frente no jogo. Isso acaba diluindo o impacto das lutas e tornando o jogo um pouco previsível após um certo ponto.

Estrutura e progressão: uma faca de dois gumes

A área central do jogo, chamada The Crevice, funciona como um hub que conecta os diferentes ambientes do mundo. Essa estrutura lembra a Firelink Shrine de Dark Souls ou o Nexus de Demon’s Souls, mas sem o mesmo nível de profundidade ou interconectividade. O jogo segue uma progressão mais linear, sem muitas oportunidades de exploração significativa, o que pode decepcionar alguns fãs do gênero – é muito similar ao sistema de fases de Nioh, mas melhor apresentado, com certeza.

Um dos elementos mais controversos do jogo é o sistema de invocações. Assim como em Elden Ring, Khazan permite que os jogadores convoquem um Espírito de Assistência para ajudá-los nas batalhas mais difíceis. No entanto, para fortalecer esse aliado, o jogador precisa farmar um recurso específico, o que pode tornar a experiência frustrante para aqueles que não querem repetir lutas opcionais apenas para conseguir reforços.

The First Berserker: Khazan chega em março de 2025 com trailer cinematográfico
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O desafio: um jogo para masoquistas

The First Berserker: Khazan é implacável. Os níveis regulares não são particularmente difíceis, mas os chefes representam desafios extremos que testam a paciência e a resistência do jogador. O segundo chefe já apresenta múltiplas fases e ataques devastadores, e a dificuldade só aumenta a partir daí. A forma como o jogo implementa sua curva de aprendizado exige dedicação e insistência, o que pode afastar jogadores casuais – felizmente há um nível de dificuldade mais fácil, mas não espere que a experiência seja um passeio no parque.

Ao contrário de outros Soulslikes que oferecem picos de dificuldade pontuais, Khazan adota um padrão de “estegossauro de dificuldade” – em outras palavras, a progressão do jogo é cheia de altos e baixos, com picos de desafio inesperados que forçam o jogador a se adaptar constantemente. Isso torna a experiência empolgante, mas também pode ser frustrante para aqueles que não têm tempo para se dedicar a um processo de tentativa e erro constante, ainda mais nas horas iniciais do jogo.

Conclusão: vale a pena?

The First Berserker: Khazan não é apenas mais um clone de Soulslike. Ele pega emprestado muitas ideias da FromSoftware e de outros sucessos do gênero, mas também introduz mecânicas próprias que o tornam uma experiência única. O combate é excepcional, o design de chefes é memorável e a estética gótica-anime dá ao jogo uma identidade marcante. No entanto, ele também sofre com a repetição de inimigos, um sistema de progressão que pode se tornar cansativo e uma história que, apesar de mais direta, não consegue ser tão envolvente quanto poderia.

Se você é fã de Soulslikes e está em busca de um desafio brutal com mecânicas refinadas, The First Berserker: Khazan é uma excelente escolha. No entanto, se você não tem paciência para enfrentar chefes repetidamente ou prefere experiências mais equilibradas, talvez seja melhor pensar duas vezes antes de mergulhar nesse mundo implacável. De qualquer forma, é um jogo que mostra como o gênero está evoluindo e se diversificando, provando que há espaço para mais do que apenas os gigantes da FromSoftware.

Agradecemos a cópia gentilmente cedida para a realização desta análise.

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Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema. Jornalista, assessor de imprensa.

Apaixonado por histórias que transformam. Todo mundo tem a sua própria história e acredito que todas valem a pena conhecer.

Contato: matheus@nosbastidores.com.br

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