Two Point Museum foi anunciado de surpresa há alguns meses, tendo me rendido até mesmo uma ótima oportunidade de testá-lo em um preview especializado. Na época, o game já havia me impressionado pelos seus recursos e criatividade, focando mais no clima descontraído de um jogo casual. Agora, tendo mais de 20 horas de experiência com o jogo completo, digo que as impressões do preview estão ainda mais reforçadas comprovando que se trata mesmo da melhor adição da saga criada pelo Two Point Studios – que conta com as edições do Hospital e da Universidade.
Quase todos os pontos de preocupação que apontei na prévia foram resolvidos na versão final, de um jeito ou de outro. Há bastante conteúdo aqui, o suficiente para você se tornar um verdadeiro magnata dos museus controlando um império de entretenimento.
Progresso constante
Assim como outros jogos, Two Point Museum apresenta um modo campanha e outro sandbox com um bom nível de customização para satisfazer jogadores casuais tanto quanto os mais exigentes em nível de desafio.
Sendo bastante extensa, a campanha traz muitas, mas muitas horas mesmo para atingir sua conclusão. Inicialmente, ela funciona como um ótimo tutorial bastante lúdico que ensina o jogador as peças fundamentais de todo museus.
Isso envolve instalar bilheterias, salas de funcionários, contratação de especialistas, atendentes, zeladores e seguranças, como fazer expedições para encontrar peças para expor, assim como as mecânicas do burburinho, elemento importantíssimo que vai medir a popularidade do seu museu.
Só no primeiro museu, o jogador encontrará peças de pré-história com fósseis e relíquias congeladas, além de itens de botânica. Cada um requer alguns modificadores como temperatura e umidade adequadas – se não tiver, os itens morrem ou derretem, com alguns causando um leve caos no museu.
Tanto na campanha quanto no modo sandbox, o jogador terá que cumprir objetivos para progredir e liberar itens ou expedições mais exigentes. Cada museu, sendo cinco distintos no total, deve atingir o ranking de cinco estrelas de acordo na avaliação do ministério da cultura. Acredite, conseguir isso não é nada fácil e envolve superar diversos objetivos ao longo da campanha.
Os objetivos, logicamente, são mais desafiadores na campanha, pedindo para o jogador conseguir manter uma alta satisfação de visitantes ou de funcionários, além de exigir o desbloqueio de alguns locais de expedição que, por si, possuem requisitos relativamente complicados. Outros objetivos também envolvem a contratação de especialistas fora do tema do museu – por exemplo, um profissional especializado em fantasmas em um museu de vida marinha, fora comprar lotes para expandir seu museu e adicionar mais itens de exposição.
A maior surpresa acontece já no momento mais tardio da campanha quando o jogo começa a permitir expor itens de coleções distintas em todos os museus. Porém, para chegar até isso, é preciso caprichar bem no burburinho e aumentar seus lucros.
Cada peça tem seu escore de burburinho que é ativado através de decorações próximas ao item sendo que alguns deles conseguem ativar bônus. Quanto maior for o burburinho, maior a atratividade da peça para os visitantes, conseguindo arrecadar mais doações financeiras extremamente importantes para manter a viabilidade comercial do museu.
Nisso, outras características também são apresentadas. Cada item pode variar em sua qualidade de exibição com peças medianas até impecáveis. As peças de maior raridade, além de atrair mais visitantes, possuem espaços para instalar alguns modificadores de bônus, como sujar menos ou aumentar sua base de burburinho.
Mas se nas expedições o jogador pode encontrar várias vezes o mesmo item, o que fazer com as peças repetidas? Felizmente os devs pensaram em uma solução bastante prática com a sala de análise. Nela, o jogador pode sacrificar itens de menor qualidade para expandir o entendimento científico sobre a peça, oferecendo mais informações para os visitantes nos paineis didáticos. Depois disso, o jogador pode vender peças repetidas ou expor em prédios adjacentes para criar novas rotas e fluxos de visitantes.
Colecionismo em pauta
Se tratando de um jogo de museus, é evidente que o colecionismo se trata de uma peça primordial da experiência. São muitas coisas para colecionar em Two Point Museum, muito além das peças de sete temáticas diferentes. O jogador vai colecionar tipos de visitantes, sendo alguns muito inusitados como palhaços, yetis e vampiros, além inúmeros itens decorativos sendo que centenas deles são desbloqueados a partir de uma pista de progresso adquirido com a desconstrução de itens na sala do analisador.
Já outros itens são desbloqueados através da compra com Kudosh, uma moeda especial obtida através de completar alguns desafios que o jogo propõe. Aliás, falando em desafios, a campanha também oferece alguns cenários com timer para o jogador conquistar pontuações e troféus. Um dos mais interessantes é justamente o primeiro: conseguir obter X de faturamento enquanto tenta defender o museu de assaltos incessantes de ladrões que roubam suas exposições.
São diversos cenários como este desbloqueados durante a campanha para dar ainda mais longevidade ao jogo que já é bastante longo. Para um gamer fissurado em realizar os 100%, acredito que o jogo ofereça uma experiência que dure, em média, cem horas. Só a campanha já é bastante extensa e os desafios finais para conquistar mais estrelas são realmente complicados de obter.
Ocorre que cada museu tem sua particularidade mecânica diferenciada, sendo o pré-histórico de Memento Mile o mais “fácil” de lidar já que os modificadores são mais simples, variando entre temperatura e umidade. Conforme o jogador avança, mais complexa se torna a manutenção dos museus. O aquário de Passwater Cove exige que, além da temperatura correta da água, o jogador evite misturar peixes predadores com outros menores – corre o risco do seu peixe maior acabar comendo todos os outros, diminuindo seu lucro.
O fantasmagórico Wailon Lodge apresenta as câmaras de Polterhóspedes, fantasmas que são exibidos para os visitantes. Além de seus modificadores de burburinho, alguns ficam mais felizes com itens especiais, além de odiarem compartilhar o mesmo ambiente de um fantasma de outra classe ou famoso. Se eles se irritam, escapam da câmara e tocam o terror no museu – eles precisam de atendimento terapêutico dos especialistas para ficarem sempre mais tranquilos.
Já o museu científico de Bungle Wasteland foca no gerenciamento de microrecursos para aprimorar as geringonças de engenharia que são expostas, ao mesmo tempo que exige especialização de diversos funcionários para aprimorar ou criar novos artefatos de exposição – além de exigir maior atenção pela alta probabilidade deles pegarem fogo. Por último, vem o museu menos interessante, o de Pebberly Heights focado em artefatos espaciais e alienígenas.
Esse museu se torna o mais chato de gerenciar porque, além das peças serem menos interessantes e genéricas, seus funcionários ficam doentes com muita frequência ao expedicionar no espaço, pegando uma doença maldita chamada miotermitas, altamente contagiosa. Com seu staff inteiro doente, vomitando pelas beiradas, acredite, a experiência fica bem comprometida, além da demora de enviar boa parte deles às fontes curativas para resolver o problema recorrente. Logo, o fluxo da jogabilidade é interrompido constantemente por causa disso.
Tirando esse museu, a experiência em si é bastante agradável e poder misturar exposições em um museu gigantesco nunca deixa de ser divertido – quem diria que misturar fantasmas, plantas gigantes e fósseis seria algo tão único?
Com o maior potencial para DLCs até então, não duvido que a Two Point acabe adicionando mais museus conforme o tempo passa, especialmente um aviário ou zoológico seriam bastante únicos. Por mim, só pela experiência no museu sobrenatural, o jogo já valeria seu dinheiro e há muito mais o que descobrir aqui.
Gerenciar e otimizar
Muito além de expor seus itens para os visitantes, o jogador também precisa saber gerenciar diversas características de administração. Seja ajustando o salário dos funcionários para mantê-los felizes ou adicionar itens específicos para atender as demandas dos visitantes como bancos, rotas de visitas guiadas, alimentação, segurança, compras com as lojas de presentes e diversão com variedade de itens.
Alguns visitantes são mais específicos e só ficam satisfeitos se o museu tiver bastante conhecimento científico sobre os itens expostos, ficando mais dispostos a doar nos pontos de coleta. Também é importante realizar uma boa patrulha no museu instalando câmeras de segurança e especializando guardas em habilidades de velocidade e percepção, pois muitos assaltantes disfarçados começam a se interessar pelo museu, quanto maior ele for.
Com tanto microgerenciamento, pode ser avassalador para os jogadores menos acostumados com games desse nicho, mas garanto que a Two Point realizou um trabalho magistral em ensinar os fundamentos do jogo com bastante cuidado. Ainda não sou fã dos submenus para itens específicos para somente um tipo de sala, mas entendo a lógica para evitar confusão no jogador.
Os criativos também ficarão contentes com a ampla gama de opções para decorações de paredes, pisos e tipos de construção disponíveis para criar edifícios térreos com diferentes layouts em diversos ornamentos. Não se trata de um The Sims, mas é um construtor de edifícios bastante sólido.
Apesar de ter testado o game no PC, também experimentei os comandos via joystick. Ainda que não seja tão agradável e orgânico, todos os controles são funcionais, requisitando apenas um toque a mais no botão para acessar algum menu específico. Curiosamente, achei mais confortável o comando de exploração com joysticks, além da experiência visual ser um tanto mais fluída. O que nos leva a outro ponto: otimização.
O jogo, por ter um visual cartunesco bastante simples e charmoso, não traz consigo tecnologias como DLSS e FSR para entregar mais frames por segundo, porém, mesmo rodando nativamente em 4K, raramente tive quedas abaixo de 100 mesmo com todas as configurações no máximo. Com toda a certeza PCs mais simples vão conseguir rodar o jogo sem o menor problema.
Sobre bugs e crashes, notei apenas um raro bug visual que nem chegou a incomodar. Desde então, o jogo já recebeu três patches na build de review e com certeza deve receber mais um no dia do lançamento, então se trata sim de um jogo estável e funcional.
A maior chance da Two Point quebrar barreiras
Two Point Museum é a melhor oportunidade que a Two Point tem em conseguir conquistar uma vasta gama de público. Misturando elementos clássicos de outros jogos de administração com seu charme visual e humor únicos em uma temática muito atraente, é difícil dizer que o game não tem todos os elementos para dar certo.
Divertido, desafiador na medida certa, bonito e criativo, Two Point Museum é uma lufada de originalidade neste começo de 2025. É uma compra certa que vai te garantir muitas horas de entretenimento por muitos anos até para sessões rápidas de jogo. Torço muito para que o suporte seja contínuo com diversas temáticas, afinal o que não falta no mundo é museu bizarro – de cera, insetos, brinquedos, velharias tecnológicas, o potencial é quase infinito.
Agradecemos à Sega pela cópia gentilmente cedida para a realização desta análise.
Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema. Jornalista, assessor de imprensa.
Apaixonado por histórias que transformam. Todo mundo tem a sua própria história e acredito que todas valem a pena conhecer.
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