Review | Visions of Mana é JRPG de conforto para fãs, mas nada além disso

Em resumo, Visions of Mana é um jogo bonito, mas superficial. Ele oferece uma experiência agradável para quem busca um RPG casual, mas não satisfaz as expectativas.
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Square Enix

A série Mana é uma das mais tradicionais da Square Enix. Iniciada em 1991, como um spin off de Final Fantasy com Final Fantasy Adventure em 1991, foi ganhando sua própria identidade com o passar dos anos, fundando sua própria franquia na era do Super Nintendo com o clássico Secrets of Mana. Square traz um novo jogo para carregar o título para a nova geração, Visions of Mana. Será que os desenvolvedores tiveram algum sucesso nessa grande empreitada?

Jornada para Mana

O gameplay de Visions of Mana traz alguns aspectos bem interessantes e outros questionáveis. Vamos começar argumentando sobre os pontos positivos. Este é um JRPG que apresenta batalhas em tempo real, um dos jogos recentes que podemos trazer que trazem um sistema de combate semelhante é o Tales of Arise. Quando se encontra um monstro e decidimos combatê-lo, uma arena circular aparece e os monstros devem ser derrotados nessa área. Em combates comuns é possível escapar correndo em direção a borda, mas caso a luta seja com um boss, isso não é possível.

No início do jogo temos acesso apenas a Val, o “guardião de almas” e Hinna como suporte. Os controles são bem básicos, temos o botão para ataques fracos, outro para ataque forte, esquiva e pulo. Val pode realizar alguns ataques com espada e Hinna cura e aplica alguns buffs aos guerreiros. Na jornada, Val e Hinna conhecem mais alguns personagens como Careena, uma garota que é acompanhada por Ramco, uma espécie de criatura voadora que participa também dos combates, Morley que desfere ataques rápidos e pode defletir ataques, Palamena, mais especializada em ataques mágicos e Juley que possui poderes mágicos florestais.

Conforme você vai avançando no jogo, ganha relíquias elementais e com esses itens é possível trocar as classes dos personagens. Cada uma das classes possui características únicas. As armas podem variar em algumas classes e cada um recebe um golpe especial elementar. Dando alguns exemplos, o do vento invoca rajadas de ventania, o da lua pode parar o tempo dos inimigos, paralisando-os por alguns instantes e o do fogo invoca uma espécie de vela que queima os inimigos. Como de costume nos RPGs, certos inimigos possuem fraquezas elementais e cabe ao jogador descobri-las. 

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Existem duas barras no jogo que ativam certos ataques especiais. Do lado inferior da barra de vida está o CS (Class Strike) que é preenchida conforme o jogador e os aliados vão atacando ou quebrando alguns jarros azuis pelo caminho. Quando preenchida, um poderoso ataque de classe pode ser desferido. A outra barra fica do lado esquerdo e indica que o ataque elemental pode ser carregado. Com o ataque elemental carregado, a área inteira do combate fica sob influência do elemento. Por exemplo, se a lua for ativada, o tempo irá ficar mais lento para todos os inimigos na área por um tempo maior, se for do fogo, todos recebem dano de fogo e alguns personagens podem receber buffs de velocidade como quando se ativa o elemental de luz.

Esses elementos abrem várias possibilidades durante o gameplay como a exploração das fraquezas de cada inimigo. No entanto, alguns jogadores podem não gostar da falta de variedade de combos e de uma diferenciação real entre os inimigos menores. A estratégia para derrotá-los geralmente é parecida e isso acaba deixando boa parte do gameplay repetitiva. O jogo brilha um pouco mais nas lutas contra os chefes, onde a memorização de diferentes padrões de comportamento contam mais nos combates e a dificuldade entre cada um deles varia bastante. Na maior parte do jogo não tive problema algum em avançar, mas aproximando-se do final, a dificuldade aumenta bastante, o que não é ruim em si, mas espanta um pouco a abrupta curva de dificuldade.

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Visões do passado

Visualmente, em questão de ambientação, Visions of Mana é um deleite, com seus cenários coloridos e vibrantes, que já são uma marca da série. É muito interessante ver as diferenças entre cada um dos ambientes que o jogo vai apresentando, cenários mais urbanos, com palácios luxuosos e outros com florestas verdejantes como em Verdeus. Ambientação é sem dúvidas um dos pontos fortes em Mana, sem falar na excelente trilha sonora do jog que merece um grande destaque.

Já o design de personagens, por um lado, entendo que é uma homenagem ao estilo dos jogos JRPGs mais antigos, não só de Mana como de outros, como a própria série Final Fantasy que possuía um estilo mais cartunesco por algum tempo. Alguns podem enxergar a decisão dessa forma e outros podem achar um pouco datado. Essa sensação é reforçada pelas animações, que de vez em quando não batem muito bem com as ações do personagem, por exemplo, às vezes a boca não está sincronizada com o som ou o personagem fala com a boca fechada. 

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A exploração também deixa um pouco a desejar. O mundo é bem amplo, mas não chega a ser exatamente um mundo aberto. Tratam-se de zonas que os personagens atravessam e há uma tela de loading que aparece frequentemente. Mas o pior de tudo é que o mundo parece um tanto vazio.  Às vezes se encontra um item aqui, um baú em outro lugar, alguns monstros espalhados, mas não se tem a sensação de que se trata de um mundo realmente vivo, como em alguns outros jogos de mundo aberto que tivemos recentemente. Este ainda passa uma sensação de quando esse conceito de mundo aberto ainda estava se formando nas gerações dos PS2 e PS3. 

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 Sacrifícios são necessários?

Creio que a trama de Visions of Mana de uma forma mais geral possui aspectos interessantes. Como dito anteriormente, esse mundo de Mana é muito colorido, visualmente muito lúdico e cartunesco à beira da infantilidade. No entanto, a trama mostra que neste mundo, as aparências enganam. Logo no início, povo da aldeia Tyanea está ansioso, esperando que uma fada venha visitá-los para escolher o novo “alm” do fogo. Alms são pessoas que assim que são escolhidas devem viajar até a árvore de mana para sacrificarem suas almas para que as suas respectivas vilas continuem funcionando e que a calamidade não recaia sobre o mundo como um todo. 

Hinna recebe esse título e é o dever de Val, o guardião de almas, protegê-la e aos outros alms que encontrarão no caminho. Assim, o tema principal do jogo decorre da seguinte pergunta: Vale mesmo a pena sacrificar essas pessoas (na sua maioria jovens) se sacrificarem pelo bem do mundo? Será que não há outra maneira?. O jogo coloca uma questão um pouco complexa para servir de tema principal, que foi o que me prendeu para saber qual seria a conclusão dessa história. No entanto, a história e sua execução ainda apresentam alguns problemas.

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Os personagens principais possuem sim algum carisma e personalidades distintas, mas talvez falte um pouco de profundidade maior a esses personagens. Alguns fãs de JRPG mais antigos podem notar essa falha no gênero que existem alguns títulos da série Final Fantasy ou mesmo os da série Persona que focam mais no desenvolvimento de personagens. Não é que isso não exista em Visions of Mana, mas a impressão que fica é que essa característica ficou um tanto rasa nesse título. 

Há a questão da atuação de voz. É possível escolher entre as opções japonês e inglês. Algumas pessoas reclamam que a dublagem americana pode ser um tanto esquisita em JRPGs, mas Visions of Mana teve umas boas sacadas,  como dar a personagem Careena um sotaque de americana sulista que acrescenta um pouco a sua personalidade e a diferencia dos outros companheiros de viagem. 

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Conclusão

Em resumo, Visions of Mana é um jogo bonito, mas superficial. Ele oferece uma experiência agradável para quem busca um RPG casual, mas não satisfaz as expectativas dos fãs mais exigentes da série. O jogo poderia ter sido muito mais do que é, explorando com mais profundidade a rica mitologia de Mana e oferecendo uma experiência mais rica e memorável. Trata-se de um jogo que apresentava um potencial enorme, mas falha em entregá-lo em sua totalidade. É uma pena, pois a série Mana merece títulos mais ambiciosos e inovadores.

No entanto, o jogo fica recomendado para fãs de JRPGs e especialmente para aqueles que já gostavam da série Mana, que com certeza encontrarão o que apreciar aqui. Se você procura um RPG com gráficos bonitos e uma jogabilidade simples, Visions of Mana pode ser uma boa opção.

Agradecemos a Square Enix pela cópia gentilmente cedida para a realização desta análise.

Sobre o autor

Daniel Tanan

Uma Enciclopédia viva de Duna e outros assuntos nerds variados do cinema à animes.

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