A TARDIS pode ter ficado sem tempo. Em uma declaração bombástica que enviou ondas de choque pela base de fãs, o aclamado roteirista Robert Shearman — uma das figuras-chave no renascimento da série em 2005 — declarou que Doctor Who está “tão morta quanto já a conhecemos”. A avaliação devastadora, feita em uma nova entrevista à Doctor Who Magazine, surge em um momento crítico para a franquia, que enfrenta seus piores índices de audiência em 61 anos de história e uma profunda crise de identidade.
Para muitos, o alerta de Shearman é a confirmação de que o Doutor, que já sobreviveu a Daleks e ao fim do tempo, pode não sobreviver à televisão moderna.
O alarme de um roteirista que ajudou a ressuscitar a série
A crítica de Shearman tem um peso especial, pois ele foi o autor do icônico episódio “Dalek” de 2005, peça fundamental para o sucesso do retorno da série sob o comando de Russell T. Davies. Agora, ele vê a mesma série em um estado pior do que nos anos que se seguiram ao seu cancelamento em 1989.
Ele lamentou a estagnação criativa e argumentou que o especial de 2025, The Reality War, em vez de abrir novos caminhos, pareceu colocar um “ponto final” na história. Segundo ele, nem mesmo nos “anos selvagens” pós-cancelamento a situação era tão desoladora, pois naquela época os livros e dramas de áudio mantinham um “Doutor atual” vivo. “Agora”, diz ele, “não há nem isso”, criticando a direção confusa que a série tomou.
Os números não mentem: audiência em queda livre
A visão pessimista de Shearman é brutalmente confirmada pelos números. A audiência de Doctor Who atingiu mínimos históricos. O episódio Lucky Day, exibido no início deste ano, registrou apenas 1,5 milhão de espectadores durante a noite no Reino Unido — a pior audiência da história de 61 anos da série.
A média dos primeiros quatro episódios de 2025 foi de cerca de 3,1 milhões de espectadores, uma queda de 800.000 em relação ao mesmo período da temporada anterior e um desempenho ainda pior do que na já controversa era de Chris Chibnall e Jodie Whittaker. Para piorar, uma pesquisa da YouGov revelou que quase 40% dos jovens adultos no Reino Unido afirmam nunca ter assistido a Doctor Who, indicando que a série não está conseguindo se conectar com uma nova geração.
O ‘dilema Disney’ e a crise de identidade
A parceria com a Disney+, que deveria modernizar e ampliar o alcance global da série, é vista por muitos fãs como parte do problema. Críticos argumentam que o acordo “diluiu o charme” da marca e atrelou a direção criativa a uma agenda corporativa. Rumores de que a paciência (e o apoio financeiro) da Disney pode estar se esgotando apenas aumentam a incerteza sobre o futuro.
Além dos problemas de audiência e de negócios, a série enfrenta uma crise de identidade. Nos últimos anos, entre trocas de showrunners, regenerações surpreendentes e um foco crescente em pautas de identidade, muitos espectadores sentem que não sabem mais quem é o Doutor.
A BBC insiste que não vai desistir da franquia, mas a declaração de um de seus arquitetos modernos soa como um ultimato. Como disse Shearman: Doctor Who está “tão morta quanto já a conhecemos”. Se isso não for um alerta, nada será.
Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema. Jornalista, assessor de imprensa.
Apaixonado por histórias que transformam. Todo mundo tem a sua própria história e acredito que todas valem a pena conhecer.
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