Advogado e ex-policial explica o que as séries acertam – e onde exageram

As séries policiais conquistam fãs fiéis há décadas, misturando ação, suspense e investigações intrigantes. No entanto, muitas cenas podem deixar os espectadores se perguntando: isso acontece de verdade?

Para esclarecer o que é real e o que é licença poética, o advogado, professor de Direito e ex-policial Felipe Pereira de Melo analisou sete séries populares. Especialista em Direito Penal e Inteligência Policial, Melo já atuou nas polícias Militar e Civil do Paraná e leciona em cursos de formação na área de segurança pública na UNIASSELVI.

Confira a análise dele sobre algumas das produções mais famosas do gênero:

Mindhunter – Netflix

A série retrata a criação da Unidade de Análise Comportamental do FBI nos anos 1970 e a origem do perfilamento criminal (criminal profiling).

Realidade: Baseada no livro de John Douglas, pioneiro na análise de comportamento de criminosos, Mindhunter é extremamente fiel às entrevistas e perfis criados na época.
Ficção: A série romantiza o profiling, fazendo parecer que ele resolve casos sozinho, quando, na prática, é apenas uma ferramenta complementar às investigações.

CSI (Las Vegas, Miami, NY) – AXN, Amazon Prime Video, Paramount+

A série popularizou a investigação forense, mostrando peritos resolvendo crimes com DNA, impressões digitais e reconstrução de cenas.

Realidade: Muitas técnicas apresentadas são autênticas e fazem parte da perícia criminal.
Ficção: Na vida real, peritos não fazem interrogatórios, não portam armas e não participam de perseguições. Além disso, os exames forenses demoram muito mais do que a série sugere.

Law & Order (SVU, Criminal Intent) – Universal TV, Netflix, Globoplay, Prime Video

A franquia foca tanto na investigação policial quanto no processo judicial, destacando crimes sexuais (SVU) e a mente dos criminosos (Criminal Intent).

Realidade: Retrata bem os desafios entre polícia e promotoria, além das dificuldades na obtenção de provas. SVU, por exemplo, aborda com sensibilidade os atendimentos a vítimas.
Ficção: Na série, crimes complexos são resolvidos rapidamente, e provas quase sempre são irrefutáveis. Na prática, muitas investigações são arquivadas por falta de evidências.

The Sopranos – HBO, Max

Aclamada por seu realismo, a série retrata a máfia ítalo-americana e os conflitos internos do crime organizado.

Realidade: Apresenta de forma autêntica a estrutura da máfia, lavagem de dinheiro, corrupção e informantes.
Ficção: O alto número de assassinatos dentro da própria organização seria irreal, pois chamaria atenção excessiva da polícia.

Dexter – Paramount+, Netflix, Prime Video

A trama gira em torno de um perito criminal que, secretamente, é um serial killer.

Realidade: Retrata bem a frieza emocional dos psicopatas e o método meticuloso de ocultação de crimes.
Ficção: Na vida real, seria impossível um perito manipular tantas investigações sem ser descoberto. Pequenos vestígios biológicos sempre poderiam ser detectados.

Homeland – Disney+, Prime Video, Apple TV

A série de espionagem mostra uma agente da CIA investigando ameaças terroristas.

Realidade: Representa com precisão o trabalho de inteligência, recrutamento de informantes e vigilância tecnológica.
Ficção: A protagonista toma decisões unilaterais e ignora ordens superiores, algo raro em agências como a CIA.

Fauda – Netflix

Criada por ex-militares israelenses, a série acompanha forças especiais infiltradas em operações antiterroristas.

Realidade: Mostra de forma fiel as táticas de combate, infiltrações e o impacto psicológico em agentes.
Ficção: As operações ocorrem com rapidez e autonomia excessiva, quando, na prática, demandariam meses de planejamento e aprovações rigorosas.

Séries policiais são ótimas para o entretenimento, mas, como explica o especialista, nem tudo que vemos na tela corresponde à realidade. Investigações são complexas, burocráticas e levam tempo. No entanto, essas produções ajudam a despertar o interesse do público pelo universo do Direito, da Segurança Pública e da Criminologia.

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