r ao cinema está longe de ser a experiência tranquila e imersiva que costumava ser. Em várias partes do mundo, as salas de exibição têm se tornado palco de tumultos e comportamentos desregrados, com fãs exaltados, uso abusivo de celulares e até mesmo intervenções policiais. Recentemente, em São Paulo, fãs de Taylor Swift transformaram uma sessão do filme da turnê da cantora em um verdadeiro show, com danças, gritos e movimentações que exigiram a instalação de barreiras de segurança no Cine Marquise para evitar danos à estrutura do local.

Esse fenômeno não se limita ao Brasil. Exibições do musical Wicked em diversos países estão sendo atrapalhadas por espectadores que cantam alto durante as sessões. Vídeos de gravações piratas feitas diretamente nas salas de cinema circulam com frequência nas redes sociais, evidenciando a desinibição do público em relação às normas que regem o ambiente cinematográfico.

O comportamento desordeiro reflete mudanças sociais e culturais que se acentuaram desde a pandemia, segundo especialistas e profissionais da indústria. Um executivo de Hollywood, que não quis se identificar, afirmou à revista Variety que o público perdeu o foco nas telonas, algo confirmado também por Marcos Barros, presidente da Abraplex (Associação Brasileira das Empresas Exibidoras Cinematográficas Operadoras de Multiplex). “As pessoas estão com outra mentalidade. Não vamos voltar para aquele tempo em que todos prestavam atenção no filme”, declarou Barros durante um evento do setor.

Subtítulo: Novos formatos, redes sociais e a crise do cinema tradicional

A busca por manter a relevância dos cinemas em tempos de concorrência acirrada com os serviços de streaming levou redes como Cinemark e Cinépolis a apostar em conteúdos diferenciados, como gravações de shows. A exibição do show de Taylor Swift e da turnê de Beyoncé, por exemplo, transformaram as salas em verdadeiros palcos para fãs, com fantasias, danças e muita interação.

Apesar de atrair novos públicos, esse modelo também tem alimentado o problema de comportamentos inadequados. Nas redes sociais, muitos clamam pela volta do lanterninha — funcionário que monitorava o comportamento dos espectadores nas sessões e que foi eliminado em diversas redes por questões de custo. Enquanto isso, vídeos de confusões em filmes populares, como Divertida Mente 2 e Coringa: Delírio a Dois, viralizam e dividem opiniões.

Além disso, o uso excessivo de celulares nas salas é uma das principais reclamações dos espectadores mais tradicionais. Marcelo Lima, diretor do Cine Marquise, aponta que o hábito de registrar tudo para as redes sociais contribui para a perda da etiqueta no cinema. “Hoje tudo é ‘instagramável’”, diz ele. Para combater isso, a rede decidiu não compartilhar fotos e vídeos publicados por seus clientes durante as sessões.

A psicóloga Marcelle Alfinito ressalta que a dependência do celular está diretamente ligada à ansiedade social, sendo um mecanismo de fuga da realidade. “Isso explica o desejo de exibir que se está em um cinema”, avalia a especialista.

Mesmo com as campanhas educativas exibidas antes dos filmes, como as que alertam contra o uso de celulares, as redes de cinema ainda enfrentam dificuldades para implementar medidas mais eficazes. Luiz Fernando Angi, gerente de marketing da Cinépolis, comenta que a rede tem buscado conscientizar o público, além de oferecer sessões gratuitas a clientes que se sentem prejudicados por comportamentos inadequados.

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