Em 1997, “Titanic” se consolidou como um dos maiores sucessos da história do cinema. Dirigido por James Cameron, o filme trouxe à tona o trágico naufrágio do transatlântico homônimo, com uma narrativa centrada no romance entre Jack (Leonardo DiCaprio) e Rose (Kate Winslet). Além de seu impacto emocional, “Titanic” se destacou pelo seu orçamento colossal e pela arrecadação bilionária, tornando-se o quarto filme de maior bilheteria de todos os tempos, com 2,2 bilhões de dólares em vendas de ingressos.

No entanto, poucos sabem que uma “continuação” não oficial da história foi ao ar apenas no Brasil, fruto da mente criativa de Silvio Santos ou de algum membro de sua equipe no SBT. Conhecido por seu controle direto sobre a programação da emissora, Silvio, que faleceu aos 93 anos em 17 de agosto de 2024, sempre teve um olhar atento para oportunidades que poderiam impulsionar a audiência.

Assim, em 2000, o SBT encontrou uma maneira de capitalizar o lançamento de “Titanic” na TV aberta, exibido pela Rede Globo. A emissora adquiriu os direitos de uma minissérie produzida pela CBS em 1996, um ano antes do lançamento do filme de Cameron. Contudo, ao invés de manter o título original, o SBT rebatizou a minissérie como “Titanic 2”, uma clara tentativa de associá-la ao sucesso do cinema, mesmo sem qualquer relação entre as produções.

O marketing oportunista e a realidade do conteúdo de Silvio Santos

Essa estratégia de marketing, embora ousada, não era inédita. Especialmente no mercado de home video, era comum encontrar filmes que tentavam se aproveitar do sucesso de grandes produções, embora, em termos de conteúdo, tivessem pouca ou nenhuma ligação. “Titanic 2” seguiu essa linha, com o SBT ressaltando, nas chamadas, que se tratava de uma história completamente diferente do filme de James Cameron. Entretanto, a propaganda insistia em associar o produto a “uma grande produção” e “uma grande bilheteria”, o que, de fato, não condizia com a realidade.

Apesar da tentativa de vinculação ao blockbuster, “Titanic 2” não era uma produção de baixo nível. A minissérie foi premiada com um Emmy de Melhor Edição de Som e também foi indicada ao prêmio de Melhor Figurino. Além disso, contava com a presença da atriz Catherine Zeta-Jones, que já havia alcançado fama em Hollywood com filmes como “A Máscara do Zorro” (1998) e “Armadilha” (1999). Ela liderava um dos três núcleos de personagens a bordo do navio, cujas vidas eram afetadas pela iminente tragédia.

Embora sem o apelo romântico de “Titanic”, a minissérie buscava, em certa medida, refletir a realidade das diferentes classes sociais a bordo do navio. Assim como o filme de Cameron, “Titanic 2” apresentava um contraste entre as experiências dos passageiros de primeira classe e daqueles que viajavam com bilhetes mais acessíveis. No fim, todos se tornavam vítimas ou sobreviventes, quando o iceberg atingia a embarcação e a catástrofe tomava forma.

Com essa estratégia, Silvio Santos e o SBT mostraram mais uma vez sua habilidade em aproveitar oportunidades no mercado televisivo brasileiro, mesmo que isso envolvesse uma certa confusão entre o público.

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