A promessa original do streaming — um universo de conteúdo para assistir quando e como quiser, livre das interrupções da TV tradicional — está sendo silenciosamente reescrita. O mais recente capítulo dessa transformação veio da Max, plataforma da Warner Bros. Discovery, que aumentou discretamente a quantidade de anúncios em seus planos com publicidade nos Estados Unidos. A carga saltou de cerca de 4 para 6 minutos de comerciais por hora, um aumento de 50% que aproxima o serviço, e todo o setor, do modelo que um dia jurou substituir.
A mudança foi notada em uma análise do site PCWorld, que comparou a página de suporte da Max com versões antigas arquivadas na internet. A alteração sutil no texto confirma a nova política e coloca a plataforma em pé de igualdade com sua principal concorrente, a Amazon, cujo Prime Video também adotou recentemente o padrão de 6 minutos por hora, segundo a revista AdWeek. A sincronia dos movimentos não parece ser coincidência.
Seis minutos por hora: o novo padrão do mercado
A decisão da Max de aumentar a carga publicitária não é um caso isolado, mas sim um forte indicativo de uma padronização do mercado. As gigantes do entretenimento parecem ter encontrado um “número mágico” para equilibrar a receita de assinaturas e publicidade, mesmo que isso degrade a experiência do usuário. Com a nova configuração, o cenário de anúncios no streaming fica assim:
- Max e Prime Video: Cerca de 6 minutos de anúncios por hora.
- Netflix: Entre 4 e 5 minutos por hora em seus planos com publicidade.
- Peacock: Varia de 5 a 7 minutos.
- Hulu (EUA): Pode ultrapassar os 7 minutos por hora em determinados conteúdos.
O que antes era uma exceção, agora é a regra. Os planos mais acessíveis vêm obrigatoriamente acompanhados de pausas comerciais, e a tendência é que esses intervalos se tornem cada vez mais longos e frequentes.
A ironia da revolução: pagando por interrupções
A alma rebelde que definiu a ascensão do streaming na última década parece estar se dissipando. O modelo que vendeu liberdade e controle ao espectador agora adota a lógica dos “breaks comerciais” da televisão por assinatura, com uma diferença crucial e irônica: agora, o consumidor paga uma mensalidade para ser interrompido.
A percepção de muitos usuários é que a fronteira entre o streaming e a TV a cabo está cada vez mais turva. A conveniência do “quando quiser” permanece, mas o “como quiser” — sem pausas forçadas — está se tornando um luxo restrito aos planos mais caros, que também sofreram aumentos de preço significativos nos últimos anos.
E o Brasil? A espera pela mudança
Por enquanto, o aumento da carga de anúncios da Max é uma realidade apenas para os assinantes nos Estados Unidos. No Brasil, a política de 4 minutos por hora permanece inalterada — mas a questão é: por quanto tempo? A tendência global de padronização, observada em outras plataformas como a Netflix e o Prime Video, sugere que é apenas uma questão de tempo até que a mudança seja implementada no mercado brasileiro. A crescente pressão dos acionistas por maior rentabilidade nas empresas de mídia acelera ainda mais esse processo, sinalizando que a era do streaming com cara de TV pode estar apenas começando.