A plataforma de agregação de críticas Rotten Tomatoes destacou recentemente o que considera um triunfo para a segunda temporada de “The Last of Us”, anunciando via X (anteriormente Twitter) a conquista do selo “Certified Fresh”. A série ostenta uma impressionante avaliação de 94% no Tomatometer, calculada a partir de 238 análises especializadas.
Contudo, a publicação da plataforma omitiu um dado crucial: a pontuação do público, que se encontra em um patamar significativamente inferior, atualmente marcando apenas 39%. Esta notável divergência entre a recepção crítica e a popular parece espelhar uma tendência crescente na cobertura de entretenimento, onde o louvor da crítica especializada a produções de grande visibilidade muitas vezes se sobrepõe ou ignora o descontentamento expresso por espectadores e análises de mídias independentes. No caso da série da HBO, essa desconexão atingiu um nível particularmente evidente.
As Raízes da Polarização: Decisões Criativas e o Legado do Jogo
A segunda temporada de “The Last of Us”, que concluiu sua exibição na HBO no domingo, 25 de maio, enfrentou uma considerável onda de reprovação por parte dos fãs, direcionada principalmente às suas escolhas criativas. Essa insatisfação reflete-se diretamente na baixa avaliação do público no Rotten Tomatoes.
Entre os pontos mais controversos estão a saída considerada prematura do personagem Joel, uma figura central da primeira temporada, e a introdução de Abby como um novo foco narrativo. Tais decisões, embora alinhadas com os eventos do videogame “The Last of Us: Part II” – que também experimentou uma recepção extremamente polarizada em seu lançamento em 2020 –, não foram bem assimiladas por uma parcela expressiva da audiência da série.
Apesar do feedback negativo, os produtores executivos Craig Mazin e Neil Druckmann já confirmaram que a vindoura terceira temporada, atualmente em desenvolvimento, prosseguirá com a adaptação da história de Abby. Druckmann, em participação recente no podcast Sacred Symbols+, defendeu que os criadores, ou “artistas” como ele se referiu, deveriam “ignorar” as reações da mídia e do público, optando por “manter-se firme e fazer o que acreditam”.
“Review Bombing” ou Crítica Legítima? A Defesa da Indústria
Em uma tentativa de justificar a baixa avaliação do público, alguns veículos de comunicação atribuíram o fenômeno ao chamado “review bombing” – uma prática coordenada para depreciar a nota de uma produção. O site Collider, por exemplo, em artigo de Rahul Malhotra, sugeriu que a disparidade seria resultado da ação de “atores de má-fé e trolls”. Malhotra chegou a afirmar, possivelmente em tom jocoso, que “já era hora de revogar os privilégios de internet de algumas pessoas”.
Críticos dessa postura apontam para uma tendência de simplesmente descartar o feedback negativo do público em vez de analisar as razões por trás da insatisfação. O Collider publicou múltiplos artigos defendendo “The Last of Us”, frequentemente rotulando espectadores críticos como trolls e associando-os a reações negativas contra outros lançamentos de Hollywood com temáticas consideradas progressistas, como “Capitã Marvel” ou o reboot de “Caça-Fantasmas” de 2016. Malhotra também sugeriu que as críticas derivavam de uma oposição a “políticas moderadamente progressistas”, uma visão contestada por muitos fãs.
Outras vozes na mídia de entretenimento tiveram reações distintas. Grace Randolph, conhecida crítica de cinema no YouTube, admitiu publicamente seu descontentamento com um episódio recente da série, mas optou por cessar suas críticas formais para não “criticar negativamente” (“bash”) a produção de forma contínua.
Reflexos na Audiência e o Futuro Incerto da Recepção
Enquanto o debate sobre a validade das críticas persiste, os números de audiência da série apresentaram uma queda no engajamento após uma estreia robusta na segunda temporada. A audiência linear estabilizou-se na faixa de 600.000 a 700.000 espectadores. O penúltimo episódio, por exemplo, atraiu 701.000 espectadores, com uma pontuação de 0,16 na cobiçada faixa etária de 18 a 49 anos (representando aproximadamente 160.000 espectadores neste segmento). O episódio anterior a este havia registrado a menor audiência da temporada, com 652.000 espectadores totais e 0,14 na mesma faixa demográfica. A crescente disparidade entre o reconhecimento da indústria e a reação do público transformou-se, por si só, em uma narrativa paralela, alimentando discussões sobre a legitimidade do feedback dos fãs em um cenário cada vez mais polarizado.
Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema. Jornalista, assessor de imprensa.
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