Tim Cain, a mente por trás da icônica franquia “Fallout”, recentemente mergulhou em um debate pertinente para muitos jogadores e desenvolvedores: os prós e contras de RPGs excessivamente longos. Em seu canal no YouTube, Cain, cujos próprios jogos como o “Fallout” original podem ser concluídos em cerca de 20 horas (um tempo relativamente curto para os padrões modernos), compartilhou sua visão sobre títulos que exigem 100 horas ou mais para serem finalizados.
A promessa da profundidade: Histórias ricas e mundos reativos
Um dos principais atrativos de um RPG extenso, segundo Tim Cain, é a capacidade de “contar uma história muito profunda”. Com mais tempo de jogo, há espaço para explorar nuances narrativas e desenvolver personagens de forma mais complexa. Além disso, jogos mais longos permitem “muito mais reatividade” do mundo às ações do jogador. Cain citou como exemplo “Arcanum: Of Steamworks and Magick Obscura”, um de seus jogos posteriores, que foi projetado para durar de 40 a 80 horas, mas poderia facilmente ultrapassar 100 horas para os complecionistas. “Em Arcanum, nós procurávamos o que você estava vestindo, como você completava as missões”, explicou, ilustrando como o jogo reagia às escolhas e ao estilo do jogador.
A faca de dois gumes da reatividade e o dilema das escolhas tardias
No entanto, essa mesma reatividade pode se tornar uma armadilha. “Você consegue transmitir essa reatividade ao jogador?”, questionou Cain. “Eles têm alguma forma de julgar como isso pode afetá-los?”. O perigo, segundo ele, é o jogador descobrir, após dezenas de horas, que uma decisão aparentemente pequena tomada no início teve consequências desastrosas e irreversíveis.
“80 horas depois, você descobre: ‘Ah, estou totalmente ferrado pela escolha de ação que fiz 80 horas atrás'”, exemplificou o desenvolvedor. “Não conheço ninguém que vá recarregar um jogo salvo daquela época; tudo o que você fez foi realmente irritá-los.” Essa frustração pode minar a experiência e o apreço pelo design intrincado do jogo.
Rejogabilidade como trunfo, mas a que custo de desenvolvimento?
Outro ponto positivo levantado por Cain é a rejogabilidade. “Se você puder criar muitas builds de jogadores diferentes, as pessoas provavelmente vão querer jogar [seu jogo] mais vezes”. Múltiplas formas de abordar o jogo incentivam novas partidas, o que, por sua vez, pode gerar mais análises, discussões online e, consequentemente, impulsionar as vendas.
Contudo, essa complexidade e vastidão têm um preço literal. “Um jogo maior sempre significa mais dinheiro, porque você tem mais mapas, mais variedade de criaturas, mais NPCs, mais dublagem, mais de tudo”, alertou Cain. “E tudo isso custa dinheiro […]. O simples ato de criar tudo isso. Muito mais tempo, muito mais dinheiro – eu seria negligente se não mencionasse isso como um grande golpe.”
O fardo da duração: Jogos não terminados e o desinteresse inicial
A extensão de um RPG também pode ser um fator de desmotivação. “Alguns jogadores nunca o terminarão”, afirmou Cain, referindo-se aos vastos catálogos de jogos que muitos acumulam em plataformas como Steam, GOG e Epic. “Quanto mais longo o jogo, menor a probabilidade de as pessoas terminarem.” Ele mesmo se inclui no grupo de jogadores que desanimam com títulos excessivamente longos: “Muitas pessoas leem uma análise e dizem ‘ah, esse jogo tem 120 horas de duração’, e nem começam”. Cain prefere, por exemplo, terminar seis jogos de 20 horas a se dedicar a um único “gigante”.
Embora reconheça que alguns jogadores veem jogos mais curtos como um investimento menor, ele acredita que “a perda seja maior tanto proporcionalmente quanto em termos de números totais para fazer um jogo longo”.