O cineasta Yuval Abraham, um dos diretores do documentário vencedor do Oscar “No Other Land”, criticou publicamente a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas por não ter se manifestado após a prisão e agressão de seu colega Hamdan Ballal na Cisjordânia.
🚨 O que aconteceu com Hamdan Ballal?
Hamdan Ballal, um dos quatro diretores do documentário, foi espancado e detido na noite de segunda-feira na vila de Susiya, na Cisjordânia. Segundo relatos, Ballal e outros dois palestinos foram atacados por colonos israelenses, e, em seguida, detidos pela IDF (Forças de Defesa de Israel).
Abraham revelou o ocorrido nas redes sociais e afirmou que, ao ser interrogado, Ballal ouviu soldados israelenses fazendo piadas sobre o Oscar, indicando que sua prisão poderia estar relacionada ao documentário. Após pressão internacional, Ballal foi libertado na terça-feira.
Uma testemunha contou ao The Hollywood Reporter que havia uma “poça de sangue” do lado de fora da casa de Ballal, evidenciando a violência do ataque.
🎬 O silêncio da Academia
Indignado com a falta de apoio público da Academia, Abraham denunciou que a organização se recusou a publicar uma declaração sobre o incidente, apesar da pressão de diversos membros do setor de documentários.
“Infelizmente, a Academia dos EUA, que nos concedeu um Oscar há três semanas, se recusou a apoiar publicamente Hamdan Ballal enquanto ele era espancado e torturado por soldados e colonos israelenses”, escreveu Abraham no X (antigo Twitter).
O cineasta destacou que outras entidades, como a Academia Europeia de Cinema, festivais e premiações internacionais, expressaram solidariedade ao diretor palestino.
A justificativa da Academia de Hollywood teria sido que, como outros palestinos também foram atacados no mesmo incidente, o caso não seria exclusivamente relacionado ao filme, o que impediria uma declaração oficial.
Para Abraham, essa decisão ignora o contexto da ocupação israelense e falha em proteger um cineasta que a própria Academia acabou de premiar.
“Não é tarde demais para mudar essa posição. Mesmo agora, emitir uma declaração condenando o ataque a Hamdan e à comunidade Masafer Yatta enviaria uma mensagem significativa e serviria como um impedimento para o futuro.”
🗣️ Divergências sobre o incidente
A versão da IDF sobre o ocorrido é diferente. Em comunicado oficial, o exército israelense afirmou que a violência começou quando “vários terroristas atiraram pedras em cidadãos israelenses, danificando seus veículos”.
Segundo o exército, os dois lados começaram a lançar pedras um no outro, e quando as forças de segurança chegaram, alguns palestinos continuaram atacando, o que levou à detenção de três pessoas.
Abraham, no entanto, contesta essa narrativa e reforça que Ballal foi alvo de um ataque brutal e que a Academia deveria se posicionar.
🏆 O impacto de “No Other Land”
“No Other Land” venceu o Oscar de Melhor Documentário no dia 2 de março de 2024. O filme, dirigido por quatro cineastas – dois palestinos e dois israelenses –, retrata a vida sob ocupação israelense na Cisjordânia e foi aplaudido por sua abordagem humanizada do conflito.
A prisão de Ballal, poucas semanas após o Oscar, levanta questões sobre censura, repressão e a segurança dos cineastas palestinos.
A Academia de Hollywood não respondeu ao The Hollywood Reporter sobre a polêmica. Entretanto, a organização tem uma política de longa data de não comentar questões políticas ou externas à indústria cinematográfica.
O caso reacende o debate sobre o papel da Academia e da comunidade internacional em proteger artistas e documentaristas que expõem realidades sensíveis, especialmente em zonas de conflito.