logo
  • Início
  • Notícias
    • Viral
    • Cinema
    • Séries
    • Games
    • Quadrinhos
    • Famosos
    • Livros
    • Tecnologia
  • Críticas
    • Cinema
    • Games
    • TV
    • Quadrinhos
    • Livros
  • Artigos
  • Listas
  • Colunas
  • Search

Crítica | O Raio Verde - A Tragédia da Solidão

Matheus Fragata Matheus Fragata
In Capa, Catálogo, Cinema, Críticas•7 de fevereiro de 2018•10 Minutes

Conseguindo cravar mais antologia de sucesso com Comédia e Provérbios, Éric Rohmer saia do medíocre Noites de Lua Cheia para firmar uma verdadeira obra-prima com O Raio Verde, a penúltima obra dessa série de filmes.

Sendo muito aclamado desde seu lançamento, O Raio Verde é cheio de peculiaridades que trazem novo vigor ao diretor ao abordar temas bastante complexos tratados com poucos diálogos verborrágicos. Entretanto, com toda a certeza, se trata de um dos filmes mais difíceis de Rohmer, pois o espectador precisa sacar um sutil cinismo rapidamente para tolerar a protagonista mais difícil de sua filmografia.

Isolamento

Curiosamente, O Raio Verde é um dos filmes mais livres nos diálogos, quase todos improvisados, e um dos mais firmes em sua proposta através do encadeamento perfeito e lógico de suas cenas. Aqui, conhecemos Delphine (Marie Rivière), uma secretária que decide aproveitar suas férias de julho para superar o término de um noivado. Porém, o grande problema, é que Delphine não tem para onde ir e detesta viajar sozinha. Sendo salva por sua amiga que a leva para Cherbourg, uma cidade litorânea, a mulher finalmente consegue se livrar do ar urbano de Paris, porém ainda é constantemente assombrada pela procura de um novo amor.

Com essa sinopse, O Raio Verde parece mais um filme boboca de romance como tantos outros, mas essa característica faz parte do bom humor de Éric Rohmer na condução da obra angustiante. O motivo é apenas um: Delphine é uma mulher extremamente chata. Em questão de poucas cenas, compreendemos como ela pode ser tão solitária. A protagonista resmunga e tenta impor sua percepção de mundo em terceiros com comentários rudes apesar desses coadjuvantes sempre a tratarem bem.

Essa primeira ironia, portanto, da mulher que odeia a solidão, mas é totalmente desagradável, é a mais cruel de toda a obra. Não são poucas as cenas que Rohmer dedica para mostrar Delphine sendo sufocada e sufocando os outros. Longos diálogos problemáticos envolvem vegetarianismo, a recusa da ajuda de amigas próximas para superar o luto amoroso e, por fim, no total preconceito que ela possui contra homens que se aproximam inocentemente por a acharem bela.

Todas essas cenas evidenciam o quão hipócrita se trata de Delphine, uma mulher que insiste em se fazer de coitada quando nunca aceita a ajuda de ninguém, além de se sentir importunada quando se dedicam para tal. Rohmer e Rivière, que também recebeu créditos no roteiro pela intensa colaboração nos diálogos improvisados, então montam um angustiante jogo de pingue-pongue, com a protagonista viajando para alguns locais e retornando para Paris, totalmente fracassada, apática e isolada.

Essas pequenas jornadas, apesar de serem propositalmente repetitivas, trazem elementos valiosos. Na penúltima delas, Rohmer trabalha com o contraste inteligente que tanto gosta. Delphine consegue fazer amizade com uma turista norueguesa extrovertida, loira e sorridente que logo atrai a atenção de uns solteirões em um bar. Como esperamos, a desesperada Delphine logo abandona a oportunidade de conhecer aquelas pessoas tão diferentes, tanto pelo preconceito quanto por se achar um lixo.

Evidentemente, Delphine possui uma grave depressão, mas isso nunca é dito através de diálogos, já que provavelmente a própria protagonista desconheça sua condição. Os constantes choros, isolamento e ataques melancólicos sinalizam esse tremendo problema que, no caso, somente o destino pode curar: com a companhia de um novo amor, um verdadeiro amor.

Isso é construído aos poucos com a inserção de elementos sobrenaturais na narrativa – explicitados por uma presença raríssima de um trilha musical feita especialmente para o longa. Delphine, em vários lugares, encontra cartas de baralho que servem como um bom foreshadowing de pessoas que ela está prestes a encontrar. Fora isso, em uma de suas solitárias caminhadas, ela presta atenção em um diálogo cativante (e muito expositivo) sobre o raro fenômeno natural do Raio Verde – o último lampejo de luminosidade direta quando o sol está se pondo em um horizonte marítimo, emanando um verde intenso belíssimo.

Obviamente, por ser o título da obra, esse fenômeno tem um peso gigantesco na narrativa provocando uma das catarses cinematográficas mais belas que já na vida.

O Monstro da Depressão

Quando digo que O Raio Verde é um filme difícil, é porque realmente se trata de um filme difícil. No começo, Rohmer simplesmente quer o espectador tenha uma repulsa inacreditável àquela mulher tão repleta de sentimentos ruins e hipócrita, se dizendo “leve” quando na verdade é pesada como uma bigorna.

É até mesmo fácil desistir da narrativa graças a esses intervalos que Delphine dá entre uma viagem e outra, se entregando ao choro e sofrimento. Porém, investindo sua atenção, o diretor consegue fornecer uma experiência fabulosa. Tudo começa pela escolha diversificada de cenários para as locações, sempre inserindo a protagonista deprimida em locais paradisíacos fantásticos repletos de vida e alegria.

O verde, obviamente, possui presença maciça na paleta de cores do filme – isso é até mesmo dito através de um diálogo. São diversos objetos, roupas e paisagens repletas de tons esverdeados que tentam, à todo custo, atrair e fascinar Delphine que, por sua vez, sempre está contrastada com cores pesadas próximas de diversos tons de vermelho, reforçando o isolamento visual que Rohmer quer emplacar para o espectador.

O isolamento é sentido de diversas formas já que Rohmer tem uma tremenda criatividade para evocar sensações claustrofóbicas quando a personagem está cercada por gente e de uma tremenda amplitude quando se encontra sozinha na natureza. Aliás, o sentimento de profundidade nunca fora tão bem explorado no cinema do diretor quanto aqui, já que há deslocamento horizontal e vertical a todo momento, capturando paisagens tão belas e tão indiferentes ao sofrimento de Delphine.

Há uma cena excepcional na qual o vento “beija” as folhas, as árvores, a grama e Delphine que logo se põe a chorar totalmente só. É um momento plural de interpretações, pode ser um choro de reconhecimento quando ela enfim entende que há algo errado consigo ou um choro simples para reforçar sua solidão em meio a plenitude da natureza.

Só com essa delicadeza visual, transitando entre momentos de leveza e poesia para os mais tristes, Rohmer consegue manter a paciência do espectador até que ele compreenda qual é a de Delphine. Mas esse não é somente mérito dele. A atriz Marie Rivière merece aplausos por trazer semblantes melancólicos em sua face agradável repleta de timidez e sofrimento. Até mesmo há um humor voluntário na obra sempre que a protagonista se põe a reclamar.

Além disso tudo, Rohmer, mesmo aberto a alguns detalhes que fogem de sua assinatura, ainda consegue manter o estilo apaixonante de seus enquadramentos laterais, da valorização do idílico, da naturalidade dos diálogos corriqueiros que se tornam densos em questão de segundos e, principalmente, pelo retrato tão fiel a um distúrbio invisível e devastador como é a depressão.

O Último Raio do Dia

De uma simplicidade encantadora que transforma uma narrativa chata em uma experiência de vida, O Raio Verde é uma das maiores obras de Éric Rohmer. Repleto de poesia, vida e redenção, é difícil não acabar apaixonado por esse filme. Visando trazer toda a beleza de um fenômeno natural, Rohmer acaba conseguindo capturar a beleza de viver a vida.

O Raio Verde (Le Rayon Vert, França – 1986)

Direção: Éric Rohmer
Roteiro: Éric Rohmer, Marie Rivière
Elenco: Marie Rivère, Béatrice Romand, Carita, Joël Comarlot
Gênero: Drama
Duração: 99 minutos

Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema. Jornalista, assessor de imprensa.

Apaixonado por histórias que transformam. Todo mundo tem a sua própria história e acredito que todas valem a pena conhecer.

Contato: matheus@nosbastidores.com.br

Mais posts deste autor
1 Comment
Daniel Moreno
7 de fevereiro de 2018

Rohmer é o grande cineasta francês de todos os tempos e, ainda assim, pouco reconhecido no Brasil.

Add comment

  • Prev
  • Next
Posts Relacionados
Famosos
Decoradora acusa festa da filha de Virginia Fonseca de plágio: 'É uma vergonha'

Decoradora acusa festa da filha de Virginia Fonseca de plágio: ‘É uma vergonha’


by Matheus Fragata

Famosos
Lorena Maria rebate MC Daniel e diz que ele só entrou na Justiça após exposição: 'Pagou ontem'

Lorena Maria rebate MC Daniel e diz que ele só entrou na Justiça após exposição: ‘Pagou ontem’

Lorena Maria diz que MC Daniel só entrou na Justiça pela guarda do filho após…


by Redação Bastidores

Games
Polêmica no InZOI: bug permitia atropelamento de crianças e desenvolvedores corrigem erro

Krafton, dona de PUBG, anuncia reestruturação para ser uma empresa ‘AI-first’

Krafton, dona de PUBG e Subnautica, anuncia reestruturação 'AI-first' com…


by Matheus Fragata

© 2025 Bastidores. All rights reserved
Bastidores
Política de cookies
Para fornecer as melhores experiências, usamos tecnologias como cookies para armazenar e/ou acessar informações do dispositivo. O consentimento para essas tecnologias nos permitirá processar dados como comportamento de navegação ou IDs exclusivos neste site. Não consentir ou retirar o consentimento pode afetar negativamente certos recursos e funções.
Funcional Sempre ativo
O armazenamento ou acesso técnico é estritamente necessário para a finalidade legítima de permitir a utilização de um serviço específico explicitamente solicitado pelo assinante ou utilizador, ou com a finalidade exclusiva de efetuar a transmissão de uma comunicação através de uma rede de comunicações eletrónicas.
Preferências
O armazenamento ou acesso técnico é necessário para o propósito legítimo de armazenar preferências que não são solicitadas pelo assinante ou usuário.
Estatísticas
O armazenamento ou acesso técnico que é usado exclusivamente para fins estatísticos. O armazenamento técnico ou acesso que é usado exclusivamente para fins estatísticos anônimos. Sem uma intimação, conformidade voluntária por parte de seu provedor de serviços de Internet ou registros adicionais de terceiros, as informações armazenadas ou recuperadas apenas para esse fim geralmente não podem ser usadas para identificá-lo.
Marketing
O armazenamento ou acesso técnico é necessário para criar perfis de usuário para enviar publicidade ou para rastrear o usuário em um site ou em vários sites para fins de marketing semelhantes.
Gerenciar opções Gerenciar serviços Manage {vendor_count} vendors Leia mais sobre esses propósitos
Ver preferências
{title} {title} {title}