De Matrix a Matrix Resurrections: Ranking da saga com Keanu Reeves
Com o lançamento do aguardado Matrix Resurrections, uma das mais célebres e divertidas franquias de Hollywood está de volta. Aproveitando o hype e as reações em torno do novo filme de Lana Wachowski, vamos montar um ranking das obras canônicas da franquia, incluindo cinema, games e mais.
Confira abaixo.
6. Enter the Matrix
Quando as Wachowskis anunciaram que 2003 seria o ano das continuações de Matrix, não pararam apenas no cinema. Um dos elementos complementares aos dois novos filmes é o game Enter the Matrix, que contou com roteiro das irmãs e mais de 30 minutos de cenas live-action filmadas pelas mesmas. A trama foca na perspectiva da Niobe de Jada Pinkett-Smith, e apesar de ser casualmente divertido, é o elemento mais dispensável de toda a franquia Matrix.
5. Animatrix
O outro grande projeto de suplemento para as continuações de Matrix veio na forma de uma antologia de animação. Ao lado de diversos artistas e diretores de animê, as Wachowskis oferecem diferentes histórias no universo da Matrix, desde uma instigante trama de origem sobre o despertar das máquinas até mico histórias envolvendo Neo, Trinity e alguns personagens coadjuvantes em Reloaded. Nem tudo funciona, algumas histórias são maçantes, mas o produto final é um ótimo complemento - com destaque para as duas partes de O Segundo Despertar.
4. Matrix Resurrections
E estamos de volta. De uma maneira muito peculiar e que preza pela metalinguagem, Lana Wachowski revisita o universo da Matrix com uma continuação ousada e reforçada por ideias complexas, trazendo diferentes versões de personagens consagrados com muita confiança e carisma. Acaba devendo no quesito ação, que sempre foi muito forte na trilogia toda, mas é uma bela revisitada a esse mundo vibrante e elenco fantástico.
3. Matrix Reloaded
A primeira continuação de Matrix é um pipocão perfeito. Além de conceitos bem interessantes e uma narrativa que expande os riscos do original, Reloaded surpreendente pelas cenas de ação absolutamente espetaculares e insanas, com destaque para a perseguição de carros na via expressa. É um filme que fica melhor quando compreendemos que seu comentário é mais sobre a própria jornada do herói do que a mitologia em si, e que prova-se um sucessor digno de seu revolucionário antecessor.
2. Matrix Revolutions
O passar dos anos me fez amar o terceiro filme. Todo o espetáculo mais escapista e badass fica com Reloaded, bem mais focado no mundo virtual, mas Revolutions dedica muito mais tempo ao mundo real e a corrida contra o relógio pelo destino de Zion. É um filme mais sóbrio e dramático, e que exige mais paciência do espectador para acompanhar personagens de apoio em um conflito verdadeiramente épico: seja a batalha contra as Sentinelas na Doca ou a luta na chuva entre Neo e Smith, Matrix Revolutions é uma obra-prima de espetáculo e emoção.
1. Matrix
A única resposta possível. É difícil colocar em um curto espaço o impacto que Matrix teve em Hollywood, e desde seu lançamento em 1999, o filme continua extremamente atual e radical. É uma tremenda amostra da Jornada do Herói e todas as convenções e etapas de uma fórmula bem executada, oferecendo personagens icônicos e cenas de ação até hoje insuperáveis. Um dos grandes filmes dos últimos anos.
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Crítica | Matrix Resurrections é a pílula vermelha em uma Hollywood "Marvetizada"
É praticamente redundante falar sobre o impacto que Matrix teve na cultura pop em 1999, uma ficção científica original que misturava conceitos filosóficos com ação de artes marciais - todos sabemos. O que posso dizer, é como o filme das irmãs Wachowski me impactou profundamente, sendo uma das obras cinematográficas que, ao assistir pela primeira vez aos 7 anos de idade, ajudou a construir meu gosto e interesse pela Sétima Arte; uma chama que as duas subestimadas continuações, Matrix Reloaded e Matrix Revolutions, só mantiveram acesas por quase 20 anos.
A ideia de um quarto Matrix parecia desnecessária. Nunca fui contra novos projetos envolvendo o mundo criado pelas Wachowskis, já que o mundo virtual de computadores agressivos e simulacros é vasto o suficiente para ser explorado de diversas outras formas; seja pelo cinema ou pela televisão. Mas Matrix Resurrections quer mesmo mexer no vespeiro e literalmente ressuscitar uma história que já havia sido encerrada, ao trazer de volta o icônico personagem de Keanu Reeves para uma narrativa que é tudo, menos convencional. E o resultado é bem diferente do que poderíamos imaginar; e digno da maravilhosa criação das Wachwoskis.
A trama do filme começa de forma misteriosa, algumas décadas após os eventos de Matrix Revolutions. Encontramos Thomas Anderson (Reeves) novamente vítima do mundo virtual da Matrix, onde vive alheio como um programador de games que não tem memória alguma dos eventos da trilogia. À medida em que ele começa a experienciar glitches e a aparição de uma Trinity (Carrie-Anne Moss) igualmente alheia aos eventos do passado, Thomas embarca em uma jornada com um novo grupo de rebeldes para relembrar seu passado e descobrir a verdade - e também uma forma de resgatar o amor de sua vida de uma nova simulação.
A Quarta parede da Matrix Resurrections
Ao contrário da trilogia original, Resurrections conta apenas com Lana Wachowski por trás das câmeras - visto que a irmã, Lily, optou por se concentrar em outras atividades. Lana então recorre a um time de roteiristas composto por Aleksandar Hamon (da série Sense8) e David Mitchell (autor de Cloud Atlas, adaptado pelas Wachowski ao lado de Tom Tykwer) para tecer uma história que realmente se justificasse. Curiosamente, toda a primeira parte do longa parece refletir a própria questão interna de Lana em continuar a trilogia, já que a ambientação de Anderson como um programador de games que criou uma franquia que engloba todos os acontecimentos dos filmes de Matrix rende uma série de situações metalinguísticas: reuniões com engravatados garantindo que “Matrix 4 será feito com ou sem a sua ajuda”, fãs alucinados que constantemente citam cenas e marcas popularizadas pela saga e uma infame montagem ao som de “White Rabbit” com uma mesa de brainstorming e marketing para esse vindouro novo “game”.
É uma solução inteligente e que soa natural com o universo de Matrix, que sempre bateu na tecla da escolha e de micro-universos - duas características nas quais os games ficaram especialmente mais fortes desde que o primeiro filme foi lançado. Isso também garante um vínculo bem forte com os outros longas, que literalmente tem frames e cenas sendo exibidas em paralelo com o novo filme - seja de forma onisciente ou incidental, o que só enriquece a experiência.
Existe também um espaço bem-vindo para uma crítica satírica sobre o atual método de produção em Hollywood, viciada em reboots, sequências e filmes McDonalds da Marvel Studios. De forma similar a Wes Craven em seu irreverente O Novo Pesadelo, Lana Wachowski faz com que Matrix Resurrections tenha ciência de que é um filme: quando as situações se repetem, não é uma coincidência acidental como aquelas vistas em Star Wars: O Despertar da Força, mas sim uma decisão consciente e auto-referencial; brincando até mesmo com situações de “recast" ao colocar um inspirado Yahya Abdul-Mateen II para viver uma versão alternativa de Morpheus, desde cara introduzindo a ideia de que “programas também podem se libertar”.
Essa primeira metade do filme definitivamente é a mais forte da projeção, especialmente pelas brincadeiras metalinguísticas. À medida em que a trama avança, mais e mais nos aproximamos da vasta mitologia que Matrix Revolutions aprofundou, gastando bastante tempo no mundo real e no contexto em que a história se encontra após os acontecimentos deste. Mesmo sendo um filme de quase 2h30, tive a impressão de pouco aprofundamento nesse setor, que sofre com demasiada exposição por parte da envelhecida Niobe, novamente interpretada por Jada Pinkett-Smith, para justificar o que exatamente está acontecendo.
Nessa porção da trama, também temos tempo para aprofundar melhor nos novos personagens. Além do excelente Yahya Abdul-Mateen II como o novo Morpheus, Jessica Henwick é um dos grandes destaques como Bugs. Atuando, de certa forma, como a “Trinity da nova geração” ao liderar o grupo que vai ao resgate de Neo, Henwick é puro carisma e rouba todas as suas cenas. Já Jonathan Groff está absolutamente divertido como o sócio de Thomas Anderson na Warner Bros Games (juro), especialmente quando a natureza de sua identidade é revelada por completo. De forma similar, o sempre competente Neil Patrick Harris ganha um destaque surpreendente com o decorrer da trama, inicialmente apenas como um simples terapeuta. E por último, mas não menos importante, Priyanka Chopra Jones assume com gosto o papel de uma personagem importante em Revolutions, e que ganha destaque especial no clímax.
Mas é mesmo Keanu Reeves e Carrie-Anne Moss quem garantem todo o destaque emocional. O romance entre Neo e Trinity sempre foi forte ao longo da trilogia, e os dois atores garantem uma nova camada existencial muito interessante aqui, especialmente nas cenas em que os dois não se lembram do passado - mas têm uma química irresistível. Vale apontar também que Reeves apresenta uma versão bem mais leve de Neo, com destaque para seu cotidiano como o entediado designer de games - que ganha as feições de James McTeigue, uma piada interna impagável para os fãs das Wachwoskis, que ainda encaixa de forma sábia o cineasta Chad Stahelski (e ex-dublê de Reeves na trilogia) na brincadeira.
Eu ainda sei Kung fu?
E, claro, quando falamos de Matrix é impossível não entrarmos nos quesitos de ação. Cada um dos filmes da trilogia, que contou com o especialista Bill Pope na direção de fotografia, ofereceu algumas das minhas cenas de ação preferidas na vida. Infelizmente, Resurrections nem chega perto do nível de maestria dos filmes anteriores, por mais que Lana tenha boas ideias e que a dupla de fotógrafos John Toll e Danielle Massaccesi sejam muito felizes ao incorporar os mais diferentes tipos de luz natural no processo, me pareceu uma necessidade de tentar “inovar demais”. Os combates parecem mais rápidos e o jogo de câmera mais agressivo, como se Wachowski tentasse adotar um estilo similar àquele usado pelos irmãos Russo em seus filmes do Capitão América. Muito triste, e também pela ausência do talentoso Don Davis na trilha sonora, que passa o bastão para as mãos bem capazes de Tom Tywker e Johnny Klimek; que fazem um trabalho eficiente, mas sem música de rave o suficiente.
Dito isso, há uma grande sequência de ação que consegue aproveitar esse estilo mais agressivo e moderno, especialmente pela ideia por trás. Esta nova versão da Matrix introduz o conceito dos Bots, que nada mais são do que NPCs que podem ser transformados em máquinas de matar agressivas em um tipo de “Enxame”, e garantem um confronto envolvendo Neo e Trinity que logo evolui para um grande longa de invasão zumbi, que faz o caos de Guerra Mundial Z parecer um simples passeio de metrô na madrugada. É uma grande cena que realmente aproveita o potencial de uma Matrix descontrolada e furiosa, e fico feliz que ao menos aqui Wachowski e sua equipe tenham entregado um espetáculo notável; e até usando o conceito do bullet time de uma forma inteiramente nova.
Matrix Resurrections é um filme extremamente autoral e desafiador. É uma continuação que brinca com clichês e os vira de ponta cabeça, oferecendo uma experiência divertida e original, ainda que imperfeita. Certamente é um longa que merece ser visto mais de uma vez, e que prova que ainda é possível contar com grandes ideias em filmes grandes.
Crítica em vídeo
https://www.youtube.com/watch?v=HV_aHXawJls
Matrix Resurrections (The Matrix Resurrections, EUA - 2021)
Direção: Lana Wachowski
Roteiro: Lana Wachowski, David Mitchell e Aleksandar Hemon
Elenco: Keanu Reeves, Carrie-Anne Moss, Yahya Abdul Mateen II, Jessica Henwick, Jada Pinkett-Smith, Jonathan Groff, Neil Patrick Harris, Lambert Wilson, Priyanka Chopra Jones, Toby Onwumere, Max Riemelt, Eréndira Ibarra
Gênero: Ação, Ficção Científica
Duração: 148 min
https://www.youtube.com/watch?v=nNpvWBuTfrc
De Homem-Aranha a Sem Volta para Casa: Ranking do herói nos cinemas!
É hora do veredito!
Com Homem-Aranha: Sem Volta para Casa em cartaz nos cinemas do mundo todo, é chegada a hora de olhar para trás e colocar o novo e ambicioso filme de Tom Holland na balança, comparando-o com as outras 8 incursões do Cabeça-de-Teia nas telonas até agora. Confira abaixo o nosso ranking dos 9 filmes solo do personagem:
9. Homem-Aranha: Longe de Casa (2019)
Após um reboot eficiente, o besteirol tomou conta da segunda aventura solo de Tom Holland no MCU. Incapaz de levar qualquer coisa a sério, Longe de Casa descaracteriza tanto o personagem do Cabeça de Teia que chega a ser ofensivo, mergulhando em uma trama desinteressante, bobalhona e sem qualquer carisma. Só se salva mesmo Jake Gyllenhaal, perfeitamente escalado como o enigmático Mysterio.
8. O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro (2014)
Um avanço em relação ao fraco reboot, mas ainda um filme consideravelmente bagunçado e sem estrutura. Ainda que Andrew Garfield e Emma Stone mantenham uma química adorável durante toda a projeção, todos os vilões são ridículos e carecem de um bom desenvolvimento ou senso de ameaça, prejudicados por efeitos visuais medianos e caracterizações nada inspiradas, que parecem ter saído do cinema de Joel Schumacher. Marc Webb evolui como diretor, mas também demonstra uma mão pouco apropriada para esse tipo de fime. No fim, é um mixed bag.
7. O Espetacular Homem-Aranha (2012)
A primeira tentativa de se rebootar o personagem rendeu um produto estranho. Andrew Garfield é um tipo diferente de Peter Parker, e ainda que sua performance seja carismática, é difícil torcer e simpatizar com sua versão do personagem, que assume tons mais sombrios e hipsters em sua composição. Pior, o longa do fraco Marc Webb passa boa parte recontando a origem que já tinhamos visto de forma muito melhor nos primeiros filmes de Sam Raimi, oferecendo um inevitável clima de cópia mal feita. Isso sem falar no péssimo vilão Lagarto... Não chega a ser um filme terrível, mas é genérico demais.
6. Homem-Aranha: De Volta ao Lar (2017)
Marcando o retorno do personagem à Marvel Studios, De Volta ao Lar é uma abordagem engraçada e leve para os tempos de colegiais do personagem, dedicando um merecido tempo ao cotidiano de Peter Parker e seus problemas típicos de adolescente. Tom Holland brilha na pele do herói e seu alter ego, assim como o ótimo vilão vivido por Michael Keaton, garantindo uma diversão inegável. Carece de um aprofundamento emocional e cenas de ação inventivas, mas definitivamente é um ótimo recomeço.
5. Homem-Aranha: Sem Volta para Casa (2021)
Enfim aproveitando todo o potencial de Tom Holland como Peter Parker e do Homem-Aranha como uma figura da cultura pop, Sem Volta para Casa é um grande fan service. Ainda carece de um estilo marcante, já que Jon Watts é um diretor bastante limitado, mas é insanamente divertido, explora bem o leque de vilões do passado e traz diversas surpresas para a alegria dos fãs.
4. Homem-Aranha 3 (2007)
O tão criticado e infame terceiro capítulo da primeira trilogia, Homem-Aranha 3 peca sim pelo roteiro inchado e prejudicado por seus múltiplos personagens e linhas narrativas, oferecendo pouco espaço para reflexão e contemplamento. Porém, segue empolgante pela ótima condução de Sam Raimi, que entrega excelentes cenas de ação envolvendo os vilões Venom, Homem-Areia e Duende Verde. O elenco também mantém seu ótimo tom, e a conclusão da história definitivamente é positiva.
3. Homem-Aranha no Aranhaverso (2018)
Uma das grandes surpresas dos últimos anos, a animação da Sony revolucionou o que era possível fazer com o Homem-Aranha nos cinemas. Voltando o olhar para o novo herói, Miles Morales, a energética animação mistura um visual estimulante com uma boa história de origem e ainda consegue se divertir com versões alternativas do Cabeça de Teia ao longo dos anos. Um excelente filme.
2. Homem-Aranha (2002)
Uma das melhores histórias de origem já contadas no gênero, e também um dos grandes responsáveis pelo proliforamento do cinema de super-heróis no início do segundo milênio. Sob a direção certeira de Sam Raimi, temos um elenco excepcional liderado por Tobey Maguire, o Peter Parker definitivo, e um roteiro eficiente que ajuda a contar a primeira história do Homem-Aranha, sendo um bom mix de humor e ação, além de ter a ótima presença de Willem Dafoe como o Duende Verde. São poucos os filmes que conseguiram um efeito parecido.
1. Homem-Aranha 2 (2004)
Não tem competição. Acho que nunca teremos um filme do Homem-Aranha tão impecável quanto este. Diabos, acho que nunca teremos um filme de super-heróis que equipare-se ao altíssimo nível da continuação de Sam Raimi, que explora as dificuldades de Peter Parker em manter uma vida dupla, aprofundando-se em sua crise de identidade e nos problemas pessoais. É um dramático estudo de personagem, que também ocasionalmente oferece cenas de ação espetaculares, um vilão sensacional na figura do Doutor Octopus de Alfred Molina e muito humor para render o perfeito equilíbrio. Um dos melhores filmes do gênero, de longe.
E você? Qual o seu filme preferido do Cabeça-de-Teia? Comente!
Glitch na Matrix! Cinema em São Paulo vende ingresso para sessão falsa de Matrix Resurrections
Uma confusão digna das realidades paralelas da trilogia Matrix se desenrolou nesta quinta-feira (17) na cidade de São Paulo. Devido a um erro no sistema, ingressos para múltiplas sessões de Matrix Resurrections nos próximos dias estavam sendo vendidos através do site oficial da Cinemark.
O filme estrelado por Keanu Reeves estreia apenas em 22 de dezembro, então havia a possibilidade de uma sessão antecipada. Porém, os ingressos para as sessões, marcadas às 19h10 e 22h30, estavam disponíveis apenas através da Cinemark - seja pelo site ou pela bilheteria presencialmente, e não por plataformas como Ingresso.com e Velox.
Após verificação com representantes da Warner Bros no Brasil e também com funcionários da rede Cinemark (que a princípio, não tinham certeza se Resurrections seria ou não de fato exibido), ficou esclarecido que foi um erro no sistema interno da empresa; afinal, há sim uma venda de ingressos atualmente disponível, mas apenas para sessões a partir do dia 22.
As sessões tiveram suas vendas interrompidas, e todos aqueles que haviam comprado ingresso (uma quantidade considerável, analisando o mapa de lugares) terão reembolso do valor investido, ou até mesmo a possibilidade de um vale cortesia para a pré-estreia do filme, no dia 22.
Caso algum leitor(a) de São Paulo tenha comprado ingressos para essa "sessão fantasma", é melhor se informar com a gerência da Cinemark.
Matrix Resurrections estreia nos cinemas brasileiros em 22 de dezembro.
Crítica | Amor, Sublime Amor é uma releitura apaixonada de Steven Spielberg
Nunca fui um grande admirador de Amor, Sublime Amor, musical clássico de Robert Wise e Jerome Robbins que levou a obra-prima escrita por Stephen Sondheim e musicada por Leonard Bernstein para os cinemas. Na verdade, nem mesmo o gênero musical encontra-se entre meus preferidos, com apenas algumas exceções recentes ganhando destaque em minhas avaliações. Inspirado em Romeu e Julieta, o musical foi sensação na Broadway e sua adaptação cinematográfica é um dos grandes campeões da História do Oscar. Então… Por que fazer um remake?
Porque Steven Spielberg quer, simples sim. Um fã confesso do longa de Wise e Robbins e também no desejo de, pela primeira vez, dirigir um filme musical, Spielberg traz seus colaboradores de longa data para apresentar uma nova e sofisticada versão do clássico. O resultado é uma grande carta de amor que justifica sua existência em diversas áreas, além de trazer seu diretor inspirado de forma como há tempos não víamos.
Assim como no filme de 1961, a trama é ambientada em uma Nova York da década de 50 que se vê dominada por conflitos entre duas gangues adolescentes. Os Jets, formados por irlandeses, e os Sharks, que representam a parcela porto-riquenha da ilha de Manhattan. No meio de um conflito que está prestes a atingir seu ponto mais violento, a jovem latina Maria (Rachel Zegler) se apaixona por Tony (Ansel Elgort), um imigrante conectado com o líder de uma das gangues.
Amor, Sublime Amor : O novo e o velho
Confesso que, ao saber da notícia do remake, presumi que Spielberg e o roteirista Tony Kushner iriam atualizar a história para um período contemporâneo. Mas a intenção da dupla é realmente abraçar o classicismo e o romantismo da obra original de Sondheim, oferecendo uma recriação de época formidável através de um design de produção espetacular de Adam Stockhausen e também na forma como Spielberg conduz as cenas, diálogos e situações amorosas - de quebra ainda fazendo jus ao cafona título nacional preservado aqui.
Pessoalmente, não sou um grande fã da história original, mas reconheço Kushner faz mais esforços aqui para torná-la mais interessante. Naturalmente, a discussão acerca da representatividade latina nos EUA é muito mais forte atualmente do que na década de 60, e o roteiro da nova versão aproveita essa pauta com diálogos mais fortes (ainda que um tanto escancarados demais em alguns momentos) e personagens que realmente discutem as questões raciais no país; e aplaudo a decisão de tantos diálogos em espanhol propositalmente sem legendas.
Um mestre inspirado
Quando chegamos ao Spielberg por trás da câmeras… Realmente havia muito tempo que não víamos o diretor tão inspirado. Seus habituais planos longos e elaborados estão a todo vapor aqui, desde o longo primeiro plano que nos apresenta aos espaços e ambientes da Nova York passando por transformações até a magnitude dos números musicais; um gênero que Spielberg já havia flertado em Indiana Jones e o Templo da Perdição e 1941: Uma Guerra Muito Louca. Ao lado de seu fiel escudeiro e diretor de fotografia Janusz Kaminski, Spielberg preserva a natureza teatral da obra ao apostar em inúmeras tomadas de grua e luzes fortíssimas que invadem a tela como um holofote cênico, mas trazendo toda a versatilidade de sua inigualável linguagem cinematográfica.
Ainda que este novo Amor, Sublime Amor seja bem menos vibrante e colorido do que o filme de 1961, Spielberg traz sua paleta mais documental e dessaturada de dramas como Munique e The Post: A Guerra Secreta, mas parece mirar também nos céus expressionistas e deslumbrantes de John Ford. É uma mistura belíssima do novo e do velho, que se faz presente durante todas as incríveis sequências de dança, seja naquelas em que os coreógrafos e dançarinos enchem a tela com valsas inacreditáveis ou quando é o próprio Spielberg quem “dança" com sua câmera; e destaco o momento fenomenal em que Tony e Maria se olham pela primeira vez, sendo literalmente enfeitiçados pela luz de Kaminski ao longo de um baile intenso.
E, claro, já que estamos nos referindo ao Steven Spielberg que já retratou a invasão da Normandia em O Resgate do Soldado Ryan e a violência da guerra da secessão em Lincoln, há um traço desse perfil mais cascudo aqui. Me refiro a todas as cenas que envolvem as lutas de gangue entre Jets e Sharks, com Spielberg oferecendo um duelo de faca bem mais emocionante do que aqueles vistos na versão mais recente de Duna. Vale apontar também que a tensão que se desenrola durante o curto espaço de tempo de filme, com os personagens tentando impedir o iminente confronto das gangues, é de um eficiente suspense digno dos thrillers políticos do cineasta, como Ponte dos Espiões e Munique.
Afinando o gogó
Quanto ao elenco, é outro ponto fortíssimo da produção. A estreante Rachel Zegler domina cada segundo de tela como a nova e carismática versão de Maria, misturando o espanhol com inglês de forma ágil e divertida, além de apresentar uma voz espetacular durante todos os seus números. E ainda bem que Zegler é tão boa, já que praticamente carrega o irregular Ansel Elgort, um ator competente, mas cuja voz nunca chega no mesmo nível de suas colegas de elenco - e apesar de gostar de seu trabalho com Em Ritmo de Fuga, o achei um tanto forçado e careteiro nos momentos mais dramáticos. No entanto, é inegável que Elgort seja excelente quando o filme exige que seu Tony dança e rodopie pelas ruas.
Mas Elgort é mesmo o único ponto fora da curva. Ambos os líderes das gangues rivais Jets e Sharks, os estreantes Mike Faist e David Alvarez impressionam na cantoria e também nas atuações mais intensas. De forma similar, Ariana DeBose é outra que consegue desviar toda a atenção para si quando sua Anita está em cena, sendo realmente impressionante ver a precisão de seus passos de dança durante a sequência de “America”. E por falar em Anita, temos o retorno de Rita Moreno, premiada por esse papel no original, retornando como uma coadjuvante de luxo que garante alguns dos mais belos momentos do longa - e até a ágil montagem de Michael Kahn e Sarah Broshar faz paralelos inteligentes entre as performances de Moreno e DeBose.
Creio que nenhuma adaptação poderia resolver minhas birras com a história original de Stephen Sondheim, mas Steven Spielberg certamente trouxe a melhor versão com seu apaixonado Amor, Sublime Amor. É um musical que traz seu cineasta em uma de suas melhores formas, impressionando em todos os fatores técnicos e também em suas descobertas com um fascinante elenco latino.
Que Spielberg se arrisque em mais musicais!
Amor, Sublime Amor (West Side Story, EUA - 2021)
Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Tony Kushner, baseado no musical de Stephen Sondheim
Elenco: Ansel Elgort, Rachel Zegler, Rita Moreno, Ariana DeBose, David Alvarez, Mike Faist, Corey Stoll, Brian d'Arcy James, Josh Andrés Rivera, Ana Isabelle, Maddie Ziegler
Gênero: Musical
Duração: 156 min
https://www.youtube.com/watch?v=fytEBjr7X58
Crítica | A Crônica Francesa traz Wes Anderson em ótima forma
Wes Anderson é um dos autores mais únicos de sua geração. Dono de um estilo visual característico, personagens que nunca funcionariam fora de seus filmes e também de uma unidade tonal inimitável, é sempre um prazer assistir a uma nova obra do excêntrico cineasta americano. E, de certa forma, este novo A Crônica Francesa é quase como um abraço caloroso após muito tempo afastado; já que após o estrondoso sucesso de O Grande Hotel Budapeste, Anderson voltou para as animações com o irregular Ilha dos Cachorros, e a pandemia da COVID-19 acabou atrasando seu novo filme.
Novamente ambientando-se no cartunesco universo colorido do cineasta, a trama concentra-se no núcleo editorial da revista francesa que dá título ao filme. Através de uma narrativa formada por antologia, acompanhamos três histórias diferentes, que envolvem a relação curiosa de um pintor prisioneiro (Benicio Del Toro) e sua musa (Léa Seydoux), um jovem revolucionário (Timothée Chalamet) que trabalha com uma jornalista (Frances McDormand) para revisar seu manifesto e o perfil nada convencional que o cronista Roebuck Wright (Jeffrey Wright) traça de um cozinheiro (Steven Park) envolvido com um bizarro sequestro policial.
Novos truques
Sempre sei exatamente o que esperar de um filme de Wes Anderson, e A Crônica Francesa certamente traz o que aprendemos a esperar. Os personagens coloridos e as situações absurdas, que partem de uma proposta aparentemente infantil e típica de desenho animado, mas que chocam de forma hilária ao apelar para violência e conteúdo sexual. Todas essas características estão presentes aqui, mas com belas inovações: pelo caráter jornalístico de uma revista, as diagramações visuais de Anderson e seu fotógrafo Robert Yeoman se aproximam dessa mídia, especialmente na forma como as legendas para diálogos estrangeiros são expostas - assemelhando-se a caixas de textos que normalmente veríamos em matérias impressas em papel.
Além disso, a estética de Anderson também é deliciosa ao fazer homenagens a dois elementos essenciais dos folhetins. Primeiramente, as fotografias em still geram algo que o diretor nunca havia feito antes, ao trazer momentos caóticos e repletos de movimento que são “congelados”, mas onde vemos que os atores envolvidos claramente estão parados no set, ao invés de congelados na pós-produção; e a técnica gera quadros belíssimos e repletos de easter eggs cômicos. A outra é, naturalmente, sobre tirinhas, onde Anderson transforma alguns momentos da história em maravilhosos desenhos animados em 2D, com destaque para a insana perseguição de carro na terceira história que oferece uma das cenas de ação mais engraçadas que vi recentemente.
Antologia colorida
De cara, a primeira história é 100% Wes Anderson no melhor sentido. A Obra-Prima Concreta encanta desde o início graças ao carisma e a relação curiosa dos protagonistas de Del Toro e Seydoux, e também oferece usos estilísticos inteligentes por parte de Anderson. Toda a narrativa é apresentada em preto e branco e na razão de aspecto quadrada, mas Anderson cirurgicamente escolhe momentos para apresentar cores e uma proporção de tela maior, como quando o engomadinho personagem de Adrien Brody apresenta um dos quadros chave para seus investidores - homens em preto e branco que veem a cor pela primeira vez.
Infelizmente, é a segunda história, Revisões de um Manifesto, que acaba enfraquecendo o longa. Apesar de ótimas ideias que se traduzem visualmente muito bem, como o jogo de xadrez épico entre o personagem de Chalamet e um desesperado prefeito, a história acaba embolada no enfadonho. Todas as três narrativas seguem o caminho de tangentes e ramificações complexas, mas no caso de Revisões de um Manifesto, o caminho é tão caótico que acaba gerando o desinteresse e até um certo cansaço visual; mesmo que Frances McDormand faça um trabalho formidável como a divertida revisora.
E quando finalmente chegamos ao derradeiro A Sala de Jantar Particular do Comissário de Polícia, o filme recupera a boa sensação da primeira metade. Não só pelo absurdo de sua premissa e da excepcional cena de ação em animação que comentei acima, mas também pela ótima performance central de Jeffrey Wright, capaz de circular os diferentes estados de espírito de seu personagem ao longo da narrativa quebrada - que tem seu ápice absoluto ao introduzir o arco de sequestradores comandado por Edward Norton. A trilha sonora de Alexandre Desplat, diga-se de passagem, é especialmente brilhante nesse segmento ao misturar sua orquestra dinâmica com elementos diegéticos do cenário.
Depois de alguns anos em hiato, A Crônica Francesa traz Wes Anderson em ótima forma. Pode não ser a melhor ou a mais envolvente coleção de histórias que o cineasta já apresentou, mas traz sua sempre divertida estética característica, contando também com algumas surpresas e inovações bem-vindas. Uma revistinha de muito bom gosto.
A Crônica Francesa (The French Dispatch, EUA/França - 2021)
Direção: Wes Anderson
Roteiro: Wes Anderson, argumento de Roman Coppola
Elenco: Bill Murray, Owen Wilson, Jason Schwartzman, Benicio Del Toro, Léa Seydoux, Adrien Brody, Tilda Swinton, Timothée Chalamet, Frances McDormand, Jeffrey Wright, Liev Schrieber, Steven Park, Mathieu Almaric, Christoph Waltz, Edward Norton, Saiorse Ronan, Bob Balaban, Tony Revolori, Henry Winkler
Gênero: Comédia
Duração: 108 min
https://www.youtube.com/watch?v=OjTEmaOmwVI
Crítica | Tick, Tick... Boom! é um musical explosivo e emocionante
Sou praticamente um analfabeto quando o assunto é teatro musical, tendo como referência apenas as diversas adaptações de obras do tipo para o cinema. É importante atestar isso, já que caí de paraquedas em Tick, Tick… Boom! sem qualquer conhecimento de Jonathan Larson ou de seu importante repertório teatral, tendo o musical Rent como uma de suas mais influentes e importantes realizações. E muito mais do que uma mera introdução ao homem e seus trabalhos, o filme de estreia de Lin-Manuel Miranda é por si só uma das experiências mas impactantes e bem realizadas do ano - fazendo jus a brilhante seu título onomatopeico.
Baseando-se na obra autobiográfica do próprio Larson, a trama acompanha o jovem Jonathan Larson (Andrew Garfield) enquanto tenta terminar seu primeiro grande musical, no qual vem trabalhando a 8 anos, antes de completar os 30 anos. Ao longo de números musicais e quebras narrativas do próprio Larson, testemunhamos seu processo criativo, suas amizades complicadas e a relação tumultuosa com sua namorada, Susan (Alexandra Shipp).
Ao mestre com carinho
Assim como muitos, conheci Lin-Manuel Miranda apenas por seu trabalho monumental com Hamilton. De lá pra cá, o porto-riquenho vem se destacando como um dos grandes nomes da música no cinema, seja nas animações da Disney como Moana e o vindouro Encanto, ou no bem sucedido Em Um Bairro de Nova York, adaptação de John M. Chu para uma de suas primeiras peças. Naturalmente, Miranda deve se ver no próprio Larson, que é creditado aqui por todas as canções e letras musicais, ao passo em que Steven Levenson (que adaptou também o recente Querido Evan Hansen) traça um texto sem grandes inovações nesse tipo de história, mas que é perfeitamente funcional.
Como diretor, Miranda não se contenta pelo convencional. Como se seguir a clássica história de um sonhador obstinado com interjeições musicais não fosse o bastante, sua narrativa é quebrada constantemente pelo próprio Larson fazendo comentários para a câmera, além de toda uma porção ambientada em um palco de teatro que serve como “coral grego” para a narrativa central - e que, ao final, revela-se como uma grande matrioska metalinguística. Sim, parece embolado e pelos primeiros minutos de projeção, realmente soa como um filme desencontrado; mas a cada virada de página, a mão de Miranda encontra o tom e os pontos de foco apropriados.
É uma intensidade narrativa que realmente coloca o espectador na cabeça de Larson, variando entre a alegria de números musicais improvisados (o uso de um plano longo pelo apartamento em “Boêmia" é bem divertido) e que mostram a imaginação estimulada de Miranda - vide a imagem de uma raia de piscina se transformando em partituras musicais - e o verdadeiro caos para cenas mais dramáticas. Há uma sequência em particular que realmente faz jus ao título do filme, onde a montagem de Myron Kerstein e Andrew Weisblum acelera o ritmo, intercala passagens e o próprio Garfield aumenta a velocidade de sua voz; logo após Larson receber uma notícia desconcertante envolvendo um amigo querido. Das mais angustiantes e poderosas sequências que vi em um filme este ano.
E se Miranda é uma boa revelação como diretor, não deve ser surpresa para ninguém o arraso que é Andrew Garfield. Há um tempinho sem entregar um grande trabalho como A Rede Social, Até o Último Homem ou o subestimado Silêncio, o astro britânico domina o sotaque americano para gritar, cantar e dançar por grande parte das 2 horas de projeção, conseguindo transmitir a energia que não parece se conter nos ossos de Larson - mas também a ansiedade e o nervosismo por trás de seus sonhos que beiram a obsessão. Pessoalmente, como alguém que também vê o relógio correndo para a chegada dos 30, confesso que a experiência chega a ser perturbadora em alguns momentos - e em todos eles, Garfield simplesmente domina a tela.
Sendo uma combinação energética entre cinebiografia e musical dos anos 50, Tick, Tick… Boom! revela o talento de Lin-Manuel Miranda como diretor de cinema. É uma experiência marcante, desafiadora e que coloca o espectador dentro de uma mente fascinante e cheia de surpresas, sendo muito bem guiada pela performance espetacular de Andrew Garfield.
Tick, Tick... Boom! (EUA, 2021)
Direção: Lin-Manuel Miranda
Roteiro: Steven Levenson, baseado na obra de Jonathan Larson
Elenco: Andrew Garfield, Alexandra Shipp, Robin de Jesus, Vanessa Hudgens, Bradley Whiford, Joshua Henry, Jonathan Marc Sherman, Michaela Jaé Rodriguez, Judith Light
Gênero: Drama, Musical
Duração: 115 min
https://www.youtube.com/watch?v=gOSGZGdp0lI
Crítica | Ghostbusters: Mais Além é uma reverência fanática ao original
Vivemos em tempos desesperados por mitologias estabelecidas. Em Hollywood, a escassez de ideias originais no cinema é tão grande que basta qualquer franquia do século passado com um nome reconhecido para ser aprovada uma continuação ou reboot. Há incontáveis exemplos nos anos recentes, desde os sucessos mais óbvios como Star Wars, Halloween e Jurassic Park, e outras surpresas como os novos Jumanji e Bad Boys. Nesse miolo, também encontramos a curiosa jornada dos Caça-Fantasmas.
Uma comédia sobrenatural que fez muito sucesso em 1984, e rendeu uma geração de fãs, uma continuação pouco lembrada e um reboot feminino que rendeu uma patética dose de controvérsia em seu lançamento. Tentando entender o que fazer com a franquia após o filme de 2016, a Sony Pictures toma uma grande dose de nostalgia e recruta Jason Reitman, filho do diretor Ivan Reitman, para re-engatar a história com este Ghostbusters: Mais Além, um filme cheio de boas intenções, mas com impacto reduzido.
A trama contemporânea nos apresenta à família composta por Callie (Carrie Coon) e seus dois filhos, a inteligentíssima Phoebe (McKenna Grace) e o desajustado Trevor (Finn Wolfhard), que herdam a propriedade isolada de seu recluso avô em uma cidadezinha afastada. Não demora para que a jovem Phoebe, ao explorar o local e seus arredores, descubra que seu avô era um dos membros originais dos Caça-Fantasmas, e que uma nova ameaça está prestes a ser libertada mais uma vez.
Ghostbusters de volta ao jogo
Não existe forma melhor de definir este novo Caça-Fantasmas: é O Despertar da Força. Igualzinho. No sentido do roteiro de Reitman pai e filho olharem para a mesmíssima estrutura do filme original que inicia a franquia e replicá-la de forma moderna e com novos personagens que, passo a passo, vão aprendendo sobre as “lendas" do passado e encontrando versões envelhecidas das figuras clássicas. É uma fórmula que dá certo comercialmente e também para os fãs de primeira viagem, mas que definitivamente pode se mostrar pouco original - como acontece aqui em Mais Além.
Trocando o foco para personagens mais jovens, infelizmente nenhum deles tem tanto charme ou carisma, apesar do bom trabalho de seu elenco. É algo que pode ser fruto do trabalho do próprio Jason Reitman, especializado em dramas adultos como Amor Sem Escalas, Obrigado por Fumar e Tully (onde a exceção vem com Juno, que é sobre uma faixa etária mais velha), mas que aqui se revela um tanto sem tato para abordar a dinâmica infantil. O longa claramente quer replicar o sucesso de Stranger Things, Conta Comigo ou o recente It: A Coisa, mas o humor investido nunca é natural, raramente rende uma piada genuína ou provoca uma empatia tão grande.
São mais de 2 horas dedicadas a esses personagens que não dizem bem a que vieram, e que no papel têm conflitos promissores graças à relação disfuncional com o avô. Infelizmente, nenhum deles alcança todo o potencial dramático (algo que Jason Reitman poderia fazer com gosto), correndo até um clímax que descaradamente repete todos os passos do filme de 1984. Claro, é um bom fan service para os fãs devotos da franquia, mas realmente não chega a impressionar narrativamente - tampouco no que diz respeito às habilidades de Reitman como diretor de grande orçamento.
Ainda bem que o elenco de Ghostbusters consegue carregar os fiapos de personagens. A começar pela cada vez mais onipresente McKenna Grace, que já havia se mostrado uma excelente atriz em obras como Annabelle 3: De Volta para Casa e até mesmo sua participação ligeira no recente Maligno, e aqui literalmente domina o filme todo. Desde sua caracterização inspirada no visual do falecido Harold Ramis até suas interações com o divertido Logan Kim, Grace é o grande coração do projeto. O segundo grande destaque fica com Paul Rudd, que interpreta um professor de colegial fã dos Caça-Fantasmas originais, e é responsável por alguns dos momentos mais leves e carismáticos da projeção - algo que o ator faz com extrema naturalidade.
Já Finn Wolfhard e Carrie Coon não têm a mesma sorte. Ainda que sejam ambos ótimos intérpretes, nenhum dos personagens é capaz de gerar tanta empatia, com Wolfhard limitado a uma subtrama de atração amorosa que nunca convence e Coon jogada em uma personalidade revoltada e apática - que só garante um certo tipo de catarse no final, por motivos que definitivamente não estão ligados com o filme e esses personagens. E falando nisso, claramente os fãs podem esperar algumas participações especiais no filme, mas… Pessoalmente as achei extremamente frustrantes.
Sob o comando de um filme de orçamento mais elevado pela primeira vez em sua carreira, Jason Reitman faz um trabalho eficiente. Ao lado do diretor de fotografia Eric Steelberg, Reitman cria um filme visualmente deslumbrante, estilizado, mas que captura o estilo “Amblin” tão presente na filmografia de Steven Spielberg, por exemplo - e que a trilha sonora calorosa de Rob Simonsen definitivamente é bem-sucedida nessa criação de atmosfera.
Se não é capaz de criar tanta profundidade nos momentos mais intimistas, Reitman se sai surpreendentemente bem ao lidar com momentos mais agitados, seja pela antecipação de Phoebe ao usar um dos equipamentos de seu avô pela primeira vez ou uma agitada perseguição envolvendo o ECTO-1 dos Caça-Fantasmas pelo centro da cidade.
O novo Ghostbusters: Mais Além é um filme competente e que certamente vai agradar os fãs mais devotos dos clássicos Caça-Fantasmas. Infelizmente, acaba preso demais na reverência e se esquece de criar algo novo, e também de encontrar um tom próprio de aventura e comédia.
Ghostbusters: Mais Além (Ghostbusters: Afterlife, EUA - 2021)
Direção: Jason Reitman
Roteiro: Jason Reitman e Ivan Reitman
Elenco: McKenna Grace, Carrie Coon, Finn Wolfhard, Paul Rudd, Bookeem Woodbine, Logan Kim, Bill Murray, Dan Aykroyd, Ernie Hudson, Annie Potts, Sigourney Weaver
Gênero: Aventura
Duração: 124 min
https://www.youtube.com/watch?v=gD3zL6pX7y4
Crítica | Noite Passada em Soho - Nostalgia de matar
Por algum motivo, 2021 parece ter sido o ano em que o giallo voltaria para o mainstream americano. Tecnicamente, 2020, já que os dois principais filmes que apostam nessa vertente do cinema de terror italiano acabaram adiados para este ano em decorrência da pandemia da COVID-19. Um dos mais aguardados, e que foi escolhido como um dos filmes de abertura da 45ª Mostra de Cinema de São Paulo é também uma das obras que pessoalmente eu mais aguardava desde seu anúncio: Noite Passada em Soho, novo filme original do britânico Edgar Wright. Não que eu queira propor uma competição com o outro grande giallo do ano, que é Maligno de James Wan, mas se eu estivesse… o filme de Wright não subiria no pódio com a medalha de ouro.
Completamente original, a trama nos apresenta a Eloise (Thomasin McKenzie), uma jovem apaixonada pela cultura dos anos 60 que se muda para Londres, onde iniciará seus estudos em uma faculdade de moda. Preferindo ficar em um quarto alugado por uma reclusa (Diana Rigg) do que em uma república, Eloise é misteriosamente transportada para a Londres dos anos 60 durante a noite, acompanhando a perspectiva da enigmática Sandie (Anya Taylor-Joy), uma aspirante a cantora que acaba amarrada à uma trama macabra envolvendo o suspeito Jack (Matt Smith). No presente, Eloise tenta ligar os pontos para descobrir o que de fato aconteceu.
Só Se Vive Duas Vezes
E se Meia Noite em Paris se cruzasse com uma história sobrenatural, basicamente. Ao lado da roteirista Krysty Wilson-Cairns (de 1917), Edgar Wright traça sua história mais madura e diferenciada, partindo para um território consideravelmente sombrio após suas investidas em comédias e filmes de ação. É uma proposta admirável, e também preciso dar créditos à dupla por apostar em um longa de gênero que parte de uma ideia original, sempre uma raridade em meio a uma indústria dominada por quadrinhos e reboots. Gosto bastante do tema central desenvolvido pela história, que brinca com os deleites (e os perigos) de uma obsessão pelo passado e um modo de vida nostálgico, beneficiando-se também de uma protagonista extremamente empática.
Meu problema, apesar de tudo isso, foi uma falta de conexão. Em seus primeiros 40 minutos, o longa se arrasta para estabelecer o tema e a dinâmica da “volta no tempo”, e brinca com os mistérios e elementos sobrenaturais de forma mais bem-sucedida visualmente (chegaremos a isso em alguns instantes). Fica difícil se apegar à figura de Sandie como algo além do que uma simples miragem, tendo seus efeitos bem melhores trabalhados na repercussão emocional em Eloise. Mas o grande problema vem mesmo com a conclusão do filme, que não detalharei para evitar spoilers, mas que significa uma inversão de expectativa interessante no papel; mas dramaticamente decepcionante.
Suspiros
Encabeçado por uma performance dupla das talentosas estrelas em ascensão Thomasin McKenzie e Anya Taylor Joy, Noite Passada em Soho definitivamente é carregado pelas duas. Joy consegue criar uma postura madura e sensual para Sadie, ao mesmo tempo em que oferece vislumbres de fragilidade e dúvida que nem o roteiro desenvolve com eficiência - além de contar com um cover marcante da canção “Downtown”, presente também no primeiro trailer do filme.
Mas o destaque é mesmo McKenzie, que desde os primeiros segundos de projeção já garante a empatia do espectador ao protagonizar uma sequência musical bem divertida - onde sua energia alegre logo se contrasta com uma recepção bem fria em Londres, na qual a atriz demonstra toda sua fragilidade e ingenuidade. Ao longo das passagens temporais, é divertido ver McKenzie adotando não apenas o visual de Joy, mas também alguns de seus trejeitos. Uma grande performance em um belo ano para a atriz, presente também em Tempo, de M. Night Shyamalan.
No geral, o elenco coadjuvante rende bons momentos, mas nada realmente notável. Matt Smith se aproveita de sua persona que sempre rende figuras de caráter questionável para criar uma figura bem unidimensional, enquanto Terence Stamp infelizmente tem um jeitão mais cool desperdiçado - assim como o bom Michael Ajao, preso com um personagem que nunca se justifica. O único outro destaque vem com Diana Rigg, em sua performance final, que encanta por um monólogo revelador em um dos pontos mais decisivos do longa.
Um cineasta amadurecido em Noite Passada em Soho
Em quesitos técnicos, não é surpresa encontrar uma melhora considerável. Se comentei que Wright buscava por temas e desenvolvimentos mais maduros em história, o mesmo se aplica de forma admirável em sua invejável craft. Os cortes precisos e energéticos que ajudavam a dar pulso a longas agitados como Scott Pilgrim contra o Mundo e Em Ritmo de Fuga são bem mais sóbrios e precisos, com o montador Paul Machliss (agora sem o habitual parceiro Jonathan Amos) mantendo a assinatura do cineasta para sequências de passagem de tempo e transições elaboradas; mas agora raramente usando-as para humor, e sim o terror.
Nesse sentido, ainda que Wright tenha flertado com o terror na comédia Todo Mundo Quase Morto, aqui é um mergulho total. Os melhores momentos de Noite Passada em Soho são quando Wright mergulha na paranoia e no medo de Eloise. Ao lado do excelente diretor de fotografia Chung-hoon Chung (que causou muito medo também em It: A Coisa), Wright é hábil ao criar imagens fantasmagóricas que usam e abusam de luzes coloridas (neon nunca é demais!), efeitos de caleidoscópio e também efeitos visuais bem pontuais que contribuem para uma atmosfera de perseguição fortíssima. É um verdadeiro deleite visual, e onde o longa mais se aproxima das raízes do giallo que persegue no sentido estético.
A ideia de Edgar Wright fazer um terror psicológico definitivamente me fez esperar um pouco mais. Noite Passada em Soho representa um amadurecimento notável do cineasta britânico, muito mais na caprichada estética do que na história com rumos questionáveis.
Noite Passada em Soho (Last Night in Soho, Inglaterra - 2021)
Direção: Edgar Wright
Roteiro: Edgar Wright e Krysty Wilson-Cairns
Elenco: Thomasin McKenzie, Anya Taylor-Joy, Matt Smith, Diana Rigg, Terence Stamp, Michael Ajao, Sam Claflin, Rita Tushingham
Gênero: Suspense
Duração: 116 min
https://www.youtube.com/watch?v=P0SPVsmWT_0
Acompanhe mais da nossa cobertura da 45ª Mostra Internacional de São Paulo
O multiverso se liberta em novo trailer de Homem-Aranha: Sem Volta para Casa
Após muita antecipação dos fãs, a Sony Pictures finalmente lançou o novo trailer de Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, mas recente aventura do herói de Tom Holland dentro do Universo Marvel da Disney.
Confira abaixo.
https://www.youtube.com/watch?v=JfVOs4VSpmA
O filme coloca o Peter Parker de Holland ao lado do Doutor Estranho de Benedict Cumberbatch em uma trama que envolve vilões de outros universos, trazendo de volta as franquias estreladas por Tobey Maguire e Andrew Garfield.
O elenco ainda conta com Zendaya, Marisa Tomei, Jacob Batalon, Jon Favreau, Alfred Molina, Jamie Foxx e Willem Dafoe. Jon Watts (dos dois filmes anteriores) retorna para dirigir.
Homem-Aranha: Sem Volta para Casa estreia exclusivamente nos cinemas brasileiros em 16 de dezembro.