Crítica | Lara Croft: Tomb Raider - Os Absurdos de Simon West
Lara Croft tornou-se uma das personagens aventureiras mais famosas e mais rentáveis de todos os tempos após ganhar conhecimento público em 1996. Com o crescente sucesso, não demorou muito até a indústria cinematográfica hollywoodiana canalizar seus esforços para fornecer uma nova roupagem às incríveis aventuras da heroína, permitindo que o escopo em game fosse traduzido para as telonas: Simon West, pois, foi cotado como o diretor responsável por trazer à vida a franquia de jogos, trazendo ninguém menos que a incrível Angelina Jolie em mais um de seus papéis do gênero de ação (anteriormente, a atriz já havia estrelado em filmes como Piratas de Computador e 60 Segundos); levando todos esses aspectos em questão, poderíamos esperar algo pelo menos satisfatório tanto para os fãs dessa vertente narrativa quanto os dos games, mas o resultado infelizmente passa bem longe disso.
Em se tratando de um longa-metragem aventuresco, é meio óbvio que sua estética deva prezar por uma investida mais dinâmica e até mesmo frenética justamente para que o público não tenha como desviar a atenção - entretanto, parece que West não se atentou a esses cruciais detalhes e resolveu brincar de modo fracassado e errôneo com inúmeras perspectivas paradoxais. Em outras palavras, o diretor resolve fornecer uma visão mais intimista dentro de um panorama estruturalmente superficial. É claro que o cinema configura-se como um nicho do entretenimento no qual o impossível torna-se possível e realizável, mas aqui estamos esperando um milagre que não pode e não será concretizado, não importa quantas tentativas sejam feitas - não é à toa que o começo do primeiro ato já se desenrola de uma forma tão pífia que fica difícil ter qualquer esperança acerca do restante da história.
Lara Croft: Tomb Raider gira em torno da personagem-título, uma lutadora, caçadora de recompensas e “arqueóloga” que tem como missão resgatar importantes e milenares artefatos mágicos para protegê-los. É claro que isso não fica muito claro com o início do filme, visto que a sequência a mostra enclausurada em uma catacumba egípcia lutando contra um robô assassino apenas para recuperar um pequeno chip de memória que revela conter uma... Playlist. Sim, é isso mesmo: Jolie, nos mostrando toda a sua escultural fisionomia para encarnar a heroína, na verdade estava tentando conectar uma maldita lista de músicas para continuar o seu treinamento - e é claro que tudo isso seria risível se não fosse trágico demais para ser varrido para debaixo do tapete.
As coisas não melhoram muito com o passar do tempo: além de viver em uma gigantesca mansão que outrora pertencia ao seu pai desaparecido, Lorde Richard Croft (Jon Voight), ela tem a companhia de dois dos personagens mais genéricos desse universo narrativa, representando estereótipos unidimensionais do elegante e cômico mordomo (Chris Barrie) e do excêntrico gênio da tecnologia (Noah Taylor), que eventualmente deveriam respaldar a contraditória personalidade da protagonista. Entretanto, essa exploração mais aprofundada nunca vê a luz do dia e segue um padrão tão formulaico que fica difícil não conseguir prever cada virada no pífio roteiro assinado por Patrick Massett e John Zinman: de forma inegável, a dupla parece ter realizado a adaptação em uma onda de cansaço extrema, nem mesmo se preocupando em tapar eventuais furos no roteiro e erros de concordância narrativa, deixando que esse simulacro de filmes predecessores se construísse por conta própria.
E é claro que, como toda “boa” história que se preze, temos a presença dos vilões. O problema? Sua total falta de carisma. Diferente de obras como Duro de Matar, responsável por nos introduzir a um dos personagens mais envolventes das últimas décadas, Hans Gruber (Alan Rickman), o colecionador de artefatos místicos e, por alguma razão, advogado Manfred Powell (Iain Glen) trilha um caminho insuportavelmente chato. O seu arco é pautado em diálogos recheados de metáforas vencidas e de egolatrias sem fim que não apenas abrem brechas absurdas para contestar seu verdadeiro objetivo, como também permite que a audiência se distancie mais e mais do que poderia ser uma subtrama agradável e satisfatória; a atuação medíocre de Glen não contribui em nada para salvar o antagonista de cair no abismo dos clichês - logo, não é nenhuma surpresa que sua aguardada finalização tenha vindo em boa hora, livrando o espectador de ainda mais sofrimento.
Nem mesmo os coadjuvantes servem para algo palpável, e isso inclui o sedutor arqueólogo Alex West (Daniel Craig), que é completamente desperdiçado em meio a tantos acontecimentos desnecessários. Primeiro, o diretor acredita com todas as forças no poder do foreshadowing e presume que seu público já conheça esse personagem - mas isso não ocorre e, levando em consideração a breve organicidade entre Alex e Lara, parece que o roteiro foi amarrado às pressas, deixado com algumas lacunas que se iniciam no primeiro ato e que se tornam uma bola de neve incontrolável e sem qualquer noção de espaço e tempo. E mais: tantos equívocos assim contribuem para nos esquecermos da mística epopeia na qual os protagonistas estão envolvidos e que, de alguma forma, conversam com a salvação do universo de uma força desconhecida e aterrorizante - mas, de novo, quem é que liga para isso quando podemos prestar atenção no forçado sotaque inglês de Jolie em cena?
Não é preciso nem comentar que os deslizes também se alastram para as vertentes técnicas: West definitivamente não sabe orquestrar sequências de ação, optando por planos mais abertos ao invés de prezar por enquadramentos fechados e câmera na mão justamente para transmitir a sensação caótica do gênero de ação. A montagem é lenta e, aliada a uma ideia que preza pela generalização imagética, transforma um dos poucos bons pontos do filme em um ciclo de monotonia sem fim; basicamente, estamos assistindo a cenas e mais cenas em formatos pictóricos estáticos que tentam buscar referência em um simbolismo que simplesmente não existe.
Lara Croft: Tomb Raider é inesquecível por todos os motivos errados. Além de uma atmosfera nem um pouco envolvente e de uma história que não faz sentido algum nem mesmo para os conhecedores mais experientes da franquia de jogos, até mesmo o carisma de Jolie é ofuscado por equívocos tão dolorosos que chega a ser difícil manter total atenção em um longa-metragem fadado, desde o princípio, ao iminente fracasso.
Lara Croft: Tomb Raider (Idem, EUA - 2001)
Direção: Simon West
Roteiro: Patrick Massett, John Zinman
Elenco: Angelina Jolie, Jon Voight, Iain Glen, Noah Taylor, Daniel Craig, Richard Johnson, Chris Barrie, Julian Rhind-Tutt, Leslie Phillips
Gênero: Ação, Aventura
Duração: 100 min
https://www.youtube.com/watch?v=cnNBqNb3taw
Crítica | Adeus Christopher Robin - Uma Cinebiografia Excessivamente Melodramática
A.A. Milne tornou-se um dos nomes mais memoráveis da literatura britânica por um simples motivo: criar uma porção de histórias emocionantes envolvendo um famoso e adorável ursinho de pelúcia chamado Pooh e suas incríveis aventuras ao lado de outras criaturinhas silvestres como Leitão, Ió e Tigrão. Seguindo um padrão que tornou-se comum em Hollywood, não foi nenhuma surpresa quando o diretor Simon Curtis foi cotado para dirigir uma singela e tragicômica homenagem acerca de sua carreira, principalmente considerando sua extensa filmografia, marcada por investidas como Sete Dias com Marilyn e A Dama Dourada - ambos representando dois extremos de suas habilidades.
A princípio, precisamos entender que Adeus Christopher Robin aponta para diversos convencionalismos do gênero: logo, espere sim diversas sequências carregadas com um teor melodramático, perscrutadas com uma música tonal que preza pela amálgama de diversos instrumentos mais profundas e uma trilha sonora que exige algumas resposta emocional do espectador. Isso sem falar nas atuações que, apesar de beirarem o limiar do over-the-top, funciona, pela maior parte da narrativa pela capacidade de seus versados atores - em especial uma envolvente Margot Robbie no papel da poética e sofrida Daphne Milne, esposa do autor em questão.
Curtis faz um bom uso do anacronismo cênico para compor sua obra, levando o espectador a se perder propositalmente em meio a cronologia da obra. Para aqueles que não conhecem a real história de Milne, ele serviu na I Guerra Mundial antes de conseguir sobreviver ao caos e à carnificina das trincheiras e retornar para seu status como lorde, mergulhando mais uma vez no puritanismo e na superficialidade de sua vida antiga. Entretanto, após presenciar os horrores do conflito, incluindo observar seus companheiros perecerem até a morte em um estado de pura impotência, ele percebeu que precisava se afastar de toda aquela vida urbana para que os cruéis fantasmas deixassem de existir. Desde os primeiros minutos de filme, percebemos que Domnhall Gleeson consegue encarnar com perfeição sua própria versão do romancista e poeta, resgatando a expressão ranzinza e a constante inexpressividade, entrando em conflito com o alegre otimismo da esposa.
Sua jornada toma um rumo drasticamente mutável com o nascimento de seu único filho, o jovem Christopher Robin Milne (Will Tilston), chamado de C.R. Milne e, como já podemos prever, a principal influência para A.A. criar suas fantásticas e envolventes histórias. É muito interessante e até mesmo trágico analisar que tanto sua esposa quanto seu filho permaneciam em um receptáculo moral e comportamental justamente para não ativar nenhum possível gatilho da flagelada do patriarca da família - o que também revela sua personalidade contraditória: por um lado, o novelista foi responsável por trazer à vida um dos universos mais simbólicos e puros e que encantou crianças ao redor do mundo, mas mesmo assim não conseguia perceber a carência de seu mais jovem fã, Christopher.
Apesar de todos esses subtemas estarem presentes no longa-metragem, Frank Cottrell Boyce e Simon Vaughan permanecem em uma linha defensiva e parecem duvidar da capacidade do público em compreender um escopo mais profundo: grande parte dos diálogos e da exploração desses múltiplos arcos permanece em uma rasa superfície que basicamente tem medo de seu próprio potencial. Isso impacta em diversas partes estruturais, incluindo o ritmo da montagem: não é à toa que o primeiro ato move-se de modo tão monótono que nos faz pescar em diversos momentos - e garanto que nenhuma das cenas perdidas é de notável perda. Felizmente, Curtis consegue voltar aos trilhos no ato seguinte e aproveitando sua habilidade de arquitetura atmosférica para focar em uma das subtramas mais importantes da obra e que serve de base para a premissa narrativa: a relação entre A.A. e seu filho.
O famoso romancista permanecia enclausurado em um bloqueio criativo até finalmente sair do conturbado centro londrino e mudar-se com sua família para o interior. Entretanto, não podemos apagar o fato de que inúmeras tentativas foram feitas para que sua sanidade e seu equilíbrio mentais voltassem, principalmente com a contratação da adorável governanta Olive (Kelly Macdonald), que fica responsável por cuidar e, eventualmente, por acompanhar o crescimento do menino à medida em que seus pais tentam retomar os trilhos de seu relacionamento e resgatar uma faísca que não existe mais. É só após a brusca mudança de ares e o afastamento de Daphne, que acaba voltando para Londres para cuidar da enferma mãe, que os dois tem um amplo espaço para endossarem sua fria relação. A priori, até mesmo a dura fotografia parece deixá-los afastados em dois espaços cênicos diferentes e intransponíveis - e é com uma ajuda quase divina que tanto A.A. quanto Christopher abrem-se um para o outro e começam a compreendê-los. Ora, o garoto nem mesmo o chamava de pai, mas sim de Blue (azul, em inglês, dialogando com seu constante estado melancólico), e só depois de conseguir entendê-lo ele o vê como seu igual.
E quando A.A. entende e abraça a perspectiva fantástica de seu filho, ele abre os olhos para uma história que talvez ofusque os seus trabalhos anteriores, mas que definitivamente funcionará. Nesse ponto, Curtis trabalha a iluminação de forma mais profusa para fundi-lo ao bucólico cenário campesino e permitir que dois mundos opostos se tornem um só. É claro que os convencionalismos supracitados também se estendem para as técnicas imagéticas - então espere sim uma transição na paleta de cores, iniciando-se na neutralidade de cores como marrom, verde-escuro e preto, todos mergulhados em um claro desbotamento, para o alegre e o vivo das cores quentes. O problema é não saber de que modo mesurar esses eventuais clichês e abrir margem para que eles se estendam até o final do filme.
Infelizmente o ritmo volta a se perde e nos entrega a um terceiro ato desnecessário, por assim dizer. Ao invés de focar nos primeiros anos de vida de Christopher e como a própria organicidade da família mudou muito com o estrondoso sucesso dos escritos de A.A., o roteiro resolve retornar para uma versão mais atual do primeiro bloco e mostra que o garoto seguiu os mesmos passos do pai e foi “obrigado” pelo mesmo a ingressar em um academia militar e representar o país na iminência da II Guerra Mundial. Ainda que comovente, as resoluções são previsíveis e tiram o parco brilho de originalidade do longa.
É difícil não se incomodar, mesmo que um pouco, com o excesso de melodrama açucarado de Adeus Christopher Robin. Ainda que o trio de atores protagonistas esteja em uma zona de conforto aplaudível, é o cru roteiro que traz a maior parte dos problemas e que, sem saber em que direção seguir, perde-se em fórmulas do gênero que obrigatoriamente funcionam (pelas razões erradas).
Adeus Christopher Robin (Goodbye Christopher Robin, Reino Unido – 2017)
Direção: Simon Curtis
Roteiro: Frank Cottrell Boyce, Simon Vaughan
Elenco: Vicki Pepperdine, Margot Robbie, Domnhall Gleeson, Will Tilston, Alex Lawther, Stephen Campbell Moore, Richard McCabe, Geradine Sommerville, Mossie Smith, Kelly Macdonald
Gênero: Drama, Biografia
Duração: 107 min
https://www.youtube.com/watch?v=IsAlKzokl-8
Crítica | 15h17: Trem para Paris - Quando a Verdade Não Comove
Clint Eastwood é um dos nomes mais conhecidos dentro da indústria cinematográfico, e o seu tato para retratar histórias reais é inigualável. Não é nenhuma surpresa que, através de uma perspectiva mais humanizadora e até mesmo humanitária, ele conseguiu afastar-se das concepções patrióticas do gênero de guerra e de ação para fornecer uma visão única e muito envolvente - criando obras-primas como Sniper Americano e, mais recentemente, Sully - O Herói do Rio Hudson. Logo, só poderíamos esperar que sua próxima investida honrasse seus projetos anteriores, principalmente levando em consideração que a narrativa se passaria no controverso atentado ao trem nº 9364 que partia de Amsterdã e teria como destino Paris caso não fosse pela tentativa de um massacre impedido por dois soldados do exército norte-americano.
Tal premissa é digna sim de ser relembrada e adaptada, e inclusive abre margens para um escopo que converse com as obras anteriores do cineasta, optando por uma estética mais intimista - considerando, é claro, que o cenário principal seria a estação de trem e o próprio meio de transporte. Porém, após o final dos pouco mais de 90 minutos de 15h17: Trem para Paris, não podemos deixar de nos sentir insultados por uma produto tão desnecessário e insosso que não se consegue acreditar que realmente existe - e nos leva inclusive a duvidar da capacidade de Eastwood de escolher uma história digna e adaptá-la com a mesma emoção para as telonas.
O grande e maior deslize é sem sombra de dúvida não saber quais escolhas tomar para criar uma atmosfera catártica o suficiente para um público já saturado com narrativas do gênero - a começar pela escolha do elenco: tudo bem, é sempre muito bom realizar inúmeros laboratórios entre atores e as reais pessoas que protagonizaram os eventos, mas por que diabos o diretor desejaria elencar as personalidades reais em um filme que deveria ser supostamente denso e complexo? Eles não são performers, são militares; defensores da liberdade e da segurança dos cidadãos estadunidenses. Colocá-los em frente às câmeras para recriar algo que sem sombra de dúvida os deixou com sequelas é o primeiro ingrediente para um fracasso tremendo - e o que se tornaria uma homenagem logo cede a clichês tão brutos que fica difícil entender quem é quem em meio a tanto caos.
Apesar disso, não podemos tirar mérito do elenco infantil: os três protagonistas-mirins fazem um trabalho incrível e que tenta ao máximo inclinar-se ao naturalismo cênico, permitindo que as composições sejam o mais fluidas possíveis. Mais uma vez, as investidas dos atores enfrentam obstáculos por um roteiro bastante esquecível e parece incompleto, assinado por Dorothy Blyskal. As falas são autoexplicativas demais e prezam por uma encarnação melodramática e over-the-top, sem falar que grande parte das figuras coadjuvantes - como Judy Greer e Jenna Fischer - são essencialmente canastronas e em nada contribuem para a compreensão do arco dos “heróis”.
As coisas só pioram quando Eastwood resolve fornecer uma perspectiva no estilo Sully, buscando uma junção compreensível e lógica entre cronologias diferentes e que funcionam, ao menos em teoria, como ato e consequência. Mas a montagem é tão asséptica e tão irracional que chega a ser ridícula ao extremo: primeiramente, é quase óbvio esperar que uma narrativa que carregue um título como este traga como cenário principal o próprio trem. Porém, esse pequeno detalhe parece ter sido varrido para debaixo do tapete para forçar subtramas tanto na infância dos protagonistas quanto em seu tempo no treinamento militar, preferindo arquitetar sequências no estilo tour-de-force que basicamente são previsíveis do início ao fim.
Tudo isso sem falar nos pífios enquadramentos e direção de fotografia; Eastwood opta pelo excessivo uso da câmera na mão que, em uma trama intimista, entraria como uma técnica perfeita; porém, estamos mergulhados em uma trama de ação e de guerra contra o terrorismo, o qual necessariamente preza pela dosagem equilibrada de diversos tipos de plano e uma edição mais frenética para catalisar o público ao qual a obra se dirige. O resultado não poderia ser outro: duas visões imagéticas completamente opostas e que não conseguem alcançar nem metade do que prometem, criando um ambiente caótico e insuportável por todas as razões erradas.
Basicamente, 15h17: Trem para Paris é uma obra estupidamente ruim e que sem dúvida entra como uma mancha permanente na carreira de Clint Eastwood. Ele não apenas funciona como um ridículo panfletarismo republicano que louva aqueles a favor da guerra e a favor de um conflito armado, como coloca em cheque inúmeros ideais humanitários e pacifistas observados com tanta cautela em seus filmes anteriores - o que por um lado é risível e, por outro, infeliz e passível de rechaça total.
15h17: Trem para Paris (The 15:17 to Paris, EUA – 2018)
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Dorothy Blyskal, baseado no livro de Anthony Sadler, Alek Skarlatos, Spencer Stone, Jeffrey E. Stern
Elenco: Ray Corasani, Alek Skarlatos, Anthony Sadler, Spencer Stone, Jeffrey E. Stern, Judy Greer, Jenna Fischer, Irene White, William Jennings, Bryce Gheisar
Gênero: Drama Histórico, Thriller
Duração: 98 min
https://www.youtube.com/watch?v=IC_lnyn2R2Q
Crítica | Mudo - Uma Narrativa sem Vida
Nos últimos dois anos, aproximadamente, a ficção científica realizou uma crescente escalada ao topo da cadeira alimentar do cinema e caiu nas graças de um público aficionado por histórias futuristas e distópicas. Em meio a tantas novas investidas, remakes, continuações e conclusões de franquias multimilionárias, tivemos Amy Adams sendo completamente esnobada por uma performance impecável em A Chegada, Ridley Scott e Denis Villeneuve unindo-se para mergulharem ainda mais fundo no universo de Blade Runner e até mesmo a medíocre-porém-interessante finalização da série Maze Runner. Logo depois, tal gênero encontrou espaço nas telinhas, principalmente com apoio da gigante do streaming Netflix, a qual parece ter encontrado um meio confortável com o qual trabalhar e aumentar seu conteúdo original.
Ainda que Altered Carbon não tenha feito o sucesso que realmente merecia, o show recuperou inúmeras tendências da década de 1970 e 1980 para compor seu escopo imagético, incluindo inúmeras referências à estética firmada pelo “caçador de androides” e diversas obras do cinema e da literatura que desde o início do século passado são transcritas para as telonas. E talvez Mudo, novo projeto Duncan Jones, pudesse sim ultrapassar todas as expectativas por sua premissa original dentro de um panteão que tem a tendência de ceder às saídas formulaicas - mas o resultado é um completo desastre sem sentido que se torna uma versão crua e não finalizada da série supracitada.
Se analisarmos a filmografia do diretor, não podemos deixar de ficar com um pé atrás acerca de suas obras. Apesar de ter ganhado bastante sucesso com seu drama sci-fi Lunar e ter feito um barulho considerável tanto com a crítica quanto com o público acerca do thriller Contra o Tempo, Jones também tornou-se responsável por uma das adaptações mais pífias de videogames, Warcraft, a qual inclusive perca para o esquecível Assassins’ Creed. Logo, não é nenhuma surpresa que o anúncio de seu nome tenha causado recepções mistas - entretanto, não podemos dizer que o cineasta não tenha a melhor das intenções ao criar algo novo e que consegue misturar o passado e o presente, ainda que em detrimento de qualquer coisa palpavelmente aceitável.
Por ora, deixemos a narrativa de lado e analisemos a estrutura imagética. A trama principal se passa na década de 2050 em uma Berlim futurista, tomada pelo classicismo distópico das luzes neon, dos carros voadores, dos excessivos hologramas e todos os aspectos que nos colocam automaticamente dentro de uma ambiência científica. Seguindo o padrão de grande parte desse gênero, a estética também finca-se ao neo-noir, cuja fotografia preza pelo jogo de luzes e sombras para tentar garantir uma complexidade acerca dos protagonistas. A partir dessas informações, já é possível imaginar um escopo que conversa com qualquer filme dessa vertente criativa em questão, incluindo os cenários escuros, a constante presença da chuva e pequenos blocos cósmicos que funcionam dentro de si mesmos e contribuem também para fornecer uma identidade decadente a uma cidade em ruínas.
A história gira em torno de Leo (Alexander Skarsgard), um jovem bartender amish que sofreu um grave acidente quando criança que cortou suas cordas vocais. Por causa das crenças religiosas e tradicionalistas de sua família, o garoto não pôde passar pela cirurgia reconstrutiva e foi “entregue às mãos de Deus” para recuperar uma habilidade que eventualmente nunca seria alcançada, transformando-o em um pária para uma sociedade ainda conservadora e reacionária. Entretanto, ele aprendeu a conviver com sua deficiência e encontrou o amor de sua vida nas feições de Naadirah (Seyneb Saleh), garçonete alemã que trabalha no mesmo clube que ele. É inegável dizer que tais personagens trazem uma certa química para a cena, mas esses esparsos momentos de brilho logo são extintos quando a moça desaparece sem deixar quaisquer rastros e não dá mais as caras dentro do longa-metragem.
Em um arco paralelo, somos apresentados à infame dupla formada pelo golpista Cactus Bill (Paul Rudd) e pelo desequilibrado cirurgião-pediatra Duck (Justin Theroux), que basicamente não fazem nada. Aliás, é difícil encontrar algum motivo que os torne necessários para a história além de servirem como um caricato escape cômico e terem seus arcos finalizados da forma mais ridícula possível. Nem mesmo suas personalidades irreverentes conseguem criar qualquer relação com o público e desviam a atenção do que deveria funcionar como uma jogo de perseguição e de mistério. Tudo bem, com a chegada do terceiro ato, entendemos que essa dupla e Naadirah estão conectados por um segredo guardado há muito tempo, mas Jones não consegue orquestrar uma atmosfera digna e envolvente o suficiente para nos preparar a uma virada aplaudível.
Os acontecimentos movem-se em um ritmo tão irritantemente seco e mórbido que fica difícil não pescar durante vários momentos. O grande problema seria se eventos importante ocorressem nesse meio-tempo, mas os personagens se mostram tão perdidos quanto a audiência e percorrem um ciclo interminável que começa em lugar nenhum e chega a nenhum lugar. E as performances também não ajudam muito a deixar tais equívocos menos dolorosos: ainda que Skarsgard tenha acabado de se entregar a um de seus melhores papéis com Big Little Lies, ele não repete o feito aqui; por não poder se expressar através de palavras, Leo mantém todas as suas emoções no rosto e, infelizmente, cai na supersaturação cênica e em uma interpretação exagerada e over-the-top.
Talvez uma das criações mais interessantes emerja na figura de Luba (Robert Sheehan), garçom travesti dotado de uma grande e ácida personalidade que seria de incrível exploração caso não estivesse respaldada por um roteiro burro e clichê. Nem mesmo a mudança da estética fotográfica contribui para deixá-lo mais interessante, visto que mostra-se asséptica e redundante, optando pela utilização da luz dura para reafirmar uma possível ambiguidade moral dos protagonistas que nunca encontra a luz do dia.
Mudo é mais um grande erro desse grande serviço de streaming. Tal filme é tão insosso, vazio e sem identidade que a perspectiva acerca do gênero sci-fi para a plataforma poderia ser engavetado - principalmente se levarmos em consideração o completo desastre de The Cloverfield Paradox, uma das obras mais presunçosas do ano. Tempos difíceis são esses para a Netflix, e é bom que seus supervisores retornem aos trilhos o mais rápido possível.
Mudo (Mute, EUA, Alemanha – 2018)
Direção: Duncan Jones
Roteiro: Michael Robert Jones, Duncan Jones
Elenco: Alexander Skarsgard, Paul Rudd, Justin Theroux, Seyneb Saleh, Robert Sheehan, Daniel Fathers, Nikki Lamborn, Noel Clarke, Gilbert Owuor
Gênero: Sci-fi, Thriller
Duração: 126 min
https://www.youtube.com/watch?v=ma8te7ywEio
Especial | Animações Disney
Walt Disney Studios é um dos, senão o maior império de animações da História da indústria cinematográfica. Além de conseguir com maestria traduzir narrativas atemporais para as telonas através de incríveis e memoráveis musicais, seu criador sempre se valeu das técnicas mais modernas e revolucionárias para aproximar seus filmes da maior parte dos espectadores possível.
E é celebrando esse sucesso secular que resolvemos fazer um especial sobre as animações que marcaram época, incluindo desde o moralista Branca de Neve até o incrível Moana - Um Mar de Aventuras. Confira abaixo:
BRANCA DE NEVE E OS SETE ANÕES (1937)
Publicado originalmente em 23 de fevereiro de 2018.
PINÓQUIO (1940)
Publicado originalmente em 24 de fevereiro de 2018.
FANTASIA (1940)
Publicado originalmente em 26 de fevereiro de 2018.
DUMBO (1941)
Publicado originalmente em 06 de março de 2018.
BAMBI (1942)
Publicado originalmente em 06 de março de 2018.
ALÔ, AMIGOS (1942)
Publicado originalmente em 07 de março de 2018.
VOCÊ JÁ FOI À BAHIA? (1944)
Publicado originalmente em 14 de março de 2018.
CINDERELA (1950)
Publicado originalmente em 20 de março de 2018.
ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS (1951)
Publicado originalmente em 22 de março de 2018.
PETER PAN (1953)
Publicado originalmente em 29 de março de 2018.
A DAMA E O VAGABUNDO (1955)
Publicado originalmente em 16 de abril de 2018.
A BELA ADORMECIDA (1959)
Publicado originalmente em 17 de abril de 2018.
101 DÁLMATAS (1961)
Publicado originalmente em 21 de abril de 2018.
A ESPADA ERA A LEI (1963)
Publicado originalmente em 05 de maio de 2017.
MOGLI - O MENINO LOBO (1967)
Publicado originalmente em 11 de setembro de 2016.
Crítica | O Mundo de Jack e Rose - Entre o Céu e o Inferno
A iminência de um perigo inusitado é sempre algo que nos deixa à beira de um ataque de nervos e que aguça todos os nossos sentidos para um possível e mortal embate. Afinal, é algo inerente ao ser humano querer proteger aquilo que possui, seja uma pessoa ou um bem material - e é de forma poética e ao mesmo documental que Rebecca Miller explora essas subjetivas questões em um de seus poucos projetos como diretora, O Mundo de Jack e Rose - estrelando ninguém menos que seu cônjuge Daniel Day-Lewis.
Já com a abertura do filme, o que podemos entender como um breve prólogo que dá nome às cartas do jogo e preparar o bucólico terreno que será explorado muito em breve pelo público. Day-Lewis encarna Jack Slavin na trama, um fazendeiro escocês que resolveu se afastar de sua vida urbana e morar numa ambiência campesina outrora habitada por uma comunidade hippie, mantendo um estilo de vida extremamente humilde e tentando impedir as constantes investidas capitalistas de empresários que desejam abrir novas filiais corporativas. Ao mesmo tempo em que emerge como uma figura utópica contra um sistema opressor e individualista, Jack também deve manter a calma e a paciência no tocante à construção de laços afetivos com a filha adolescente Rose (Camilla Belle).
Não espere encontrar uma narrativa tour-de-force nesse escopo arcádico, mas sim um inesperado coming-of-age que alastra todas as suas vertentes para temas como amadurecimento, descoberta da sexualidade, choque de identidade e outros. Rose sempre foi respaldada pelo pai e, mesmo que não tenha tido contato com outras pessoas - o que de certa forma a transforma em uma figura única e que não necessariamente conhece as “regras” de convivência moral e social -, conseguiu superar essa superproteção e tornar-se uma das responsáveis tanto pelo seu guardião quanto pela vida que eventualmente constrói.
Mesmo assim, tudo se desenvolve de uma maneira muito estranha, por assim dizer; o afastamento do convencionalismo dos romances românticos encontra um espaço dramático cheio de pequenos ápices a serem explorados e, ainda que deixem a desejar no primeiro ato, encontram uma base mais sólida na qual se apoiarem conforme a narrativa se desenrola. Essa perspectiva carregada de subjetividade pode ser entendida de duas maneiras - e tanto uma quanto outra procura chegar ao mesmo objetivo: a primeira restringe-se a uma patológica relação quase incestuosa entre pai e filha que é reafirmada pela composição cênica, incluindo a constante aproximação da montagem do rosto dos personagens e dos bruscos cortes que indicam um enlace físico. Em diversos momentos, ambas as figuras olham apaixonadamente um para o outro, mas não temos certeza se os semblantes se mantém em um nível de carinho e amor familiar ou se há algo a mais ali; a segunda é a mais moralmente aceita, ou seja, levando em consideração o fato de que os dois não têm mais ninguém com quem contar.
O ato inicial da trama também é adornado com uma identidade que destoa propositalmente do restante do filme. Jack e Rose possuem o seu paraíso particular e desenvolvem suas condições como seres humanos apenas convivendo um com o outro; logo, Miller, que também fica responsável pelo roteiro e pela construção de diálogos ambíguos e metafóricos que funcionam na maior parte, opta por um filtro laranja-pastel, quase beirando as ramificações do damasco e do pêssego, para endossar essa relação. A paleta de cores viva e vibrante por vezes encontra um desbotamento, dialogando com uma atmosfera que preza pela conversa e pela interação entre os personagens e que encontra certos obstáculos, principalmente a diferença de idade.
As coisas ficam ainda mais complicadas quando Jack percebe que uma presença feminina na casa faz uma grande falta para o conturbado duo - e é aí que nos é revelado que a manutenção de sua filha num estado de isolamento não é seguido pelo patriarca. Ele tem uma namorada, Kathleen (Catherine Keener), com a qual vem saindo há algum tempo e decide chamar para morar consigo, ainda que tenha que trazer seus dois filhos adolescentes. Ela fica relutante, visto que a vida agitada que tinha passaria por uma brusca mudança para os ares rurais, mas acaba aceitando pelo carinho que nutre por seu par romântico. Ainda não sabemos exatamente quais são suas reais intenções; entretanto, ao que tudo indica, essa decisão de “aumentar a família” é apenas uma forma de permitir contato com outras pessoas.
Rose não aceita que os intrusos permaneçam em sua casa e confronta o pai por causa de sua decisão sem consultá-la. É claro que, conforme os atos se seguem, a garota começa a nutrir sentimentos diferentes e contraditórios por cada uma das novas figuras, incluindo um inocente ciúme por parte de Kathleen, um carinho por Rodney (Ryan McDonald) e certa repulsa pelo rebelde Thaddius (Paul Dano). Ao mesmo tempo em que tenta conhecê-los mais a fundo, seus hormônios começam a despontar e atingem um estado de plenitude inebriante quando flagra seu pai e sua “madrasta” no quarto; tal acontecimento coloca em sua cabeça um desejo por perder a virgindade, cujas consequências não são drásticas per se, mas trazem inúmeros temas considerados tabus para as telas, incluindo uma investida em direção a Rodney - que rechaça a sensualidade da garota - e péssima decisões para que finalmente possa saborear um pouco da vida que nunca achou que conheceria.
Miller habilmente utiliza de sua pouca experiência para nos envolver em uma morbidez poética e chocante, por falta de outro adjetivo. Entretanto, não estou certo de que suas técnicas combinem com a narrativa: seguindo os passos de filmes conterrâneos, incluindo a linguagem subversiva de Dogville, a cineasta restringe-se a utilizar a câmera na mão e a uma identidade imagética granulada que mantém níveis dialógicos com a filmagem documental. Por vezes, nos perdemos dentro do cosmos que tenta criar, seja pelo escopo alaranjado, seja por uma irreverente falta de estética. Além dos enquadramentos tortuosos e distorcidos e dos cortes bruscos, a montagem afasta-se de uma continuidade linear e realiza vários saltos temporais notáveis que quebram o ritmo da trama e nos fazem despertar para vida real mais de uma vez.
Através de uma história competente e ofuscada por erros de direção que incomodam mais que ajudam, O Mundo de Jack e Rose é uma análise psicológica e antropológica da personalidade do ser humano e do discernimento entre conceitos certos e errados. Perscrutado com inúmeras referências a obras épicas - incluindo a clara asserção a Paraíso Perdido, de John Milton, Rebecca Miller consegue satisfazer seu público, ainda que não completamente.
O Mundo de Jack e Rose (The Ballad of Jack and Rose, EUA – 2005)
Direção: Rebecca Miller
Roteiro: Rebecca Miller
Elenco: Daniel Day-Lewis, Camilla Belle, Catherine Keener, Ryan McDonald, Paul Dano, Jason Lee, Jena Malone, Beau Bridges, Susanna Thompson
Gênero: Drama
Duração: 112 min.
https://www.youtube.com/watch?v=rYF2qI9FlqY
Crítica | Alice no País das Maravilhas (2010) - Lewis Carroll Desonrado
Lewis Carroll é responsável por nos apresentar a uma das mais clássicas e grandiosas obras da literatura, cujas vertentes psicanalíticas inspiram diversos artistas contemporâneos. Sem sombra de dúvida, Alice no País das Maravilhas vai muito mais além que uma jornada épica de uma garotinha através de um mundo subterrâneo governado pela tirana Rainha de Copas, configurando-se como um mergulho em questões como autodescobrimento, amadurecimento e loucura, visto que cada um dos personagens criados pelo autor representa um arquétipo e uma força-motriz de sua compulsória personalidade.
Como se não bastasse, o nome de Carroll foi endossado não apenas por sua transgressão narrativa, a qual também se relaciona em grande parte com o surrealismo literário, mas pelo legado e pela contribuição ao imaginário popular. Não é à toa que suas ideias tenham se transformado em uma incrível adaptação cinematográfica pelos estúdios Disney, obtendo um êxito inenarrável e criando um escopo imagético psicodélico que conversasse com as hábeis palavras do romancista, traduzindo-as perfeitamente para as telonas. E como parte de uma nova investida mais modernizada, a mesma companhia resolveu realizar mais uma releitura, dessa vez com o objetivo de fornecer uma perspectiva inusitada que trouxesse uma versão adulta da personagem-título. Entretanto, apesar das boas intenções, o longa-metragem sequer passa raspando em uma homenagem consideravelmente boa, explorando o inexplorável e criando respostas que nunca deveriam existir em primeiro lugar.
Tim Burton retorna para mais um projeto que tinha tudo para combinar com sua estética bizarra e mórbida, talvez até mesmo colocando camadas nunca antes vistas em adaptações anteriores. E, bom, se há algo que normalmente vem acompanhado do nome do diretor é o uso constante de efeitos especiais - e devo dizer que, apesar de afastar da própria concepção profusamente colorida estilizado por Carroll, ele ainda consegue trabalhar com exímio cuidado, principalmente no tocante à presença de cenários tortuosos, ondulados e assimétricos. Além disso, é notável a utilização da névoa, um elemento semântico de obras do gênero, as quais prezam pelo misticismo e pela gradativa compreensão do sobrenatural e do impossível. Burton também aproveita para fazer um jogo de luz e sombra que entra em constante debate com a paleta de cores, visto que o cenário manchado com tons pesados ou alaranjados, representando os intermináveis conflitos daquele território, se contradiz aos elementos mais saturados.
Apesar da preocupação imagética, o diretor se esquece de um dos pontos principais de uma investida fílmica que permite a conexão entre obra e público: a história. Em colaboração com Linda Woolverton, cuja filmografia inclui o atemporal O Rei Leão, ambos resolvem aproveitar do material não apenas de um romance, mas também da continuação direta intitulada Alice Através do Espelho, talvez como forma de juntar ambas as ideias - que originalmente são opostas entre si e não dialogam a não ser pelo absurdo cênico - em algo que se pareça com uma ficção fantástica e uma aventura sobrenatural, mas que fica oscilando sem uma identidade própria em meio ao universo cinematográfico. Essa amálgama desenfreada de personagens e estilos é um equívoco por não permitir a existência das tão necessárias brechas, nem para a audiência, nem para a narrativa em si.
Alice Kingsleigh (Mia Wasikowska) agora é uma jovem moça de dezenove anos que lida com o fato de sua mãe tentar lhe arranjar um marido e colocá-la nos mesmos trilhos tradicionalistas de sua irmã mais velha. Ela não se recorda de sua viagem quando criança para o místico mundo de Maravilha, associando o frenesi de fragmentos com pesadelos - mas isso não importa realmente; apesar de sua irreverência, ela é trazida obrigatoriamente para a bruta realidade que a aguarda, engessada nas horríveis figuras de Lady Ascot (Geraldine James) e seu filho, Lorde Hamish (Leo Bill). Aqui já vemos algo que não condiz com o que deveria acontecer: Alice é uma adulta e deveria se portar como tal, ainda que não aceite o conservadorismo da sociedade em que vive. Entretanto, sua caracterização infantiloide tira qualquer credibilidade que nós possa passar como alguém moldado por forças externas, e a tentativa de deixá-la imutável em relação ao seu mais jovem torna-se ridícula.
Assim como a animação original, a protagonista se encontra com o Coelho Branco (Michael Sheen), o qual a guia até o famoso buraco que funciona como entrada para o mágico mundo de Maravilha. Entretanto, ela já esteve lá e, diferente de quando criança, encara tudo aquilo como um sonho do qual não consegue acordar. Ela não se recorda de absolutamente nenhuma das aventuras e causa dúvidas quanto à veracidade de quem realmente é para inúmeros personagens, incluindo a lagarta hedonista Absolem (Alan Rickman) e até mesmo o otimista Chapeleiro Maluco (Johnny Depp). Sabemos que Alice retornou para um propósito, o qual nos é revelado no começo da trama: o governo totalitarista da horrenda e cabeçuda Rainha Vermelha (Helena Bonham Carter), que usurpou o trono de sua irmã, a Rainha Branca (Anne Hathaway).
É aqui que as divergências começam a aparecer: apesar do título se referir à obra mais famosa de Carroll, as duas Rainhas não pertencem a esse universo. Ambas vivem, ou ao menos viviam, na realidade atrás do espelho, cujo principal tema estético inclinava-se à dualidade preto-no-branco do xadrez, enquanto Maravilha expande sua mitologia para o mesmo funcionamento de um deck de cartas de baralho. A narrativa segue um padrão, ainda que sem ritmo, até o final do primeiro ato, onde encontra inúmeras barreiras que simplesmente não deveriam existir: Woolverton procura, como supracitado, encontrar soluções que simplesmente não podem ser achadas para os personagens, visto que nem mesmo o autor se preocupou em procurar algo palpável e tangível para suas construções.
De qualquer modo, as atuações também não contribuem. Todos ali abandonam seu naturalismo cênico para se render a diversos estereótipos - e se Depp se assemelha a uma versão mais esquizofrênica e insana da cantora Madonna, Wasikowska não traz absolutamente um pingo de expressividade para o personagem que encarna. Nem mesmo suas falas fazem sentido, visto que ela parece ter controle total de tudo e saber exatamente o que fazer até quando não tem a mínima ideia do que está acontecendo.
Alice no País das Maravilhas não funciona. Não faz sentido, e não do modo como Carroll queria que nos sentíssemos, mas sim como algo esquisito e sem qualquer ponto satisfatório palpável. Na verdade, o longa tem grande êxito naquilo que não buscava: reafirmar o desnecessário crescimento de remakes para a indústria cinematográfica.
Alice no País das Maravilhas (Alice in Wonderland, EUA – 2010)
Direção: Tim Burton
Roteiro: Linda Woolverton, baseado nas obras de Lewis Carroll
Elenco: Mia Wasikowska, Johnny Depp, Helena Bonham Carter, Alan Rickman, Anne Hathaway, Crispin Glover, Matt Lucas, Michael Sheen, Stephen Fry, Barbara Windsor
Gênero: Aventura, Fantasia
Duração: 108 min
https://www.youtube.com/watch?v=sjfhzLfuyaI
Crítica | Cinquenta Tons de Liberdade - Preto no Branco
É incrível como uma fanfic criada a partir da saga Crepúsculo alcançou a magnitude que hoje carrega. A trilogia Cinquenta Tons de Cinza, assinada originalmente por E.L. James, talvez não encante exatamente os olhos daqueles apaixonados por uma história de amor mais clássica, mas sem dúvida teve a capacidade de chocar o mundo com sua escrita sensual e que prezava pelos inúmeros fetiches que as pessoas têm consigo e que preferem esconder dos olhos mais conservadores da sociedade. De forma analítica, essa não é uma literatura realmente boa, e as coisas pioram um pouco mais quando resolve-se colocá-la das telonas - afinal, uma coisa é certa: se o material original não é bom, por assim dizer, é bem difícil que sua releitura audiovisual tenha alguma centelha de esperança.
Depois de dois longas-metragens e muitas complicações, finalmente somos apresentados à nem tão aguardada conclusão da franquia. Em Cinquenta Tons de Liberdade, Anastasia (Dakota Johnson) e Christian (Jamie Dornan), depois de enfrentarem as barreiras do preconceito e se apaixonarem perdidamente enquanto perseguidos por perigosos e sedutores fantasmas do passado. Logo, não é nenhuma surpresa que o casal procure por uma paz que nunca realmente lhes foi concedida usando e abusando de todos os fatores que os tornam perfeitos um para o outro - incluindo a lascívia e a clara inclinação para a volúpia. Mais uma vez, o paraíso é ameaçado por uma força externa e perigosa, no caso com o retorno do ex-chefe de Ana, Jack Hyde (Eric Johnson) e suas tentativas de recuperar sua vida e sua reputação de volta.
O principal problema da narrativa é justamente não utilizar a premissa que tem como base: sabemos que este tipo de vertente criativa preza muito pelo explícito - afinal, trata-se de um romance erótico com cenas que prezam por uma atmosfera essencialmente sexy e que não abre margens para o desenvolvimento de outras subtramas. Também é previsível que, seguindo o padrão das iterações anteriores, essas sequências entre o casal ocorram dentro do Quarto Vermelho, um microcosmos à parte do mundo real que é adornado por fortes e vibrantes tons quentes mesclados com a neutralidade do preto e do marrom, no qual podem usufruir de suas fantasias mais obscenas e perigosas.
Mas e quanto ao restante da trama de Cinquenta Tons de Liberdade? Focar apenas nos momentos íntimos do casal Grey não é uma opção: faz-se necessário buscar alguma complexidade para esses personagens, cujo sucesso nunca é alcançado pelo fato de não se saber em que direção seguir. O primeiro longa pende mais para uma comédia não proposital; o segundo finca-se nas raízes das novelas mexicanas, com momentos tão risíveis quanto extremamente melodramáticos; e esse novo funciona como uma mixórdia desequilibrada de diálogos mal construídos, cenas de ação picotadas e um desfecho doloroso e ruim.
Niall Leonard retorna mais uma vez como roteirista e mantém-se em um beco sem saída com tantos personagens secundários que surgem e desaparecem sem realmente causa impacto. Uma delas emerge no rosto de Gia Matteo (Arielle Kebbel), arquiteta responsável por transformar um antiquado casarão no novo lar onírico do recém-casado duo: desde sua primeira aparição, sabemos que ela tem uma queda por Christian e isso chama a atenção de Ana, a qual responde-lhe com a mesma moeda em um dos momentos mais envolventes do filme - e já digo que esses são bem escassos e quase imperceptíveis. Apesar de ser mencionada mais algumas vezes, ela simplesmente é varrida para debaixo do tapete quando poderia ser introduzida em outra trama secundária, talvez como escape cômico ou obstáculo dramático para o amadurecimento dos Grey em sua configuração marital.
Mas analisar cada um desses aspectos é pedir muito para um longa que não se preocupa com detalhes ou com profundidade. Como supracitado, Hyde volta em um arco de vingança que na verdade é extremamente engraçado por ser bizarro: primeiro, ele os persegue em um SUV azul-escura através das estradas e das ruas de Seattle, cuja tensão tenta ser reafirmada por uma montagem picotada e frenética e que, eventualmente, não causa nada além de desconforto sensorial - cada maldito frame completa o um segundo de duração com muita dificuldade. Segundo, ele invade de algum jeito o apartamento de Anastasia e Christian, conseguindo o que quer por alguns segundos antes de ser ridiculamente atacado por uma das guarda-costas da protagonista, cena que dá margem para uma das maiores piadas do filme que envolve um diálogo sobre cordas.
De qualquer modo, Hyde não tem um pingo de motivação real, valendo-se de aspectos definitivamente não condizentes com a atmosfera que é construída e que se valem de conclusões no estilo deus ex machina - utilizando-se de uma backstory de Christian que remonta ao tempo em que ambos estavam no mesmo orfanato e que “não foi justo ele ter sido escolhido em meu lugar”. Basicamente uma supérflua subtrama de méritos, vantagens e injustiças que nunca vê de forma sólida a luz do dia, mantendo-se em uma coberta de boas ideias desperdiçadas ou descartadas em prol de algo mais simplório.
Não podemos tirar a ambição do longa em expandir suas possibilidades para todos os âmbitos. Com a chegada do terceiro ato, Leonard se recorda de que os antagonistas da trama devem ter o seu breve momento de glória, arquitetando às pressas uma cena de sequestro, perseguição e ação que nos deixa num estado de letargia e confusão plenos. Não há necessidade para tudo aquilo, e Foley não se permite nem ao menos brincar com alguns movimentos e enquadramentos de câmera para resgatar o mínimo possível de obras do gênero: ele restringe-se ao monótono jogo do campo-contracampo, mostrando cada uma das reações e respostas dos personagens seguindo o tempo dos diálogos.
Cinquenta Tons de Liberdade é algo esperado. Não ousa, não compromete a “integridade” da franquia multimilionária e felizmente põe um ponto final em uma saga com uma carga de envolvimento e dramaticidade tão forte quanto os livros originais - ou seja, inexistente.
Cinquenta Tons de Liberdade (Fifty Shades Freed, EUA – 2018)
Direção: James Foley
Roteiro: Niall Leonard, baseado nos romances de E.L. James
Elenco: Dakota Johnson, Jamie Dornan, Eric Johnson, Eloise Mumford, Rita Ora, Luke Grimes, Victor Rasuk, Max Martini, Jennifer Ehle, Arielle Kebbel
Gênero: Drama, Romance Erótico
Duração: 105 min
Crítica | Marte Ataca! - Quando nem o trash funciona direito
Marte Ataca! tinha tudo para ser uma divertida aventura espacial dirigida por um dos nomes mais promissores da indústria do cinema no final da década de 1990, Tim Burton. Com sua clássica premissa dos encontros físicos entre os humanos e as inúmeras raças extraterrestres que estão espalhadas pelo universo, tal ambiente não poderia ser mais favorável para que o diretor usasse a abusasse de todas as suas habilidades com a câmera, bem como aproveitar sua afinidade a estéticas mirabolantes e distorcidas para reafirmar sua originalidade cênica. Entretanto, não é isso o que acontece - é justamente o contrário: apesar de um começo interessante, o longa-metragem eventualmente se torna um interminável ciclo vicioso e monótono que se desenrola sem qualquer nexo ou profundidade aparentes.
Há uma clara diferença entre filmes trash e despretensiosos e aqueles que nem isso conseguem se tornar. Como visto em sua obra anterior, Ed Wood, até mesmo aquelas mentes que se enxergavam como catalisadores de mudanças criativas acabaram por cair nas graças populares e suas obras insurgiram como marcos de uma vertente marcada sim pelo ridículo e pelo caricato, incluindo atuações bizarras e efeitos especiais de baixíssimo orçamento, mas que funcionavam dentro de suas limitações. Marte Ataca! nem mesmo chega perto de ser isso - o que se torna uma dolorosa infelicidade, considerando que o cineasta trilhava um caminho aplaudível em relação à sua filmografia.
A história, como supracitado, gira em torno da invasão da Terra pelos marcianos. O primeiro ato é desenvolvido com uma fluidez e uma comicidade muito agradáveis e que já fornecem certa base para aquilo que pode ser esperado pelo público: somos apresentados a diversos núcleos narrativos que, a priori, não possuem nenhuma relação. Jack Nicholson encarna James Dale, Presidente dos Estados Unidos que, de uma forma quase egocêntrica, aproveita a descoberta de vida fora da Terra para mostrar sua acessibilidade e seu charme - ele inclusive fala que irá colocar seu melhor terno azul-escuro para fazer uma transmissão oficial, auxiliado pelo Professor Donald Kessler (Pierce Brosnan). Os dois mantêm uma relação da amizade propositalmente canastrona, principalmente pelos trejeitos floreados que se mantém pela maior parte do filme e servem como aceitação consciente dos estereótipos desse gênero.
Em contraposição a essa “grandiloquência”, temos a presença também da família do Presidente, encarnada por Natalie Portman e Glenn Close; uma dupla de apresentadores de TV que entram apenas como fachada embelezadora e não têm muita noção de como conduzir uma entrevista ou uma matéria jornalística (Michael J. Fox e Sarah Jessica Parker); uma família interiorana cujo filho mais velho (Jack Black) foi convocado pelo exército para auxiliá-los na recepção dos alienígenas; e diversas aparições secundárias como Martin Short, Danny DeVitto e Tom Jones em cenas que, a priori, entrariam como uma tentativa de quebra de expectativa para as supostas sequências de ação e de drama.
Como podemos prever, o encontro entre duas raças tão diferentes ocorre bem pelos primeiros segundos, até que uma invasão em massa ocorre como forma de exterminar a comunidade inferior. Também é muito previsível a ideia de que os marcianos tem uma tecnologia mais avançada e, por isso, não conversariam com os conceitos primitivos da barbárie, mas essa concepção é quebrada por um massacre que não diferencia aqueles que se rendem e aqueles que se rebelam. E aproveitando que estamos falando sobre os clichês de gênero, as fórmulas se expandem até mesmo para a breve trégua do exército extraterrestre, momento no qual o Imperador inimigo realiza certos experimentos com o corpo humano.
Desde o início da trama, percebe-se que esse não é um longa para ser levado a sério - e tal negação ao preciosismo e à presença sempre é algo a se considerar antes de apreciar um filme. O problema é que a narrativa não sabe em nenhum momento em qual direção seguir. Ainda que Nicholson, Parker e Brosnan tenham seus momentos de glória, os núcleos menores são completamente descartados para a inserção de sequências reaproveitadas de explosões e caos total como forma de reafirmar a potência da investida marciana - e isso ocorre o tempo todo, em uma montagem sem estética definida ou base estrutural. Nem mesmo as cenas protagonizadas pelas criaturinhas verdes são interessantes: o roteiro assinado por Jonathan Gems não sabe aproveitas as brechas oferecidas pelo escopo narrativo, preferindo pontuar alguns momentos em detrimento de beats mais completos e fechados em si mesmos.
Além de tudo isso, a obra é saturada de personagens desinteressantes e lineares e que não fazem a mínima diferença para a trama - e encarar isso é um infortúnio, visto que o elenco está recheado de nomes muito conhecidos, mas apagados pelo fato de Burton se render totalmente ao bizarro. Diferentemente de suas iterações predecessoras, o feio não é carregado com um poética desconstrução metafórica, mas sim apenas como um elemento maniqueísta quando comparado a outras figuras semelhantes. E como se não bastasse, Gems utiliza-se de resoluções ocasionais para conseguir chegar a uma possibilidade de finalização, e nem mesmo o real desfecho faz o menor sentido.
Marte Ataca! deveria ter se tornado uma homenagem às comédias pastelões e ao gênero trash que iniciou sua disseminação em meados da década de 1950. Mas de que modo ele poderia alcançar o seu patamar se o uso dos elementos clássicos desse gênero, incluindo as punchlines, não existem? O que realmente parece é que Burton mergulhou tão profundamente na estética de Ed Wood que não conseguiu sair de lá - e aproveitou seu cárcere criativo para fazer algo simplesmente intragável.
Marte Ataca! (Mars Attacks – EUA, 1996)
Direção: Tim Burton
Roteiro: Jonathan Gems
Elenco: Jack Nicholson, Glenn Close, Annette Bening, Pierce Brosnan, Danny DeVito, Martin Short, Sarah Jessica Parker, Michael J. Fox, Natalie Portman, Tom Jones
Gênero: Ficção Científica, Comédia
Duração: 106 min.
https://www.youtube.com/watch?v=VYHeZCEFwhI
Especial | Tim Burton
Tim Burton é, sem dúvida, um dos nomes mais conhecidos da indústria cinematográfica contemporânea. Através de uma estética distorcida e única que remonta ao classicismo do expressionismo alemão, suas obras podem nem sempre acertar em cheio o gosto do público e da crítica, mas sem dúvida são carregadas de uma identidade própria - e não podemos negar que alguns de seus filmes se tornaram inegavelmente icônicos.
Para tanto, resolvemos realizar um singelo especial reunindo seus longas-metragens. Porém, contamos apenas com aqueles nos quais trabalhou como diretor - logo, não espere ver O Estranho Mundo de Jack nessa compilação.
Confira nossas críticas abaixo:
OS FANTASMAS SE DIVERTEM (1988)
Publicado originalmente em 03 de fevereiro de 2018.
BATMAN (1989)
Publicado originalmente em 08 de novembro de 2017
EDWARD MÃOS DE TESOURA (1990)
Publicado originalmente em 05 de fevereiro de 2018.
BATMAN: O RETORNO (1992)
Publicado originalmente em 09 de novembro de 2017.
ED WOOD (1994)
Publicado originalmente em 05 de fevereiro de 2018.
MARTE ATACA! (1996)
Publicado originalmente em 06 de fevereiro de 2018.
A LENDA DO CAVALEIRO SEM CABEÇA (1999)
Publicado originalmente em 06 de fevereiro de 2018.
O PLANETA DOS MACACOS (2001)
Publicado originalmente em 05 de agosto de 2017.
PEIXE GRANDE E SUAS HISTÓRIAS MARAVILHOSAS (2003)
Publicado originalmente em 08 de fevereiro de 2018.
A FANTÁSTICA FÁBRICA DE CHOCOLATE (2005)
Publicado originalmente em 08 de fevereiro de 2018.
A NOIVA CADÁVER (2005)
Publicado originalmente em 08 de fevereiro de 2018.
SWEENEY TODD: O BARBEIRO DEMONÍACO DA RUA FLEET (2007)
Publicado originalmente em 12 de fevereiro de 2018.
ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS (2010)
Publicado originalmente em 13 de fevereiro de 2018.
SOMBRAS DA NOITE (2012)
Publicado originalmente em 10 de julho de 2016.
FRANKENWEENIE (2012)
Publicado originalmente em 15 de fevereiro de 2018.
LAR DAS CRIANÇAS PECULIARES (2016)
Publicado originalmente em 28 de setembro de 2016.