Uma questão comportamental vem surgindo nas redes sociais já há algum tempo, local em que se encontra os principais debates que ditam o dia a dia da sociedade moderna. Essa relação comportamental é algo recente e que se popularizou com a criação do Facebook, por Mark Zuckerberg, e outras redes sociais que vieram através do tempo, criadas com o intuito de gerar discussões e fomentar opiniões. A partir da disseminação dessas redes, começaram uma série de debates éticos por parte do público a respeito dessas empresas e de suas políticas empregadas, entre os debates estão a falta de privacidade do público nesses meios, o medo de se ter os dados vazados e também de se ter o conteúdo privado exposto, ou seja, as mídias vazadas de forma ilegal, como fotos e vídeos privados para que todos na internet possam ter acesso, tornando algo que era particular em algo público. É justamente sobre isso que o documentário Cyber Hell: Exposing an Internet Horror trata de maneira perturbadora, mas sob um outro ponto de vista.
Produção da Netflix, dirigida por Jin-sung Choi, apresenta uma realidade mais assustadora que a de muitos filmes de terror, e isso se deve ao fato de justamente o documentário abordar um tema atual e de uma maneira crua, mostrando os perigos das redes sociais, no caso focando no Telegram, já que seu roteiro foi desenvolvido e pensado em denunciar uma prática criminosa na Coréia do Sul e que envolve essa rede social em si.
Em Cyber Hell, é acompanhado o trabalho de um grupo de jornalistas coreanos que iniciam uma investigação de modo independente para alguns veículos jornalísticos, sem a ajuda da polícia, para tentar identificar pessoas que dentro de grupos no Telegram compartilham conteúdo pornográfico de menores de idade, ou seja, uma rede de pedofilia que estaria atuando em grupos na rede social pelo país.
Os jornalistas ao investigarem as pistas que receberam descobrem algo muito, mas muito maior. Um esquema sofisticado, que além de escravizar inúmeras garotas de todas as idades de forma sórdida, as intimidando a fazer o que lhes era mandado pelo Telegram, caso contrário esse grupo ameaçava expor fotos e vídeos íntimos delas para seus pais ou pela rede social, isso quando não faziam outras ameaças ainda piores, como expor seus endereços residenciais em grupos com milhares de pessoas no Telegram. Com isso os criminosos as mantinham “escravas” para criarem mais conteúdo sexual exclusivo para esses grupos.
Mesmo sendo um acontecimento local, algo cometido na Coréia do Sul, o documentário acaba funcionando por ter um apelo global entre os jovens e adultos de todas as idades, pela necessidade de se ter atenção nas redes sociais e de ser um aviso para que se tenha cuidado para que não fiquem à mercê de criminosos perigosos, como Baksa e GodGod, os vilões apresentados pela produção e que criaram os grupos criminosos de compartilhamento de pornografia no Telegram. Um segundo fator é que também funciona como denuncia de como o Telegram é usado para disseminar conteúdo pornográfico infantil e para espalhar mídias de diversas vítimas sem o conhecimento delas, na maioria das vezes originados de roubos ou de hackers.
Se há algo em que Cyber Hell peca é em relação ao seu roteiro de não se aprofundar em discutir um tema tão importante como são os crimes sexuais cometidos na web, algo que pode ser considerado como uma oportunidade perdida pela produção, pois ao ficar apenas no relato da abordagem das ocorrências cometidas por GodGod e por Baksa, se esquece de debater os perigos das redes sociais e seus problemas a fundo, algo que o documentário O Dilema das Redes faz muito bem, mesmo que sendo através de outro ponto de vista, e que em Cyber Hell cabia ter feito melhor o debate sobre a respeito do tema.
A história conta com detalhes de como é realizada a investigação da equipe de jornalistas, e esse é um ponto positivo para se entender os acontecimentos. Mas ao contar sobre os crimes e as salas do Telegram o diretor deixa a narrativa um pouco confuso para que ocorra seu entendimento pelo público, claro que depois entende-se tudo com muita facilidade. Mas de início fica um pouco confuso devido à falta de uma análise mais profunda e pela falta de informação, principalmente por não ter contado muito sobre os crimes.
Cyber Hell: Exposing an Internet Horror é uma boa trama investigativa e que deve chocar aos espectadores pelo seu conteúdo. A conclusão que se chega ao assistir a obra da Netflix é que o problema não está relacionado apenas às redes sociais, à internet, nem ao Telegram e que esse é um problema muito maior. Há pessoas que se utilizam dessas redes para o mal, sendo que elas não foram criadas para esse fim. Infelizmente não é o primeiro caso de crimes virtuais e infelizmente não será o último.
Cyber Hell: Exposing an Internet Horror(idem, Coreia do Sul – 2022)
Direção: Jin-sung Choi
Roteiro: Jin-sung Choi
Elenco: Chang Eun-jo, Moon Hyung-wook, Cho Ju-bin, Kim Wan, Oh Yeon-seo
Gênero: Documentário, Policial
Duração: 105 min
Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.