Já fazem 13 anos desde que James Cameron quebrou um hiato de mais de uma década para apresentar a seu novo universo fantástico com Avatar. O filme se tornou a maior bilheteria da História do Cinema, apresentando uma nova revolução de computação gráfica e efeitos 3D. Desde então, Cameron passou quase 20 anos planejando não uma, mas quatro continuações de sua saga de ficção científica.

Para Avatar: O Caminho da Água, o trunfo vem na possibilidade de Cameron poder explorar sua grande paixão: os oceanos. Já tendo encontrado alienígenas nas profundezas com O Segredo do Abismo e literalmente ter afundado um transatlântico em Titanic, o novo filme transporta a ação para a biosfera marinha de Pandora, resultando naquele que certamente é o maior e mais ambicioso  espetáculo que o diretor já ofereceu até então.

Na trama, Jake Sully (Sam Worthington) e Neytiri (Zoe Saldaña) começam uma família em Pandora, tanto com filhos biológicos quanto crianças adotadas. A paz do casal é interrompida quando os humanos da RDA retornam ao planeta, agora com intenções agressivas de tomar o território inteiro. Buscando refúgio, Jake e sua família migram para uma tribo aquática, onde precisaram mudar todos os seus costumes.

Uma reclamação comum acerca do primeiro Avatar é sua história simplificada. É um grande pastiche de obras como Dança com Lobos e até mesmo Pocahontas, mas elevados com a grande imaginação e capacidade de criar mundos de Cameron. Para O Caminho da Água, Cameron e os roteiristas Rick Jaffa e Amanda Silver mantém a simplicidade temática e narrativa, com a história dando muito mais espaço para os filhos adolescentes de Jake e Neytiri (e o casal infelizmente fica de escanteio) e a exploração de dilemas igualmente simples: amadurecimento, reconhecimento dos mais velhos, identificação e etc. Porém, o trio de roteiristas é muito eficiente em tornar todas essas personagens em figuras carismáticas e fáceis de se identificar; especialmente o esforçado Lo’ak (o simpático Britain Dalton) e a enigmática Kiri, nova personagem vivida por uma Sigourney Weaver rejuvenescida.

É um medo comum ter seus protagonistas adultos sendo substituídos por crianças e adolescentes, afinal são personagens dificílimos de serem escritos, mas o resultado é muito positivo. Toda a dinâmica familiar funciona e emociona, e ganha contornos interessantes ao integrar um garoto humano (Jack Champion) como parte do núcleo familiar, em uma inversão interessante da premissa do filme original. Curiosamente, o mesmo se aplica para o vilanesco Quaritch (Stephen Lang), que tem um retorno muito criativo e coerente com as ideias de ficção científica de Cameron, com o agora azulado coronel protagonizando um arco que espelha o de Jake Sully no primeiro filme.

Por outro lado, há também um problema de convenções e repetições narrativas. Como Jake e sua família se mudam para uma nova tribo, com as figuras de Cliff Curtis e Kate Winslet como líderes, os membros de sua família passam por mais um processo de aprendizagem, similar ao do Avatar original: o encantamento com um novo ecossistema, o processo de se conhecer e domar criaturas inéditas e a relação dos protagonistas com novos personagens. O processo pode se tornar um tanto repetitivo, especialmente pela extensa duração de 192 minutos, mas felizmente garante uma infinitude de novas e elaboradas criaturas – todas excepcionalmente desenhadas e confeccionadas por uma equipe de designers absurdamente criativa.

Com mais de uma década em desenvolvimento, naturalmente James Cameron oferece um espetáculo ainda maior do que seu antecessor. Os efeitos visuais são virtualmente perfeitos e repletos de detalhes, e Cameron avança a tecnologia de captura de performance para obter imagens e atuações embaixo da água, que garantem uma realização em 3D e High Frame Rate absolutamente maravilhosas. Cameron também retoma a parceria com o diretor de fotografia Russell Carpenter (de Titanic e True Lies) e juntos aprimoram de forma colossal a concepção fotográfica do projeto; garantindo um aprofundamento de luz, foco e elementos cinematográficos que tornam O Caminho da Água visualmente superior ao anterior em todos os sentidos.

Mestre em espetáculos e cenas de ação, Cameron leva seus brinquedos e alienígenas para a água, e o resultado é impressionante. Por mais de 1 hora de duração, o cineasta apresenta uma cena de guerra aquática fantástica, e ainda presenteia o público com uma inesperada porção dedicada ao naufrágio de um cruzador militar, onde Cameron pode literalmente trazer seus músculos de O Segredo do Abismo e Titanic para o universo de Avatar.

O único grande defeito de O Caminho da Água está em sua trilha sonora. Sem o falecido James Horner no comando da música, a produção contou com Simon Franglen, que foi assistente do compositor durante o primeiro filme. Infelizmente, Franglen se contenta em repetir e reciclar todos os temas criados por Horner no original, mas de uma forma nada inspirada, e que só reforça a repetição de elementos narrativos. Uma distração monumental.

Ainda que inferior ao primeiro filme, Avatar: O Caminho da Água segue a tradição de James Cameron para construir continuações maiores e mais ambiciosas do que seu predecessor. Mesmo que excessivamente longo e um pouco repetitivo, o núcleo familiar é emocionante e genuíno, e carregam todo o espetáculo visual de criações fantásticas e cenas de ação espetaculares. A coroa de Rei do Mundo segue intocada.

Avatar: O Caminho da Água (Avatar: The Way of Water, EUA – 2022)

Direção: James Cameron
Roteiro: James Cameron, Amanda Silver e Rick Jaffa
Elenco: Sam Worthington, Zoe Saldaña, Stephen Lang, Sigourney Weaver, Cliff Curtis, Kate Winslet, Britain Dalton, Jack Champion, Edie Falco
Gênero: Aventura
Duração: 192 min

Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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