“Um Lugar Silencioso: Dia Um” é um spin-off do original “Um Lugar Silencioso” de 2018, este dirigido pelo também ator John Krasinski. O prólogo dirigido por Michael Sarnoski (de Pig – A Vingança) mostra a chegada dos alienígenas à Terra e o caos social imediato resultante da invasão. A protagonista Samira (interpretada por uma esforçada Lupita Nyong’o) é uma paciente terminal vivendo em Nova York que testemunha a chegada das criaturas e o massacre que se segue. Ela é acompanhada pelo tímido Eric (Joseph Quinn) e um gato de estimação numa fuga em círculos pela cidade arruinada.

A pergunta que um amante de cinema pode se fazer é: a premissa iniciada no primeiro filme teria fôlego para dois mais (ou sabe-se lá quantos ainda virão)? A resposta parece evidente na metade deste enredo, quando os protagonistas vagam em cenas que forçam um lirismo entrecortado por sustos gratuitos que aparecem para nos lembrar de que, afinal, se trata apenas de mais um filme de terror, apocalipse ou algo parecido.

Além de esticar ao limite uma premissa que não parece ter material dramático para se sustentar por uma hora e meia (e você já assistiu à uma situação semelhante com melhor sorte em Cloverfield –  Monstro, por exemplo), o roteiro força a barra de maneira pueril, quando meia hora depois de a cidade ser atacada por um inimigo alienígena do qual rigorosamente nada se sabia até então, os habitantes já parecem plenamente convencidos (e mobilizados) de qual é a “regra do jogo” (ficar quietos para não atrair atenção das criaturas), o que é bastante inverossímil e só serve para conduzir a história aonde o roteirista quer.

Quando, evidentemente, seria muito mais razoável imaginar que a população levaria dias (ou ao menos umas boas horas) para entender o que estava acontecendo e aceitar a “regra de segurança” (que é a base de toda a franquia e, até por esse motivo, merecia ser mais bem trabalhada). Exigir realismo tampouco parece razoável, porque precisamos lembrar que este não é muito mais que outro filme de “monstro” e se comporta como tal.

O filme repete também o mesmo truque barato dos dois anteriores: nenhum deles é nada “silencioso”, pois tanto aqui, como nos outros, a direção lança mão de todo tipo de intervenção sonora e música constante, de modo que os sussurros são compensados por uma barulheira bem exagerada. Seria surpreendente e realmente “inovador” conseguir provocar sustos sem efeitos sonoros, por exemplo. Mas esta é uma proeza que nem Krasinski, nem Sarnoski, sequer cogitariam.

No deserto de qualidades no qual se converteu a indústria de entretenimento nos últimos anos, a ideia do primeiro filme de Krasinski soou bastante original num primeiro momento (embora sorrateira fosse uma palavra melhor). Depois, entretanto, de mais de cinco horas de correria e monstrengos fazendo careta, a impressão que se sobressai é que se trata apenas de mais uma fórmula sendo reprisada. No fim do mundo, como Hollywood tem nos ensinado há décadas, não há muito que se dizer: o jeito é correr mesmo.

Um Lugar Silencioso: Dia Um (A Quiet Place: Day One – EUA, 2024)
Direção: Michael Sarnoski
Roteiro: Michael Sarnoski, John Krasinski, Bryan Woods
Elenco: Lupita Nyong’o, Joseph Quinn, Alex Wolff, Djimon Hounsou, Thara Schoon, Thea Butler
Duração: 100 min.

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