Vítima de uma infeliz coincidência, Silvio chega às salas de cinema pouco depois da morte do apresentador lendário e dono de um conglomerado de mídia. Amado por muitos e criticado por outros tantos, Silvio Santos talvez merecesse uma cinebiografia (que na verdade não é exatamente isso) à altura de sua popularidade.

Na trama, acompanhamos um curto intervalo de tempo entre a aparente resolução do sequestro da filha do apresentador, a fuga do chefe dos sequestradores e uma nova tentativa de sequestro – desta vez, na mansão do próprio Silvio, que acaba cercada por policiais, imprensa e autoridades. Esse período é entremeado não só por flash-backs da vida do comunicador, como também por delírios da mente do criminoso.

Temos na tela, então, duas comedias de equívocos. A primeira tem fonte na realidade: chega a ser inacreditável como o criminoso foge e depois consegue invadir a casa de um milionário que acabara de ter a filha sequestrada, mas que não pensa em momento nenhum em colocar um segurança que seja em sua porta. Bem, esperem: este é o Brasil e isto realmente aconteceu. Ademais, as confusões e o festival de incompetência e demagogia do poder público são reais e parecem seguir fielmente os eventos como os conhecemos hoje. Uma piada mesmo.

A segunda comedia de erros é a abordagem que o próprio filme faz do seu material. Como aparentemente ninguém na produção estava convicto do que fazer (um filme de sequestro? uma cinebiografia? um drama realista?), na dúvida resolveram fazer tudo: e tudo mal. O roteiro então junta o episódio da invasão, os flash-backs da vida de Silvio Santos (que mais parecem um trailer de outro filme entrecortado neste) e o delírio do universo mental do sequestrador. Nenhuma das três linhas narrativas funciona muito bem, mas a última parece especialmente mal encaixada e amadorística (defeito intolerável para um filme de orçamento relativamente grande para os padrões brasileiros).

Rodrigo Faro faz o que pode com o pouco que tem e tenta se sair dignamente da maquiagem e do roteiro que ora faz com que ele se mostre o apresentador que conhecemos, ora tente conferir ao personagem uma face mais humana e “naturalista”. No final, ele também fica no meio-termo, como o filme, sem saber direito qual caminho tomar.

A direção de Marcelo Antunez (de Rodeio Rock) aparece como autêntico compilado dos cacoetes do cinema brasileiro de entretenimento: toda cena precisa de algum efeito, de algum “realce” – seja na edição de som, na câmera lenta – porque nunca se pode confiar totalmente no drama que o roteiro propõe. O resultado é uma mistura esquisita que ora parece novela, ora parece comercial de TV, mas raramente cinema. Isso sem contar a fixação irritante em primeiros planos, uma sucessão de testas falantes em que todo o espaço cênico se resume a um pingue-pongue entre rostos quase o tempo inteiro. O filme não respira e o público se cansa em algum momento.

O que permanece quando Silvio termina é uma vaga sensação de que o personagem-título era, enfim, uma pessoa comum, com um passado também assolado por tristezas e fracassos. Talvez se o filme houvesse optado por mostrar esse lado (sem os efeitos constantes, sem a edição irriquieta, sem as confusões entre gêneros cinematográficos), ele funcionasse como um drama humano. Da forma como ficou, parece um programa de auditório não exatamente bem sucedido.

Redação Bastidores

Perfil oficial da redação do site.

Mais posts deste autor