
Não se espera nada de Sing Sing quando começamos a assisti-lo, mas, após a apresentação dos personagens e o conhecimento da rotina dos homens presos que fazem parte de um grupo de teatro, acabamos mudando de ideia e mergulhamos de vez na trama.
A história do grupo de prisioneiros da penitenciária conhecida pelo nome de Sing Sing narra o desenvolvimento de um programa com o objetivo de reduzir a reincidência criminal, utilizando o poder transformador da arte na vida dos detentos.
Não é à toa que o longa, dirigido por Greg Kwedar e coescrito por ele em conjunto com Clint Bentley, foi indicado na categoria de Melhor Roteiro Adaptado no Oscar 2025.
O roteiro é baseado no artigo da Esquire escrito por John H. Richardson, que abordava o programa conhecido como Rehabilitation Through the Arts (RTA), que leva arte e cultura até as prisões.

Baseado em fatos reais
No filme, não há menção a esse programa, que comprovadamente tem gerado resultados nos EUA, nem é mencionado que tudo começou na penitenciária de Sing Sing, em 1996 — e isso não é necessário para que a trama seja compreendida.
A obra, por si só, é autoexplicativa. Mesmo sem essas informações, conseguimos compreender perfeitamente as motivações e os objetivos que levam aqueles homens a participarem do grupo de teatro.
Algo inteligente que o roteiro faz e que, possivelmente, passa despercebido durante a trama, mas é bastante elogiável, é o fato de a produção não apenas ser baseada em fatos reais, como também trazer essa realidade para dentro do elenco.
Um exemplo disso pode ser visto em John Divine G. Whitfield (Colman Domingo) e “Divine Eye”, sendo este último, por sinal, interpretando a si mesmo — Clarence Maclin, ainda jovem, na época em que atuou em Hamlet. Domingo também interpreta uma versão complexa de seu companheiro, que surge para participar do grupo de teatro como um homem cheio de traumas.
O mesmo acontece com parte do elenco, composto por ex-membros do programa da RTA, que, agora atores no longa, trazem consigo suas próprias experiências e dramas pessoais, o que ajuda a aprofundar a trama e criar um laço emocional com o público.
A mensagem da produção não poderia ser mais óbvia e clara: a de levar redenção por meio da arte, no caso, através do teatro. A ideia de resignificar um indivíduo utilizando métodos como a arte já foi explorada em Um Sonho de Liberdade (1994), e, que aparece com menos força em Sing Sing.
Seu roteiro tem algumas irregularidades, como o fato de ter diálogos longos e excessivos e, por se passar inteiramente em um presídio, a atmosfera acaba cansando por não trazer algo novo, além da aparição de novos personagens.
Seu ritmo também é um problema: é lento, e o primeiro ato é tão monótono que praticamente perde a conexão com o espectador, sendo restabelecida apenas no último ato, quando o fator emocional surge.
O fato de Sing Sing contar com destaques individuais, como o de Colman Domingo – que está vivendo um ótimo momento na carreira – contribui para que a obra conquiste o merecido destaque.
Sing Sing (idem, EUA – 2024)
Direção: Greg Kwedar
Roteiro: Greg Kwedar e Clint Bentley. Adaptado do artigo de John H. Richardson
Elenco: Colman Domingo, Clarence Maclin, Sean San Jose, Paul Raci
Gênero: Drama
Duração: 107 min.