Doom é uma das franquias mais tradicionais dos videogames, sendo um dos primeiros do gênero FPS (tiro em primeira pessoa) já lançados. Arrisco dizer também que é uma série que raramente decepciona, com seus jogos sendo geralmente bem divertidos para quem curte o gênero.
Doom de 2016 reinventou a fórmula da franquia fazendo com que a ação fosse ainda mais frenética, praticamente sem pausas, Doom Eternal continuou esse legado em 2018 e agora a esperada sequência (que na verdade é uma prequel), Doom: The Dark Ages mostra a que veio.
Uma nova era
Doom sempre foi sobre se movimentar ao máximo evitando os ataques das hordas de demônios enquanto atira para diminuir o número de inimigos o quanto for possível, caso contrário, o jogador se verá cercado por eles rapidamente. Resumindo, Doom é sobre movimento ininterrupto e isso foi ressaltado ainda mais no Doom de 2016. O novo jogo da série Doom implementou mudanças que prometem ser tão significativas quanto aquelas do jogo de 2016.
Uma das primeiras coisas que o jogador deve perceber assim que começa a jogar é que o cenário está muito maior e as hordas de inimigos mais numerosas, e isso impacta em como será a utilização desse espaço durante o combate. O foco ainda fica no movimento e em ataques constantes, porém existem novas mecânicas que fazem ele ser ainda mais dinâmico. Agora o Doom Slayer possui em seu arsenal um escudo, o shield saw.
Com o escudo, possuímos algumas ações extras que fazem o combate nesse novo jogo ser mais tático. Você pode se defender de ataques e enquanto se defende, fazer um avanço em direção ao inimigo, pode arremessá-lo em alguns inimigos, quebrando seus escudos, armaduras ou os paralisando e ainda pode realizar um aparo (parry).
A mecânica de parry (com ataques marcados em vermelho e verde) exige precisão e paciência, afastando-se da velocidade alucinante de DOOM Eternal. Apesar de viciante, o sistema se apoia em padrões repetitivos: superaquecer escudos inimigos com armas de fogo e detoná-los com o Shield Saw torna-se cansativo após horas de jogo.
O arsenal mescla medievalismo e tecnologia com criatividade: a Skull Crusher (que dispara fragmentos ósseos) e a Reaver Chainshot (bola de ferro acorrentada) são estrelas, enquanto clássicos como a Super Shotgun ganham funções secundárias. As animações de execução, porém, decepcionam pela falta de variedade em comparação a títulos anteriores.
Os níveis do tipo sandbox (como The Siege) são um sopro de ar fresco, permitindo explorar masmorras, coletar upgrades e enfrentar chefes em ordem não-linear. O uso do Shield Saw para resolver quebra-cabeças (ativar máquinas ou alcançar áreas secretas) é inteligente, mas a progressão é prejudicada por fases aéreas com o Dragão Cibernético, cuja jogabilidade lembra títulos ultrapassados da era Xbox 360.
Pilotar o Atlan Mech (um mecha de 30 andares) contra titãs demoníacos é épico, com golpes sísmicos e destruição em massa. No entanto, a mecânica de esquiva em batalhas aéreas carece de feedback claro, tornando confrontos como o contra naves infernais as vezes mais frustrantes que desafiadores.
O sistema de upgrades (desbloqueados com ouro coletado) é intuitivo e recompensador, permitindo customizar armas para estilos variados. A inclusão de seis níveis de dificuldade (do casual Aspiring Slayer ao brutal Ultra Nightmare) democratiza o acesso sem sacrificar o desafio tradicional.
A engine idTech 8 entrega gráficos impecáveis: destruição ambiental em tempo real, iluminação com ray tracing e sangue pixelizado (homenageando os clássicos). Mesmo em cenas caóticas, o jogo mantém 60 FPS estáveis em consoles e uma ótima performance mesmo em PCs de configuração intermediária, um feito técnico digno de nota.
As Origens do caçador de Demônios
DOOM: The Dark Ages surge como uma ousada reimaginação das origens do icônico Doom Slayer, mergulhando em uma narrativa que combina fantasia sombria, guerra cósmica e temas de libertação. Ambientado em um universo “tecnomedieval” — uma fusão de arquitetura gótica, simbologia ancestral e tecnologia alienígena —, o jogo funciona como um prequel direto de DOOM (2016), explorando os eventos que transformaram um guerreiro mortal em uma lenda capaz de aterrorizar até mesmo o Inferno.
A trama começa com o protagonista aprisionado por uma seita de “deuses tecnomágicos”, descritos como “católicos espaciais” que habitam uma estrutura metálica flutuante. Escravizado como uma “superarma viva”, o Slayer é enviado a planetas infestados de demônios para conter invasões, enquanto seus mestres temem seu poder crescente. Conforme a história avança, o jogador testemunha não apenas sua luta contra as hordas infernais, mas também sua rebelião contra os próprios opressores, em uma jornada que oscila entre a obediência forçada e a fúria descontrolada.
Os temas centrais giram em torno de liberdade versus controle e a origem da ira implacável do protagonista. Através de flashbacks e cutscenes cinematográficas, descobrimos eventos traumáticos em seu passado, incluindo traições e massacres em Argent D’Nur, seu planeta natal, conectado à mitologia dos Night Sentinels, introduzida em DOOM Eternal. A violência excessiva, marca registrada da série, ganha aqui uma justificativa narrativa: cada golpe brutal é tanto uma vingança quanto uma afirmação de autonomia.
O universo da franquia é expandido com novas dimensões e facções. Além do Inferno tradicional, o Slayer enfrenta ameaças em reinos como o Cosmic Realm, uma dimensão lovecraftiana com geometrias impossíveis e criaturas psíquicas e cidades medievais sob cerco, onde líderes corruptos e demônios se aliam para manter seu domínio. A guerra sagrada adquire camadas políticas e morais, questionando quem é o verdadeiro vilão: as hordas demoníacas ou aqueles que manipulam o caos para poder.
Visualmente, a narrativa se apoia em um visual bem marcante, inspirado em blockbusters como Senhor dos Anéis e O Cavaleiro das Trevas. Castelos arruinados, catedrais profanadas e florestas amaldiçoadas não são meros cenários, mas ferramentas narrativas. Destruir barreiras com o escudo-serpente (Shield Saw) ou resolver quebra-cabeças em masmorras revela segredos da trama, integrando gameplay e storytelling de forma orgânica.
Entre os antagonistas, destacam-se demônios reimaginados (como um Cacodemon transformado em dragão alado) e chefes cósmicos como o Cosmic Baron, cujos tentáculos desafiam as leis da física. No entanto, os vilões mais intrigantes são os líderes da cabala que escravizam o Slayer — figuras moralmente ambíguas que refletem o preço do poder absoluto.
DOOM: The Dark Ages não se contenta em ser uma simples prévia das origens do herói. É uma epopeia sobre resistência e identidade, que humaniza (ainda que paradoxalmente) um personagem conhecido por sua violência desmedida. Ao equilibrar ação desenfreada com uma mitologia densa, o jogo promete saciar tanto fãs ávidos por lore quanto jogadores em busca de carnificina criativa. Resta saber se, ao final da jornada, o Slayer será lembrado como salvador, monstro ou algo além da compreensão mortal.
Conclusão
DOOM: The Dark Ages é uma aposta corajosa que nem sempre acerta o alvo. O combate estratégico e a exploração sandbox agregam profundidade, mas a dependência excessiva do Shield Saw e seções de veículos mal lapidadas podem quebrar o ritmo para alguns jogadores. Ainda assim, é uma experiência válida para quem busca algo novo na franquia ou mesmo para aqueles que buscam um bom jogo de tiro.
Agradecemos a Bethesda pela cópia generosamente cedida para a realização desta análise.
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