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Crítica | Desencanto - David Lean e a Subversão do Romance

Matheus Fragata Matheus Fragata
In Capa, Catálogo, Cinema, Críticas•20 de fevereiro de 2024•9 Minutes

Antes de David Lean avançar sua carreira para os famosos épicos como Lawrence da Arábia e Passagem para a Índia, o cineasta estava concentrado em filmes mais tímidos e intimistas, de poucos cenários, mas incrivelmente ousados em seus temas à frente do tempo de seus respectivos lançamentos. Desencanto, de 1945, trouxe não só a primeira indicação de Lean como Melhor Diretor no Oscar, mas também colocou em discussão como o adultério pode ser cometido na incessante busca pela felicidade.

É bem evidente que no mundo pós-Segunda Guerra, o tema de divórcio e adultério não era muito desejado para ser retratado na arte, afinal a força do Sonho Americano estava a todo vapor solidificando os valores e união da família, trabalho e lar. O britânico David Lean apenas tocou o dedo na ferida sempre exposta em inúmeros relacionamentos ao apresentar um ponto de vista menos moralista sobre a motivação ao adultério.

Escrita Benevolente

Adaptando a peça de Nöel Coward, Lean traz a história da simples Laura Jesson (Celia Johnson), uma mulher casada e mãe de dois filhos que sempre viaja às quintas-feiras para Milford, uma cidade relativamente distante de onde mora. Sua rotina de fazer compras, realizar almoços e ir ao cinema logo é balançada pelo aparecimento súbito do simpático médico Alec Harvey (Trevor Howard) em sua vida.

Após um breve primeiro encontro marcado pelo destino e carinho no qual ele remove um cisco de seu olho, Laura e Alec passam a se encontrar mais vezes nas tardes passadas em Milford e uma incômoda e proibida paixão passa a florescer. Porém, ao mesmo tempo que se aventura mais com Alec, a perturbada mulher sente a responsabilidade de trazer a infelicidade para si e para seu lar com a possibilidade de destruir um casamento que não é ruim, mas que também não é ótimo.

Pela época, não só o tema é inusitado, mas bem como seu ponto de vista da protagonista feminina. Desencanto é um dos filmes mais literários de David Lean utilizando à exaustão o recurso da narração. A verdade é que o longa tem sim uma estrutura bastante estranha trazida através de um enorme flashback enquanto Laura mantém a narração contando toda a história de seu romance revelando o âmago de seu emocional.

Isso traz um tom realmente antiquado para o longa que o envelhece de um modo bem inusitado, já que Lean se esforça para trazer uma atmosfera noir que consegue sustentar toda a beleza de sua decupagem relativamente teatral (de início). A narração somente fica bastante redundante quando ela passa a, literalmente, descrever algumas ações já vistas em tela não atingindo a escala poética pretendida, mas se tornando brega.

Esse, acredito, seja o defeito mais notável do longa tratado com muito carinho pelo realizador. É evidente que, para potencializar a mensagem do longa bastante simpática a aventura apaixonada que Laura trilha, negligencie ferrenhamente o núcleo familiar da protagonista, os tratando meramente como apêndices. Embora isso trate a família como descartáveis, também diz bastante sobre Laura, a tornando bastante complexa.

É nítido, portanto, que a família dela não ocupe significativamente sua vida, além de trazer uma rotina tediosa, repleta de moralismos incessantes e burocracias bobas da vida de casado. Com uma situação ordinária e sem emoção, é totalmente compreensível o gosto de Laura pelo proibido e da enorme sensação que é estar apaixonado. Isso é bastante curioso, pois Lean também trabalha a enorme culpa que a personagem sente por querer se livrar de um casamento bom e da responsabilidade enfadonha trazida pela maternidade.

Lean é esperto por apostar no simples, trazendo uma ocorrência de eventos bastante conectadas e lógicas para o espectador a fim de apresentar quem é a Laura, sua rotina, sua família e, por fim, seu enorme conflito. O romance construído entre ela e Alec também segue um sequenciamento simples indo de pequenos encontros, para passeios propriamente românticos até os calorosos beijos para um desfecho bem apropriado e perturbador.

Enquanto os dois se relacionam e se tornam adúlteros, Lean mostra uma descida preocupante da corrupção ética que Laura e Alec embarcam para preservar o romance se tornando mentirosos e negligentes com a profissão e família. Essas problemáticas pesam em momentos mais sombrios da obra, nos quais Laura está sozinha, porém quando os dois estão juntos, há uma explosão de sinergia bem agradável tornando esse romance bastante palpável.

O sofrimento mútuo é notável nos dois, mas Lean nunca entra no mérito do fogo daquela paixão ser tão vulnerável quanto o romance. Ele simplesmente mostra um amor adolescente na pele de dois adultos. Aliás, servindo como cenário de diversas das cenas, é curioso notar um esforço gigantesco em tornar as personagens que rondam aquele lugar, de alguma forma, relevantes, até mencionando casos de divórcio e as investidas cheias de flerte. Embora seja um núcleo bem chato, não chega a incomodar, pois estão ali apenas por mera conveniência.

Como disse, Lean adota ares bastante teatrais aqui, incluindo a verborragia, mas equilibra tudo ao adicionar uma apaixonante atmosfera noir através da iluminação e enquadramentos distantes que valorizam a figura das sombras nos planos. Totalmente mergulhado no sentido clássico da linguagem cinematográfica, raras as vezes que Lean traz algo realmente fantástico. Mas, mesmo que raras, essas ocasiões existem.

Em duas cenas, Lean traz colagens estupendas para mostrar os devaneios de Laura. Em uma delas, a mais poderosa, vemos a personagem sentada em direção ao marido, enquanto a imagem diante dela logo desaparece para surgir outra contendo os últimos beijos de seu amante. Tudo é feito através de uma colagem bastante precisa que alcance um onirismo profundamente realista. Já a segunda é mais poética, com Laura observando a fina chuva enquanto viaja de trem, até a janela ser totalmente envolvida com as cenas mais românticas e ingênuas que uma apaixonada deseja.

A Infelicidade de um Sonho Impossível

Desencanto realmente é um filme fantástico de David Lean ousando avançar os limites do drama em 1945 chegando até mesmo a ser censurado em alguns países como a Irlanda. A história de amor proibido e adúltero nunca foi menos moralista e tão apaixonada, tratando até mesmo os “vilões” de uma traição como pessoas comuns presas facilmente na tragédia por cederem tão rápido ao fervor das paixões. No fim, a miséria de ambos chegaria cedo ou tarde.

Desencanto (A Brief Encounter, Reino Unido – 1945)

Direção: David Lean
Roteiro: David Lean, Noël Coward, Ronald Naeme, Anthony Halelock-Allan
Elenco: Celia Johnson, Trevor Howard, Stanley Holloway, Joyce Carey
Gênero: Drama, Romance
Duração: 86 minutos

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Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema. Jornalista, assessor de imprensa.

Apaixonado por histórias que transformam. Todo mundo tem a sua própria história e acredito que todas valem a pena conhecer.

Contato: matheus@nosbastidores.com.br

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