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Análise | Assassin’s Creed: Brotherhood

Algumas franquias costumam atingir seu ápice no segundo jogo, aquele com a oportunidade de corrigir os erros do primeiro, evoluir e surpreender o público como citei nos exemplos do texto passado. De fato, “Assassin’s Creed II” fez tudo isso mas, curiosamente, não atingiu seu ápice, transferindo a tarefa para lançamentos posteriores. “Brotherhood”, uma espécie de “AC 2.5”, terceiro jogo da série de consoles e segundo da trilogia Ezio, se não atinge o ápice na área narrativa ao menos o faz no campo das possibilidades de mecânica.

Como o jogo não dispõe do número 3 em seu título, o encarei como o que de fato ele é e o que se dispõe a fazer. Portanto, já irei avisando que a falta de grandes inovações não será um problema citado ao longo do texto, muito menos a familiaridade. O objetivo aqui era melhorar o que poderia ser melhorado de seu antecessor e apresentar uma nova história que justificasse a existência do título. E isso “Brotherhood” faz bem. 

A trama começa conseguinte ao final do segundo jogo. Ezio descansa em sua próspera vila Monteriggioni, aquela em que investimos pesado durante a jogatina de AC II, quando é surpreendido por um ataque dos Borgia que termina com a morte de seu tio Mario. Promovido a mestre da Ordem dos Assassinos por Maquiavel, Auditore irá reunir e controlar a Irmandade de Roma para derrubar os templários que lá governam, incluindo o superior no comando, Cesar Borgia, responsável pela morte de seu tio. 

A história é simples mas eficiente. O primeiro sinal de maturidade narrativa é a destruição da vila de Ezio, esta cuja o jogador desenvolveu enorme vínculo devido aos investimentos passados. De cara, o jogo já nos mostra que expansão será a palavra chave para definir sua concepção, deixando para trás toda a suposta timidez do jogo anterior. Entretanto, os problemas narrativos não são corrigidos, e os diálogos infantis, caricatos e expositivos que prejudicavam as interações com os personagens em AC II permanecem. Ao menos o trabalho de dublagem se deu de forma mais caprichada. 

Os coadjuvantes mantém um papel relevante na trama – Leonardo daVinci que o diga – e são bem estabelecidos e os momentos dramáticos da história fluem de forma levemente mais natural sem grandes interrupções, não tendo seu peso prejudicado por alguma passagem de tempo mal concebida. Mesmo curta, a campanha prova-se consistente ao ter optado por menor elenco de coadjuvantes e maior foco no embate de Ezio, não comprometendo por ser bem objetiva. A falha maior fica por conta do que é mostrado no presente com Desmond, mesmo melhorados em relação ao seu antecessor e não sendo obrigatórios na maior parte da campanha, ainda tratam-se de trechos pouco atraentes com objetivos simplistas e enfadonhos. 

Outro problema é a redundância do ponto A ao ponto B, o núcleo da história. Perceba como Ezio segue os mesmos passos que seguiu em AC II, desde sair em busca da Maçã do Éden até perseguir um dos mesmos vilões, após ter um membro importante da sua família morto no início do game! O final de Ezio, mesmo engajante e apropriado se considerado ao término medíocre do segundo, é apressado em seu último ato onde eventos que normalmente durariam 2 sequências inteiras em seu ritmo normal são condensados em minutos. Já o final do núcleo de Desmond, além de anticlimático, é patético. Apontei anteriormente que a história justificava sua existência, porém não deixa de passar a impressão de se tratar de um tremendo filler de 9 sequências. 

Em termos de mecânica, o jogo também demonstra avanço. O combate está mais ágil e dinâmico, as execuções furtivas e atos ofensivos mais mortais e a inteligência artificial, mais agressiva – embora ainda burra, com desafio quase nulo. Infelizmente, os saltos acidentais para lugares não planejadas continua um enorme empecilho à paciência do jogador, assim como o stealth em falso. Já o visual é um verdadeiro triunfo. A recriação de Roma, 3 vezes maior que o mapa de Florença é separado em 5 distritos, com direito a Coliseu, é excepcional em seu design e beleza gráfica. Tendo visitado o local, reconheço que a fidelidade do anfiteatro, das ruas e vielas do game trata-se de um impressionante trabalho estético, digno de figurar dentre os melhores que os games já ousaram reproduzir, claro, dado as limitações da época. 

A jogabilidade também entrega diversas possibilidades antes inexistentes como guiar o cavalo em meio a cidade, investir – dessa vez com o escopo de Roma em vez de uma vila – na cidade em vários estabelecimentos, administrar sua ordem de assassinos ordenando que membros cumpram missões em determinadas localidades mundo afora ou te ajudem quando necessitado, o que rende recursos ao protagonista, utilizar uma pistola em meio ao combate corporal, testar o paraquedas de daVinci e participar de perseguições – a do final, em especial, é excelente. A variedade, portanto, continua forte e com missões paralelas e secundários pipocando a todo momento, indo até mais longe ao incentivar o jogador a buscar segredos em túmulos e cavernas esbarrando, no caminho, com uma certa sociedade lupina.

Inédito até então, o modo multiplayer dá as caras já mostrando a que veio. Uma pena não estar incluído na versão de PlayStation 4 a qual tive acesso para rejogar e escrever esta análise, visto que tenho boas lembranças das horas que passei investido no online. O conceito é genial. Em minha categoria preferida, Wanted – que o jogador com maior número de pontos conquistados pela elaboração de assassinatos vence – seis ou mais jogadores são obrigados a caçar uns aos outros, após receberem um contrato, através de perseguições em stealth, encontrando e matando o oponente sem ser visto ou morto antes pelo mesmo, não aderindo ao estilo clássico “team deathmatch”. Caso o jogador for percebido pelo contrato, o inimigo é alertado e tentará a fuga. É uma completa expansão do jeito assassino de jogar que a franquia inseriu levado com competência e criatividade para as vias online. 

“Assassin’s Creed: Brotherhood”, sabe-se lá como, faz AC II parecer um rascunho.  Expande absolutamente todos os conceitos trazidos pela mecânica da série, como alça novos ares com o multiplayer e em recriar digitalmente localidades reais nos mais realistas termos gráficos possíveis. E com todo o louvor que o Coliseu merece. Se a parte narrativa oferece os mesmos problemas que seu antecessor, com a adição da redundância dos objetivos do protagonista, ao menos nos é entregue com um pacote generoso de atividades. A Irmandade nunca esteve tão bem servida.

Redação Bastidores

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