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Análise | Assassin’s Creed: Revelations

Sendo curto e grosso, “Assassin’s Creed: Revelations” possui não somente a melhor história, mas a melhor narrativa da série. É delicioso de ver como a jornada de um dos personagens mais bem desenvolvidos dos games termina de forma satisfatória encerrando um ciclo iniciado no primeiro AC. 

Ezio, agora mais velho e experiente, está em Constantinopla/Istambul para encontrar as chaves de Masyaf escondidas por Nicolau Polo que lhe darão acesso a biblioteca de Altair em que se encontram os livros que seriam mais valiosos que todo ouro do mundo. Para tal, o protagonista receberá ajuda de Yusuf, líder dos Assassinos da cidade e extremamente carismático e ainda se envolverá em tramas políticas com o Príncipe Solimão e encontrará até espaço para o amor com uma dona de livraria, Sofia Sartor. 

Perceba como todos os núcleos são bem divididos em poucos coadjuvantes cada um com suas funções que ajudaram no desenvolvimento da trama e do protagonista. Masyaf é a ligação com os recursos para a missão, as chaves, os assassinos, o conhecimento da cidade em si e possui os diálogos mais bem humorados. Sofia é a lembrança de um passado trágico e uma promessa de um futuro melhor e que, por ser dona de uma livraria, possui intenso conhecimento. Quanto ao Príncipe Solimão, o lado político ganha presença e também com excelentes diálogos. 

Ou seja, Masyaf é a força e a missão, Sofia é o sentimental e racional postos na balança e Solimão é a política. Ao submeter Ezio em seu estado final encarando essas 3 vertentes depois de tudo o que passou, o jogo insere um subtexto de estudo de personagem nunca antes visto na série, o que cairia por terra se os diálogos não tivessem bem escritos e a química e trabalho de atuação não fossem eficientes. Felizmente não é o caso e até as cartas que o protagonista envia para Claudia relatando os acontecimentos são carregados de significados. 

É o herói chegando ao fim de sua jornada, se questionando, encarando questões internas de complexidade moral, política e pessoal. Se Batman está mais cansado, agressivo e desesperançoso em “The Dark Knight Returns” de Frank Miller, Ezio está mais sereno, sábio, maduro e com o peso da humildade sobre seus ombros de que há ainda muito aprender com seu antepassado, Altair. As missões que retornam a alguns eventos do primeiro “Assassin’s Creed” só reforçam essa conexão. Ao fim, com a entrada na biblioteca e o diálogo com Desmond, só temos duas certezas: que um ciclo se fechou e que estávamos diante de um personagem plenamente desenvolvido.

Então, mesmo sem grandes mudanças – de novo – AC Revelations justifica sua existência dentro franquia? Da parte narrativa, já vimos que sim. Mas… nem tudo é perfeito.

Diversos elementos foram retirados do jogo anterior como o meio de locomoção animal e as várias atividades paralelas secundárias, gerando a fúria de alguns jogadores. Não posso culpá-los totalmente, sendo um jogo triple A open world, o conteúdo realmente fica devendo em relação aos seus dois antecessores.

As novidades inseridas são uma faca de dois gumes. Enquanto a adição da Hookblade, das bombas – oferecendo oportunidades de gameplay únicas e melhorando o já manjado mas aprimorado combate – de novas armas e armaduras, dos ciganos e dos novos modos multiplayer é excelente, o gameplay do mini-game tower defense – em que inimigos atacam em turnos enquanto o jogador reforça as defesas de uma edificação – e a jogatina com Desmond em primeira pessoa “criando” blocos são extremamente mal ajambradas e, por vezes, incômodas. Aliás, toda o trecho com Desmond e o misterioso Subject 16 presos no “limbo”do Animus é desnecessário e serve como puro filler

Alguns momentos roteirizado de ação também não são tão bem executados como em “Brotherhood”. Enquanto o início e o final possuem momentos dignos de aplausos e reconhecimento por toda sua engenhosidade, há momentos em que, por exemplo, Ezio deve se desviar de obstáculos no chão enquanto é arrastado pelo veículo que o segura através de uma corda que chega a doer à alma de tão deslocado e mal concebido.

Já a parte técnica gráfica recebeu total atenção, com bugs e glitches mínimos, tornando Constantinopla uma realidade virtual, extremamente bela, variada e detalhada. Mais uma conquista da série em design e representação de mundo.

“Assassin’s Creed Revelations” é o game mais maduro, narrativamente falando, da série mas que, por obrigação do lançamento anual, teve de sacrificar vários pontos que faziam os jogos anteriores mais completos e não arrumar com maior precisão algumas das novidades inseridas. A jornada de Ezio chega ao fim com um gosto doce no aspecto cinemático de vitória mas um tanto amargo no quesito videogame em geral, se justificando com a história que quer contar mas não em como traduzir harmoniosamente com jogabilidade e conteúdo alheios à ela, impedindo de atingir seu completo potencial e pegar o trono de melhor da franquia. Algo que a Ubisoft ainda iria repetir (e muito!) no futuro, infelizmente.

PS: A coletânea que utilizei para analisar os 3 títulos que a compõe, “Assassin’s Creed Ezio The Ezio Collection” só é recomendada para quem nunca jogou a trilogia, já que os gráficos melhorados – que padecem se comparados a outros títulos de mundo aberto da geração como “Batman: Arkham Knight” e “MGSV: The Phantom Pain” – não são suficiente novidade para quem já se aventurou no passado, ainda mais tendo percebido o quão mal algumas mecânicas envelheceram levando em conta suas evoluções nos jogos seguintes da série. 

Redação Bastidores

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