Crítica | Emilia Pérez prova que o infame 'Oscar bait' existe se lacrar "certo"
Emilia Pérez é, sem dúvida, o filme mais comentado e questionado do Oscar 2025. Indicado em 13 categorias, incluindo as principais, como Melhor Filme e Melhor Roteiro Adaptado, o longa ganhou ainda mais destaque, mas também se tornou alvo de críticas nas redes sociais.
Na América Latina, especialmente no México, o longa vem sendo acusado de representar o país de forma preconceituosa, de romantizar a violência dos cartéis mexicanos e de levantar questionamentos pelo fato de ser uma produção francesa com elenco majoritariamente americano concorrer ao Oscar na categoria de Filme Internacional.
Outra polêmica envolve as canções interpretadas pela protagonista, Karla Sofía Gascón, que foram aprimoradas com o uso da IA Respeecher, mesclando sua voz com a de Camille, coautora das músicas.
Dirigido por Jacques Audiard (Ferrugem e Osso) e com roteiro do próprio Audiard em colaboração com Thomas Bidegain e Léa Mysius, o filme aborda temas atuais e relevantes, como identidade de gênero e a violência dos cartéis mexicanos. Porém, ambos os assuntos acabam sendo tratados de forma superficial, deixando de explorar seu potencial.
O longa é dividido em duas narrativas diferentes, algo que compromete seu andamento. Ainda no primeiro ato, a trama se concentra na transição de gênero do líder de um cartel no México, uma premissa bastante interessante, mas que infelizmente perde força à medida que a história se desenvolve.
A partir do segundo ato, o longa muda de tom e se transforma em um drama familiar, acompanhando Rita e Emilia enquanto retomam o contato, além de Emilia reencontrar seus filhos e sua ex-esposa.
Falta de bom gosto
As escolhas de Audiard são bastante questionáveis, como fazer Selena Gomez falar espanhol com um sotaque extremamente carregado. Para piorar há os números musicais, em que as personagens aparecem cantando e realizando coreografias desajeitadas e cafonas.
É constrangedor acompanhar essas cenas, que interrompem a dramaticidade da história para inserir músicas sem graça. Sempre que o filme começa a se desenvolver bem, Jacques Audiard quebra o ritmo com canções aleatórias que pouco ou nada acrescentam à narrativa.
Os números musicais geram uma ruptura nos conflitos e destoam completamente do tom dramático da produção. Emilia Pérez seria mais levado a sério se fosse no mesmo estilo de Dia de Treinamento (2001) — ótimo exemplo de filme sobre o cotidiano violento das cidades.
Além disso, colocar performances musicais em uma história que aborda o tráfico de drogas pode ser interpretado como uma romantização das ações violentas desses grupos.
Apesar de estar cercado por polêmicas e ser uma obra de qualidade abaixo da média, Emilia Pérez surpreende pela quantidade de premiações que vem acumulando, incluindo as já mencionadas treze indicações ao Oscar.
Mesmo assim, trata-se de uma produção superficial, que dificilmente será lembrada nos próximos anos, pois não provoca um impacto emocional profundo no espectador e não apresenta uma história marcante.
Emilia Pérez (idem, França – 2024)
Direção: Jacques Audiard
Roteiro: Jacques Audiard, Léa Mysius, Thomas Bidegain
Elenco: Zoe Saldana, Karla Sofía Gascón, Selena Gomez, Adriana Paz, Edgar Ramirez, Mark Ivanir, Eduardo Aladro
Gênero: Comédia, Crime
Duração: 132 min.
https://www.youtube.com/watch?v=asNL-lIpNks&ab_channel=ParisFilmes
Crítica | Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa Acerta em focar no público infantil
Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa marca a estreia nos cinemas de um personagem querido pelos fãs dos gibis criados por Maurício de Sousa, mas que, até então, não havia recebido a devida atenção, permanecendo limitado às HQs e aos desenhos animados.
Chico Bento é um personagem clássico da Turma da Mônica, criado em 1961 e que, somente em 1982, ganhou uma revista própria com o seu nome. Em 2021, completou 60 anos e, mesmo assim, era tratado como figura secundária, com relevância restrita aos quadrinhos.
Após o sucesso do live-action Turma da Mônica: Laços, em 2019, surgiu o plano de levar o personagem para as telonas, e a ideia se mostrou um grande acerto.
Dirigido por Fernando Fraiha, a história acompanha Chico Bento (Isaac Amendoim) e outros moradores da pequena cidade, incluindo alguns personagens conhecidos dos gibis, como Rosinha, em uma aventura com um tema atual, na qual o foco não se limita apenas às travessuras do protagonista, mas também aborda algo mais profundo.
Há um toque de drama social no longa, com um empreendedor (Dotô Agripino) e seu filho arrogante atuando como os antagonistas. Dotô (Augusto Madeira) é um homem que chega à região e faz diversas promessas de progresso para o local, mas o seu real objetivo é construir uma estrada que passará por cima da goiabeira, fato que levará Chico Bento e seus colegas a se unirem contra tal ameaça.
O roteiro escrito por Fraiha em conjunto com Elena Altheman e Raul Chequer, é bem bobinho, para não dizer infantil, até porque seu público-alvo é esse, crianças que estão em época de leitura, sendo que muitas se iniciam nesse universo através das revistas da Turma da Mõnica.
Esse é um nicho que vem sendo pouco explorado nos últimos anos pelo cinema nacional. No passado tivemos Menino Maluquinho, os filmes da Xuxa que eram filmados para essa faixa etária, mas que foram abandonados aos poucos, para dar lugar a produções mais voltadas para o público adolescente.
Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa não é um filme ruim, dentro das limitações encontradas pelo cinema nacional é uma obra que até se sobressai, claro, dependendo de quem for assistir, pode achar o roteiro bobinho e sem graça, mas as crianças, certamente irão amar.
Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa (idem, Brasil – 2025)
Direção: Fernando Fraiha
Roteiro: Elena Altheman, Raul Chequer, Fernando Fraiha, Inspirado na obra de Mauricio de Sousa
Elenco: Isaac Amendoim, Taís Araújo, Guga Coelho, Pedro Dantas, Lorena de Oliveira, Anna Julia Dias, Débora Falabella, Augusto Madeira
Gênero: Aventura, Comédia
Duração: 90 min.
Crítica | Paddington: Uma Aventura na Floresta é o filme mais sério da franquia
Paddington é um personagem da popular série de livros, que tem o mesmo título do personagem, criado em 1958 por Michael Bond. A série foi adaptada para o cinema em duas ocasiões: primeiro em 2014, e depois em 2017, com ambas as produções recebendo uma chuva de críticas positivas.
Após um longo hiato, em grande parte devido à morte do criador do ursinho, Michael Bond, a produção de uma terceira adaptação ficou em banho-maria, estreando somente oito anos depois, com o título de Paddington – Uma Aventura na Floresta.
Esse terceiro capítulo não conta mais com a direção de Paul King, que esteve à frente dos dois primeiros longas. Quanto ao roteiro, ele não tem mais a colaboração de Michael Bond; este novo capítulo foi escrito pelo trio Mark Burton, Jon Foster e James Lamont.
Jornada Pessoal
Enquanto em Paddington 2 foi possível acompanhar a jornada de Paddington por Londres, sendo abraçado no final pela comunidade local, neste filme o roteiro leva o personagem e toda a família Brown em uma viagem ao Peru. A ideia é tirar o ursinho do lugar comum e levá-lo aos perigos da selva amazônica.
Levar o pequeno urso para fora do cenário comum é crucial para seu crescimento pessoal e para que possamos descobrir mais sobre seu passado e o de seus ancestrais, especialmente porque Paddington embarca em uma jornada em busca de sua tia Lucy, que desapareceu misteriosamente de um retiro para ursos administrado por freiras.
O retorno da família composta por Henry Brown (Hugh Bonneville), Mary Brown (Emily Mortimer), Judy Brown (Madeleine Harris) e Jonathan Brown (Samuel Joslin) ao elenco é outro acerto, ainda mais com um novo enfoque: o destaque para a vida pessoal de cada membro da família..
O destaque para os personagens humanos não se limita ao primeiro ato. Após a viagem ao Peru, os Brown passam a receber o mesmo destaque que o urso, o que é novamente um acerto por parte do roteiro.
Poucas Risadas
É, sem dúvida, o filme mais sério da trilogia, mas isso não significa que falte humor ou cenas que façam o público rir; pelo contrário, há várias ocasiões, principalmente no primeiro ato, em que Paddington e a família Brown se mostram engraçados e fazem o espectador soltar algumas boas gargalhadas.
O problema da trama é o tom empregado. Há cenas que abordam a morte e o sequestro de tia Lucy, o que deixa a narrativa mais carregada e menos engraçada. Essas questões surgem principalmente no segundo ato e funcionam como um crescimento pessoal para o protagonista.
Em Paddington 2, as risadas eram espontâneas e frequentes, com um vilão divertido, como era o caso do personagem interpretado por Hugh Grant. Em compensação, neste terceiro filme, as risadas demoram a surgir e acontecem apenas em algumas cenas ocasionais. A vilã, a freira interpretada por Olivia Colman, tem poucos momentos engraçados, como na cena aleatória em que ela surge cantando e tocando violão.
Paddington – Uma Aventura na Floresta é mais um acerto desta franquia, que vem se mostrando ótima. É um longa bastante animado e, mesmo sendo mais sério, continua sendo um entretenimento de qualidade. Uma continuação e uma série já foram confirmadas, e isso pode ser um problema, pois há o risco de saturar uma história tão original e divertida como a de Paddington.
Paddington: Uma Aventura na Floresta (Paddington in Peru, EUA – 2025)
Direção: Dougal Wilson
Roteiro: Mark Burton, Jon Foster, James Lamont
Elenco: Ben Whishaw (Voz de Paddington), Imelda Staunton, Hugh Bonneville, Emily Mortimer, Oliver Maltman, Olivia Colman, Madeleine Harris, Samuel Joslin, Hayley Atwell
Gênero: Aventura
Duração: 104 min.
Crítica | Sonic 3: O Filme repete a fórmula e acerta novamente
Antes do lançamento de Sonic - O Filme (2020), o principal assunto entre os fãs dos games era o quão ruim era o visual do personagem apresentado nos trailers. Isso levou a Paramount a solicitar uma alteração em seu design, e, em parceria com a equipe da empresa de efeitos visuais Moving Picture Company (MPC), realizaram a mudança para algo mais próximo do que se via nos jogos clássicos.
Após os sucessos de público e crítica de Sonic: O Filme (2020) e Sonic 2: O Filme (2022), Sonic 3: O Filme surge com a missão de manter a história divertida para crianças e adultos, enquanto precisa apresentar novidades que garantam a continuidade e a relevância da franquia.
Dirigido por Jeff Fowler, também responsável pelos dois filmes anteriores do ouriço, este longa marca seu melhor trabalho atrás das câmeras. Ele dá mais vigor à trama ao introduzir um novo personagem, Shadow (interpretado por Keanu Reeves), um ouriço criado por um programa do governo que cruza o caminho de Sonic em sua busca por vingança.
Fowler também certa ao manter o elenco original, com Jim Carrey como o vilão Ivo Robotnik e James Marsden no papel de Tom, o melhor amigo humano de Sonic. Entretanto, é importante salientar que Tom tem um papel bastante secundário neste terceiro capítulo, ganhando mais relevância apenas no último ato.
Se pararmos para analisar, o roteiro do trio Pat Casey, Josh Miller e John Whittington é, em essência, uma repetição do que já foi mostrado nos dois filmes anteriores. A fórmula se mantém: Sonic é introduzido, faz algumas de suas travessuras e, em seguida, enfrenta um vilão que, possivelmente, acabará se tornando seu aliado no futuro.
Se funcionou antes, por que não repetir a receita de algo que já deu certo no passado? Em vez de arriscar com uma abordagem nova e colocar em risco o que vem sendo elogiado pela crítica e atraindo uma grande base de fãs aos cinemas, nesse sentido manter a fórmula é uma escolha segura e eficaz.
Jim Carrey é a alma do filme como o vilão Dr. Ivo Robotnik, e agora encara um desafio duplo, interpretando também o avô do personagem, o malvado Gerald Robotnik, que compartilha a mesma megalomania do neto. A interação de Jim consigo mesmo é um dos pontos altos da trama, trazendo mais humor e uma carga dramática muito mais profunda para o antagonista.
Sonic 3: O Filme é um exemplo de como uma franquia de games pode ser bem-sucedida no cinema quando tratada com seriedade e adaptada de forma a preservar a essência não apenas do jogo, mas também do significado da franquia como um todo.
No caso de Sonic, a trama encontrou no poder da amizade — representada pela relação entre Sonic, Tails (Colleen O'Shaughnessey) e Knuckles (Idris Elba) — a base para criar uma equipe carismática e divertida.
Fowler utiliza essa dinâmica para transmitir ao público uma mensagem que vai além da ação e do humor: a celebração da união e do companheirismo, elementos que dão à franquia o potencial de expandir sua história para outros filmes e séries.
Sonic 3: O Filme (Sonic the Hedgehog 3, EUA – 2024)
Direção: Jeff Fowler
Roteiro: Pat Casey, Josh Miller, John Whittington
Elenco: Jim Carrey, Ben Schwartz, Keanu Reeves, Idris Elba, Colleen O'Shaughnessey, James Marsden, Tika Sumpter, Lee Majdoub, Krysten Ritter
Gênero: Ação, Aventura
Duração: 110 min.
10 Melhores filmes de terror de 2024
Quando um ano começa, é comum que as expectativas dos fãs de filmes de terror estejam nas alturas com a divulgação de alguns títulos que irão estrear nos próximos meses. Na mesma proporção em que o ano se inicia com grandes expectativas, ele também chega ao final com algumas decepções.
Em 2024, muitos filmes deixaram a desejar, mas também surgiram grandes surpresas que logo entraram em muitas listas dos melhores do ano no gênero.
Até que foi fácil montar a lista dos melhores filmes de terror de 2024, até porque muitos eram realmente ótimos entretenimentos, enquanto outros receberam destaque por serem obras subestimadas e que surpreenderam no fim das contas.
10. Desconhecidos
Strange Darling (título original) certamente figura na lista dos melhores filmes de terror de 2024. Isso se deve principalmente ao seu roteiro e à forma como a história é apresentada, conduzindo o público por um caminho que culmina em um plot twist de deixar qualquer um de boca aberta.
A reviravolta, sem dúvida, nos prende ainda mais, elevando nossa expectativa sobre o desdobramento daquele momento conturbado que foi inteligentemente construído ao longo da narrativa.
9. Oddity: Objetos Obscuros
Se você quer se assustar, assistir Oddity é a melhor opção para um fim de semana chuvoso, com as luzes apagadas. O filme irlandês cria um eficiente clima de horror e suspense, que mantém o espectador pregado do começo ao fim.
Embora seja uma produção simples, seu impacto é tão forte que dificilmente será esquecido. O medo e os sustos são constantes, assim como as perguntas sobre algumas questões levantadas. Mesmo com o longa deixando algumas dessas pontas soltas, ainda assim continua sendo um entretenimento divertido.
8. Imaculada
Sim, Imaculada é bem parecido com a A Primeira Profecia, mas apresenta diferenças que o tornam um excelente longa de terror. A começar pela personagem Cecilia, interpretada pela talentosa Sydney Sweeney, uma das queridinhas de Hollywood no momento. Ao contrário da produção da franquia Profecia, Imaculada se destaca ao dar mais foco à protagonista e inserir um suspense que realmente funciona.
É um thriller focado no terror psicológico, em que Cecilia sofre ao ser perseguida por religiosos, nos fazendo pensar se ela conseguiria escapar e quais os desdobramentos que sofreria.
7. Exhuma
Quem é fã do cinema sul-coreano e de filmes de terror provavelmente irá adorar Exhuma. O longa conta a história de dois xamãs contratados por uma família rica que, junto com outros dois homens, sendo um geomante e um agente funerário, acabam desenterrando uma força maligna ancestral.
Trata-se de um conto de terror com toques dramáticos, característico dos filmes sul-coreanos. Esse elemento adiciona maior profundidade à história, fazendo com que nos conectemos facilmente às situações vividas pelos personagens.
6. E ntrevista com o Demônio
Quando estreou, Entrevista com o Demônio recebeu críticas positivas do público, mas com algumas ressalvas. O caso do filme é semelhante ao de Longlegs, com o espectador o assistindo pensando ser outra coisa, uma espécie de Invocação do Mal, mas descobrindo que é, na verdade, algo bem diferente.
Não é uma produção que impressiona, mas só de criar toda uma tensão e um mistério interessante, já pode ser considerado um dos grandes filmes do ano. O fato de ser filmado praticamente em um único cenário também chamou atenção e o deixou ainda mais original.
5. Alien: Romulus
O novo capítulo da franquia de sucesso Alien foi um acerto em cheio. Primeiro, pelo fato de o diretor Fede Alvarez ter criado uma ambientação assustadora e claustrofóbica, na qual os personagens precisam fugir para sobreviver aos Aliens. Além disso, o clima de terror e tensão são constantes e impressiona.
Alien: Romulus é o nono filme da franquia e provavelmente irá receber uma continuação. O longa acerta ao contar um novo episódio sem perder o simbolismo característico da franquia, mantendo os Aliens como foco principal, algo que os últimos filmes da série vinham deixando de lado.
4. A Primeira Profecia
Merecidamente recebendo um lugar na lista, o ótimo A Primeira Profecia conta a origem do garoto Damien Thorn, do clássico A Profecia (1976). A atmosfera e o roteiro acertam em cheio ao não trazer a trama para os dias atuais e nem continuar a história do longa da década de 1970, e sim nos mostrar como o garoto Damien foi concebido e toda a conspiração criada pela Igreja.
Como obra de terror, é um acerto, até porque a franquia A Profecia contou com péssimas sequências, e um novo longa que conte algo novo funcionou como um refresco e um elemento novo para que a franquia possa seguir adiante nos cinemas.
3. Sorria 2
Continuação do assustador Sorria, Sorria 2 não decepciona em nenhum momento. Pelo contrário, vai muito além do que o público esperava. É verdade que o filme repete a fórmula que deu certo no anterior, mas isso não atrapalha em nada a experiência de assisti-lo.
Na verdade, o público esperava exatamente um terror mais intenso, e o cineasta Parker Finn nos oferece isso e muito mais, com uma protagonista carregada de drama e boas doses de sustos.
2. Longlegs: Vínculo Mortal
Essa é daquelas produções que ou você ama muito ou você odeia. É verdade que os materiais promocionais do longa o vendiam como o filme da década, mas não era bem assim. O público que foi assisti-lo nos cinemas esperava uma coisa e recebeu outra.
Vínculo Mortal é um thriller repleto de enigmas que se desenrolam ao longo da trama, lembrando mais Seven: Os Sete Crimes Capitais (1995) do que a obras sobrenaturais como Invocação do Mal. O filme conduz o espectador a refletir sobre quem é o assassino e quais são suas motivações, reveladas no terceiro ato. Essa estrutura surpreende, sobretudo pela intensa carga de terror psicológico presente na narrativa.
1. A Substância
É óbvio que A Substância iria figurar no top 3 desta lista. Na realidade, não só desta lista, mas qualquer uma de terror que preze por levar em conta os fatores que fizeram do filme ser um sucesso de público e crítica, como ter protagonistas fortes, ótimos personagens e uma trama com uma mensagem forte e atual.
A maneira perturbadora com que a narrativa nos transporta para dentro da história, culminando em um pesado gore no último ato, deixa qualquer um abalado com seus acontecimentos e desdobramentos.
Menção honrosa: Herege e Um Lugar Silencioso: Dia Um
Crítica | A Hora do Vampiro é um remake que não deu certo
Salem's Lot é um clássico da literatura de terror escrito por Stephen King. Lançado em 1975, a obra já havia sido adaptada para o formato de minissérie, sendo a primeira delas Os Vampiros de Salem (1979) e, nos anos 2000, o péssimo A Mansão Marsten (2004).
A Hora do Vampiro (Gary Dauberman), remake da minissérie da década de 70 e que também é baseado no livro de Stephen King, passou por alguns percalços até seu lançamento, já que demorou dois anos para ser produzido e, entre idas e vindas, foi lançado diretamente no streaming Max.
A história acompanha o escritor Ben Mears (Lewis Pullman), que retorna à cidade de Jerusalem's Lot, no Maine. Lá, ele revisita suas origens da infância e logo faz amizade com Susan Norton (Makenzie Leigh). Mal Ben e os moradores da pequena cidade imaginam que uma invasão de vampiros está prestes a começar, com criaturas que, noite após noite, começam a matar os habitantes.
Gary Dauberman, mais conhecido por seu trabalho como roteirista na franquia Annabelle, apresenta vícios na construção de seus roteiros, o que faz parecer que ele ainda não aprendeu com seus erros. Nesta nova versão da obra de King, Dauberman não apenas falha com um frágil roteiro, mas também na direção, que é igualmente fraca.
O roteiro é muito medíocre, e em várias cenas que deveriam ser aterrorizantes, o resultado é totalmente o oposto. Não há um aprofundamento dos personagens; o protagonista é raso e sem carisma, e os próprios vampiros são figuras quase apagadas no longa.
Há cenas que, se tivessem sido melhores trabalhadas por Dauberman, renderiam muito mais e ajudariam a fortalecer o horror que o cineasta queria empregar na produção. Algumas dessas cenas acabam sendo engraçadas em vez de assustadoras, e o que ajuda nisso são os jump scares ridículos e os efeitos especiais que são de baixo nível.
Ao contrário da minissérie de 1979, na qual o horror sobrenatural era bastante realista, mesmo com efeitos especiais de baixo orçamento, nesta nova versão, Dauberman foca mais no suspense do que propriamente no terror.
Existem alguns bons momentos, embora sejam raros, como quando as criaturas aparecem no telhado ou quando Kurt Barlow (Alexander Ward) — uma figura bem parecida com o Conde Orlok de Nosferatu (1922) — surge imponente.
Kurt Barlow é a melhor coisa do filme, mas frustra as expectativas por ter pouquíssimo tempo de tela. Sua ameaça é forte, mesmo quando não está presente, criando o medo de quem é essa criatura. A atmosfera criada para apresentar o antagonista é péssima e não reflete o horror que as pessoas da cidadezinha estão sofrendo — algo que a produção Missa da Meia-Noite (2021) conseguiu transmitir de maneira muito mais eficiente.
Mesmo tendo algumas particularidades em relação à obra de Stephen King, ainda assim se mostrou um filme sem essência e com um terror de segunda categoria. A Hora do Vampiro é apenas mais um dos muitos filmes inspirados nas obras do Mestre do Terror que fracassa.
A Hora do Vampiro (Salem's Lot, EUA – 2024)
Direção: Gary Dauberman
Roteiro: Gary Dauberman, baseado na obra de Stephen King
Elenco: Lewis Pullman, Makenzie Leigh, Jordan Preston Carter, Alfre Woodard, Bill Camp, John Benjamin Hickey, Pilou Asbæk
Gênero: Horror, Thriller
Duração: 114 min.
Crítica | Eu Vi o Brilho da TV é mais crítico que reflexivo
Quem viveu os anos áureos da televisão, aqueles pré-internet, sabe como era emocionante acompanhar uma série episódio por episódio, diariamente ou semanalmente, sem perder o horário ou o dia. Caso contrário, já era: o episódio seria perdido, e a única esperança seria torcer para que fosse reprisado na TV.
No regular Eu Vi o Brilho da TV, há todo um simbolismo por trás do ato de se reunir com alguém para assistir a um programa e depois se aprofundar nele com amigos, teorizando e discutindo sobre a obra. Algo que, embora hoje ocorra bastante nas redes sociais, perdeu-se em parte no meio físico, onde a essência dessas discussões presenciais se enfraqueceu.
Na trama, Owen (Justice Smith) é um adolescente que, junto com Maddy (Brigette Lundy-Paine), encontra-se semanalmente para assistir à série The Pink Opaque. Ambos são fanáticos pela produção e nunca perdem um episódio. Eles discutem e teorizam sobre a obra, que é exibida de madrugada e está no ar há muitos anos.
Este é o segundo filme da diretora Jane Schoenbrun, que também assina o roteiro. Jane tem uma afinidade especial com o universo adolescente, e seu primeiro longa, We're All Going to the World's Fair, também explorava peculiaridades relacionadas ao mundo juvenil.
I Saw the TV Glow (título original) não segue o estilo de terror convencional, aquele que o público está acostumado a assistir, repleto de ação e sustos. Na verdade, é provável que fãs do gênero se decepcionem, já que o filme possui um ritmo mais lento, sem cenas sangrentas ou mortes.
O maior trunfo da obra reside em suas mensagens. Ela aborda a obsessão pela TV e pelo consumo de seu conteúdo, além do isolamento que pode surgir ao acompanhar histórias sozinho. Os protagonistas experimentam um vazio ao perderem algum episódio, refletindo a desconexão com o mundo real e a falta de interação com outras pessoas.
Owen e Maddy, de certa forma, se espelham na série que assistem, especialmente o personagem Mr. Melancholy. Não se sabe ao certo se ele é um ser sobrenatural ou quais são suas intenções no reino fantástico da produção, mas ele representa um paralelo interessante com os protagonistas
A relação entre esse Ser, Owen e Maddy leva o filme a explorar um dos temas mais interessantes: a questão da identidade. Os adolescentes, em meio à busca por entender seu lugar no mundo, refletem sobre a vida e compartilham os problemas enfrentados no dia a dia.
Essa escolha do roteiro em abordar a identidade tem uma relação direta com a experiência pessoal de Jane Schoenbrun e seu processo de transição de gênero, que é incorporado de maneira inteligente à trama por meio da vida dos protagonistas.
Eu Vi o Brilho da TV se destaca por suas mensagens e pela sensibilidade com que aborda questões atuais. Entretanto, peca pelo ritmo excessivamente lento e pelo mistério, que demora a ser solucionado.
Eu Vi o Brilho da TV (I Saw the TV Glow, EUA – 2024)
Direção: Jane Schoenbrun
Roteiro: Jane Schoenbrun
Elenco: Justice Smith, Brigette Lundy-Paine, Ian Foreman, Helena Howard, Lindsey Jordan, Danielle Deadwyler, Fred Durst
Gênero: Drama, Horror
Duração: 110 min.
Crítica | A Primeira Profecia - Uma história de origem e de horror
A Profecia, lançado em 1976 e dirigido por Richard Donner, é um clássico dos filmes de terror, acompanhando como Damien Thorn se tornou a figura do Anticristo. A produção influenciou muitas obras e ainda hoje é referência dentro do gênero.
Com cinco obras fazendo parte da franquia, incluindo o fraquíssimo remake A Profecia (2006), desta vez foi a hora de contar a origem de Damien Thorn no ótimo A Primeira Profecia.
The First Omen (nome original) é uma rara obra que respeita o filme de 1976 sem tentar ser maior que o clássico. Encontrar prequels eficientes e bem estruturadas é difícil, mas a diretora Arkasha Stevenson conseguiu entregar uma história que não decepciona e não deixa a desejar em nada.
O que mais se destaca no longa é a qualidade narrativa, um dos pontos fortes do excelente roteiro de Arkasha Stevenson, Tim Smith e Keith Thomas. O roteiro vai direto ao que interessa, contando a história de modo eficiente e nos transportando para dentro dela, sem perder tempo com homenagens ao clássico e com questões irrelevantes.
Em 1971, Margaret Daino (Nell Tigre Livre) é uma noviça americana que é enviada para Roma a fim de iniciar seu serviço à Igreja, mas logo passa a questionar sua fé e se depara com uma enorme conspiração envolvendo o nascimento do filho de Satanás.
É um filme bem parecido com Imaculada, que, por sinal, foi lançado no mesmo período nos cinemas, o que acabou ofuscando bastante The First Omen, ainda mais porque a produção protagonizada por Sydney Sweeney tem um roteiro bem parecido, com pequenas diferenças simbólicas.
Alguns clichês do gênero são utilizados, sendo que a maioria já cansou de tão repetitivos, como o da noviça que engravida do diabo ou o da freira que comete suicídio. O uso de tons escuros lembra bastante o estilo do giallo, que claramente serviu de referência para a obra.
Há um tom de crítica à Igreja Católica ao retratar a instituição como corrupta e cheia de conspirações, como a que quer conceber o nascimento do Anticristo, criticando a entidade que prega a salvação e a pureza
A intensidade com que essa crítica é feita o diferencia de outras produções do gênero e contrasta com o longa de Richard Donner. Outra crítica social também é feita, embora sem aprofundamento, relacionada ao protesto dos estudantes logo que a noviça chega à Roma, mostrando que os jovens perderam a fé e não respeitam mais as instituições tradicionais como antigamente.
A Primeira Profecia é um exemplo de como retornar com uma história clássica sem torná-la cansativa ou desnecessariamente chata a ponto de diminuir a força do original. É, sim, um prequel de respeito, tornando-se um dos grandes filmes de terror do ano e, mesmo sendo quase igual a Imaculada, ainda assim se sai melhor e com menos clichês.
A Primeira Profecia (The First Omen, Portugal – 2024)
Direção: Arkasha Stevenson
Roteiro: Tim Smith, Arkasha Stevenson, Keith Thomas
Elenco: Nell Tiger Free, Ralph Ineson, Sonia Braga, Tawfeek Barhom, Maria Caballero, Bill Nighy
Gênero: Horror
Duração: 119 min.
Crítica | A Semente do Mal é um bom filme de terror, mesmo sem trazer nada de novo
Vendo os materiais promocionais liberados pelo marketing, como pôsteres e trailers, A Semente do Mal tinha tudo para ser, ou pelo menos era isso que se podia concluir, uma obra genérica ou uma cópia de outras produções do gênero.
Concluir isso apenas vendo esses materiais publicitários não passa de uma precipitação, até porque o filme dirigido por Gabriel Abrantes (Diamantino) de genérico só tem o nome mesmo.
Seu primeiro ato é bastante lento, mas apresenta algumas situações importantes, já que Ed (Carloto Cotta), ao procurar por seus pais biológicos e por sua origem, utiliza um aplicativo que logo entra em contato para avisá-lo sobre o local que deve ir e encontrar seus entes perdidos.
Ed e sua namorada Riley (Brigette Lundy-Paine) viajam para o Norte de Portugal em busca de sua mãe (Amélia). Lá, ele descobre ter um irmão gêmeo e, com o tempo, vai percebendo que aquela casa antiga guarda muitos outros segredos.
Há um tom de deboche no roteiro criado Abrantes, principalmente nos personagens caricatos que surgem após Ed ir para Portugal. Amélia (Anabela Moreira) é uma senhora invasiva e que tem o rosto todo deformado. Já o irmão gêmeo de Ed é um ser caricato de cabelos longos e com um físico avantajado.
Abrantes utiliza o humor para nos fazer rir e esquecer que estamos em um thriller. São várias situações e diálogos que arrancam risos de canto de boca, e esse humor serve para aliviar a carga pesada da trama, que, queira ou não, tem sim uma pegada de horror que vai se intensificando à medida que a narrativa se desenvolve.
Nem tente desvendar o que aquela casa gótica guarda em seu interior, porque certamente você irá errar. Há, obviamente, um segredo, principalmente na relação entre o irmão gêmeo de Ed e sua mãe, com Abrantes até mesmo sugerindo uma relação incestuosa entre os dois.
O plot twist guardado para o terceiro ato é ótimo, funcionando e causando o impacto certo no espectador. Não é aquela virada de roteiro que nos fará lembrar do filme para sempre, mas, para aquele momento, cumpre seu papel, não sendo óbvio e trazendo um tom de choque.
A Semente do Mal é um divertido entretenimento de terror, acertando mais do que errando. Em algumas situações, o longa recorre a clichês, mas isso não é excessivo e nem chega a atrapalhar a trama. É uma grata surpresa e nos lembra que ainda existem boas produções de terror por aí.
A Semente do Mal (Amelia's Children, Portugal – 2024)
Direção: Gabriel Abrantes
Roteiro: Gabriel Abrantes
Elenco: Brigette Lundy-Paine, Carloto Cotta, Anabela Moreira, Alba Baptista
Gênero: Horror, Thriller
Duração: 91 min.
Crítica | Oddity: Objetos Obscuros surpreende com bons sustos
Em uma casa de madeira, isolada da cidade, Dani Timmins (Carolyn Bracken) está sozinha quando, durante uma noite chuvosa, ouve batidas na porta. Ao abrir, encontra um homem estranho que afirma ter visto alguém entrando em sua casa. Dani, perturbada, começa a questionar se o homem está mentindo para convencê-la a abrir a porta e deixá-lo entrar.
Essa é a cena introdutória do excelente Oddity: Objetos Obscuros. E ela é suficiente para prender a atenção do público, despertando um interesse imediato em saber os desdobramentos daquele momento.
Com essa introdução, o longa já nos fisga por sua criatividade e por despertar apreensão no espectador. O diretor e roteirista Damian Mc Carthy filmou, de forma brilhante, uma história simples, capaz de provocar os mais diversos sentimentos, que vão desde o medo e a perturbação até o desconforto diante do desconhecido.
Em seus dois primeiros atos, Oddity se destaca ao apresentar os personagens e posicionar a vidente cega como figura central da trama, estabelecendo claramente seu papel na história. Além disso, o segundo ato se sobressai ao construir um clima de tensão crescente, combinado com uma atmosfera de terror que provoca momentos de medo genuíno.
Contudo, no seu terceiro ato, o longa se perde em sua própria narrativa, tentando resolver todos os mistérios de forma apressada e deixando várias perguntas sem respostas, como, por exemplo: quem era o homem de madeira no centro da sala? O que estava fazendo ali? Seria uma espécie de protetor ou algo amaldiçoado? São muitas questões, e quase nenhuma é respondida.
Essa falta de aprofundamento no roteiro de McCarthy deixa bastante a desejar, resultando em uma perda de foco em vários elementos de suspense que ficaram sem solução
Oditty: Objetos Obscuros é uma produção de baixo orçamento, o que fica bastante claro em vários momentos, principalmente em cenas que poderiam receber algum tipo de efeito especial. Porém, isso não afeta o resultado final, já que o filme é um bom suspense e consegue, sim, amedrontar o público com muitos sustos.
Oddity - Objetos Obscuros (Oddity, Irlanda– 2024)
Direção: Damian Mc Carthy
Roteiro: Damian Mc Carthy
Elenco: Carolyn Bracken, Johnny French, Steve Wall, Joe Rooney, Gwilym Lee, Tadhg Murphy, Caroline Menton
Gênero: Horror, Thriller
Duração: 98 min.