7 Jogos Desconhecidos sobre a lenda de Rei Arthur
A mitologia que envolve todo o mito do Rei Arthur é bastante fértil. Já influenciou narrativas de filmes com histórias que nem buscam adaptar o conto em si, além de outras obras da literatura. Enquanto há bons exemplos de obras ótimas derivadas do mito em outras artes, o cenário nos games é mais desanimador, mas já existiram alguns jogos que basearam sua plot e mecânica nesse universo. Resolvemos listar alguns jogos desconhecidos sobre o Rei Arthur. Confira!
Sonic and the Black Knight
Na crista da onda de God of War, a SEGA decidiu jogar o Sonic em algumas mitologias interessantes. Uma delas foi a do Rei Arthur. Essa aventura joga o ouriço em uma Camelot perdida pela corrupção na qual o Cavaleiro Negro reina. Sonic terá de ajudar Arthur a retomar o trono e, para isso, terá que enfrentar novos cavaleiros da távola redonda. O jogo saiu em 2009 para Wii e foi duramente criticado recebendo notas extremamente negativas. Muito por conta da jogabilidade péssima proporcionada pelo wiimote para controlar a Excalibur, lendária espada de Arthur que é manejada por Sonic durante a aventura.
Dark Age of Camelot
Esse antigo game de 2001 foi uma interessante tentativa de tornar essa mitologia a base de um MMORPG. E que deu bastante certo, afinal, o game continua ativo até hoje. A proposta é interessante. Situada pós a morte de Arthur, todo seu reinado é desmantelado em três facções que entram em uma guerra eterna. Dark Age mistura o lore do reinado arturiano com mitologia celta e outras lendas de fantasia medieval. Com muito esforço e ênfase, o MMO se renovou para os padrões atuais. Há narrativas intrincadas para cada território, além de permitir o jogador escolher entre PvE e PvP.
King Arthur & The Knights of Justice
Do saudoso Super NES, tivemos o jogo inspirado na animação homônima em 1995. O título também foi bastante massacrado na época de lançamento por não trazer nada de novo. Era o mesmo joguinho de aventura genérico, mas que contava com dois bots que auxiliavam o jogador em toda a jornada. O interessante era a possibilidade de trocar esses aliados ao resgatar os cavaleiros da távola redonda conforme o jogo progredia.
Tomb Raider: Legend
O jogo mais famoso da lista também é o que tem menos ligação com o Rei Arthur e mais com a lenda da Excalibur, sua lendária espada. Em Tomb Raider: Legend, primeiro game da franquia desenvolvido pela Crystal Dinamics e lançado em 2006, o jogo representou um reboot para a franquia de Lara Croft, após o fracasso de seu antecessor Angel of Darkness. Reunindo arqueologia com o sobrenatural, Lara precisa encontrar a espada do Rei Arthur antes que Amanda Evert, sua ex-aliada, tenha em mãos o artefato capaz de abrir um portal para outra dimensão. Viajando para vários países durante a jornada, Lara encontra diversos fragmentos do objeto, até chegar na tumba do Rei Arthur, onde finalmente encontra a última peça. Não vamos dar spoiler, mas quem já viu algum Indiana Jones sabe mais ou menos o que acontece quando se mexe com artefatos sobrenaturais: muitos problemas. Outro lance interessante é que a trama da sequência continua diretamente de onde esse parou, em Tomb Raider: Underworld, lançado em 2009.
Knights of the Round
Outro game das antigas de árcade e também para o Super NES. Esse clássico da Capcom juntava as mecânicas da moda dos famosos side scrollers beat n’ up da produtora como Final Fight. Aqui, havia a adição do hack n’ slash muito bem-vindo. O plot do game é bastante básico. Apenas mostra a jornada de Arthur logo após empunhar sua lendária Excalibur seguindo em jornada por sete níveis até conquistar o trono e unir a Inglaterra. Como boa parte dos games da Capcom na época, o game era um tanto difícil enfatizando bastante a mecânica arregimentada de bloqueio e contra-ataque que tiravam a obra do lugar comum. Foi bastante elogiado na época.
Conquests of Camelot: The Search for the Grail
De 1989 para Atari ST, Conquests of Camelot não se trata de nenhuma pérola, mas se trata de um game que desperta interesse por conta de fazer parte do catálogo histórico de jogos de aventura da Sierra. Basicamente, trata-se de uma narrativa dividida em diversas telas fixas com os dizeres da narrativa – como em um point n’ click. Porém, a Sierra adicionou diversos puzzles, charadas e alguns segmentos de jogabilidade arcade para tirar a experiência do jogador do marasmo. Mesmo assim, não fez grande sucesso.
King Arthur: The Role-Playing Wargame
Claro que o Rei Arthur também teria seu game de estratégia nos moldes RTS. E ele veio em 2009 justamente com esse título da Paradox. Bastante elogiado na época – apesar de problemas de balanceamento das facções, King Arthur trazia elementos novos que mudavam o progresso da partida conforme o jogador ia conquistando novos objetivos. O sistema de “moral” dava ânimo às facções vencedoras oferecendo certas vantagens para o jogador. Também há o diferencial da adição das mecânicas role playing que permitem o herói subir de nível, além de ganhar novos atributos à escolha do jogador. A história da campanha é simples: encarnamos o Rei Arthur já tendo conquistado o trono em busca de expandir seu reinado.
Você conhece mais algum game desconhecido sobre o Rei Arthur? Conte para a gente nos comentários!
Artigo | A Biologia do Alien Xenomorfo
Ao longo de toda a franquia, tivemos expansões valiosas sobre como funcionam os xenomorfos. Somente com base no cânone principal, já dá para entender muita coisa sobre a biologia das criaturas, porém muita informação também é fornecida pelo universo expandido. No embalo do ótimo Alien: Covenant, decidi fazer esse artigo para entendermos melhor como funciona a biologia do tão chamado “organismo perfeito”.
Ciclo de Vida
Sem a menor sombra de dúvidas, o alien é o monstro mais completo em termos biológicos, comportamentais e de outras características que o Cinema de ficção científica já ofereceu. Os xenomorfos aparentemente não possuem grandes pretenções, além de garantir seu amplo domínio no ecossistema. Não é por acaso que muita gente os compara com insetos que vivem em comunidade como abelhas, formigas ou cupins.
Porém, seria muito tranquilo caso fossem insetinhos como esses que conhecemos aqui na Terra. Os aliens são extremamente agressivos e conseguem infernizar sua vida mesmo estando solitários como em Alien: o Oitavo Passageiro e Alien³.
Como é bem conhecido, o ciclo de vida do alien é bastante perturbador. Primeiro, é preciso que uma Rainha deposite ovos contendo facehuggers (o primeiro estágio de vida do xenomorfo) até que um hospedeiro desafortunado acabe despertando o parasita.
Os ciclos de vida das criaturas vistas no cinema até Prometheus.
Intencionalmente, os roteiristas, Ridley Scott e Giger alinharam o visual do facehugger para misturar as gônadas de ambos os sexos. O modo como se acopla no hospedeiro, rapidamente e à força, visa remeter a um estupro. Já nessa fase, a criatura apresenta seu perigosíssimo sangue de ácido molecular. A função dele é simples: um mecanismo de defesa poderoso. Consegue matar tanto o hospedeiro e quem ousar retirá-lo da incubação.
Após algumas horas depois de ter implantado a larva do xenomorfo (chestburster), o facehugger morre permitindo que o hospedeiro desperte para experimentar a verdadeira agonia de “parir” um filhote indesejado. Após estourar e matar o hospedeiro (pode ser humano ou animal), a larva cresce rapidamente, em questão de horas, trocando sua pele por um exoesqueleto de silicone polarizado (material muito resistente).
Eis que então surge o xenomorfo em toda sua glória violenta e perversa o que nos leva até o próximo tópico. Aliás, até agora não algum material canônico que revele o que acontece com o bicho durante toda a sua vida adulta ou se pode assumir outras funções dentro da comunidade.
A Rainha Alien é a criatura mais importante dentro da hierarquia apresentada nos filmes, mas ela é apenas a terceira mais importante no universo expandido.
O Xenomorfo e sua Hierarquia
Através dos filmes, é perfeitamente compreensível como funciona a hierarquia da ordem social dos bichos. O principal responsável em expandir o universo além da conta é o gênio James Cameron com Aliens, o Resgate. Enquanto em Alien, o xenomorfo que vemos é o Drone, um operário – na versão do diretor, podemos ver Dallas e Brett colados nas paredes da Nostromo para serem impregnados por facehuggers (isso se tivessem ovos a bordo), em Aliens vemos os chamados Warriors, os soldados da hierarquia de castas dos aliens.
Os guerreiros fazem exatamente o que vocês imaginam: protegem o ninho da Rainha de quaisquer ameaças. Assim como os drones, eles podem sequestrar vítimas para reprodução de novos xenomorfos, mas aparentemente não tem capacidade de produzir a gosma que cola as vítimas nas paredes – isso é função dos operários.
Também existem os Praetorians, guardas de elite da Rainha. Eles são um pouco mais inteligentes e conseguem dar comandos simples para os outros tipos de xenomorfos. Também tem a habilidade de criarem um casulo próprio para virar uma nova Rainha caso a original morra. Esse tipo de xenomorfo é apresentado no universo expandido de Alien.
E obviamente também temos as Rainhas. Uma para cada ninho, é a criatura mais importante dessa hierarquia apresentada no cânone cinematográfico. É gigantesca e consegue produzir ovos com pré-determinações para qual casta de xenomorfo que irá nascer, inclusive uma nova Rainha – como visto em Alien³ com o royal facehugger.
A Rainha é a criatura mais inteligente, além de conseguir expressar sentimentos complexos a ponto de negociar com humanos para proteger suas crias. Seu design é tão sensacional que até mesmo Giger reconheceu em entrevista que a produção havia feito um bom trabalho, mesmo sem seu conselho estético para a concepção.
O Drone visto em Alien³. Também conhecido como Runner.
Herança Genética
Como ficou provado em Alien³, os xenomorfos também herdam significativa quantia de DNA do hospedeiro original. Isso acaba definindo muito de sua locomoção, além de outras habilidades. Por exemplo, nos dois primeiros filmes, víamos o alienígena assumindo posturas bípedes a todo momento por carregarem a carga genética de humanos.
No terceiro filme, o drone que aterroriza Ripley e os detentos de Fury 161 sai de um cachorro ou boi (depende do corte que você assistir). Logo, ele é se locomove nas quatro patas, é muito mais rápido, violento e ainda tem a capacidade de cuspir ácido (algo inédito até então). Essa versão foi batizada de runner xenomorph dentro do cânone oficial da franquia.
Em termos de filme, pouco mais foi revelado até agora, mas sempre fica entendido que o xenomorfo herdará a carga genética do hospedeiro – até os Predadores servem como hospedeiros dando origem ao terrível Predalien de AvP 2.
Toda a glória da mandíbula faríngea
Habilidades e Alimentação
Os xenomorfos são como baratas assassinas do espaço. Extremamente resistentes a climas e condições adversas, a criatura consegue aguentar longos períodos de tempo sem precisar se alimentar. Tanto que raramente vemos esses bichos comendo humanos, mas se preocupando em utilizá-los como hospedeiros para perpetuar a espécie. Durante toda a franquia, vimos apenas o runner comer uma de suas vítimas em Alien³.
O sangue ácido é usado como arma seja por automutilação, mutilação durante brigas ou através de uma cusparada que nem ouso imaginar como funciona. A força física, obviamente, é destacada conseguindo levantar humanos sem o menor problema, além da cauda que sempre possui pontas afiadas similares a facas.
Sua maior arma, com certeza, é a famigerada mandíbula faríngea. O lançamento da língua é tão forte que quebra crânios e metais sem o menor esforço. Essa mordida é o movimento de assinatura de assassinato dos bichos (raramente vemos dilacerações ou uso de garras nas matanças). É especulado que a pressão exercida durante o ato seja de 6000psi.
A comunicação entre xenomorfos é um campo ainda pouco explorado. Alguns dizem que se comunicam telepaticamente, através de ultrassons ou por feromônios. As criaturas não emitem calor e sempre mantém a temperatura de seu corpo igual à do ambiente que estão localizadas permitindo certa camuflagem para sensores térmicos, além de permitirem sua sobrevivência em qualquer clima. Os aliens também conseguem sobreviver no vácuo do espaço por tempo considerável.
Esse é o Warrior, visto em filmes como AvP e Aliens. A diferença está no formato do crânio com ranhuras, ao contrário do Drone que possui doma lisa.
O crânio do xenomorfo também tem sua razão de ser tão gigantesco. Ao longo dos lados da estrutura, existem várias câmaras que vibram ao menor sinal de alteração na atmosfera do ambiente. Isso o torna um caçador nato que consegue espreitar suas presas, preferindo ataques sempre pela retaguarda, surpreendendo a vítima. Eles também possuem órgãos vestigiais fotossensíveis utilizados principalmente para conseguir enxergar outros seres de sua própria espécie, já que seus receptores termais nunca notariam seus semelhantes por conta dessa biologia singular.
Segundo o universo expandido, a violência da matança de um xenomorfo também é relacionado com a captação de ferômonios do medo que ele capta em um ambiente. Aparentemente o cheiro os deixa excitados ou profundamente irritados, enfim, causa um efeito adverso. Por isso que vítimas aterrorizadas possuem as piores mortes nos filmes como Lambert que aparentemente é violada sexualmente pela criatura. Mortes rápidas são garantidas por presas que não tem ciência de que estão sendo caçadas.
Isso também explica por que os xenomorfos nunca atacam sintéticos. Como os androides não exalam odor algum, eles não afetam o comportamento da criatura – a menos que entrem em confronto direto. Apenas a Rainha destrói um sintético em toda a franquia, mas a “morte” de Bishop mais se assemelha a um ato de vingança ou de ira.
Graças a toda essa receptividade sensorial, as criaturas têm uma fraqueza sonora. Através de pulsos ultrassonoros de baixa frequência, é possível deixa-la em um estado hipnótico que basicamente a adormece.
O Xenomorfo de Alien: Covenant
A criatura vista no novo filme também tem sua parcela de peculiaridades que o distinguem do xenomorfo dos outros filmes. Ao contrário do design biomecânico da criatura (o que já deve indicar que David, de alguma forma, colocará mais características suas nas próximas experiências), esse xenomorfo tem um look mais orgânico e magricela, além de ser mais persistente e violento. Os traços biomecânicos são muito sutis, músculos são mais proeminentes, mas não hipertrofiados.
Também há o diferencial de não possuir a fase larval do chestburster. Assim como o runner de Alien³, esse xenomorfo já nasce com os membros totalmente desenvolvidos. A principal diferença entre esse variante e o normal continua sendo o comportamento persistente. Batizado como "protomorfo" pro alguns fãs, a criatura não opta por manter sua integridade física a todo custo. Os dois aliens, mesmo machucados, não desistem da presa e até chegam ao ponto de se machucarem como o alien que cabeceava o vidro do cockpit do cargueiro de Tennessee.
Por enquanto isso é o que sabemos da biologia do "organismo perfeito". Recomendo muito a leitura do artigo do bicho no wikia de fãs muito mais fissurados na mitologia de Alien do que eu conseguirei ser em uma vida inteira. Você pode ler esse conteúdo interessantíssimo Aqui.
Lista | Os 5 Melhores Games de Horror Espacial
O gênero está a toda nesse ano de 2017. Com o lançamento de grandes filmes como Vida e Alien: Covenant, a junção dos cosmos foi tanta que até mesmo a Bethesda resolveu lançar o ótimo Prey no dia 5 deste mês. O engraçado é que o Espaço é um dos lugares mais férteis para os games de horror, mas, infelizmente, não existem muitos deles. Mas, motivados pelo retorno e também pelo nosso enorme especial sobre Alien, listamos os 5 melhores games que conseguem te aterrorizar com facilidade.
5. Subterrain
O jogo indie produzido pela Pixellore consegue trazer o que há de mais hardcore para um game de horror espacial. A profundidade mecânica é uma das suas maiores forças contando com um sistema de crafting interessantíssimo e muito criativo. Além disso, o uso de luz e escuridão é vital para a sua sobrevivência sendo preciso energizar diversas áreas da colônia marciana que o jogo se passa. O tempo também conta para nivelar a dificuldade do jogo. Os inimigos mutantes evoluem conforme o tempo passa. Então é bom saber administrar muito bem seu tempo enquanto joga este daqui.
4. Prey
Mal chegou e já consegue estar no nosso pódio. Prey é um jogo que não te perdoa em nenhum momento, principalmente no começo. Se aventurar em Talos-1 não é para os fracos ou para gamers casuais. Porém, aqueles que resistem conseguem se deslumbrar pela ótima ambientação visual e sonora, além da narrativa ser bastante eficiente em brincar com sua percepção sobre a realidade do jogo. Comparado exaustivamente a Bioshock, Prey consegue garantir horas de entretenimento que só confirmam que a Arkane é uma das melhores produtoras de games da atualidade.
3. System Shock 2
Um dos games mais importantes e conceituados de toda a História. Suas transformações mecânicas influenciam jogos até hoje como Prey e Bioshock. Enquanto há essa densa mecânica, o game mostra sua idade se jogado hoje. Lançado em 1999, muita coisa não se sustenta muito bem como a inteligência artificial, a dublagem, além da interface nada intuitiva e bastante poluída. Porém, como definiu o rumo de tanta coisa na indústria, certamente merece um lugar digno na lista, além de sua ambientação ser tão magistral que ainda consegue te provocar medo mesmo contando com gráficos datados.
2. Alien: Isolation
O melhor jogo de Alien também é um dos melhores de survival horror no espaço. Encarnando a filha da heroína dos filmes (Ellen Ripley), sofremos a todo momento a perseguição incessante do xenomorfo mais obstinado de toda a franquia. Ele fará de tudo para matar Amanda que está presa em uma estação espacial condenada por conta da presença do bicho. A ambientação é fidelíssima ao visual retrofuturista do primeiro filme, mas consideravelmente mais assustadora. Importante lembrar que o jogo é imenso. Ou seja, na impossibilidade de matar o alien, prepare-se para morrer muitas e muitas vezes. A inteligência artificial do bicho é uma das melhores já feitas na História.
1. Dead Space
Aqui, contamos Dead Space como a franquia inteira. Mesmo derrapando significativamente em sua terceira edição, o jogo original e sua sequência conseguem te provocar profundos pesadelos. De ambientação mais que fantástica, além do design das criaturas ser realmente aterrorizante, há a extensa e complexa história que consegue até mesmo criar uma mitologia própria para o game. Os pesadelos de Isaac Clarke ficaram marcados para sempre na História dos Games e certamente merecem o topo da nossa lista. Detalhe: se ainda não jogou, jogue! O momento é mais que propício, além dos games terem envelhecido muito bem.
E então? Contem para a gente nos comentários quais são seus games favoritos de horror espacial!
Crítica | Alien: Covenant (Com Spoilers)
Com Spoilers
Existem fãs que aguardam com muito entusiasmo por diversas novas incursões de suas obras favoritas. Seja nos quadrinhos, televisão ou cinema, sempre tem um que puxa o trem do hype com mais força que os outros. No caso, eu só pude experimentar essa expectativa com a franquia Alien agora.
Não foi com menos entusiasmo que tinha me empolgado pelo retorno de Alien com Prometheus. Porém, para ser bem honesto, meu hype para Alien: Covenant estava mais que nas alturas. A antecipação em ver o filme era tão grande que passava a ter diversos sonhos envolvendo essas malditas criaturas – acredite, não era algo agradável.
Mas tão logo assisti ao filme que meus demônios se acalmaram. As chances de eu dar com a porta na cara e encontrar uma perfeita porcaria eram altas, afinal minhas expectativas estavam fora do normal. Mas, em uma incrível ironia do destino, acabei amando essa nova adição à franquia enquanto outros que nada esperavam, saíram detestando.
Novamente, na mesmíssima época do ano, me encontro defendendo outro blockbuster considerado torto por muita gente – em 2016 foi a vez de Batman vs Superman.
Em Covenant, acompanhamos um grupo de astronautas responsáveis em criar a primeira colônia não-terrestre no espaço profundo. Carregando mais de duas mil almas em sua carga, a nave intercepta um sinal misterioso que a tira de seu trajeto original para Origae VI.
Reparando que o sinal vem de um planeta com perspectivas melhores para a terraformação e instalação da nova sociedade, o capitão decide que toda a tripulação investigue a origem do sinal para confirmar se esse desconhecido planeta é realmente mais convidativo.
Chegando lá, o lugar que poderia ser o novo paraíso para a arca espacial rapidamente se torna no inferno vivo após a equipe encontrar formas de vida nunca antes imaginadas nem em seus piores pesadelos.
Servir no paraíso
Alien Covenant é sequência direta de Prometheus. Logo, é mais do que necessário ter assistido o longa anterior antes deste, já que os roteiristas não retomam em nada o desenvolvimento do personagem melhor escrito desta nova trilogia: o David de Michael Fassbender. A importância do androide para a narrativa é tanta que a primeira cena da obra já apresenta a origem dele.
Com uma troca de diálogos excelente, vemos David em seus primeiros instantes de vida ser confrontado com diversas perguntas provocantes de seu criador, Peter Weyland – Guy Pearce finalmente entrega uma ótima atuação cheia de detalhes minuciosos importantes. A cena é visualmente muito impactante trazendo o melhor possível da direção de Ridley Scott que busca trabalhar contrastes nítidos.
É impossível não reparar no trabalho de contrastes e simbologias apresentados aqui. A começar pelo figurino que divide Weyland do cenário, mas torna David parte do lugar, como se fosse um mero instrumento ou mobília. O magnata gênio veste cores escuras esverdeadas indicando certa maturidade e corrupção moral enquanto David, recém-ativado, esbanja um traje branco simbolizando ingenuidade e inocência. Ambas as figuras entram em contraste direto com a força da natureza representada pela vista panorâmica. Há ali o perpétuo natural, o homem mortal e o perpétuo artificial criado para a perfeição, mas de função fútil.
Outra boa escolha que explode em níveis estratosféricos a simbologia do androide ocorre apenas em duas frases colocadas no simples diálogo: Qual o seu nome? O robô olha para a estátua renascentista de Michelangelo e responde, David. Nisso, já é necessário leve conhecimento do espectador.
Primeiro, o Renascimento por si só é um movimento intelectual humanista. Logo, temos uma completa subversão deste humanismo ao androide escolher o nome de uma das principais obras renascentistas, pois David descobre em poucos minutos que é mais que um humano, é superior a isso.
Depois, há de se levar em conta a carga bíblica do nome imortalizado tanto pela Bíblia quanto por Michelangelo. A graça de sua estátua é capturar o herói bíblico momentos antes de sua batalha contra Golias. Novamente a obra pede para que liguemos um ponto ao outro. Entre Prometheus para este filme, nitidamente há mudanças em David. Ele não tem mais grilhões o segurando. Agora pode sim enfrentar o Golias, vencer de um modo inteligente seu maior algoz, a humanidade que o concebeu para a mais frívola das funções.
A cena não para por aí. Rapidamente David confronta Weyland inferindo que ele é imortal enquanto seu mestre perecerá e apenas seu legado permanecerá com o risco de findar a qualquer momento. É aqui que temos o melhor que Pearce oferece o personagem, já enrubescendo e perdendo todo o encanto por sua criação. Ao contrário das claras aspirações à grandeza do robô, Weyland já o obriga a realizar tarefas banais como lhe servir o chá. Ser um servo.
Esse podar completo de suas pretensões ainda embrionárias entram diretamente em confronto com a primeira música que David escolhe tocar no piano: A Entrada dos Deuses em Valhalla de Wagner. O nome da sinfonia praticamente explica seu significado, mas há um bom jogo de ironias quando Peter provoca o robô ao dizer “um pouco fraca sem todo o acompanhamento de uma orquestra, não? ” – Importante lembrar dessa frase, pois se trata de um embasamento para as motivações do personagem.
As provocações os colocam em contrapontos claros e definem a parte do Ser do personagem. Algo que já em Prometheus estava mais que superado pelo personagem. Ele já compreendia o que era e repulsava a total ideia de ser um homem. Felizmente, seu desenvolvimento continua até a conclusão da obra, mas é importante distinguir esse prólogo de todo o resto. Ele é a pérola de Covenant e mostra um Fassbender bastante diferente, cru, do que veremos posteriormente com o próprio David e sua versão atualizada, Walter.
Reinar no Inferno
Após a abertura excelente, John Logan e Dante Harper finalmente dão início a narrativa envolvendo os tripulantes da Covenant. Esse primeiro ato lembra bastante os arcos das hqs do xenomorfo em Fire and Stone. Também as comparações com Alien já ficam escancaradas. Após toda a tripulação acordar por conta de um mal funcionamento, compreendemos que há muita camaradagem entre eles.
Entretanto, uma das escolhas mais dúbias dos roteiristas já acontecem nesse despertar: a morte do personagem de James Franco, que nem tem a chance de ter um mísero diálogo com Danny McBride, que interpreta o ótimo Tennessee – baita desperdício de elenco. Passada essa perda, pouco a pouco, compreendemos que quase toda a tripulação é formada por casais – esse é um ponto importante que retomarei mais à frente.
Essa primeira passagem na Covenant é por vezes ociosa, já que não há um bom trabalho para conferir complexidade ou personalidade para a tripulação. A maioria deles é descartável servindo apenas como sacos de carne para as futuras pancadarias e tiroteios. Muita coisa se sustenta por conta do talento dos atores.
Nesse rol de 15 personagens, apenas 3 podem ser consideravelmente desenvolvidos. Oram (Billy Crudup) é quem os roteiristas mais concentram seus esforços. Após o personagem de Franco morrer, Oram passa a ser o responsável pela missão apesar de não ter preparo algum para isso. Há atritos entre ele e sua tripulação, além das escolhas que ele opta praticamente nos forçam a torcer contra o personagem, apesar de compreendermos sua tragédia.
O problema é que, bem estabelecido esse conflito digno, Logan e Harper não procuram desenvolvê-lo adequadamente. Há incongruências nítidas como quando Oram descobre as reais intenções de David desconfiando inteiramente de suas ações. Momentos depois, o personagem confia no robô maquiavélico e enfia a cara perto de um ovomorfo. São as burrices textuais que marcaram Prometheus dando as caras em sua sequência. Felizmente, enquanto Oram é um fracasso como personagem, ele serve de trampolim para desenvolver outros mais interessantes como David e até mesmo Daniels, a proto-heroína do filme.
Daniels, apesar de má escrita e má dirigida, segura mais nosso interesse pela razoável performance de Katherine Waterston. Ela é a primeira das muitas viúvas e viúvos da nave e, por consequência, compramos um pouco mais a sua dor. Recursos um pouco similares a de Shaw são apresentados aqui, como um totem de apego a uma pessoa querida que depois serve como arma para se defender da opressão de terceiros. Ela também serve de contraponto explícito para Oram se opondo à ideia de mudar o curso original para visitar o planeta desconhecido.
Infelizmente, Daniels também possui incongruências a olhos vistos. A maior opositora à visita, se encanta com o novo planeta em pouquíssimo tempo. Mesmo depois dos horrores acontecerem, a personagem fica serena. Quando enfim o clímax se aproxima, Waterston mantém a expressão chorosa. Até mesmo no fim do filme, já novamente na Covenant, a atriz transita entre o choro e o espírito bad-ass que pouco casa com ela – mais se assemelha a Lambert do que com Ripley que Scott tanto quer forçar a ponto de vesti-la com a clássica regatinha sem sutiã de Aliens, o Resgate.
As boas coisas de Daniels são poucas: sua relação pseudo amorosa com o sintético Walter e o que seria uma pseudo concretização dessa tensão sexual com a construção de uma cabana no lago. Fora isso, nada.
O único que consegue manter sua consistência mesmo tendo pouca coisa para trabalhar é McBride, divertido e certeiro. Outros personagens são mais definidos por características clichês como a de Amy Seimetz com Faris, esposa de Tennessee. A pilota é toda casca-grossa e justamente por essa sua segurança é que torna a sequência do backburster algo verdadeiramente único.
Quando Scott quer dirigir bem, ele consegue e essa cena é o clássico exemplo disso. Apostar nos contrastes da atuação de Seimetz é inteligente. A atriz outrora tão protetora fica totalmente vulnerável e aterrorizada. O pânico é tão genuíno que potencializa todo o horror gráfico que vemos em tela e até justifica algumas burradas que a personagem faz na vã tentativa de matar o neomorfo. De resto, para nos simpatizarmos mais com os personagens, é preciso assistir ao curta The Last Supper que mostra um pouco mais dessa união do grupo que não é muito aparente no filme.
É chato notar que até mesmo Alien³ conseguia fisgar mais nosso interesse pelos personagens do que aqui.
Problemas no Paraíso
Em termos de narrativa em si, Covenant sofre bastante pelo exercício da lógica. Primeiro, para movimentar e incentivar o grupo ir ao planeta desconhecido, é preciso dois deus ex machina repletos de conveniências. Depois, pela primeira vez em um filme Alien, temos os personagens expostos abertamente a atmosfera alienígena que, convenientemente, infecta dois tripulantes através dos esporos oriundos do mutagênico da gosma preta.
Logo, há a origem dos neomorfos que movimentam a trama até David surgir e salvar o grupo (aliás, é uma ótima cena). As coisas seguem com algumas reviravoltas consideravelmente previsíveis e outras decisões estúpidas até que um personagem é infectado por um facehugger, mas consegue se libertar da criatura. Todos fogem do xenomorfo que saiu de Oram, acontece a set piece e retornamos para a Covenant. Lá, o outro xenomorfo sai de Lope (única boa surpresa da obra) gerando outro pequeno clímax até finalizarmos com outra reviravolta previsível.
Basicamente, todas as reviravoltas de causa e efeito acontecem por conta de muitos roteirismos para criar essas conveniências a fim de movimentar a trama rapidamente – o filme voa depois do nascimento dos neomorfos.
Também é incomodo o quanto Harper, Logan e Scott não tem muito interesse em explorar melhor esse novo planeta e a sociedade claramente distinta de Engenheiros dizimados por David. Uma cena importantíssima ficou restrita apenas ao marketing do filme intitulada como The Crossing. Sem ela, toda a conclusão do arco de Shaw termina de modo preguiçoso e limitado.
Basicamente, Covenant expande consideravelmente a mitologia da franquia exibindo a origem do xenomorfo e quem os criou, porém, todas as coisas interessantes nunca resolvidas em Prometheus não tem lugar aqui. Até mesmo essa expansão ocorre rapidamente, apenas expondo e nunca as desenvolvendo por completo – se o espectador pensar, é possível preencher algumas lacunas. O terceiro ato acaba corrido por conta de tanta ação, além de ainda sentir o excesso de personagens. Ironicamente, Covenant comete os mesmos erros do filme anterior – começo lento, meio e final apressadíssimos que se atropelam.
Os Deuses entram em Valhalla
Apesar de todos esses significativos problemas, Alien Covenant se salva graças a dupla David e Walter interpretados por Michael Fassbender (sublime). Os roteiristas realmente se lixam para todo o resto e concentram seu poder de fogo nos diálogos entre os robôs e as cenas solo de David. Aqui, os humanos e até mesmo os aliens ficam em segundo plano. A filosofia que agora tange a Criação é o foco. E realmente se trata de um acerto.
O que busco comparar nesse sentido é como os filmes da trilogia Ripley sempre esbanjaram personagens descartáveis para desenvolvê-la. Aqui, na trilogia David, ocorre a mesma coisa. A única diferença é que os coadjuvantes nos filmes originais traziam algum carisma e autenticidade.
O contraste entre as psiques dos dois engaja nossa curiosidade e Fassbender consegue conferir minucias na interpretação de modo que conseguimos distinguir ambos com muita facilidade. Walter lembra muito o David que tínhamos visto no prólogo, ainda inocente pela sua programação seguindo à risca seus protocolos para servir e proteger os humanos. David o trata como irmão, já tentando corromper as diretrizes do androide ao buscar construir sua “sinfonia de Wagner” para destruir o que ele mais odeia: humanos.
Em seu núcleo, não há ponto sem nó. David permanece eloquente, citando mil referências filosóficas que só oferecem camadas de complexidade diante tal intelecto desenvolvido. Tão logo começam os diálogos entre eles, vemos David tentando fazer seu semelhante criar alguma coisa. No caso, uma melodia na flauta doce. Aqui, é importante resgatar o quão narcisista era o personagem em Prometheus.
Neste filme, o que era apenas fantasiado, torna-se realidade. A cena da flauta é bastante erótica – não é por menos que o instrumento de escolha tenha forma fálica. Fassbender é tão bom que consegue criar tensão sexual entre os dois personagens que são ele mesmo. É algo surreal. E a fotografia barroca suave de Wolzki à luz de velas com a direção muito mais tranquila de Scott favorecem o clima romântico repleto de inocência e malícia.
Esse arco do Narciso finalmente se fecha aqui. A todo momento David tenta seduzir Walter, seja para ganhar um aliado, seja para se apaixonar ainda mais por si mesmo. Logo, fica claro que existem impulsos sexuais que tornam o sintético, no fim das contas, humano. É por isso que a escolha da tripulação ser constituída de casais é tão interessante. David é um ermitão que, de certa forma, busca seu par. Seja no seu replicante ou através de sua criação. Também vemos esse caminhar para a humanidade no principal confronto de Walter a David quando indaga quem escreveu Ozymandias.
Surpreendentemente, David erra (lembrem-se, errar é humano) e afirma que foi Byron o autor do soneto. Logo, Walter o corrige afirmando a autoria de Shelley e avisa a seu irmão que quando uma nota está fora de tom, toda a sinfonia é sacrificada. Acredito piamente que isso se trate de um foreshadowing para o desfecho do destino de David no próximo filme. Vejo que o robô megalomaníaco reconhecerá, por fim, que sua obra-prima trata-se de um erro demoníaco, de ordem perversa que subverte os preceitos da natureza, de uma conquista alcançada apenas para saciar seu ego humano. Anotem: David perecerá pelas mãos de sua criação.
Esse contraste humano/sintético é elaborado também pela atuação de Fassbender. Walter é levemente mais travado e robótico como deveria ser, porém David esbanja certa malemolência em seu andar e olhares repletos de preconceitos.
Entretanto, seu narcisismo egocêntrico exposto nessas cenas é apenas uma parte interessante dessa persona. O miolo do desenvolvimento trata-se da extinção dos deuses, de sua substituição pelo inferior e da criação diabólica deste. Para engatar um flashback, David contempla os cadáveres fossilizados dos engeheiros extintos a la Vesúvio e cita o famoso soneto de Shelley: Meu nome é Ozymandias, Rei dos reis: contemplem minhas obras, ó poderosos, e desesperai-vos!
Aproveitando a força da citação, Scott sabiamente encaixa a sequência que mostra David exterminando aquela sociedade com as bombas dos mutagênicos. O robô é um genocida completo, mas a mesma mão que mata, também cria (assim como um deus haveria de ser). E suas crias, em primeiro momento, são os neomorfos. Isso é bem definido pelo roteiro e, graças a encenação, subentende-se que o complexo de Dr. Frankenstein de David nunca fora satisfeito com as obras defeituosas criadas até então.
Justamente por isso a cena da tentativa do imprinting do androide com o novo neomorfo nascido de humanos é poderosa. A horrenda criatura quase domesticada por David é morta por Oram que, pela primeira vez, assume um posto protetor para seus companheiros. Logo, já vira a vítima perfeita para o robô criar sua obra-prima - repare que essa ideia de obra-prima é abordada por David em diálogos com Walter sendo que no principal deles, David afirma que o criador pode morrer em paz depois de alcançar tal conquista. O roteiro, infelizmente, não dá muitos detalhes sobre como David criou os ovomorfos se limitando apenas a dizer que tudo foi conquistado através dos anos por experimentações do mutagênico com tecidos orgânicos – conveniente, mais uma vez.
Apesar de tirar todo o mistério exótico sobre a origem da nefasta criatura, Covenant oferece um olhar inédito em todo o cinema de ficção científica: um robô criar vida motivado não apenas por vingança, mas para se tornar um deus. Quando isso é levado em conta, percebe-se que Scott, mesmo não possuindo a mesma graça na realização que teve em 1979, consegue sempre adicionar elementos novos para o gênero tornando muito válida essa nova trilogia.
Também gosto da ironia de David somente se tornar um deus “completo” se um humano estiver envolvido no processo da concepção do xenomorfo. Outro elemento cínico adequado é o fato de Oram ser o primeiro hospedeiro da franquia. Afinal, ele como capitão sempre deveria tomar as decisões para garantir a segurança de seu grupo, mas acaba dando origem a criatura que caça incessantemente os tripulantes na tentativa de não os deixar fugir do planeta.
Infelizmente, o arco do David basicamente se encerra por aqui. O personagem é plenamente desenvolvido e consegue, por fim, corromper Walter que não recebe um fim adequado – apostam no mistério para engajar o espectador, afinal ele morreu ou não? Infelizmente, sua última reviravolta é muitíssima previsível, mas, por outro lado, fico contente em saber que todo este arco de David ainda não terminou – só vejo ele morrendo nas garras dos xenomorfos.
Complexo de Criador
Para o bem ou para o mal (depende do fã) os filmes Alien como conhecíamos estão oficialmente mortos. Bom, isso até Scott deixar a franquia de lado e se interessar por outra coisa. Covenant só confirma o que suspeitávamos em Prometheus: Scott quer contar a história de um sintético com complexo de deus. Algo bastante válido e interessante no universo de Alien, diga-se.
Assim como a natureza desta narrativa mudou, a técnica de Scott acabou evoluindo para novos padrões estéticos da atualidade. Um dos poucos diretores a adotar sempre o esquema de três câmeras para gravar o filme mais rápido, vemos que há falta de certo refinamento na fluidez do corte ou da construção da cena.
Uma das poucas que conseguem nos impactar de tal forma é a do prólogo tão bem dirigida com cortes orgânicos, movimentos de câmera graciosos que refletem picos mínimos de tensão pela boa decupagem.
Ao chegar no planeta dos engenheiros, as coisas mudam levemente de rumo com ótimas sequências como a do backburster e do ataque dos neomorfos nos campos de trigo. Entretanto, outras que deveriam ser épicas, como a setpiece do clímax ou o extermínio de David usam a decupagem mais banal possível: a descritiva apenas.
Tudo se torna objetivo demais para mostrar uma ação bem gravada sim, mas que não possui um pingo de originalidade – céus, basta nos lembrarmos do Big Chap matando um a um na Nostromo que já causa certo arrepio.
Algo positivo nessa nova direção do britânico é seu senso de humor deturpado. Covenant é um filme bastante cínico e acaba te conquistando pelas ironias cruéis que ele oferece. Vejamos, novamente na cena do backburster, vemos uma personagem tentar abraçar o homem que convulsiona antes de morrer. Porém, seu breve ato de compaixão logo provoca um ferimento ao ter sua mão perfurada pelos espinhos da dorsal do neomorfo que atravessa a pele da vítima. Destaco isso pois é uma característica impressionante de Scott inferir que essas personagens estão condenadas, não há redenção, não há remissão através da compaixão. Diante da natureza perversa que será mostrada logo depois, somente a lei do mais forte é a que prevalece. Nessa cena, de certo modo, Scott obriga as personagens a tomarem atitudes animalescas geradas pelo pânico da sobrevivência. Por isso é irônico. Gera humor, mas se trata de algo tão desolador e cruel quanto.
Depois, durante o grande desespero que consegue até contagiar o espectador, as personagens tropeçam no sangue do morto na tentativa de matar a criatura recém-nascida. Outro bom momento, é encenar o xenomorfo recém-nascido fazer a pose de alguém crucificado (imitando o gesto provocador de David) em cima do único personagem claramente religioso (Oram) - em termos gerais, a cena dessa concepção deixa muito a desejar, apesar do esquemas de iluminação interessantes de Dariusz Wolski. Antes disso, vemos Oram enfiar a cara no ovomorfo também gerando uma boa piada para a plateia que já conhece o fatídico fim de quem se aventura a olhar para dentro da 'caixa de Pandora'.
Abro aqui uma breve reflexão. Já destaquei essa dita "burrice" tão arrotada por diversos entendidos do assunto, milhões de vezes "mais" inteligentes e melhores do que a obra que se propõe a analisar. Vejo que essa "burrice", de modo geral, é um instrumento para o diretor mostrar essa humanidade obviamente inerente a nós. Isso é justificado dentro da obra: são fatores claramente humanos que dão origem a todo horror presenciado em Covenant. Duvida? Então descreveremos.
Oram nitidamente repousa muito de sua responsabilidade em sua dita Fé e, irresponsavelmente, joga a tripulação ao novo planeta. Lá, por conta de certos vícios, seja de entorpecentes ou da curiosidade, originam a infecção pelos esporos do mutagênico gerando os neomorfos. Depois, durante a cena do backburster temos o trabalho mais interessante disso tudo: Faris, assim que abre a camiseta de Ledward, recebe um jato de sangue na cara (hipoteticamente, ficando infectada). Ela sai da enfermaria e tranca Karine.
Essa é a fina ironia de Scott: a humana que claramente pode estar infectada condena sua colega à morte na base de uma justificativa hipócrita pelo bem comum: conter a infecção. É evidente que não se trata disso, mas apenas de puro instinto de sobrevivência: deixar outra vítima atrasar a criatura e se salvar. Porém, há uma certa mudança em Faris. Seja por pânico ou, pior, compaixão, tenta salvar Karine. Novamente, outro erro de julgamento que condena o restante do grupo ao isolamento no planeta. De toda a tripulação, é somente Faris quem consegue errar duas vezes consecutivas. Esses foram apenas os exemplos mais claros possíveis para eu ilustrar o que Scott tenta comunicar no filme todo: a sucessão de erros em jornada ao caos. Como apontei no trecho sobre David, se trata de um paralelismo intenso para mostrar erros de diferentes naturezas para deixar muito crível toda a descida para a loucura que o androide ruma. E, também, para a sua humanidade, afinal errar é... humano.
Mas, caro leitor, há ainda mais elementos interessantes por trás disso tudo. Não é por menos que Covenant é uma missão colonizatória. É a expansão da humanidade como nunca vista antes. E, para o discurso que Ridley Scott constrói aqui, onde quer que a humanidade vá, o pior que há com ela irá junto. Enquanto o monstro alienígena de David é objetivo, o monstro da humanidade subjetivo e imaterial. Aqui, são facilmente ilustrados pelos Sete Pecados Capitais. E, pasmem, há passagens que corroboram exatamente isto que escrevo agora. Novamente, irei ilustrar através de alguns personagens.
O pecado do Orgulho geralmente é o mais presente. Oram é o perfeito exemplo disso só por decidir mudar todo o itinerário da missão para provar seu ponto. O fato de Oram ser o mais religioso do grupo torna tudo mais perverso e cruel, pois claramente ele não tem a consciência disto. A Gula já é retratada pelo próprio propósito da existência da missão: expandir o domínio humano na galáxia. A Preguiça é representada por Rosenthal quando ela opta por se isolar no templo para banhar-se e descansar - isolamento que leva à sua morte que possui peso diferente da dos outros, pois ela é decapitada pela criatura (a decapitação, historicamente, é uma das execuções mais humilhantes por tirar o que seria a personalidade do assassinado, além da cabeça servir como troféu em diversas sociedades).
A Luxúria é o último pecado representado pelo casal Ricks e Upworth que se isolam (novamente) para transar nos chuveiros e acabam morrendo após a criatura violá-los (a cauda toca a pelve de Upworth e a língua interna penetra o crânio de Ricks até sair pela boca). A Inveja e a Avareza são representadas por Weyland na criação de seu primeiro sintético, David, extravasando seu desejo de imortalidade, e pelo acúmulo absurdo de riquezas. Através dessa criação, Weyland consegue dominar materialmente esse desejo impossível. Representa uma subversão de superioridade: o mortal que comanda imortais.
É aí que entra o fator primordial para o espectador entender o quão humano David se torna ao final desta obra. David, por ser uma criação humana, acabaria, a um certo ponto, herdando o pior da humanidade. Scott exibe isso ao nos fazer pensar em contrastes. Apesar da tripulação representar todos os Pecados Capitais, nenhum deles acumula mais de dois em sua personalidade. Já David, ao longo de toda a obra, apresenta ter todos.
O Orgulho claramente é representado por sua vaidade manifestada pelo intelecto, pompa e eloquência. A Gula é mostrada por sua sede de conhecimento que transpões qualquer limite moral ou ético a ponto de profanar o cadáver de sua única amada. A Luxúria é manifestada pela tentativa de estupro a Daniels. A Avareza pode ser interpretada pelo acumulo de tanta quinquilharia "científica" em seu covil ou nos corpos petrificados no pátio dos quais ele tem orgulho por constituírem sua vista do "Paraíso". A Inveja é reforçada em tantas passagens que ele cita obras-primas de autores humanos como Ozymandias de Shelley. E, por fim, a Ira representada em sua criação torpe motivada apenas pelo ódio profundo que ele sente pelo Homem. A Preguiça é a única que não há aqui, afinal David é uma máquina e esse pecado é um dos mais abstratos do sete (talvez o mais complexo).
Desse modo, o diretor cria sua maior ironia na mensagem da obra. Logo David, o antagonista que detesta e abomina praticamente tudo o que a humanidade representa, acaba desenvolvendo as nossas piores características, as potencializa, e, por fim, a materializa com o xenomorfo. Portanto, a partir dessa visão que Scott nos fornece aqui, o xenomorfo vira a objetificação do pior que há na humanidade. É o demônio perfeito que, até então, era invisível, mas que sempre esteve ali ao nosso lado. E ainda chamam esse filme de burro... Quisera eu ser burro desse jeito então.
Enfim, voltando ao assunto anterior, Scott usa esse humor para conferir climas bastante estranhos à franquia. Destaco aqui que eu não condeno de forma alguma. Gosto de ver essa autoria e vontade de realizar coisas novas em cineasta que há tempos gerava filmes cada vez menos inspirados. De certa forma, chega até a recordar algumas das bizarrices de Alien – A Ressurreição. Na verdade, Scott mistura características dos quatro filmes neste daqui. Temos até mesmo os famigerados planos subjetivos do xenomorfo tão criticados em Alien³. Aliás, muito da estratégia de encurralar o bicho na nave se assemelha ao plano de Ripley para matar o alien no terceiro filme. Sua estrutura de dois clímax vem diretamente de Aliens.
O clima que Scott busca mimetizar dentro da nave vem do primeiro filme. Além de termos sequências de ação explosivas a la Aliens. E talvez seja justamente nesse aspecto que Scott mais se perca, já que não se tratam de elementos elegantes. A luta entre David e Walter parece saída de Matrix que, por mais que tenha me empolgado e seja bem coreografada, reconheço não tem nada a ver com a mitologia desses filmes.
O que ainda sempre é válido e que merece ser parabenizado é o grau de realismo que Scott que consegue imprimir em cada cenário, criatura e situação. Contar com cenários construídos fisicamente e não por CGI faz uma baita diferença para a encenação desejada. Destaco o ótimo trabalho no covil de David, cheio de ilustrações e criaturas em formol, para o grande pátio com os engenheiros fossilizados e para os corredores da Covenant.
Muito disso, obviamente, por conta do domínio estético absurdo que Scott tem em criar imagens maravilhosas e terríveis. Covenant é uma obra vivíssima e isso não pode ser menosprezado de forma alguma. O que havia dito em termos de fluidez há poucos parágrafos acabam prejudicando sim o apuro visual da obra. A montagem às vezes é tão ligeira que mal dá para captar a mensagem visual de um plano que, na maioria das vezes, possui enquadramentos fantásticos. Scott torna até mesmo cenários grotescos em verdadeiras obras de arte de pesadelos. Não há erro. É um dos filmes mais estonteantes desse ano, apesar da nítida decadência visual apresentada logo que a narrativa chega à necrópole do robô.
Também fico contente por ter uma leve confirmação de algo que especulava há tempos pela direção de Scott: as diferentes personalidades dos xenomorfos que ele já trouxe nesses filmes (3, no total). Revendo a Alien, me peguei pensando o quanto de Kane aquela criatura carregava consigo. Eles compartilham certas semelhanças assombrosas como uma curiosidade anormal – o xenomorfo quase tortura psicologicamente suas vítimas antes de matá-las. Aqui, porém, há clara distinção entre um alien e outro. O de Oram é muito mais animalesco e violento e parece sentir um ódio diferenciado por alguns tripulantes da nave – talvez trazendo um pouco da frustração do personagem que já deixava claro o quanto desgostava diversos companheiros.
O de Lope é mais inteligente e sabe que está dentro de um jogo quando é encurralado por Daniels e Tennessee. Scott também faz a criatura brincar com suas vítimas antes de matá-las assim como ocorria com o Big Chap. Aliás, a morte de Rosenthal compartilha semelhanças com a de Lambert por não ficar muito claro o que ocorre com ela depois que seu namorado é penetrado pelo bicho. Enfim, é mera especulação, mas acho que Scott consegue criar personalidades interessantes para essas criaturas – isso inclui os neomorfos.
Cinzas do Dr. Moreau
Apesar dos pesares, Alien: Covenant é um ótimo retorno à franquia que tanto amo. Fiquei bastante satisfeito com o que vi e me diverti com as bizarrices filosofais de Scott. Os pontos positivos, creio eu, conseguem superar as ditas "burradas" e conveniências de roteiro que incomodam tanta gente. Para mim, o ineditismo dessa proposta com boas cargas filosóficas já me conquista, além de David continuar sendo um dos personagens mais bem escritos do cinema contemporâneo como já ficou provado nos dois textos enormes que dediquei para essa nova trilogia.
A tecnologia atual também é aproveitada. Temos cenas mais viscerais, bons designs de criaturas, além de dar maior liberdade para o diretor movimentar os bichos com mais vivacidade conferindo camadas que muitas vezes eram impossibilitadas pelas fantasias e praticáveis de outrora, embora certamente falta algum peso ou presença de cena dessas criaturas.
Também, se viu ao filme, é certeza que notou os fã services obrigatórios, porém, o mais agradável deles talvez se encontre dentro da ótima trilha musical de Jed Kurzel que incorpora diversas vezes o espírito romântico misterioso da trilha original de Jerry Goldsmith.
Porém, é de certo imperdoável como tantas coisas de Prometheus ficam ao deus dará como se o próprio Scott tivesse desistido do potencial deixado pela obra. Hoje, creio que seja razoavelmente fácil gostar de Covenant. É quase um blockbuster completo que pecou em erros comuns, mas, principalmente, por não ousar mais do que devia ao recusar tanta coisa de seu antecessor.
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Alien: Covenant (Idem, EUA – 2017)
Direção: Ridley Scott
Roteiro: John Logan e Dante Harper, argumento de Michael Green e Jack Paglen
Elenco: Katherine Waterston, Michael Fassbender, Danny McBride, Carmen Ejogo, Billy Crudup, Demián Bichir, Callie Hernandez, Tess Haubrich, Amy Seimetz, Nathaniel Dean, James Franco, Noomi Rapace
Gênero: Ficção Científica, Suspense
Duração: 122 min
https://www.youtube.com/watch?v=5incfB5jHWU
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Crítica | Prometheus
Com Spoilers
A vida é repleta de ironias. Nunca imaginei que em algum momento escreveria sobre Prometheus, assim como imagino que Ridley Scott não imaginava por um bom tempo que retornaria ao universo de Alien contando uma história anterior aos eventos da franquia principal – algo que, na época, todos diziam que seria uma besteira investir no Space Jockey (o alien morto gigantesco que está dentro de sua nave em Alien – O Oitavo Passageiro).
Explico. Quando vi Prometheus pela primeira vez na vida, lá em 2012, no dia da estreia, admito que sai completamente chocado. Não pela polêmica envolvendo a qualidade do filme – que julgo muito bom, aliás, mas sim pela insanidade apresentada em cenas-marco da obra como a infame sequência da cesariana. Era, para mim, a ficção científica mais pessimista acerca da exploração especial que eu já tinha visto na vida e, provavelmente, continua a ser até hoje.
5 anos depois, através deste nosso especial de Alien, me vi obrigado a revisitar um filme que conseguiu o árduo fato de me chocar. E realmente, há coisas brilhantes Prometheus, mas também existem equívocos tão rasteiros que conseguem quebrar toda a credibilidade de quem se propõe a defender a prequela. É justamente aqui que me encontro em um belo dilema digno do filme: é passível ignorar as idiotices de Damon Lindelof quando, no geral, os temas do filme são extremamente profundos e induzem uma belíssima reflexão para o espectador? Repondo adiante.
Crise Existencial
O texto original de Prometheus foi consideravelmente alterado por Lindelof, roteirista que encontrou seu sucesso na televisão com seriados como Lost. Como estava em seu primeiro auge, virou presença requisitada em diversos filmes dos quais vários partilham a falta de capricho em termos de coesão narrativa, cadência e estrutura de acontecimentos. É interessante o quão discrepante as duas partes conseguem ser bastante opostas uma a outra.
Mesmo assim, a essência filosófica de Jon Spaihts ainda sobrevive às constantes burradas do co-roteirista que seriam resolvidas com facilidade. Na trama, acompanhamos a descoberta de um casal de arqueólogos, Shaw e Holloway, sobre uma constelação que na verdade se trata de um sistema solar com uma lua capaz de abrigar vida – LV 223. Planeta que pode abrigar os seres que participaram ativamente da história da humanidade.
Financiados pelo magnata Peter Weyland, o casal participa de uma missão exploratória com diversos outros cientistas renomados a borda da nave de luxo Prometheus em jornada até o misterioso planeta em busca de respostas sobre o envolvimento desses alienígenas com a nossa história. Porém, ao chegar lá, uma caixa de pandora é aberta e as coisas rapidamente vão de mal a pior.
Prometheus é um filme que te desafia a todo momento. E, justamente por isso, é bem possível que seja falho para muita gente. Quando tinha assistido pela primeira vez, consegui captar muitas coisas propostas na discussão filosófica existencial da obra, porém, para muitos outros Prometheus havia se tornado uma experiência confusa e perdida. Em certo ponto, entendo perfeitamente.
O melhor exemplo dessa confusão é concentrado na sequência de abertura que poderia ter sido resolvida com pouco esforço: inserir uma breve legenda “Terra, 3.2 bilhões de anos a.C.”. Nesse ponto, ficaria mais claro que o Engenheiro, em auto-sacríficio, estivesse criando toda a vida terrestre ao ingerir a gosma e alterar seu DNA – essa sequência é até mesmo revisada na edição em blu-ray adicionando alguns outros anciões deixando evidente que o processo se trata de um ritual daquela raça.
Eu, Robô
Logo após, a narrativa se move rapidamente, nos jogando em um breve apanhado do cotidiano do personagem melhor escrito do filme: o robô David. Ao contrário dos outros longas, já sabemos claramente que o personagem não é humano – algo extremamente necessário para todo o seu desenvolvimento.
Nesse termo, David é bem escrito não somente por suas falas ou ações, mas pelo conjunto total da obra, do atrito de seus pensamentos disfarçados pelo cinismo em diálogos com os humanos que o tratam mal assim que acordam da hibernação. Nessa ligeira rotina, vemos David estudando línguas mortas a fim de se comunicar com os alienígenas – com base nas imagens das antigas civilizações que entraram em contato com os mesmos, aproveitando as regalias da nave, mantendo sua boa aparência revelando sentimentos abstratos de vaidade, assistindo a Lawrence da Arábia (passagem importante que define a motivação dos meios utilizados para David atingir seus fins), entre outras atividades.
Fassbender – excepcional, mantém expressões tranquilas e alegres dando a entender o quanto David gosta de seu tempo sozinho, mantendo a nave em ordem até a chegada ao planeta. Seu olhar para o destino da viagem já revela grandes expectativas em relação a aquilo tudo. Até que, nesse exato momento, a tripulação acorda subjugando novamente David como mero servo dos viajantes. Logo, há esse conflito de um robô cercado de mistério. Nunca sabemos se ele é senciente, já que Fassbender sempre declama suas falas com enorme sarcasmo como se estivesse mentindo ou tirando um sarro cruel com os humanos.
Rapidamente já fica explícito que o personagem se sente superior aos seus criadores, afinal, por que não seria? Além de ser imortal, consegue fazer tudo melhor e mais rápido do que seus colegas humanos. E a aversão destes com David acaba potencializando a criação de um inimigo a bordo.
Mas por que é tão importante sacar a essência de David para entender Prometheus? Simples, Prometheus não se trata apenas de mais uma incursão na franquia para explicar o Space Jockey, mas sim um filme de estudo filosófico da origem da humanidade. A presença do robô junto dos humanos colabora para o impacto da mensagem final coerente com todo o pessimismo apresentado até então.
Eles, humanos
Todo o propósito da trama gira nesse sentimento de descoberta da razão da origem do homem. É através de David que o espectador recebe as catarses da equipe. Mas antes de seguir nessa proeza do roteiro, é hora de falar de suas grandes, enormes inconsistências.
Além de Shaw, todos os personagens restantes são mal escritos que qualquer espectador consegue notar falhas grotescas. A começar por Holloway, o namorado de Shaw. O arqueólogo tem um mini conflito ao se deparar com a tumba em LV-223 cheia de corpos mortos e artefatos que ele nem se preocupa em estudar – já que, né, ele é um arqueólogo. Voltando para a nave, o rapaz encontra alento na bebida apresentando uma crise existencial.
Enquanto essa cena consegue desenvolver muito bem David ao questionar o motivo de sua criação como construto a Holloway e assim sucedendo a permissão involuntária de um experimento doentio do robô, o personagem somente dispara em pesada exposição o quão desolado ele está por não conversar com os Engenheiros.
Isso é tão surreal pelo fato deles terem explorado somente uma câmara da tumba e também por estarem no planeta nem por um dia. Inconsistência completa. Esse também é o único ponto para o “desenvolvimento” de Holloway que ao menos recebe um a esse ponto.
Então há Fifield e Millburn, o geólogo e o biólogo da expedição. No começo, é interessante essa interação de desconhecidos na equipe com ninguém sabendo exatamente que o outro é. Além de eles funcionarem, parcialmente, como alívios cômicos. Mas Lindelof ataca novamente. Até com personagens simples, existem duas inconsistências bizarras que desafiam qualquer lógica. A primeira é o fato dos dois se perderem na tumba sendo que foi Fifield quem mapeou todo o lugar com suas sondas. Já com Millburn, o biólogo, se apavora ao ver um Engenheiro morto, mas é todo amigo de uma cobra mutante claramente perigosa.
É evidente que todos esses personagens mais servem o escopo maior da história em exibir como funciona o mutagênico da gosma preta. Porém, por conta desse completo descaso, o festim de mortes mais choca pela imagem, do que por nossa empatia pelos personagens.
O restante da equipe também mal consegue ser estabelecida direito. Alguns personagens chegam até mesmo no cúmulo de desaparecer depois de serem apresentados formalmente. Outros contam com o carisma dos atores como o piloto Janek interpretado por Idris Elba – seu personagem vai de niilista para altruísta em duas cenas.
Já a única que possui uma outra tentativa de desenvolvimento é a Meredith Vickers, uma empresária megera da Weyland. A única coisa que agrega a revelação totalmente desnecessária dela ser filha de Peter Weyland está na atuação robótica de Charlize Theron criando um paralelo bem-vindo com David, como se fosse uma disputa maior pelo amor não conferido por seu pai para nenhum deles.
Entretanto, mais uma vez, Lindelof ataca no desfecho tragicômico da personagem que rendeu o ótimo meme The Prometheus School of Running Away from Things, já que a personagem morre esmagada ao tentar escapar da nave Juggernaut por correr em linha reta quando bastava correr para o lado para se salvar.
Basicamente, todos os personagens que ele arrisca desenvolver, acaba pecando no desfecho. É como se ele mesmo atentasse contra a própria obra. O engraçado é que isso ocorre com o filme como um todo também. Depois de um começo forte até sua metade, Prometheus é excelente. Mas basta acontecer a cena da cesárea que as coisas saem dos trilhos rapidamente, já que a sucessão de eventos é extremamente apressada atropelando todo o bom ritmo construído até então.
Figuras paternas
Depois de Shaw remover a trilobita e Fifield ressurgir como um maníaco zumbi, Lindelof insere a presença redundante do velhaco Peter Weyland como uma grande plot twist do texto. A justificativa dessa presença consegue cair no pior dos clichês: a busca pela vida eterna. Como raios Weyland presumiu que os Engenheiros tenham desvendado o segredo da imortalidade é outro dos grandes mistérios do roteirista.
O choque da presença do magnata é flácido, mas ajuda a delinear a mensagem do filme e a construção de David. Isso se dá durante o despertar do Engenheiro. Até ali, a sucessão das descobertas e presunções da equipe indicam que LV-223 é uma base militar e que a Juggernaut iria para a Terra a fim de destruir toda a vida do planeta.
Desperto o alienígena, há uma cena mal elaborada em termos textuais, mas que oferecem algumas migalhas para o espectador especular. A abordagem não violenta do Engenheiro no começo corrobora isso, mas ao ver que os humanos continuam pequenos desejando poder e disseminando violência contra os mais fracos, o gigantesco alienígena decide seguir em sua missão de dizimar a vida terrestre.
Novamente, é uma especulação oferecida pelos personagens no filme. Desse modo Prometheus afirma categoricamente pouquíssimas coisas preferindo deixar muitas explicações a cargo do espectador sendo que cada um pode tirar suas próprias conclusões sobre a tumba, das armas químicas, do motivo dos Engenheiros decidirem destruir a humanidade, dos murais com xenomorfos esculpidos, sobre quantos efeitos o mesmo mutagênico pode ter, das tumbas remanescentes do LV 223, do que os Engenheiros estavam correndo e assim por diante. São muitas questões não resolvidas que podem fazer parte da experiência do filme em transpor a frustração dos personagens diretamente no espectador. Algo que é sempre um jogo muito arriscado.
Entretanto, mesmo assim, é inegável que Prometheus seja um filme envolvente. Os mistérios realmente prendem sua atenção e a curiosidade do espectador é representada pela curiosidade dos personagens elaborando uma relação na qual nós nos encontramos como o David: aguardando para ver qual será a próxima desgraça biológica que ocorrerá com a tripulação. Logo, tirando o mérito sádico de lado, o roteiro se torna bastante divertido.
Mas concluindo toda essa discussão sobre David, nos momentos finais de Weyland, o magnata sussurra que “não há nada”. E David responde “eu sei”. Esse breve diálogo infere que o androide tenha consciência e, como um ser criado pelo homem, já sabe que não há propósito algum por essa busca aos ‘deuses’, afinal, a razão de sua criação já exposta em diálogo anterior. Não há significado maior para a vida em Prometheus.
Religião abortada
Há alguns toques que abordam a religião dentro do texto do filme. Novamente, nada é devidamente explorado, mas está lá para nos fazer pensar. Centrar a narrativa durante o Natal é uma jogada inteligente, já que a descoberta da criação humana basicamente desconstrói todo o significado dos feriados religiosos.
É por meio de Shaw, cristã, que o roteirista tenta trabalhar esse tema. Shaw é outra personagem que se sustenta através do talento magnânimo de Noomi Rapace que rouba as cenas em que aparece. A personagem também não é maravilhosamente desenvolvida, mas há questões e pequenos conflitos que rendem bons momentos. O principal é sobre a infertilidade que é revertida para dar origem a criatura monstruosa parida na cena da cesárea. Nisso, novamente há elementos que tocam o tema da criação.
Como uma mulher que caminha com o sagrado, dá origem a uma criatura vulgar e maligna? Seu milagre vem da profanidade da ciência e não da benevolência de um divino. E é justamente por seu espírito e fé não se quebrarem que David demonstra fascínio por humano pela primeira vez (isso é bem breve e ocorre no desfecho do filme).
Para estabelecer essa fé, há um breve flashback mostrando a infância da personagem se deparando com morte e religião. O problema é que isso é abordado tão brevemente que acaba esquecido até o fim do filme. Logo, mais uma vez fica a critério do espectador encher o filme de significados complexos.
Estética extraterrestre
O que todos podem apreciar igualmente em Prometheus é seu visual arrebatador. Sem a menor sombra de dúvida, é um filme mais do que maravilhoso. Isso já fica claro com a abertura aprimorada com Ridley Scott mostrando um verdadeiro estudo geográfico de um planeta sem vida, mas repleto de água (até o áudio das correntezas é mixado para dar destaque aos rios e a potência da cachoeira).
Através desse sentimento de grandeza que Scott dirige seu filme. Ao contrário de Alien, não há muita delineação de espaço claustrofóbicos. A nave é espaçosa, livre de corredores retilíneos, é cheia de cor e parafernalhas tecnológicas de última geração que ajudam a modelar as luzes cheias de bons contrastes de Dariusz Wolski. O espectador realmente sente que aquela é uma nave de luxo de ponta oferecendo o melhor para os personagens.
Nisso, o design de produção do filme começa a brilhar intensamente. As belas cores cheias de elegância e dos formatos de objetos humanos entram em contraste cênico com a desolação mortificante da tumba e suas câmaras acinzentadas, escuras e desprovidas de qualquer sentimento eufórico. Ali há somente morte e caos – algo que é até explicitado quando Scott enquadra uma caveira esculpida no topo da rocha da tumba.
Prometheus foi um desses filmes que esbanjaram a produtividade intensa do realizador – o que resulta na carreira mais que irregular de Ridley. Com o passar dos anos e pelo contato com seu irmão Tony Scott, Ridley foi abandonando a regra da utilização de apenas uma câmera. Para acelerar o tempo de captação, Scott decidiu gravar Prometheus com três câmeras RED em 3D.
É justamente no manejo inteligente dessa decupagem desafiadores que Scott mais se destaca. O diretor não é um maníaco que quer cobrir a cena de diversos ângulos possíveis. É nítido que plano e composição são pensados nos mínimos detalhes incluindo hierarquia de planos e encenação apurada de atores e iluminação.
Por causa do excelente domínio de Ridley sobre a câmera – muito mais descritiva do que poética, no caso – temos vislumbres valiosos que evitam mais exposição de baixa qualidade de Lindelof. De exemplos, temos vários, mas é interessante apontar a maestria da cena na qual o grupo entra pela primeira vez na câmera do “cabeção” – que revela por si que os Engenheiros parecem reverenciar a si mesmos como divindades.
Assim que os cientistas pisam ali, Scott mostra pequenos vermes se debatendo na terra. Para fechar a cena, novamente vemos os vermos, mas dessa vez totalmente imersos na gosma preta que vaza lentamente dos vasos. O mais legal do trabalho de Scott é valorizar tão bem diversos aspectos dos designers. Sua câmera passeia mostrando intrincados detalhes que contam um pouco da cultura dos Engenheiros e também da razão de todos estarem mortos e empilhados em um canto do lugar.
Apesar de eu ter apontado que o uso de sua câmera mais se limita a conta a história e suprir o espectador com estímulos visuais valiosos garantidos pela direção de arte, há dois momentos em particular que o diretor se sobressai muito. O primeiro deles é a descoberta de David no cockpit da Juggernaut ativando o sistema de navegação no qual ele pega uma projeção holográfica da Terra deixando-a em suas mãos enquanto observa tudo com fascínio. A imagem é poderosa. Infere certo desejo dominador de David, ser grande, se tornar o opressor, além de deter o poder de decidir o destino da Terra, afinal ele sabe que a nave está programada para partir e exterminar a vida terrestre nesse ponto da narrativa.
A outra é a famigerada cena da cesariana na qual Scott consegue elevar o grau de nojeira feita para um blockbusters de ficção científica. Assim que Shaw entra na sala na qual o med pod está (aliás, a apresentação prévia do aparato é um dos poucos acertos de Lindelof), gradualmente as luzes se apagam, inclusive as que estão no chão. É uma ligeira animação que concentra todo o jogo de luz para maca futurista – um detalhe rápido, mas valioso.
Assim que a heroína entra e se prepara para a intervenção cirúrgica, Scott não abandona o ponto de vista interno da capsula. Presenciamos o terror na forma mais crua e próxima possível com direito a, inclusive, diversos planos subjetivos nos colocando no ponto de vista de Shaw. É uma cena tão chocante quando a do Chestburster em Alien, ainda que não contenha a potência do elemento surpresa.
Não há muito o que reclamar da direção de Scott em termos visuais e de encenação. Ele apenas colocou as besteiradas de Lindelof em movimento como no caso da corridinha contra a nave. Onde realmente Ridley se equivoca é no ritmo insano que o filme adquire assim que Weyland é reapresentado na narrativa, sem ter um mínimo respiro para a história ser desenvolvida de melhor modo. Além disso, há a péssima escolha de decupagem e encenação para mostrar a “discreta” dedada que David dá ao passar o copo de champanhe infectado para Holloway.
Eram os deuses astronautas?
De certa forma, Prometheus é um 2001 pop que consegue levantar os questionamentos certos para o público refletir durante e após a sessão. Até onde vale a pena explorar o desconhecido? Qual é o motivo da nossa existência e para que precisamos tanto descobrir de onde viemos? Quais as consequências para a humanidade após descobrir vida inteligente no universo?
Mesmo com essas ótimas perguntas que conseguem afetar o espectador e trazendo um visual apurado, bom elenco, ótima cinematografia aliada a um Ridley Scott cada vez mais cruel e visceral com a ficção científica, é possível perdoar tantas inconsistências, furos de roteiro e lógica oferecidos pela narrativa interessante de Lindelof? Bom, para mim, no caso, é um meio termo.
Acho que Prometheus é um bom filme e oferece entretenimento de qualidade. Talvez hoje, já sabendo o que ele oferece, haja uma aceitação maior por parte do público. Esse completo descaso em responder a nossa curiosidade é bem capaz de ser uma grande particularidade desse filme.
Prometheus pode ser um filme totalmente estúpido, bem como pode ser genial. Eu prefiro acreditar que seja a segunda alternativa.
Prometheus (Idem, EUA – 2012)
Direção: Ridley Scott
Roteiro: John Spaihts, Damon Lindelof
Elenco: Noomi Rapace, Michael Fassbender, Charlize Theron, Idris Elba, Guy Pearce, Sean Harris, Rafe Spall, Logan Marshall-Green, Emun Elliot, Benedict Wong
Gênero: ficção científica, horror espacial
Duração: 124 minutos
https://www.youtube.com/watch?v=Z0HacCd0be8
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Lista | 10 Quadrinhos de Alien que Você precisa Ler
Esse nosso especial de Alien só tem comprovado uma coisa: essa franquia rende mais do que muita gente imagina. Agora com a chegada do formidável Alien Covenant, imagino que muitos fãs e novos fãs queiram se aprofundar mais na grandiosa mitologia de Alien. Por sorte, após o estrondoso sucesso de Alien, O Resgate, a Dark Horse e outras editoras encomendaram muitos quadrinhos e livros sobre a franquia de horror espacial. Deixe de preconceito e conheça as 10 melhores histórias em quadrinhos que o xenomorfo recebeu!
10. Alien vs Predador
Sim! A origem dessa treta cósmica veio diretamente das HQs. A aposta da Dark Horse foi recebida como mera bobagem antes da publicação. Porém, quando o quadrinho saiu, o sucesso foi absoluto a tal ponto de influenciar um easter egg no filme Predador 2.
A narrativa da HQ é tão poderosa que acabou influenciando toda a mitologia da franquia Predador. Tudo acontece no planeta Ryushi, uma das colônias humanadas da Companhia que não por acaso é um dos locais a sediar a grande caçada dos predadores. A criatura que eles adoram caçar são os xenomorfos, considerados os oponentes perfeitos. Logo, por conta de alguns ovos jogados no planeta, os humanos se veem no meio de um embate mortal entre as criaturas mais perigosas da galáxia.
Uma simples história como essa rendeu uma legião de outras HQs, além de jogos e dois filmes (péssimos).
9. Genocídio
Essa one-shot é muito interessante, pois traz a Grande Guerra Alien. Sim, até essas criaturas já tiveram desavenças entre si. Alguns marines são enviados ao planeta de origem dos xenomorfos para roubar uma rainha alien (?) por conta do efeito esteroide quando os humanos ingerem essa geleia que a criatura excreta.
Já não bastasse essa missão suicida, os marines chegam no planeta justamente quando os aliens estão em plena guerra civil. Um Rainha mutante vermelha nasceu e quer reivindicar seu trono contra a Rainha alien normal. Logo, aliens e aliens vermelhos (mais fortes, mas mais lentos para nascer) começam a lutar por seus lados. Violenta, interessante e hilária. Essa HQ merece ser lida. Foi ela que introduziu a variante vermelha dos xenomorfos que já apareceram em outras histórias.
8. Outbreak/Nightmare Asylum
Essas duas HQs contam a mesma história. Antes da estreia de Alien³, eram consideradas canônicas. Nelas, acompanhávamos as aventuras de Newt e Hicks anos depois dos acontecimentos de Aliens, O Resgate. Como uma HQ é sequência da outra, basicamente vemos a origem de um surto xenomorfo em pleno planeta Terra. Seja com loucos traficantes ou até mesmo com insanos que tentam domar a criatura. Obviamente, tudo vai pro espaço rapidinho cabendo à dupla consertar todas as cagadas.
Valem a leitura por mostrar um caminho que poderia ter sido seguido nos cinemas, mas que ficou restrito apenas a nona arte.
7. Music of the Spears
A insanidade perfeita em uma baita história original. Um músico já meio biruta tem uma ideia que poderia valer o milhão: criar uma sinfonia completa através dos sons de um xenomorfo. Após receber sinal verde da gravadora, mercenários ninjas (é, ninjas) conseguem adquirir um ovo para que o músico consiga realizar seu experimento em ambiente controlado. Obviamente a coisa não permanece controlada por muito tempo, mas mesmo seguindo o final obrigatório, Music of Spears traz uma boa história de descida à loucura em busca da perfeição musical que merecia ser adaptada aos cinemas por Damien Chazelle.
6. Newt’s Tale
Finalmente uma das questões não respondidas em Aliens é esclarecida aqui: como raios Newt conseguiu sobreviver ao surto de xenomorfos em LV-426? E, bem, a história é bem trágica e muito pesada, já que Newt é diretamente responsável pela morte dos pais e da colônia inteira. Ela mostra a nave Derelict à sua família que, ao entrar na câmara do piloto, acaba infectada por facehuggers. Xenomorfos nascem e vocês já sabem o resto da história. Ela dá outra dimensão para a personagem que sempre carregará a mágoa e a responsabilidade de ter condenado milhares de vidas.
5. Labyrinth
Uma das histórias mais perversas e misteriosas da franquia. Nela, depois que um pesquisador morre de ataque cardíaco em uma estação espacial, marines e investigadores são enviados para investigar. Descobrindo, pouco a pouco, do que se tratava a pesquisa do morto, segredos horrorosos são revelados que conectam com o passado de cada um dos protagonistas.
4. Aliens: Apocalypse
Muito antes de Prometheus acontecer, os fãs de Alien puderam conhecer um pouco mais dos ‘Engenheiros’, a.k.a. Space Jockeys através dessa pequena aventura. Na história, uma mulher é enviada para resgatar um cientista em um planeta desolado. Mais tarde, é descoberto que o planeta abrigava uma colônia de Space Jockeys e para o azar da heroína, também tem alguns ovos xenomorfos dando sopa. Embora não responda muitas perguntas, a HQ traz o resultado de um alien oriundo de um facehugger que ‘engravida’ um dos Engenheiros. Garantimos que o resultado é nojento e medonho.
3. Rogue
Se há uma Rainha Alien, por que diacho não teria um Rei Alien? Seguindo essa lógica que Rogue conta essa história de um xenomorfo aperfeiçoado geneticamente por cientistas malucos. Boa e velha história de matança exagerada originada pela vaidade humana.
2. Aliens: Salvation
Essa já é fenomenal apenas pela presença do mito Dave Gibbons, desenhista de Watchmen. A narrativa toma uma abordagem surreal ao tomar o ponto de vista de um cozinheiro cristão de uma nave cargueiro que é forçada a pousar em um planeta tropical após uma das cargas ser violada. Nenhuma surpresa que era um xenomorfo.
Após o capitão da nave deixar o protagonista isolado no planeta com a criatura, vemos a abordagem muito distinta do personagem se defender do terror que o persegue: apostando apenas na fé. Com diversas simbologias religiosas poderosas, Salvation é uma ótima dica para ler antes de Covenant.
1. Fire and Stone
Um dos casos clássicos de um produto derivado conseguir apresentar uma ideia melhor que o original. No caso, Fire and Stone busca explorar os conceitos apresentados em Prometheus. A narrativa acontece anos depois, ao mesmo tempo que Aliens. Após escaparem do ataque xenomorfo em LV-426, um grupo de colonos viaja para a lua mais próxima: LV-233, que agora possui vida e vegetação graças ao intenso contato com o mutagênico da gosma preta.
O problema é que a vida alien também encontrou um meio de infestar o planeta, colocando todo o grupo em risco, além dos outros novos perigos biológicos que infestam o bioma. Não apenas por conseguir conectar Prometheus com muita competência ao macrocosmo alien, a série de HQs consegue explorar a fundo toda a mitologia apresentada no filme, inclusive revelando o que acontece com o Deacon, o protoxenomorfo que se liberta do corpo do Engenheiro ao fim do filme. Incontestável que se trata do melhor trabalho envolvendo a franquia nos quadrinhos. Leia, leia, leia!
Menção Honrosa: Alien, a História Ilustrada
É muito comum diversos filmes terem suas histórias adaptadas para os quadrinhos, assim como são novelizadas em alguns casos. Com Alien não foi diferente. Porém, o diferencial dessa HQ são os nomes responsáveis pelo roteiro e arte: Archie Goodwin e Walt Simonson, dois gigantes da indústria que escreveram Luke Cage e Homem-Aranha, além de Simonson ter criado um dos heróis mais impactantes dos quadrinhos: Bill Raio Beta em sua fase esplendida a frente da HQ de Thor.
Os artistas não adicionam nada novo e seguem a risca a história do filme, mas apresentam os eventos com pontos de vista diferentes e muito criativos. Obrigatório para qualquer fã de Alien.
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Artigo | H.R. Giger, o artista por trás do Alien Xenomorfo
Alien é uma franquia que basicamente se sustenta no conceito visual de sua criatura que dá nome aos filmes: o xenomorfo. O que poucos sabem é que esse mesmo conceito já estava pronto antes mesmo do filme existir. E menos pessoas ainda devem conhecer um dos artistas plásticos mais geniais do século XX: H.R. Giger, o pai criador do xenomorfo. Pensando na importante influência que Alien teve para a cultura pop e para o gênero da ficção científica, não há nada mais justo do que fazer este artigo para que mais pessoas conheçam quem é o homem por trás do monstro.
Morte infante
Quem viu algum vídeo ou até mesmo uma foto de Giger, já pode sacar no mesmo instante que o artista era um homem muito estranho e talvez de pouco traquejo social. Se alguém espera uma história traumática que deu origem aos pesadelos que o artista tirava as inspirações de seus trabalhos, já aviso que sairá frustrado.
Hans Rudolf Giger nasceu na pacata cidadezinha de Chur, na Suiça em 1940. Vivendo uma vida confortável de classe média graças a carreira de farmacêutico que o pai seguiu, Giger teve seu primeiro “contato” com a morte quando seu pai foi presenteado com um molde de um crânio humano.
Mesmo com sua família pressionando o jovem Giger a seguir os passos de seu pai como farmacêutico preservando o empreendimento, o artista, já iniciado em desenhos e design gráfico decidiu mudar-se para Zurique em 1962 para cursar desenho industrial.
Logo que terminou a faculdade, em 1966, Giger já trabalhava como designer de móveis até 1968 produzindo pinturas a óleo e aperfeiçoando sua técnica com esculturas de poliéster.
O chamado da arte
É bem evidente que o excêntrico artista não ficaria para sempre desenhando móveis. Assim que saiu do emprego, dedicou seu tempo a fazer alguns pôsteres de diversos filmes, porém uma técnica nova de pintura chamada airbrush passou a chamar a atenção de Giger. Em questão de poucos anos, Giger ficou tão bom na técnica de airbrush que foi considerado o melhor artista do mundo para operar o aparelho – é possível ver em alguns making ofs de Alien o artista pintando o Space Jockey e o cenário da Derelict com seu fiel airbrush.
Através da técnica que Giger começou a elaborar seu design verdadeiramente único com figuras biomecânicas bizarras que evocavam certa sexualidade aliadas a formas fálicas e grotescas. Tudo pintado em diferentes tons de preto e cinza. Quando questionado de onde que tirava a imaginação para os desenhos tão incômodos, ele respondia com tranquilidade. “Vivem comigo, em meus pesadelos. ”. Chamava o processo da criação dos desenhos como terapia para acalmar seus demônios.
Conforme os desenhos traziam mais elementos de ficção científica e Giger ganhava renome através de diversas exposições em galerias de arte, o artista finalmente foi convidado para ser o desenhista de conceito de um filme hollywoodiano. No caso, seria o da primeira tentativa de produzir Duna dirigido por Alejandro Jodorowski – o filme nunca saiu do papel.
Necronom IV, o Alien Original.
Enquanto trabalhava com Duna, Giger publicou seu primeiro livro de desenhos chamado Necronomicon. Na exposição de lançamento, Dan O’Bannon, argumentista e roteirista do primeiro filme, acabou se apaixonando pela estranheza dos desenhos perturbadores do suíço. Acabou guardando o contato de Giger.
Por um golpe de sorte e muita influência do lançamento de Star Wars nos cinemas, a Fox acabou aprovando a produção de Alien e logo O’Bannon e Ridley Scott tinham um belo problema nas mãos: como raios seria o alien que dá o título do filme? Lembrando do artista esquisito que havia conhecido na viagem para a Europa, O’Bannon mostrou os desenhos para Scott que rapidamente decidiu o conceito que queria, afinal o desenho estava pronto em sua plena glória: a famigerada pintura Necronom IV.
Em pouco tempo e muita insistência de Scott para o artista subir em um avião, Giger já tinha se mudado para a Inglaterra para trabalhar nos sets alienígenas e no design de outras criaturas como o Chestburster, o Facehugger e os ovos, além do Space Jockey, da superfície do planeta e da nave.
Um alien na produção
Apesar de ser sempre muito educado e reconhecidamente muito gentil, Giger não sabia muito bem se relacionar com os outros. Seu estilo travado e meio gótico o isolavam ainda mais de outros artistas envolvidos no projeto. Porém, por estar sempre focado no trabalho, acabou fazendo diversas tarefas totalmente sozinho como as variadas modelagens em escultura do xenomorfo ou as pinturas cheias de hieróglifos dos cenários internos da nave.
Giger se divertiu e criou uma das assinaturas visuais mais interessantes da História do Cinema. Misturou sexualidade, uniu o homem à máquina, inseriu pedaços de sucata como tubos e texturas reptilianas para o xenomorfo e outras criaturas, além do destaque sobrenatural das costelas no exoesqueleto da criatura. Uma marca visual tão louvada que ganhou reconhecimento imediato ao ser premiado com o Oscar de Efeitos Visuais em 1980.
Porém, todo seu esforço custava tempo e dedicação mais delicados e demorados. Algo que entrou em rota de colisão com os estúdios de Hollywood rapidamente. Na conturbada produção de Alien³, David Fincher fez questão que Giger fosse consultado para a criação de um xenomorfo distinto do que tínhamos visto nos filmes anteriores.
Com certo receio, Giger aceitou o convite e acabou desenhando o Dog Alien ou Bambi Alien que foi incorporado na produção do filme. Mas como as filmagens estava indo de mal a pior em total descompasso, o estúdio, produtores e até o Fincher esqueceram da existência de Giger que continuava enviando seus desenhos para a Fox que nunca retornava o contato.
Sentindo-se desrespeitado, acabou desistindo da produção e encerrou os laços com a Fox e a franquia por muitos anos – até a produção de Prometheus começar.
Facehugger (H.R. Giger)
Meio caminho para o Museu
Os anos 1980 de Giger não trouxeram tantos louros como um novo Alien, por exemplo. Pontualmente, era chamado por estúdios para prestar alguma consultoria artística como em Poltergeist II: O Outro Lado. Nos anos 1990, em 1995 para ser mais exato, esteve envolvido na criação de Sil em A Experiência, além de ter desenhado alguns designs do batmóvel para Batman Eternamente que nunca foram utilizados.
Novamente a velocidade da máquina hollywoodiana afetou Giger que desistiu de vez da produção cinematográfica para concentrar seus esforços na curadoria de seu museu. Dois anos antes de abrir seu museu pessoal de quatro andares, Giger disponibilizou toda sua obra em arquivos digitais em seu website em 1996.
Mesmo com o museu inaugurado em um antigo castelo suíço na região de Gruyere, o artista nunca se aposentou de fato. Continuou sua arte surrealista em esculturas, pinturas e até chegou a fazer designs de guitarras para bandas heavy metal.
Necrinomicon V (H.R. Giger)
Beleza da Escuridão
Em 2011, novamente a Fox e Ridley Scott retomaram contato com H.R. Giger para convidá-lo a participar da produção de Prometheus para criar novos designs das criaturas inéditas. Surpreendentemente, o artista aceitou e convite e até voou para Los Angeles onde a pré-produção estava concentrada.
Conhecendo como tudo estava ainda, até havia se animado para embarcar no universo do design que o consagrou na História, porém, ironicamente, assim como em Alien³, Giger acabou esquecido pela produção do filme por conta de seu ritmo mais lento de elaboração e criação. Até mesmo Scott disse que os ritmos eram incompatíveis que acabaram por afastar o artista da produção mais uma vez.
Giger morreu pouco tempo depois disso, em 2014, aos 74 anos, após sofrer uma queda severa na escadaria de sua casa em Zurique.
H.R. Giger conseguiu o que muitos artistas batalham a vida inteira para conseguirem: prestígio, reconhecimento e revolucionar um movimento artístico. Isso tudo foi conquistado em vida e, mesmo longe dos holofotes, Giger sempre foi uma figura muito respeitada, além de ter colecionado uma legião de fãs por conta de seu trabalho na franquia Alien.
Se não fosse por essa conquista tão única, Giger não teria conseguido compartilhar seus pesadelos do modo que aconteceu. Hoje, o homem atormentado pelas figuras sensuais bizarras e grotescas originou novos pesadelos de muita gente. Incluindo eu.
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Crítica | Alien³ - Assembly Cut
Com Spoilers
A era do blockbuster germinou no fim dos anos 1970. E, desde sempre, absolutamente tudo que envolve muito dinheiro, envolve muitos riscos. O cinema é uma arte de riscos, principalmente naquela época na qual não havia um termômetro certo para sucessos como há nesta década de blockbusters nostalgia e de super-heróis.
Essas constantes ocasiões de liberar 150 a 250 milhões em diversos projetos não era regra e além disso, a computação gráfica para cinema só daria seus primeiros passos em meados de 1990. Apesar do desespero em emplacar uma franquia de ficção científica marcante depois de Star Wars, a Fox nunca apostava financeiramente em extenso com Alien, O Oitavo Passageiro na tentativa de maximizar o lucro. E assim foi feito com Alien e Aliens, O Resgate, dois filmes que renderam quase dez vezes mais o valor de seu orçamento.
Com a franquia enfim abraçando os anos 1990, a Fox foi um pouco mais benevolente e destinou ao menos 40 milhões para a produção de Alien 3. Preservando a característica de convidar diretores novos e muito promissores para comandar o filme, o estúdio chamou David Fincher – hoje, gênio consagrado – para realizar seu primeiro longa-metragem da carreira. Entretanto, as coisas saíram de mão muito rápido criando esta produção que figura entre uma das mais problemáticas da História do Cinema – isso por si só renderá um artigo que farei em breve para o nosso sempre extensivo especial de Alien.
Esclarecido que a situação de produção desse filme foi caótica, o corte do cinema (do produtor) de Alien 3 sempre fora muitíssimo criticado o jogando em completo escanteio e oposição a notória qualidade de seus antecessores. Dizem que o tempo cura tudo. De certa forma, devolveu a noção para o estúdio em lançar um novo corte para Alien 3 baseado nas anotações de como Fincher queria que o longa fosse montado, já que, depois de tão traumática experiência, o diretor se recusava a se envolver novamente.
Nessa justíssima missão, proponho na crítica a seguir explorar o quão valioso é Alien 3 em seu famoso Assembly Cut. A quase meia hora adicional transforma este filme que era medíocre em algo não só ótimo, mas como bastante profundo.
Uma Verdadeira Antologia
Alien 3 realmente comprova que a franquia Alien trata-se de filmes antológicos contando com um único fio de união entre os quatro filmes: Ellen Ripley. Inspirada em um argumento original bastante distinto de Vincent Ward, a narrativa basicamente desconstrói todo o esforço de Ripley em salvar Hicks e Newt em Aliens.
Antes de ser destruída, a Rainha Alien consegue implantar um ovo contendo uma royal facehugger a bordo da ala das câmaras criogênicas da Sulaco. Após contaminar Ripley e causar um incêndio com seu sangue ácido, o alien acaba causando o desprendimento do módulo da nave que entra na gravidade do planeta Fury 161, morada de uma colônia penal para criminosos condenados portadores do mal do duplo cromossomo Y.
Na queda, apenas Ripley sobrevive. Assustada e desconfiando que esteja com um parasita alien, a heroína terá que se familiarizar com os detentos nada simpáticos e também lidar com uma nova espécie de alien que chegou junto com ela no planeta.
Antes de prosseguir, é importante ressaltar que o roteiro de Alien 3 foi pronto conforme as filmagens aconteciam. Os executivos da Fox tinham alterado boa parte de essência do argumento de Ward que recusou tratar o texto. Para essa tarefa inglória, David Giler, Walter Hill e Larry Ferguson tentaram fazer de tudo para extrair uma história juntando as visões discrepantes do argumento original com a da Fox.
Em termos de narrativa, assim como boa parte da franquia, Alien 3 não é nada complexo, mas é uma das incursões mais interessantes. Ainda temos os moldes clássicos de apresentação>situação>apresentação da ameaça>reconhecimento>estratégia de eliminação da ameaça>conflitos>catarse>fim. É algo clássico e funcional. Nesse sentido, não há nem como mexer em uma estrutura tão sólida e eficiente que consegue transgredir as artes.
Talentosa Ripley
Sabendo disso, o que raios os roteiristas poderiam oferecer de novo aqui? Por muita coragem, a franquia se renova a cada filme: um thriller de suspense, um blockbusters explosivo de ação e, aqui, um drama existencial pessimista e denso. Sim, denso. Creio que dos 4 filmes, Alien 3 seja o que mais compreende o drama que Ripley carrega até seu dramático fim – Alien: A Ressureição não conta nessa equação, é outra personagem que mais se assemelha a uma super-heroína.
Assim como nos anteriores, Ripley é um peixe fora d’água. O aborrecimento com os alienígenas e a sua constante miséria da sua vida roubada refletem em seu estado de espírito apagado, mortificado. Perdendo seu propósito de viver pela segunda vez, não há muito mais pelo que Ripley tenha que embarcar em outra luta contra os xenomorfos. Sua motivação é altruísta e busca de uma redenção para a culpa da morte de seus amigos. Um fim também para sua eterna perambulação pelo espaço. Aqui ela é um fantasma do passado.
A relação com os outros personagens nunca deixa de ser interessante que, assim como muitos outros, a tratam como uma pária, um perigo para a ordem vigente ou a responsável pelo surgimento dos xenomorfos – algo sempre muito irônico dado os eventos de Alien – O Oitavo Passageiro. A questão aqui é justamente esse desinteresse lacônico de Ripley em continuar vivendo. O único elo romântico que ela conquista com o simpático médico Clemens é novamente destruído pelo alien. Essas criaturas são a cruz que ela carrega, sempre a impedindo de ter um pingo de alegria na vida. Destruíram tudo que ela amava e o que ela era.
Desse modo, há reflexões leves sobre o destino de Ripley estar ligado com o dos aliens. Sempre surgindo para expurgar o mal do mundo. Isso é exposto de modo bonito por diálogos sutis e da ótima atuação angustiante de Sigourney Weaver – destaque para a frase “Você está em minha vida por tanto tempo que já não me lembro de mais nada. ”.
Questionamentos sobre o tempo de vida anormal de Ripley também aparecem aqui e ali. É importante ressaltar tudo isso para entender esse ótimo drama para a personagem. A evidência do desejo de morte é tamanha que em dois encontros com o antagonista, ela não faz questão de confrontá-lo. O peso da desistência na heroína é transmitido com clareza.
Reconhecendo essa ligação tão forte entre ela e as criaturas, fico emocionado pela clareza e coragem do final do longa. O suicídio de Ripley, negando enfim uma chance completa de recuperação e de ter uma vida normal, conclui sua pavorosa jornada de infortúnio extremo. Seu final é também a conclusão da disseminação dos xenomorfos. Depois de perder tudo tantas vezes, Ripley ganha sua odisseia pessoal.
Novo Mundo, Mesmos Pecados
Uma das grandes peculiaridades de Alien 3 é situar sua narrativa em um planeta presídio para condenados praticamente abandonados à própria sorte. Em termos caracterização, os roteiristas e designers de produção conseguem conferir elementos realmente singulares para Fury 161. Além do clima ingrato, da infestação de piolhos, do visível abandono das instalações do presídio de segurança máxima que, ironicamente, não conta com nenhum armamento, há uma característica que tenta aprofundar os muitos detentos: a profunda ordem religiosa.
Baseado no cristianismo, os presidiários se contentam com a fé aliada ao celibato e a chegada de Ripley, a única mulher, é vista também como uma tentação do diabo – este representado pelo xenomorfo. Essa união prática e simbólica de Ripley com o alien, do diabo e seu emissário, ajudam a delinear os contrastes entre os núcleos.
O texto tão pouco demora para explorar o quão frágil é a fé de alguns homens que já se dispõe a estuprar a protagonista cedendo aos desejos carnais – aliás, esse é uma das péssimas cenas do filme. Como toda narrativa de grupo, a coesão é muito necessária para que os personagens sejam desenvolvidos ainda mais quando temos um drama existencial envolvendo a protagonista.
Se Alien 3 pode ser admirado, é na qualidade dos diálogos muito crus e orgânicos para todo o grupo. Cada personagem fala de uma maneira distinta e se comporta de modo diferente o que é algo excepcional levando em conta como todos podem ser confundidos graças às muitas cabeças carecas. Clemens, o médico, é o segundo personagem mais trabalhado e o choque da sua morte em um momento de revelação surpreende pela coragem.
Os outros seguem caminhos quase similares. Um dos mais interessantes é o louco Golic que elucida as questões do luz e trevas em sua loucura. A grande alteração da Assembly é justamente na função de seu personagem que o torna consideravelmente mais complexo e fiel a esse dilema religioso que paira no texto. Notar que Golic é o membro alienado e estranho ao grupo, assim como é Ripley é importante.
É formidável como os roteiristas delineiam essas semelhanças e a diferença de desenvolvimento entre Golic e Ripley e a relação de ambos com o grupo. Golic é o alienado que acabou com a mente surrupiada cuja identificação se dá justamente com o alienígena o libertando de seu confinamento na busca de encontrar um “similar”. Ripley não cede ao grupo, mas o muda inteiramente mesmo sendo desacreditada quando afirma a existência do alien e ainda visa destruí-lo novamente. São desenvolvimentos perpendiculares que tomam rumos completamente opostos. Golic seria uma representação do “e se” de Ripley caso tivesse desistido de sua sanidade após os eventos dos outros filmes.
O que também distingue esse roteiro é o rápido avanço de transformação do grupo. Em vez de apostar no clichê da inaptidão de um grupo religioso que só esperaria pela providência divina, Ripley consegue erguer a moral dos homens e reacender o instinto de sobrevivência – novamente, um belo contraste de espírito entre os dois lados. É exatamente na metade da obra que acontecem as mortes que acabam unindo os dois lados e firmando a busca pela liderança. Os atritos enfim cessam.
Particularmente, gosto muito mais da relação do conflito de Alien 3 que busca remeter a O Oitavo Passageiro em apostar na astúcia de planos elaborados para se livrarem do bicho. Detalhe que isso ocorre duas vezes nesta versão.
Então nesse jogo bem-disposto, já há a transformação de homens que pouco se relacionavam e somente compartilhavam a “fé” pela união de todos em prol da sobrevivência do grupo. Pequenas pérolas de desenvolvimento surgem aqui e ali com Dillon, Morse e Andrews. Fico impressionado como os roteiristas, mesmo com tantas revisões, conseguiram manter a obra bem aglutinada e coesa.
Entretanto, mesmo tendo tão pouco a reclamar do texto do Alien 3, uma das coisas que muito me incomodam é o tratamento dado para Newt e Hicks no começo do longa. Apesar de gerar a poderosíssima cena da autopsia e da angústia dúbia de Ripley evidentemente mais temerosa pela chance de contágio do que o luto da morte de sua nova “filha”, era possível obter os mesmos resultados buscando modos mais sagazes e de impactos dramáticos ainda maiores.
Muito provavelmente não teríamos o valioso trabalho com Clemens, mas matar Hicks e Newt ao longo da jornada neste planeta prisão teria potencializado ainda mais a impotência da protagonista diante a força natural do xenomorfo. Infelizmente, isso aborda o tema do “e se” que sempre deve ser evitado em um texto analítico. O filme é o que ele é. E de fato, com a interpretação certa, é uma obra grandiosa que finaliza com dignidade o arco de Ellen Ripley.
Batismo de Fogo
Talvez David Fincher tenha uma das estreias mais estressantes em Hollywood que qualquer outro diretor que já tenha pisado por ali. Ainda muito jovem e vindo da indústria dos videoclipes, Fincher era um completo desconhecido. Ninguém fazia ideia de seu gênio e do método de direção que ele desenvolveria para o filme.
Acreditando que poderiam controlar a fera, a Fox o contratou mesmo sem ter o roteiro finalizado em mãos – aliás, igualmente impressionante é o trabalho de Fincher em ter conseguido criar algo totalmente novo e distinto do restante da franquia até então. Já com esse grande problema de trabalhar sem a base de um filme, Fincher pegou o bonde andando já que muita coisa da produção havia iniciado tempos antes dele chegar nos estúdios.
Entretanto, mesmo com tantos percalços, é notório o profissionalismo de Fincher que conseguiu sim imprimir uma atmosfera completamente única para Alien 3. Nunca houve dúvida que ele estava envolvido com o filme, porém o esgotamento provocado pelo stress poderia sim ter causado um desastre cinematográfico de proporções monumentais.
Nesta edição, finalmente vemos como Fincher dedica alguns minutos para mostrar a atmosfera e o ambiente daquele planeta amaldiçoado com ligeira contemplação – destaque para os matte paintings ricos que fornecem a profundidade e riqueza visual em perspectiva. As praias, os vermes, as vestes externas e um pouco da funcionalidade da colônia. Desse modo, os elementos ganham peso maior e se tornam mais críveis para o espectador que deixa de pensar que “ah, é só mais um lugar x para o alien matar umas pessoas estúpidas”.
Além da substancial mudança da captura do alien e sua posterior fuga por Golic, a outra novidade bem recebida é a concepção diferente do Dog Alien que passa a ser o Bambi Alien. Em termos de simbologia, tanto o cachorro e o boi virarem os hospedeiros para o desenvolvimento da larva têm pesos semelhantes e muitíssimos interessantes.
Com o cão no corte de cinema, elabora-se uma grande ironia do melhor amigo do Homem justamente incubar o maior algoz que os personagens encontram na narrativa, os forçando reacender o instinto de sobrevivência – mais interessante ainda é a escolha da raça Rottweiler que geralmente é definida como um cão de guarda que oferece proteção a seus donos.
Já o boi na Assembly Cut tem significados mais profundos e menos óbvios. O boi, desde a idade média, é símbolo de fertilidade e estabilidade, já que provê prole para sustentar uma sociedade. Subvertendo em parte seu significado, Fincher preserva o sentido de fertilidade ao boi dar “à luz” ao novo alien mais mortal e desenvolvido que desestabiliza toda a ordem naquele lugar. Sua função como alimento para os presos também é subvertida com ironia já que esse é justamente o primeiro xenomorfo que apresenta comportamentos de se alimentar das suas vítimas.
A visão de Fincher
Em termos plásticos, Alien 3 é um filme de visual peculiar. Finalmente abandonando toda aquela fumaceira dos dois primeiros, Fincher emplaca sua visão para um mundo árduo, depressivo e estéril. Todo o design, direção de arte e fotografia seguem o padrão amarronzado nauseante que tem seu significado até mesmo exposto por um personagem: "All we got here is shit!"
Mesmo com essa paleta morta, fétida e que deveria ser sem-graça, o diretor elabora planos majestosos e usa a montagem para criar paralelismos nada menos que brilhantes. O exemplo clássico disso é a cena do funeral de Hicks e Newt intercalada com o nascimento do xenomorfo – tudo isso embalado pela trilha excepcional de Elliot Goldenthal que realiza talvez sua obra-prima com as músicas aqui.
Outros lances de encenação bastante inteligentes estão na morte de Clemens na qual Fincher faz uma sequência de penetrações através da montagem – da agulha na pele de Ripley para a língua do xenomorfo quebrando o crânio do personagem. São momentos valiosos que já destacam a autoria de Fincher como um brilhante jovem diretor.
Uma escolha bastante inusitada é a quantia inacreditável de contra-plongées que existem aqui. Fincher opta em filmar com câmera baixa a apontando para o teto quase sempre valorizando as construções enormes da direção de arte conferindo realidade para os ambientes – enquadrar o teto na composição não era o padrão de Hollywood por conta da inexistência dessa parte nos cenários (um dos primeiros a fazer isso foi Orson Welles em Cidadão Kane).
Aliás, por comentar a direção de arte, é legal destacar como o resgate aos elementos egípcios e faraônicos é presente no filme. Os corredores a la catacumbas das pirâmides nunca foram tão presentes como neste, assim como grandes câmaras como a do ventilador gigante.
Pequenas homenagens de Fincher para o trabalho de Ridley Scott também surgem em alguns momentos. Alguns adereços de cenários fazem as referências certas, mas Fincher incorpora a encenação do britânico em alguns momentos como durante o segundo confronto de Ripley com o xenomorfo camuflado entre as tubulações assim como em O Oitavo Passageiro.
O diretor também busca enfatizar melhor a relação de Ripley com o alienígena, oferece contornos mais interessantes para a Weyland Yutani resultando na ótima cena final do auto sacrifício de Ripley.
Apesar de rasgar tantos elogios para o trabalho de Fincher, é evidente que há alguns problemas. Às vezes a encenação torna-se caricata demais destoando da atmosfera proposta – a cena da tentativa do estupro e da trombada de dois presidiários fugindo do alien são exemplos claros. Outro enorme problema é entender a decupagem de ação que Fincher trabalhou aqui – desde então quase nenhum trabalho seu envolve grandes peças de ação, reparem nisto.
As duas grandes sequências para capturar o alien são bastante confusas com planos e movimentos de câmera que sacrificam completamente a lógica geográfica do lugar afetando a credibilidade da captura e destruição do bicho em ambos os momentos. Outros elementos já são inerentes à idade do filme. Enquanto boa parte dos elementos visuais não envelheceram, assim como a decupagem do restante das cenas, os efeitos de rotoscopia, marionetes e até mesmo o único plano com efeitos de computação gráfica acabam escancarando a idade do filme. Como a movimentação desse alien era bastante diferente, os efeitos de rotoscopia e escala, apesar de qualidade para a época, não conseguem superar as máscaras e animações virtuais que foram desenvolvidas em pouquíssimo tempo depois.
A Revolução Herdada
Desde sua concepção, a franquia Alien conseguiu sempre revolucionar o gênero de ficção científica a cada novo filme. Com Alien 3 isso não foi diferente e falo sério quando digo isso. Fincher tratou o gênero com respeito buscando preencher uma lacuna consideravelmente vazia de filmes de horror em geral apostando em dramas emocionantes e narrativa inteligente.
Não se tratava em levar a franquia novamente por um terreno explorado pelo horror profundo e do tiroteio cheio de adrenalina. Alien 3 conseguiu quebrar a expectativa de ver as mesmas coisas de sempre e tentou inovar. Uma pena que na época e também pelo seu corte de cinema, conquistou muito pouco da crítica e do público. Não só por conta disso, sem dúvidas afirmo que se trata de uma obra a frente de seu tempo – talvez, até mesmo para os dias de hoje já que constantemente é um filme covardemente atacado até por fãs que nunca ousaram assisti-lo o encarando como peça fundamental da antologia e como fim para o arco de Ripley.
Alien 3 merece sim figurar entre os grandes filmes da franquia, pois ele é grande e captura o espírito dos filmes com muitíssimo respeito. Sua originalidade, seja no texto, na ótima direção ou na fantástica trilha musical, mostra que, de alguma forma, David Fincher conseguiu vencer o sistema resultando nesse clássico Assembly Cut. No fim das contas, é um ótimo final para uma grande trilogia e uma excelente personagem.
Alien³ - Assembly Cut (Idem, EUA – 1992)
Direção: David Fincher
Roteiro: Vincent Ward, David Giler, Walter Hill, Larry Ferguson
Elenco: Sigourney Weaver, Charles S Dutton, Charles Dance, Paul McGann, Brian Glover, Ralph Brown, Danny Webb
Gênero: ficção científica, horror espacial, ação
Duração: 155 minutos
https://www.youtube.com/watch?v=KUTaNMJJBa8
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Crítica | Guardiões da Galáxia Vol. 2 (Com Spoilers)
Com Spoilers
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Escrever as análises com spoilers aqui do site sempre são um grande divertimento. No melhor dos casos, como esse, até tenho a oportunidade de rever o filme, o analisando ainda melhor e julgando se minha primeira impressão fora mesmo adequada à qualidade que a obra apresenta.
Porém, é a segunda vez que me pego surpreso pela recepção pouco amistosa de diversos colegas para um filme que julgava nada menos que excepcional. Por incrível que pareça, Guardiões da Galáxia Vol. 2 virou um filme divisivo para muita gente com várias opiniões reclamando sobre a permanência do tom cômico e do escopo mais intimista da obra.
Certamente, acho uma bizarrice exigir de Guardiões muito mais do ele pretende ser. Além disso, o filme surpreende bastante ao ser mais corajoso do que grande maioria dos filmes da Marvel diga-se Guerra Civil, Doutor Estranho ou A Era de Ultron. Aqui há atos e consequências e muito, mas muito mesmo, desenvolvimento de personagens.
A Galáxia intocada
Dessa vez, Peter Quill, Gamora, Drax, Groot e Rocket agem como caçadores de recompensa, protegendo diversas raças e cantos da galáxia. Após livrarem os Soberanos da destruição completa de um ser cósmico interdimensional, Peter Quill e seus companheiros são surpreendidos por Ego que afirma ser o pai perdido do protagonista.
Com algum receio, o grupo se separa. Peter, Gamora e Drax partem com Ego e Mantis para seu planeta a fim de descobrirem o que há por trás das intenções do misterioso Ego. Groot e Rocket ficam para reparar a nave que fora danificada durante uma batalha espacial. Porém são surpreendidos pelos piratas Ravagers que foram contratados para saquear a Milano.
Como não poderia deixar de ser, o roteiro é novamente assinado pelo também diretor James Gunn que parece compreender e investir cada vez mais na pureza de seus personagens. O que pode pegar muita gente surpresa com a sequência de Guardiões da Galáxia é a simplicidade de sua narrativa. O próprio James Gunn disse que suas histórias tendem a ser bastante simplificadas e talvez Guardiões 2 seja o seu filme mais simples até então – em termos de narrativa.
Após o que descrevi na sinopse, basicamente ocorrem pouquíssimas coisas. Gunn procura o escopo menor para trabalhar elementos pertinentes envolvendo os temas família e propósito. A transformação dos Guardiões realmente acontece no qual o sentido de heroísmo é menos óbvio e mais inteligente do que no longa anterior. Isso já fica nítido logo no começo com o grupo salvando os Soberanos de um monstro.
Ainda são desconjuntados, sem liderança alguma e não agem em conjunto para deter o oponente – o exemplo mais nítido é Drax saltando para dentro das entranhas da criatura. Claro que tudo vem acompanhado de doses cavalares de comédia, mas ela está sempre em serviço da mensagem que o filme deseja passar.
Gamora e Peter não definem seu relacionamento, Drax parece mais distraído do que nunca, Baby Groot é só um bebê e Rocket continua colocando o grupo em perigos desnecessários ao roubar a bateria sagrada dos Soberanos – particularmente, julgo inteligente como Gunn utiliza esse McGuffin parcial para resolver o clímax da narrativa. Rapidamente, após a breve perseguição, o grupo é jogado em um planeta aleatório para provocar a separação entre as duas narrativas com o surgimento de Ego.
Ego, o planeta vilão
Como muita gente esperava, a alma do filme reside mesmo em Ego, o melhor vilão do MCU até agora contando com o grande carisma de Kurt Russell. O filme já abre com um flashback do personagem namorando Meredith e apresentando uma flor alienígena que plantou em um bosque – repare como Gunn torna a narrativa tão coesa ao apresentar essas características em momentos prévios do filme.
Através de exposição inteligente, entendemos essa nova versão de Ego, sobre sua índole que parece bondosa e, assim como Peter, compramos rapidamente a versão de que ele se trata de uma figura benevolente, que dirá heroica, e negamos as suspeitas que o cercam. De modo orgânico, Gunn encaixa passagens inteligentes apontando que há mais do que as aparências apontam para o personagem. Seja com a descoberta das ossadas por Gamora e Nebula ou através de Mantis. Novamente, nada genial ou revolucionário, mas eficiente para engajar um pensamento de dúvida no espectador.
Ego é o principal meio que o roteirista busca trabalhar o assunto da paternidade. Sua aproximação com Peter é bem desenvolvida seguindo os preceitos básicos de empatia: revelando os grandes poderes oriundos da Luz – uma energia cósmica própria de Ego e, principalmente, por buscar momentos “pai e filho”. Ou seja, oferece presentes e mostra que seus gostos são similares aos de Quill.
Quando digo que Ego é o melhor vilão que já tivemos nesse universo até agora não é por menos. Gunn praticamente o escreve através de muita exposição, mas encaixada de modo orgânico na obra. Duas são bastante similares, mas opostas em sentido. Elas explicam a origem de Ego como celestial e sua busca por vida no universo. Como toda criatura sapiente e sensiente, o vazio da solidão só resultava em angústia e ausência de significado e propósito até encontrá-los ao se deparar outros seres.
A jornada pela vida, a história de amor e gravidez de Meredith trazem humanidade para o alienígena e, portanto, provoca empatia. A segunda exposição ocorre quando Ego revela seus planos muito dignos de seu nome para Peter Quill, quase totalmente seduzido pela ilusão das intenções de seu pai.
É nesse momento que temos a quebra da “humanidade” de Ego com a revelação egoísta do motivo da existência de seus outros filhos e da reviravolta principal do filme: o assassinato de Meredith. Quando vi o filme pela primeira vez, admito que fui pego de surpresa. Não esperava que Gunn conseguiria emplacar algo corajoso assim em um estúdio que ama a zona de conforto. No primeiro filme, o câncer da mãe de Quill era uma das pontas soltas que eu já especulava ser oriundo da relação dela com um ser cósmico – apontei isso na crítica, aliás.
Logo, toda a dimensão do conflito entre Quill e Ego torna-se muito relevante. Apesar de Gunn não deixar a narrativa descansar após a revelação para termos mais um pouco de desenvolvimento nesse tópico, o roteirista escreve uma reação tão crua que chega a ser excelente. Essa cena já é explicitamente contrastante à anterior que possui carga enorme de Quentin Tarantino no texto, com Gunn utilizando a letra de "Brandy" para expor um pouco mais das motivações de Ego, de sua persuasão e da história que teve com Meredith.
Além do drama entre os personagens ser muito bom, gosto muito do desenvolvimento de Ego. Ele não é motivado por vingança ou poder, mas sim por megalomania. É um personagem que nitidamente passa por transformações durante as eras perdendo sua ingenuidade e propósito originário. Se deparando com a fragilidade e, também, futilidade da vida, molda um novo propósito no qual tudo e todos devem se tornar Ego. Porém, em contrapartida, mesmo copulando afim de criar um novo celestial, a emoção genuína do personagem ao ver Peter manipular a luz pela primeira vez imbui um sentido sociológico pertinente que toca a necessidade empática do ser: não ser mais solitário.
Mesmo que não tendo consciência de todo esse bom trabalho de desenvolvimento, o espectador sente, possivelmente pela primeira vez nesses filmes Marvel, a morte de um vilão seja pela sua qualidade ou pelo enorme sacrifício que a morte dela gera: em poderes e pessoas.
Ponto Sem Nó
Como puderam perceber, o escopo intimista de Guardiões da Galáxia Vol. 2 vem muito a calhar para que haja esse florescer de amor e ódio entre Ego e Quill. Uma jornada sempre em movimento prejudicaria muito a essência do drama resultando em mais um vilão genérico insuportável a la Ronan ou Malekith.
Como 90% do desenvolvimento do protagonista fica centrado em um núcleo, os outros coadjuvantes são resolvidos na base do poder da coesão através de muitas discussões. Gunn não tem vergonha de assumir que esse episódio da aventura seja um belo novelão daquelas ótimas de jornada de autodescobrimento. Como apontei anteriormente, boa parte dos personagens continuam perdidos ou com pendencias psicológicas que impedem atingir esse ‘paraíso’.
Como temos uma quantidade considerável de cenas de ação, alguns arcos precisam ser resolvidos em questão de segundos. Para isso, há a inserção inteligente de Mantis, uma personagem que possui semelhanças com o aprisionamento de Gamora por Thanos, mas de modo levemente distinto. Sua relação com Ego é inteligente a fazendo ter muita utilidade durante o clímax da fita – novamente aponto como muitas das coisas apresentadas no primeiro ato são realocadas no terceiro com propósitos diferentes.
Porém, além de sua função primordial, ela serve como aglutinador de Gamora e Drax. Com Drax, novamente há outro belo trabalho de contrastes – Gunn basicamente faz isso no filme inteiro. Na apresentação de seus poderes empáticos, Mantis diz que nunca sentiu uma alegria tão intensa ao tocar Drax soltando uma de suas muitas risadas enormes (Dave Bautista excelente). Porém, já em Ego, durante uma bela contemplação e uma confidência do personagem sobre sua filha, Mantis o toca e chora compulsivamente.
É uma jogada simples sensacional para resolver essa mudança drástica de Drax entre os dois filmes. Em vez de expiar sua dor através da violência impensada que colocou todo o grupo em risco, Drax opta em extravasar o sofrimento se divertindo e aproveitando todos os momentos. Não será a primeira vez que Gunn usará elementos do filme anterior para desenvolver rapidamente os personagens, pois, na verdade, isso acontece com todos os coadjuvantes – com exceção de Groot que está na história para adicionar doses cavalares de fofura.
Já com Gamora, além do núcleo romântico pouco explorado, Gunn prefere desenvolver sua relação familiar com Nebula – algo que julgo adequado. A dimensão do ódio de Nebula contra Gamora torna-se mais clara para o espectador que finalmente compreende a violência das torturas praticadas por Thanos contra ela agregando mais relevância para essa personagem. Mesmo que a resolução do conflito das duas acontece através de um duelo físico, é inegável dizer que não um tratamento para elas. Novamente, coeso, simples e eficiente.
Dupla Dinâmica
Por incrível que pareça é com Yondu e Rocket que temos os conflitos mais densos da narrativa. Yondu é assombrado por Stakar – breve interpretação de Sylvester Stallone, revelando que ele é um Ravager desonrado por ter traficado crianças para Ego no passado. Estabelecendo esse bom conflito sobre honra, Ayesha contrata Yondu e seu grupo para caçarem os Guardiões. Tão pouco ocorre o encontro de Rocket e Groot com Yondu resultando em um motim dentro da trupe de piratas – Kraglin é brevemente desenvolvido aqui.
Novamente através de exposição e conflito de ideias que Rocket é esmiuçado por Yondu. Pode até ser considerada uma cena esquisita por não sabermos se trata de mais uma piada ou de algo sério no começo, mas logo fica claro que Yondu tem a razão ao confrontar o guaxinim espacial. Não há muito o que comentar sobre isso. James Gunn basicamente decide explicar o personagem para o público sem a menor reserva.
O bom disso é que não se trata de exposição gratuita, pois ele escreve isso tratando os dois personagens como um só. Dois caras que se posam como detestáveis, mas que necessitam de redenção e apoio dos amigos.
Não tem erro novamente. Gunn faz com que todo o drama entrelace conflitos do passado e do presente e toca com força o tema da paternidade aqui. Desse modo, há correlações entre Yondu e Ego. A coesão fica a critério no jogo dos contrastes e das lições que cada “pai” de Peter oferece a ele.
Enquanto Ego mostra o poder e a imortalidade, Yondu mostra o caminho para Peter salvar seus amigos durante o confronto final. Ou seja, ela causa a catarse no herói. Efeito esse muito similar ao do primeiro filme, algo bastante legal que reforça ainda mais o conceito de família que Gunn inaugura no clímax contra Ronan. Também há o destaque de Yondu salvar a vida de Quill. Nisso, o roteirista elabora uma alegoria para o pirata, como se ele tirasse pela primeira vez uma das crianças que tinha enviado para a morte naquele planeta.
Gunn novamente resgata memórias do primeiro filme ao elaborar o sacrifício de Yondu para salvar Quill. É uma transformação similar à da cena do primeiro no qual o protagonista se lança para o vácuo do Espaço para salvar Gamora. São rimas entre os dois filmes que casam e conferem dimensão maior para as ações heroicas de Peter que conseguem tirar o egoísmo de seu “pai”. Aliás, outra rima se repete ao fim do filme com o herói recebendo um presente de um parente que dá origem à última música da seleção musical.
Outro elemento belo é a segunda catarse de Quill refletindo a paternidade de seu verdadeiro pai rendendo o momento mais emocionante do longa: o funeral de Yondu.
Armas na Mesa
É evidente que esse é um filme de James Gunn. Interessante notar como o diretor venceu a máquina da Marvel e impregnou sua marca na obra. Não se permitiu ser engolido como Scott Derrickson foi com Doutor Estranho. Explorei por tanto tempo o roteiro nesse texto justamente por estar ali a maior parte de seu trabalho autoral. Para percebermos essa ótima coesão em relacionar itens do começo do filme com o final e até buscar conexões inteligentes com a primeira obra. Ou até mesmo em não tornar nenhum integrante do grupo em um completo inútil durante o clímax com todos desempenhando funções importantes para derrotar Ego.
Gunn buscou evoluir nitidamente seus personagens e não se interessou em nada para movimentar o grande plot desse MCU: Thanos. De fato, Guardiões da Galáxia Vol. 2 é um filme que relembra bons tempos de filmes de herói independentes de um grande universo cinematográfico nos quais somente uma boa história era capaz de segurar as pontas por si só.
Gunn consegue emplacar mensagens muito belas e ainda por cima tem a audácia de explorar o drama e até mesmo assassinar um dos personagens mais legais da aventura em prol da mensagem do filme que finalmente relembra que o heroísmo está muitas vezes associado ao sacrífico pelo bem maior. Os maiores filmes de super-herói tomam essas decisões com coragem como Homem-Aranha 2, X-Men 2, Logan, O Cavaleiro das Trevas, Watchmen, Batman vs Superman e até mesmo Guardiões da Galáxia se encararmos a morte de Groot para salvar a vida do grupo.
Ainda abordando seu roteiro, tudo que comentei acima não diz que o drama é sempre intercalado em equilíbrio por boas cenas de ação e ótimas piadas que não são inseridas em momentos inoportunos. Gunn não atenta à própria obra com essas manias irritantes presentes em outros longas Marvel. Ele respeita o drama, pois reconhece o quão difícil é criar a atmosfera correta. É tão feliz nessa construção que nos consegue fazer chorar – céus, ele fecha o filme "Father and Son" de Cat Stevens e com a imagem do Rocket Raccoon, o personagem mais casca grossa e com pose de invulnerável, chorando com saudades de um amigo caído em batalha. É difícil segurar a emoção.
Mas falando sobre a comédia, Gunn trabalha diversos tipos para todos os gostos sempre com uma acuidade paranormal para tornar suas piadas eficientes. Há escatologia, slapstick, ironias diversas e até mesmo incorpora o humor de Chuck Jones, gênio criador dos Looney Tunes na excelente sequência que Yondu, Groot, Kraglin e Rocket fazem 700 saltos para viajar até Ego o mais rápido possível.
Enquanto esbanja liberdade, criatividade e muito profissionalismo no texto, tive a leve impressão de que James Gunn estava um pouco mais travado em termos de decupagem e câmera. É óbvio que ainda se trata de um filme muitíssimo bem gravado e sequenciado, porém em muitos termos é uma obra quadrada na linguagem cinematográfica quando comparada às criativas sequências do primeiro filme.
Audácia Visual
Talvez seja por uma familiaridade que Gunn ainda tenha que conquistar nos próximos trabalhos, já que esse longa possui uso exaustivo de CGI para construir cenários completos. E, como todos pudemos ver, se trata de computação gráfica da mais alta qualidade. A topografia de Ego é tão hiper-realista que me fez sentir estar dentro de um mundo crível e real assim como tinha acontecido com Pandora em Avatar de James Cameron.
É irônico ter essa impressão já que os créditos de abertura são muitíssimos criativos ao acompanharmos boa parte da luta dos Guardiões contra a criatura a partir do “ponto de vista” do Baby Groot se divertindo enquanto dança "Mr. Blue Sky"da Electric Light Orchestra. É um bom plano sequência que quebra a mesmice que víamos tantas vezes no gênero.
Aliás, já na abertura do filme, durante o flashback, percebe-se que Guardiões da Galáxia Vol. 2 é um divisor de águas para a Marvel. Uma das reclamações mais constantes dos filmes do MCU era o visual ‘feio’. Um efeito negativo provocado pela falta de um color grading mais expressivo que tornassem as imagens mais estilizadas ou vivas, abandonando as cores chapadas que protagonizavam em todo bendito filme.
Felizmente, isso virou história. Este novo longa é belíssimo, repleto de cores vivas e contrastes agradáveis aos olhos. Finalmente as cores serão um instrumento eficiente para potencializar a encenação desses filmes. Gunn já usa tons nobres como o azul marinho e o dourado para o belíssimo salão dos Soberanos cujas linhas apontam o nosso olhar para a sacerdotisa Ayesha – apesar do texto ser muito bom em geral, a vilã é inexpressiva apenas gerando alguns minions para os heróis combaterem ao longo da jornada.
Além de usar a cor para oferecer uma estética aprazível, o diretor também não menospreza em nada o 3D. Finalmente, depois de eras, temos um filme cujo recurso justifica sua existência. Seja na abertura ou na espetacular cena de prison break na qual Yondu e Rocket causam uma carnificina contra os tripulantes amotinados da nave.
Aliás, essa excelente sequência é uma das poucas que mostram uma linha autoral que é traduzida pela câmera e montagem. Gunn referência os westerns spaguettis mais uma vez ao juntar planos rápidos com leves zooms nos rostos de capangas conforme a flecha os executa no melhor estilo da trilogia do Homem Sem Nome. Depois toda a cena continua se elevando com uso adequado de slow motions e até mesmo planos azimutais maravilhosos, além do jogo muito inspirado de Yondu e Rocket destruírem muitos inimigos com o auxílio de monitores.
Outra ótima sequência é que marca a principal luta de Gamora contra Nebula em uma planície e caverna de Ego. Apostando somente na encenação e em nenhum uso de trilha musical, Gunn constrói o embate mais visceral da franquia até então. Quando o quebra pau vai para o mano-a-mano, a referência estética a Quentin Tarantino, especialmente na ênfase em Kill Bill, vem à tona mimetizando breves momentos da luta da Noiva contra Vernita Green.
Apesar de não apresentar encenação extremamente inventiva, outras cenas sempre possuem uma energia tão fantástica que é difícil permenacer impassível ao talento do diretor. Sempre existem gags inteligentes que a tornam únicas: Rocket detonando um grupo de Saqueadores ao melhor estilo Esqueceram de Mim ao som da ótima "Southern Nights", das naves soberanas controladas via interface que mimetiza antigos fliperamas ou já da inesperada participação especial de Pac Man – repare que há uma leve brincadeira em um plano que Gunn mostra a nave de Ego chegando ao planeta em certo ângulo que forma o rosto do clássico personagem.
Sobre a já tão comentada tracklist de Guardiões Vol. 2, me limito a apontar que a escolha das músicas continua excelente, porém seu uso é menos inspirado do que no primeiro filme. Aqui, boa parte delas encaixam muito bem como "My Sweet Lord", "Brandy" e "Father and Son". Outras simplesmente colorem a ação com eficiência.
Uma coisa que poucos apontam também é a qualidade de Gunn como diretor de atores. Ele extrai muito mais do que o básico até mesmo com Bradley Cooper, limitado a dublar Rocket. As performances excelentes até mesmo surgem de Dave Bautista, Michael Rooker, Pom Klementiff e Kurt Russell. Também fui pego de surpresa pela qualidade que Chris Pratt apresenta ao ver e se maravilhar com a ilusão do plano de Ego. Tudo é muito orgânico mesmo quebrando o aspecto enlatado que esses filmes estavam adquirindo.
Menos é Mais
Já estava ficando agonizado depois de tanto tempo sem conseguir gostar verdadeiramente de um filme da Marvel Studios. Para a minha sorte e alegria, Guardiões da Galáxia Vol. 2 é uma daquelas pérolas que o gênero deve se agarrar com força. O filme corrige o maldito vício da zona de conforto que a produtora estava solidificando a cada obra. Revigora o gênero, traz uma belíssima história sobre família e paternidade e ainda aborda a dor da perda com bastante relevância.
É preciso encarar essa obra como ela é. Compará-la incessantemente com o primeiro filme não irá tornar sua experiência melhor. As propostas são consideravelmente distintas e ainda assim Gunn faz de tudo que ambos os filmes conversem com o propósito louvável de engrandecer os personagens e ajustá-los para a grande batalha que os aguarda em Guerra Infinita.
No que muitos julgam como erro, aponto como o maior acerto e qualidade desta obra. James Gunn entendeu que menos é mais e trouxe uma das melhores diversões que poderíamos conferir neste 2017. Vou além, muito mais do que isso, Gunn entende que os seus personagens não são apenas meros bonequinhos de ação, mas os aborda com sentimentos, relações, atos e consequências reais.
São personagens vivos. É isso que torna Guardiões da Galáxia, simplesmente, único.
Guardiões da Galáxia Vol. 2 (Guardians of the Galaxy Vol. 2, EUA – 2017)
Direção: James Gunn
Roteiro: James Gunn
Elenco: Chris Pratt, Zoe Saldana, Dave Bautista, Vin Diesel, Bradley Cooper, Michael Rooker, Karen Gillan, Pom Klementieff, Sylvester Stallone, Kurt Russell, Elizabeth Debicki, Chris Sullivan, Sean Gunn, Tommy Flanagan, Laura Haddock, Miley Cyrus, David Hasselhoff, Stan Lee, Ving Rhames, Michael Rosenbaum, Michelle Yeoh
Gênero: Aventura, Ficção Científica
Duração: 136 min
https://www.youtube.com/watch?v=4-i8nTNSQFI
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10 Filmes de Parasitas Alienígenas que Você Precisa Assistir
Apesar de não ser, a principal estreia da semana Vida poderia ter sido um dos filmes sobre aliens parasitas mais interessantes que já passaram pelos cinemas. Indo nesse embalo de vida alienígena, quis fazer uma lista recomendando ao menos dez filmes (alguns desconhecidos) sobre o tema de parasitas que vieram do espaço. A grande maioria se trata de filmes de terror – também de baixo orçamento, mas há algumas surpresas aqui também.
10. O Apanhador de Sonhos
Esse talvez seja o filme mais fraco da lista. Recheado de clichês característicos de Stephen King e outras diversas bizarrices muito bizarras, O Apanhador de Sonhos é um filme que merece ser visitado justamente por essa loucura que se trata da narrativa. Dirigido por Lawrence Kasdan (sim, o roteirista dos clássicos O Império Contra-Ataca e O Retorno de Jedi), acompanhamos um grupo de amigos que viajam para o interior a fim de acampar e se isolar da cidade grande. O problema é que eles encontram um viajante misterioso com diversos problemas de flatulência, mas não desconfiam que todos os gases sejam causados por um alienígena parasitário sedento por dominação global.
Entre muitos núcleos redundantes, humor involuntário, cenas de ação completamente desconexas e uma enorme embromação do texto que até mesmo resulta em poderes sobrenaturais, essa viagem astral de Stephen King pode tirar um ótimo divertimento muito descompromissado.
9. Calafrios
David Cronenberg não deixaria de dar sua visão sobre o tema. Mesmo que não fique claro que sejam alienígenas, muitos dos elementos utilizados por Cronenberg em seu primeiro filme de alto orçamento, foram adaptadas por Ridley Scott em O Oitavo Passageiro. Como em todo longa de horror do cineasta, a premissa é criativa e bastante perturbadora. Nela, acompanhamos uma investigação de um médico sobre o estranho experimento de um cientista insano que vivia em um bloco de apartamentos de luxo. Na residência, é descoberto que estavam manipulando um parasita que, em contato com o homem, resulta em impulsos sexuais doentios e incessantes. Acreditando que a infecção estava contida, o protagonista começa a perceber sinais em comum em outros habitantes do condomínio.
8. Sob o Domínio dos Aliens
Um longa de direção fraca, mas com boa premissa. Adaptando o livro de Robert Heinlein, vermes alienígenas invadem o planeta dominando a mente dos hospedeiros. O filme conta com a presença sempre marcante de Donald Sutherland tentando impedir o domínio completo dos invasores sobre a vida terrestre.
7. Prova Final
Refletindo uma fantasia adolescente, Robert Rodriguez pega uma abordagem de horror intenso para Prova Final. Um grupo de adolescentes passa a suspeitar que seus professores sejam todos alienígenas disfarçados após alguns eventos estranhos ocorridos no colégio. Calcando a narrativa em clichês colegiais, Rodriguez continua sua marca de exagerá-los ao ápice com exploitation e gore. O elenco também é uma maravilha divertida com nomes novos na época que acabaram consagrados como Elijah Wood, Jordana Brewster, Josh Hartnett, Salma Hayek e Famke Janssen. Divertido, bizarro e obrigatório para qualquer fã desse subgênero.
6. Hidden – O Escondido
Também seguindo a fórmula do alien parasita que possui a mente dos hospedeiros, Hidden tem o diferencial da situação. O alien, através de seu hospedeiro, passa a se comportar com um serial killer em Los Angeles. Um detetive humano e seu companheiro começam uma odisseia para encontrar o alienígena infernal que troca de hospedeiro rapidamente, dificultando o processo.
Dirigido por Jack Sholder, um dos nomes mais familiarizados com filmes de baixo orçamento de horror, Hidden é uma ótima jornada cheia de adrenalina – alguns até comparam seu entretenimento com o de O Exterminador do Futuro. O filme tem bastante ação contando com ótimas sequências de perseguição de carros intensas e vários tiroteios entre os possuídos pelo alien e a polícia local.
5. Star Trek 2: A Ira de Kahn
De todos os filmes que foram feitos com os personagens da série de televisão Jornada Nas Estrelas, Star Trek II: A Ira de Khan ainda é considerado por muitos como o melhor exemplar cinematográfico do universo intergalático criado por Gene Roddenberry. Parcialmente refilmado em Star Trek – Além da Escuridão – a sequência do reboot realizado nos anos 2000 -, o filme, entre outros méritos, é comumente lembrado pelo fato de o vilão que dá título à obra ter implantado vermes nas orelhas de Chekov e Terrell, manipulando-os a seu bel prazer durante a sua missão de vingança contra o Capitão Kirk. (Miguel Forlin)
4. Os Invasores de Corpos e Vampiros de Almas
Ambos os filmes tratam da mesma narrativa. Os Invasores de Corpos, filme de 1978, é considerado um dos melhores remakes da história do cinema americano. O filme reapresentado nas telas, em questão, é o clássico Vampiros de Almas, longa de 1956. A história acompanha um cidadão que descobre que os habitantes da sua cidade estão sendo substituídos por cópias exatas, mas totalmente desprovidos de emoções. Com pouca dedução, é descoberto que tudo se trata de uma invasão alienígena. Recomendo ver os dois filmes em sequência. O clássico primeiro, obviamente. Ambos têm ritmo bom e contam uma excelente história com reviravoltas inteligentes.
3. Seres Rastejantes
James Gunn já retornará ao espaço na semana que vem com Guardiões da Galáxia Vol. 2, porém, muito antes de sua fama com a Disney, Gunn era um cineasta que adorava o cinema independente trash. E o ápice dessa paixão surgiu com o muito divertido Seres Rastejantes. Na trama, uma cidadezinha é invadida por vermes aliens parasitoides que atacam os habitantes da cidade os transformando em zumbis e mutantes grotescos. Para combater a invasão, três habitantes decidem declarar guerra às criaturas e salvar a cidade. Muito sangue, muita gosma e muito humor bizarro marcam essa grande homenagem de James Gunn.
2. Alien – O Oitavo Passageiro
Apesar de sustentar um especial somente seu – e que faremos com certeza para comemorar a chegada de Alien Covenant, Alien é presença obrigatória em qualquer lista que se preze a comentar sobre o assunto.
O clássico de Ridley Scott que definiu praticamente o gênero inteiro de horror espacial, possui longas porções sobre a biologia e método de reprodução do Xenomorfo. Evidente que durante a metamorfose do alien, a necessidade de um hospedeiro para desenvolver o embrião até o Chestburster é de suma importância. Mesmo que o longa se torne em um filme de horror de tensão extrema, essa característica parasitária o coloca em uma posição bem alta na lista. Se ainda não viu, veja.
1. O Enigma do Outro Mundo
Ah, John Carpenter. Impossível arriscar qualquer lista que comente sobre vida alienígena e deixar de incluir esse clássico excelente dos anos 1980. O Enigma de Outro Mundo traz a enorme desventura de um grupo de cientistas na Antártida que se deparam com uma forma de vida extraterrestre que pode assumir qualquer forma, incluindo a humana. Sendo transmitida como um vírus, o grupo precisa descobrir quem está possuído pela coisa na tentativa desesperada de matar a criatura e sobreviver.
Sem a menor sombra de dúvidas, esse é o filme que traduz com perfeição qualquer horror de ficção científica que aborde o tema de parasitas aliens. Carpenter cria uma atmosfera de constante tensão e desconfiança, além do ambiente climático inóspito deixando todo o grupo confinado a um local fadado ao apocalipse. Essa atmosfera é tão única a esse filme que até mesmo virou influência para Quentin Tarantino em seu ótimo Os Oito Odiados. Além disso, é um dos longas mais violentos que já vi, com diversas porções gore e grotescas criadas com perfeição pela maquiagem e animatrônicos que deixaram saudades.
E vocês? Também são fãs desse subgênero sensacional? O que faltou na nossa lista? Conte nos comentários.