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Crítica | A Ciambra

Escolhido para representar a Itália entre os pré-candidatos ao Oscar 2018, A Ciambra conta com alguns méritos que, além fortalecerem o filme como um todo, também qualificam o trabalho de Jonas Carpignano como um concorrente a ser levado em consideração: estrelada por um menino que vive de maneira insana, esta é uma história hábil ao expor um lado da Itália que talvez não seja conhecido pelo mundo exterior. E este é só o primeiro dos atributos que tornam A Ciambra uma obra eficaz.

Roteirizado e dirigido por Carpignano, o longa nos apresenta a Pio, um garoto de 14 anos que tenta se provar como “adulto”. Dessa forma, o rapaz bebe, fuma, põe a própria vida em risco repetidamente e tenta impor alguma autoridade para os seus familiares, que enfrentam algumas dificuldades particulares na região onde moram. Após o desaparecimento de seu irmão, porém, Pio é obrigado a rever certos conceitos, o que o leva a encarar a dura realidade e decidir se: 1) vai tentar mudar suas atitudes; ou 2) vai se assumir de vez como a criança que, de fato, é.

A verdade, no entanto, é que este não é o primeiro aspecto que chama a atenção em A Ciambra: ambientado na região da Calábria – que, só por ser localizada no Sul da Itália, já é o suficiente para pressupor que os habitantes sejam pejorativamente chamados de “terrone” pelos preconceituosos que moram no Norte –, este é um filme que revela uma parte não tão conhecida da Itália e apresenta alguns hábitos dos que residem nesta região. Além disso, se é inesperado (e lamentável) que os familiares de Pio constantemente se refiram aos africanos com uma grosseria discriminatória, também é curioso constatar a forma como certo personagem enxerga os brasileiros (que, segundo ele, “são animais que cagam nas barras da prisão”). Ora, está aí um retrato de uma sociedade que eu não conhecia (e isso, por si só, é particularmente digno de nota).

Mas não é só por isso que A Ciambra funciona de maneira consistente: exibindo um estilo de vida notavelmente surtado, Pio é um menino situado no meio da turbulência típica da adolescência – e se aqui ele está fazendo voz grossa e mantendo um semblante que tenta aspirar à imponência, ali ele está levando bronca dos mais velhos, reconhecendo seus erros constrangedores e perdendo completamente sua pseudo-virilidade quando se vê diante de uma situação que foge ao seu controle. Em suma, Pio pode até tentar fingir para si mesmo que é um adulto, mas no fim ele nada mais é do que… um moleque que ainda tem muito o que vivenciar. Aliás, a atuação de Pio Amato é um mérito à parte, já que, ao preservar uma expressão sisuda que oscila entre a vergonha e a raiva (tudo isso motivado pelo fato de que, no fundo, o personagem reconhece quem ele verdadeiramente é), o rapaz é eficiente ao ilustrar com cuidado a bagunça que se passa em sua cabeça.

Em contrapartida, A Ciambra acaba sendo prejudicado por uma duração que, mesmo reduzida a cerca de duas horas, ainda assim soa mais longa que o ideal: várias situações onde Pio encara dificuldades e tenta provar sua própria maturidade são estendidas além do necessário, algo que fica ainda mais nítido graças à montagem truncada de Affonso Gonçalves (que certamente poderia ter reduzido uns 20 minutos da projeção). E se por um lado a fotografia de Tim Curtinn investe em cores saturadas criando planos esteticamente atraentes, por outro ela se sabota nas sequências noturnas, que são escuras demais e, aliadas aos movimentos de câmera excessivos que são impostos pela direção de Jonas Carpignano, fazem com que algumas cenas tornem-se visualmente confusas.

Apesar dos pesares, A Ciambra ainda é uma obra relativamente admirável e que, mesmo sem despertar grandes paixões, ao menos é digna de aprovação. Talvez eu até voltasse para continuar acompanhando as desventuras de Pio em sua juventude.

A Ciambra (Idem, 2017 – Itália)

Direção: Jonas Carpignano
Roteiro: Jonas Carpignano
Elenco: Pio Amato, Damiano Amato, Iolanda Amato e Koudous Seihon
Gênero: Drama
Duração: 118 min.

Redação Bastidores

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